Peter Parker. Um Zé Ninguém que vive sozinho no apartamento mais barato do seu edifício. Tinha se mudado para lá ainda essa semana, e ainda desempacotava muito da sua recente mudança. As únicas coisas que realmente tinha tirado das caixas recentemente eram seus livros de supletivo, que estava estudando muito bem para provar sua formação, suas roupas e os materiais que havia usado para o seu mais novo traje de seu alter-ego. Traje qual estava pendurado em seu closet junto de suas roupas mais imediatas. A herança de seus tios o ajudou a encontrar um lugar onde pudesse ficar até que arrumasse um emprego e, com sorte, pudesse entrar em uma universidade, então ele não teve muito tempo para respirar entre sua rotina de estudos e suas responsabilidades como Homem-Aranha. Mas naquele dia, ele se sentou e começou a guardar tudo.
Algumas lembranças a mais surgiram, como a bateria Chitauri, já completamente descarregada. Os Óculos da Edith, só os óculos, tudo daquele projeto já estava desativado. E por último, a carta do MIT. Algumas outras coisas, como o cheque gigante falso e os óculos de May estavam no fundo de algumas caixas. Muitas lembranças de uma época que tinha acabado de ficar para trás. Mas ele sabia que podia desempacotar mais coisas. O passaporte cheio de carimbos, o pedaço dos drones, um fragmento da asa do Abutre, um pedaço da blusa do Shocker. Ele com certeza ia se livrar de algumas dessas coisas, assim como deixou seus antigos trajes para trás, pelo menos por hora.
Ele passou a mão pelo fundo da caixa de mudanças dele para encontrar mais alguns pertences que nem lembrava que tinha. Ele tirou do fundo da caixa… Uma pequena bola, do tamanho de sua mão, nas cores branca e rosa. Era uma bomba de tinta da qual tinha esquecido, e que pertencia a uma pessoa de quem preferia não lembrar, mas então, ele lembrou porque ele guardava aquele estranho dispositivo de desconhecido potencial. E sua mente o levou para longe de novo, de volta a época em que era mais uma criança do que o homem que era agora, pra uma época em que ele não entendia uma valiosa lição, uma que estava prestes a descobrir.
Era mais um dia no Colégio Midtown. Peter se lançava aos ares como o mais novo herói de Nova York, enquanto tentava se aproximar do colégio em seu traje sem tentar chamar a atenção. Quando consegue pousar no teto do colégio, ele rapidamente se vestiu como o discreto aluno e entrou no edifício. Ned já o esperava nas escadarias, eles se cumprimentaram e rapidamente se dirigiram para seus armários. Ned comentava feliz a recente vitória do amigo contra, quem eles mesmos apelidaram, de “O Abutre”, mas Peter não parecia muito feliz com a situação do jeito que estava. Ao chegar lá, Ned continuou comentando.
- Não dá pra acreditar que você já ta ganhando a própria galeria de vilões. Quem você acha que pode ser a próxima pessoa? Digo, você ainda não tem um arqui-inimigo, como o Capitão América e o Caveira Vermelha, e não tem nenhum animigo, como o Loki e o Thor. Isso me faz pensar, em qual escala você coloca o Abutre? De um a…
- Ned! — Peter quase gritou, chamando a atenção dele — Já deu, cara, podem escutar a gente.
- É verdade… Mas você não tem estado nem um pouco animado com nada desde quando isso aconteceu. Cadê o Peter que era tão empolgado com… O nosso amigo quanto eu.
- Eu só estou tentando ficar com os pés no chão, cara. O Senhor Stark parou de pegar no meu pé e me deixou livre pra fazer o que eu achar melhor, você não acha que tá na hora de ser um pouco mais sério?
- Sim, mas seriedade e diversão não são opostos… — Ned se virou cabisbaixo e abriu seu armário.
- E aí, nerds? — Uma voz familiar veio por de trás deles, e quando se viraram, viram um flash de uma câmera antes de notarem Michelle por de trás dele, os fotografando
- Oi MJ. — Peter respondeu — Porque você ta tirando uma foto da gente?
- Dos dois não. De você. Lembra, eu desenho pessoas em crise, e eu não posso ficar parada te desenhando no meio do corredor, então salvei uma foto pra mais tarde — Ned deu uma breve risada.
- O que foi? — Peter se virou para ele, já sabendo a resposta.
- Nada… — Ned desviou o olhar de Peter, e olhou para MJ — Hey, você já me desenhou?
- Não… — O rosto dela expressou dúvida e curiosidade — Por quê? Você se considera uma pessoa em crise?
- Não, não! É só pra saber se você achava mesmo.
- Alguém com esse corte de cabelo em público sempre parece confiante pra mim.
- É… Espera, o que você quis dizer com isso?
- Nada… — MJ desviou o olhar igual Ned havia feito, e olhou para Peter, dando um tapinha de leve na testa dele com as costas da mão — Vejo vocês na aula, nerds.
- Você também é uma! — Ned gritou de volta, com MJ apenas lhe mostrando o dedo do meio sem se virar — Dá pra acreditar? Nem parece que fez decathlon com a gente.
- É, não dá — Peter respondeu, seco.
- Que isso, cara? Acordou com o pé esquerdo hoje?
- Eu… — Peter passou a mão no rosto, e forçou um sorriso — Desculpa, Ned. Eu só não to realmente disposto ainda, eu acordei meio tarde hoje e… Bom, a May descobriu sobre o Aranha.
- É sério?!
- Sim, o Stark devolveu o traje e… Bom, ela me viu com ele, deixei a porta do quarto aberta. Disse que a gente ia conversar depois.
- Hahahahahaha! — Ned riu, apontando para a cara de Peter, zombando — Cara, essa foi ótima. Você tem que cuidar melhor da sua identidade secreta, um dia um doido vaza ela e você não vai ter mais um pingo de paz.
- Credo — Peter estremeceu de medo, e depois sorriu, ao ritmo que eles iam para a aula.
Depois do dia de aula, Peter voltou para o seu apartamento no tranquilo bairro do Queens. May já o esperava sentada no sofá da sala, claramente irritada com a situação. Ele se sentou ao lado, colocando a mochila no chão. Ela cruzou os braços, ele já sabia o que ela queria. Abriu a mochila e, de um compartimento secreto, tirou a máscara de Homem-Aranha, e a entregou. Ela segurou o objeto, encarando os grandes olhos brancos do alter-ego do sobrinho, e se virou para ele.
- E então… Homem-Aranha, não é?
- Sim…
- Como você ganhou os poderes de Aranha.
- Você lembra quando eu tava doente por ter sido picado por uma aranha diferente?
- Sim… Foi aquilo?
- Uma Aranha Radioativa. Alterou meu DNA, misturando o meu com o dela. Ela, obviamente, não aguentou o meu e acabou morrendo, mas eu… Bom, ganhei os poderes proporcionais de um aracnídeo.
- E eu achando que você tinha melhorado com a receita detox da minha vó — Ela encarou os olhos de Peter, e depois sorriu — E é legal?
- O que? — A confusão em sua voz era enorme.
- Sabe, ser o Homem-Aranha, é divertido? Você gosta da adrenalina?
- Eu… Sim, na verdade.
- Aaaaahh! — Ela gritou de alegria, segurando as mãos dele — Isso é tão maravilhoso, meu sobrinho, um super-herói. O Stark tem a ver com isso, não tem?
- Quando ele apareceu aqui na época da Guerra Civil… Ele já sabia, de algum jeito.
- Foi quando o Homem-Aranha apareceu com o traje novo dele. Genial! Tava na cara esse tempo todo. Ah, querido, por que você não me contou antes?
- Sabe, ser um herói não é nada fácil, mas também é algo que eu realmente queria ser, e eu sempre tive a impressão de que você não fosse permitir se soubesse. Sabe, eu ainda sou um garoto que mora com você e…
- Oh, Peter… — Ela o abraçou, e depois olhou em seus olhos de novo — Nós só temos um ao outro, querido. Não precisamos esconder nada um do outro. Façamos um trato, o que acha? Sem segredos? O mesmo vale pra mim.
- Claro. Claro, na verdade é muito bom ter com quem contar sobre isso. O Ned também sabe, a propósito.
- Você contou pra ele e não pra mim?!
- Não não, ele descobriu por acidente… Meio que quase a mesma coisa que aconteceu com você.
- Peter… Você precisa se cuidar mais. Vai que algum maluco por aí revela sua identidade e…!
- Eu já ouvi isso hoje. Do Ned.
- Pois ele está certo — Ela se levantou do sofá, sorrindo — E o que o meu super-herói quer de janta hoje?
- Eu to aceitando qualquer coisa, hahaha. — Peter riu, descontraído.
May começou a caminhar para a cozinha, mas percebeu que a máscara ainda estava em sua mão. Decidida a fazer uma pegadinha no sobrinho, esperou ele se virar para ir para o quarto e lançou a máscara em sua direção. Como um relâmpago, Peter agarrou a máscara em pleno ar sem se virar. Logo depois, ele começou a se virar, encarando a mão espantado, e depois encarando o rosto também muito espantado de May, que estava sem palavras.
- Como eu…? — Peter apontou para a mão.
- Poderes de Aranha? — May supôs.
- Foi como um arrepio.
- Um arrepio?
- Sim, atrás da cabeça e depois nos braços.
- Sei… — Ela começou a sorrir de novo, dessa vez claramente zombando de Peter.
- Espera… Não é o que você está pensando.
- Sei! — Ela gritou de dentro da cozinha.
Mais tarde naquele dia, dessa vez sem tem que fazer o seu trabalho escondido, Aranha partiu em mais uma jornada para proteger a vizinhança. Impediu vários assaltos, pode de fato realmente proteger algumas pessoas de alguns acidentes e de alguns malucos que andavam ameaçando muitos dos moradores. E pela primeira vez pode se sentar na cobertura de um dos prédios e assistir o pôr do sol sem ter que se preocupar com o horário em que precisaria chegar em casa. Quando salvou uma mulher com um carrinho de bebê de ser atropelada mais cedo, ela quis expressar sua gratidão de alguma maneira. Ela apontou o que devia ser óbvio para qualquer um naquele dia, que ele estava um bocado quieto e distante nos últimos tempos, e que isso não passava tanta segurança quanto o povo gostaria. Ele agradeceu o conselho, e então, depois de sentir os últimos raios de sol do dia indo embora, ele decidiu quebrar dois galhos de uma só vez, e se dirigiu a um lugar que sabia que era bem-vindo.
O grande homem, dono da barraquinha de cachorro-quente numa simples esquina da cidade, estava se preparando para terminar o dia, quando dos céus, subitamente, o herói aracnídeo pousou ao seu lado. Ele pulou para trás com o susto, e Aranha se aproximou para ajudar, se desculpando.
- Ai, garoto, quase me matou do coração! — Ele disse, agarrando o peito.
- Poxa, desculpa senhor, tá tudo bem?
- Ta sim, agora que eu sei que é você.
- Foi mal, eu vi que o senhor tava fechando, eu vim aqui comprar um cachorro-quente.
- Sério? —- Ele pareceu surpreso, mas feliz.
- Eu ainda sou um homem, né, tá no nome, e faz um tempo que eu já comi.
- Poxa, eu nem vou cobrar.
- Nossa, é mesmo?
- Se você deixar eu gravar você dando um mortal na frente da minha barraquinha pra eu postar na internet.
- Outro mortal? Tudo bem, justo.
E então assim fizeram, o homem abriu o vídeo dizendo alegremente que tinha a presença do próprio herói da vizinhança, e que ele veio experimentar um de seus cachorros-quentes. Logo após o mortal, ele sinalizou que havia terminado de gravar e teclava freneticamente.
- Senhor…? — Aranha indagou, enquanto esperava.
- Ah, pode se servir, aranha. — Ele apontou para o carrinho, sem tirar os olhos dos celular
- Ok… — Tímido, ele começou a abrir os compartimentos da barraquinha e preparar sua janta — Não sabia que você era tão vidrado nisso.
- Qual é?! Vai me dizer que você não tem rede social.
- Eu tenho, é que… — Ele balançou o pão no ar, pensativo — Sabe, eu não sou tão ligado nelas, só isso.
- Olha, garoto. — Ele mostrou o celular para o faminto herói — Eu faço metade da minha clientela com a fama e a divulgação dos meus negócios e dos meus vlogs nas minhas redes sociais. Comecei fazendo live de qualquer coisa que tivesse a ver com super-heróis. Ou super-vilões, pra ser franco. Meu vídeo do dia que eu sobrevivi à batalha de Manhattan viralizou, esse mundo de vocês é uma fonte de fama.
- Mas você não acha que isso é sacrificar sua privacidade pra ter uma fama que nem vai te ajudar tanto assim?
- É mais do que isso, garoto. As pessoas me conhecem e sabem que eu sou gente que nem eles. É quase uma terapia, eu posso ser eu mesmo e encontrar pessoas que me entendem sem ser julgado. E cai entre nós, também aparecem as que não gostam de mim, mas isso fica a um clique de distância e assim eu sei exatamente quem evitar.
- É mesmo… — O Cabeça de Teia se reclinou no carrinho de vendas do homem, levantando a máscara até o nariz para comer — Nunca tinha pensado por esse lado.
- Tem alguns heróis que são assim, tipo o Homem de Ferro e volta e meia o Homem-Formiga também posta alguma coisa. Fiquei sabendo que até o Hulk… Qual o nome dele mesmo?
- Bruce Banner.
- Isso, ele tentou fazer um canal de ciências uma vez, não decolou infelizmente. A mais famosa atualmente é a Screwball, ela é hilária, é uma pena que nunca vi ela. Você nunca pensou em fazer nada do gênero?
- Hmm… — Ele engoliu o pedaço que havia mordido do cachorro — Agora que você falou…
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