May observava Peter mais empenhado do que nunca no seu trabalho na Oscorp recentemente. Ele parecia muito agitado, mas diferente da última vez que eles perderam alguém, ele estava muito atolado em suas tarefas do que simplesmente inapto para fazê-las. Agora que seu projeto estava sob uso pela empresa, ele dava mais ainda de seu tempo para se empenhar. Muitas vezes ele chegava tarde, ainda usando o jaleco que ela viu tantas vezes seus pais usando, outras vezes simplesmente chegava no horário mas continuava sua pesquisa em seu quarto. Houve um dia em que ela entrou lá para ver se alguma coisa precisava de arrumação, e reparou que, não só o quarto estava completamente arrumado, coisa incomum para o sobrinho, mas como as fotos que ele tinha na parede… Não estavam mais lá. Ela sabia que não era bom sinal, e no mesmo dia em que tinha reparado nisso, tentou tocar no assunto durante o jantar.
- Peter — Ela chamou, quase sussurrando — Me diga, querido, onde você guardou as fotos do seu quarto?
- Você entrou lá? — Respondeu, um pouco nervoso.
- Só pra ver se precisava arrumar alguma coisa. Estou impressionada com sua organização, e com o seu empenho ultimamente, mas…
- O que?
- Tem estado tudo bem com você? Sabe que pode conversar comigo sempre que quiser.
- Todo mundo falando isso! — Peter começou a se exaltar — Eu tô bem, tá bom, eu tenho feito tudo perfeitamente bem, porque todo mundo pergunta se eu to bem se tudo o que eu faço tá ótimo?
- Se todo mundo pergunta se você tá bem, é porque você não parece.
- Mas é mentira, eu to ótimo, não tenho tempo pra ficar pensando nessas coisas.
- Mas que coisas, querido, eu não disse nada.
- Em nada mesmo! — Ele levou uma colher de legumes à boca e fechou o semblante.
May continuou quieta, em respeito a ele. Ela sentia que precisava falar com Peter e ser franca, mas esse era o trabalho do Ben e não dela, então ela nunca se sentiu confortável para se sentar com ele e dizer tudo o que ela precisava que ele escutasse. Muitos dias ela tentou criar coragem e bater na porta dele para chamá-lo, mas nunca conseguia levar a mão para bater. Naquele dia, ela tentou se distrair assistindo as manchetes. O Homem-Aranha não era visto fazia uma semana, isso começou a levantar questões da mídia novamente, fazendo com que o principal temor da população fosse a ascensão de outra criatura como o Lagarto e Electro. E é claro, no centro disso tudo, se encontrava o Cavalheiro, o senhor de olhares maliciosos se encontrava na sala de CEO novamente, e seus arquivos a respeito dos super seres da Oscorp se encontravam abertos na projeção de sua mesa.
O problema com todos esses incidentes é que a Oscorp nunca teve controle real sobre estes indivíduos, sendo eles efeitos colaterais dos próprios experimentos. Sendo assim, eles tinham sorte em ter o responsável do projeto dos nano robôs trabalhando integralmente. Ele deixou apenas o arquivo de Parker, o infame Homem-Aranha, aberto, e adicionou os trabalhos de nano tecnológicos dele ao armazenamento. Já no instituto Ravencroft, os cientistas responsáveis por Bench analisavam as últimas descobertas da pesquisa, e assim, com a ajuda de suas sofisticadas máquinas e elementos químicos do extenso laboratório que lhes eram dado. Osborn conseguia ver ao longe a movimentação de cientistas, que não eram obrigados a lhe dar satisfação, uma vez que seu envolvimento com Fiers não era nada mais do que uma parceria. Não por muito tempo se dependesse dele.
Logo, vários frascos de um líquido translúcido de cores acinzentadas estavam prontos às dezenas. Alistair Smythe conduzia as operações, e quando o último frasco do dia havia sido produzido, ele ordenou que um lote fosse preparado para injeção, e ele começou a armar uma gravação do experimento que iriam produzir em breve. Vendo que seus subordinados estavam quase prontos para iniciar os testes, dele começou uma gravação.
- Aqui é Doutor Alistair Smythe, no Instituto Ravencroft, as… — Ele checou o relógio e voltou seu rosto para a câmera-drone novamente — 1522 horas do dia 12 de Março de 2015. Este é o teste número 02 do Projeto “Hídrico”. Uma série de nano robôs serão aplicados em uma cobaia, Nome Morris Bench, 45 anos, que foi sujeitada a uma injeção de água salina marítima através do composto de injeção anexado do projeto. Uma vez que ela não tem controle sobre as próprias funções motoras, e possivelmente mentais, os nano robôs são uma tentativa de ligar os impulsos eletromagnéticos suspensos da atividade mental às moléculas do corpo novamente, as quais viraram um composto de 98% de puro H2O.
Smythe gesticulou para os cientistas, que, com um grande rifle com vários frascos de nano robôs acoplados, injetaram o conteúdo através do maior tubo que saltava do cilindro metálico. Com a câmera virada para o painel de vidro do cilindro, Alistair continuou com seu monólogo.
- Para registro: Cobaia apresentava baixa atividade cerebral, estando num estado similar ao coma. Composição de estruturas moleculares sugerem que toda qualquer outra função biológica comum ao corpo humano deixou de existir, e toda a massa corporal se transformou em vias neurais. Agora, efeito dos nano robôs ao se conectarem com as vias neurais.
De repente, a água do tanque começou a brilhar num tom claro de branco neon, Smythe apontou que isso era o sinal dos robôs aguardando ordens posteriores da mente do usuário. Depois de alguns minutos de espera sem resultado aparente, eles injetaram o composto químico que forçava o despertar do indivíduo. Alguns momentos depois, a água começou a se mexer, e rapidamente, o rosto de Bench surgiu, em uma expressão de agonia, mas agora ele estava mais definido, e a voz era bem mais clara. O brilho neon se foi e as ondas tempestuosas começaram a se colidir em uma na outra em um espaço cada vez mais contido, e pouco tempo depois, formaram o corpo de um homem, Morris como ele era antes do acidente, nu, mas apenas humano no formato, ainda completamente composto de água. Ele ainda parecia ter muita dor, mas então, uma espécie de disco se formou no peito dele, se formando a partir de um conglomerado de nanorôbos. Quando ele terminou de se formar, Bench se ajoelhou, e começou a sugar por ar desesperadamente, mas aos poucos percebeu que estava bem, e o movimento ofegante começou a se aquietar.
Alistair sorriu, e voltou a falar pra câmera, mas Bench não conseguia ouvir as palavras do cientista. Ele ainda não conseguia ver direito, é como se ele pudesse sentir todo o seu corpo de uma vez, e ele não conseguia focar em uma coisa só por vez. Logo, ele começou a dizer as suas primeiras palavras depois de toda uma semana.
- Eu estava… Tendo um sonho — Ele conseguiu exprimir.
- O quê? — O Doutor dirigiu a câmera para ele.
- No sonho… Eu tinha tudo o que eu queria. Eu tinha minha família. Tinha todo o dinheiro e tudo o que eu mereço depois de tanto lutar. Tô cansado de lutar… Eu quero liberdade.
- Pode me ouvir, Senhor Bench? — O olhar maquiavélico de Smythe foi seguido de um sorriso, mas ele percebeu que Morris não o ouvia — Tudo bem. Conectem os nano robôs com a saída de voz da câmera
Assim, os cientistas se movimentaram, e depois de prontos, deram o sinal.
- Senhor Morris Bench — Ele disse, e viu que sua voz ressoou em todo o corpo aquático dele, e as vibrações não pararam até ele fechar os olhos e lentamente retornar — Muito bom, muito bom. Está me ouvindo?
- … Sim — Ele sussurrou, ainda sentido intensas dores.
- Muito bem. Morris, o senhor foi vítima de um acidente, se lembra?
- Um… Pouco…
- Pois bem, nós estamos o ajudando, lhe demos de volta seu corpo e agora pretendemos restaurá-lo a sua forma humanóide permanentemente.
- Forma…? — Ele se concentrou ainda mais, abriu seus olhos e viu seu corpo — Oh… Meu…
- Não se desespere! — Smythe gritou — Esta sua condição atual não é nada mais do que o resultado de um acidente, estamos cuidando de você.
- Eu… Perdi… — Ele colocou as mãos na cabeça — Ah, céus. Não… Não.
- Olhe para mim, para mim — O cientista se aproximou do painel de vidro — Você quer se cobrir?
- Sim… — A voz dele sussurrou, um pouco mais calma.
- Você tem nano robôs por todo seu corpo — Smythe gesticulou pelas costas para os cientistas ficarem a postos — Você pode usá-los para fazer uma roupa para você.
- Como assim?! — Ele suplicou, quase chorando.
- Olhe para este cilindro onde você está. Toque nele… E imagine uma roupa para você. Queira ser coberto.
- Tudo bem… — Morris obedeceu.
Lentamente, ele colocou as mãos nas paredes do cilindro, e aos poucos, ele começou a se contorcer e girar, enquanto o estado físico de Morris parecia pulsar entre gelatinoso e quase completamente líquido, tendo vezes em que quase perdeu a estabilidade. Mas, alguns minutos depois e com a ajuda do controle dos cientistas, todo o cilindro retorceu e se tornou uma espécie de traje, um pouco metálico, e um pouco plástico, em volta do corpo de Morris. Ele olhou para sua nova roupa, e respirou um pouco mais aliviado. Smythe parecia muito feliz.
- Parabéns, Sr.
Morris. Eu e você temos um grande futuro pela frente.
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