Ano 995 do período Heróico
Ano 995 do período Heroico
A praia foi a melhor coisa que eles encontraram depois de uma viagem de cinco dias em alto mar. Emika observava aquele lugar com cuidado, ela nunca havia ouvido falar daquela ilha antes; por isso, precisava ter cautela, ainda mais com o Isniffi ao seu lado. O pequeno usava um Quimono feminino que Emika encontrou nas suas coisas, era a única roupa de criança que restou de sua infância.
— Emiquinha, estou com fome! — disse Isniffi com um olhar fofo.
— Não se preocupe, vou conseguir algo para gente comer — respondeu Emika sorrindo.
— Emika… você está brava com o Isniffi? — indagou o pequeno com um olhar triste.
— Por que eu estaria brava com você?
— Tem alguns dias que estou vendo tristeza em seus olhos, não quero ver minha fadinha triste.
— Nossa vida não está sendo fácil… olhe para nós, fomos transformados em…
— Aberrações?
— Deixa quieto, você não devia ficar pensando nisso. Estamos aqui para encontrar uma nova vida longe dos humanos.
— As lendas dizem que a ilha de Seichi aparece somente as pessoas com boas intenções, acho que a gente tem, né?
— Toda lenda deve ser questionada, não sabemos se aqui é Seichi, mesmo se não for, aqui será nosso lar.
— Isniffi pode construir uma casa de madeira?
— Você pode fazer o que quiser — disse Emika desviando o olhar dele com uma expressão séria.
— Tudo bem… Isniffi vai… fazer… uma — afirmou ele com um rosto triste.
Isniffi não era mais aquele bárbaro temido por homens e deuses, agora ele era inocente e doce, sem maldades, somente um coração puro que queria ver Emika sorrir. Isso era estranho para ela. Seu filho estava morto? O que aconteceu com ele? Será que essa coisa é o meu filho? Todas essas perguntas assombram a mente de Emika.
— Essas árvores são enormes! — disse Isniffi olhando para a floresta à sua frente.
— Isniffi, quero que você não saia de perto de mim, será que fui clara? — falou Emika segurando a mão de Isniffi e o puxando para frente.
— Emika, está fazendo dodói! — afirmou Isniffi.
— Nem tudo na vida é um mar de rosas, se acostumar com a dor é algo vantajoso.
As árvores eram úmidas. Seus galhos se uniam com as outras, impedindo que a luz do sol iluminasse o chão. Emika estava com medo, sem o antigo Isniffi para ajudá-la, seria impossível vencer um inimigo formidável. Ela fitou o Isniffi e, quando ele percebeu, acenou de volta com um sorriso, porém, ela desviou o olhar com uma expressão neutra.
— Emiquinha, tem uma aranha no ombro do Isniffi! — gritou ele com uma expressão de medo.
— Pelos céus, é só uma aranha! — afirmou Emika esmagando o animal.
— Vamos sair daqui, Isniffi está com medo! — afirmou ele.
— Com medo? Você é o homem mais forte do mundo!
— Isniffi não se lembra disso…
— Devia se lembrar, você é um deus e tem que agir como um. Existem coisas piores que essa aranha, isso eu garanto.
— Me desculpe, Isniffi não vai mais ficar com medo… — respondeu Isniffi com lágrimas nos olhos.
— É bom mesmo… eu não quero cuidar de peso morto.
Eles andaram por hora. Emika procurava algo de comer, não se fosse um mísero coelho dando sopa. Para sua sorte, Isniffi trombou com uma bananeira. Emika pegou as frutas e deu para seu filho comer. Enquanto ele comia, ela fez uma fogueira e um pequeno cercado para que eles se abrigassem. Isniffi abriu os braços, pedindo para Emika abraçá-lo, mas ela se desviou, deixando o pobrezinho sozinho.
— Não temos tempo para abraços… — disse Emika — vá descansar, amanhã procuraremos um terreno para vivermos sem se preocupar com esses bichos malditos.
Emika deixou Isniffi e foi até uma árvore. Ela escalou até em cima e sentou sobre um galho. Seus olhos lacrimejaram. Seu coração estava sofrendo. Ela só queria voltar no tempo, no momento que o seu antigo filho recebeu o convite para ser imperador de Sakura e o impedi-lo de aceitar esse maldito trono.
…
Isniffi abriu os olhos e se assustou. Uma mulher com pele de madeira e cabelo de folhas verdes observava o seu rosto com uma expressão curiosa. Isniffi gritou de medo, fazendo Emika pular da árvore em direção a ele com sua faca em mãos.
— Quem é você? — gritou Emika.
— Não sou sua inimiga, meu nome é Aika — disse a mulher árvore se afastando dos dois.
— Sai de perto do meu filho ou eu corto os seus galhos — afirmou Emika.
— Emiquinha, não faça isso, ela é muito fofinha — disse Isniffi se aproximando da mulher com um sorriso.
— Obrigada — falou Aika ao receber um abraço fofo.
— Isniffi gostou de você!
— Estou andando há dias procurando por pessoas que possam me ajudar — disse Aika.
— Não queremos ajudar ninguém! — gritou Emika.
— Eu sou uma árvore sagrada… Os deuses, como vocês sabem, precisam comer ambrosias que nascem em árvores como eu. Meus pais queriam que eu servisse os deuses, igual a todos os meus ancestrais.
— Não queremos ouvir sua história — afirmou Emika.
— Que isso, Emiquinha, eu quero ouvir a história dela!
— Minha vida era infeliz, chata e monótona. Tudo mudou quando conheci Koda, uma árvore que nasceu sem o dom de criar ambrosias. Me apaixonei por ele e renunciei ao cargo de princesa das árvores para viver com meu amado. Fomos embora do reino de cristal para viver em Miragem. Nossa vida de casal não durou muito, já que os deuses mandaram seus carrascos para nos matar. Eu consegui sobreviver, mas meu marido morreu nas mãos dos assassinos. Eu fugi para essa ilha mágica, onde percebi que estava grávida de Koda. Depois de alguns meses, as frutas dos meus galhos se abriram, dando à luz a milhares de fadas. Ontem uma delas desapareceu sem deixar vestígios. Preciso encontrar minha filha… Por favor, vocês podem me ajudar a encontrá-la?
— Cada um com seu problema, tenho muitas coisas para resolver que deixariam você doida — zombou Emika.
— Tudo bem, Isniffi vai encontrar sua filha! — disse Isniffi.
— Obrigada!— afirmou a árvore chorando.
— O quê? Não podemos nos arriscar nessa ilha! — gritou Emika.
— Emiquinha, não seja assim, essa moça precisa da gente, não podemos deixá-la na mão, ainda mais sabendo que ela precisa cuidar das outras fadas!
— Tudo bem… — disse Emika respirando fundo —, onde devemos procurar sua filha?
— Não faço a mínima ideia, sou nova na ilha tanto quanto vocês — afirmou a árvore com um sorriso.
— Show de bola… e lá vamos nós em outra aventura sem sentido!
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