As manchetes daquela terça bombavam. “Farsa Revelada! - Tony Stark acaba de vazar dossiê revelando atividade criminal e farsa das operações da vigilante e influencer digital, Screwball, em suas redes sociais”. Um mandado de prisão havia sido expedido para a criminosa, e não havia outra coisa que se falava em Midtown mais uma vez. Peter havia chegado como ele mesmo mais uma vez, e Ned estava na entrada esperando. Os dois sorriram, e se abraçaram, eles conseguiram, mesmo que com uma leve ajuda do amigo de ferro deles.
- As pessoas não te odeiam mais! — Ned pontuou, alegre.
- Não exagera, haters sempre vão existir, hahaha! Ah, o Tony mandou te elogiar, já é a segunda vez que você se prova um super hacker, disse que se continuar assim, vai ter que te contratar no futuro.
- Wow, um elogio do maior gênio do mundo — Os dois começaram a caminhar para dentro do colégio — Mas e você, hein? O boom que o seu canal vai ter é…
- Então, sobre isso… — Peter pegou seu celular novo, que Tony teve a gentileza de dar pra ele depois do que ele fez com o último, e mostrou um vídeo
Nele, caracterizado como seu alter-ego, Peter dizia: “Obrigado a todos que acreditaram na minha inocência apesar de tudo, Screwball me difamou justamente porque eu havia descoberto sobre as operações dela, e a gravação daquela noite, e todo o resto, provam esse desespero de uma criminosa maluca. Com isso dito, queria agradecer a vocês uma última vez, porque este é o último vídeo do Teia_Do_Aranha. Eu percebi que essa vida não é pra mim, então, sempre que vocês quiserem me ver, olhem lá pro alto, mas também lá pra longe, onde as pequenas e maravilhosas pessoas precisam de mim, pois eu estarei lá, por todos vocês. Um grande abraço ao meu amigo, o meu nerd da cadeira, por ter me ajudado a vazar todas essas informações essenciais, e ao nosso eterno Homem de Ferro, Tony, por ter me ajudado a divulgar, espero ter feito você orgulhoso. E esse foi o seu amigão da vizinhança, uma última vez. Um abraço, e a gente se vê por aí!”
- Poxa… Nem consigo ficar bravo — Ned pontuou — Mas esse é o post mais famoso seu já, olha o número de curtidas…
De repente, Flash Thompson passou por eles, cantando alegremente uma canção um tanto curiosa, que chamou a atenção da dupla.
- … Na calada da noite, sempre alerta ele está! Mas se o crime atacar! O Aranha vai chegar!
- Aranha? — Peter observou.
- Espera, o que é isso aqui nas sugestões?
- É… Uma tendência! “#AdeusHomemAranha” — Peter abre um vídeo da tendência, e nele, um famoso músico da plataforma começou a cantar, munido de seu violão. O título do vídeo era apenas “Tributo ao Homem-Aranha”.
“Homem-Aranha! Homem-Aranha! Aí vem, o Homem-Aranha! Com a teia. Infernal! Em combate. Contra o mal! Cuidado! Ele é o Homem-Aranha! Ele é forte, é veloz, é ativo e radioativo. Tem balanço. É um avanço! É pra frente. Diferente! Ei gente! Ele é o Homem-Aranha!”
- Uma arqui-inimiga e uma música tema! — Ned não podia conter a emoção dentro de si — É isso, você é um herói completo!
- Nem me fala…
- Nem te fala o que? — Michelle disse de sopetão, como sempre, assustando os dois. Peter quase derrubou o celular.
- Ah, oi MJ — Ned sorriu — O que você ouviu hein?
- Algo sobre uma música tema. A do Homem-Aranha, presumo.
- É isso mesmo — Ele respondeu com um sorriso sem graça.
- Você pode me dar um momento a sós com o Peter? Você sabe, coisas de mulher.
- Ah… Ah! Entendi, hahaha — O hacker se afastou, sorrindo — Não diga nada que eu não diria, hein Peter!
- E então? — MJ disse, se virando para ver o rosto vermelho de Peter — Ta assim por quê?
- Nada… — Peter não podia conter o nervosismo.
- Você viu… O Homem-Aranha fez o que era certo, no final das contas.
- Eu acho que a gente não tinha motivo pra duvidar dele.
- Eu nunca duvidei, apesar de tudo… — Ela deu outro sorriso genuíno para Peter, e ele sorriu de volta, um sorriso genuíno também — Sabe… Você é um cara legal, Peter.
- Por que diz isso?
- São poucas pessoas que sabem admitir que estão erradas, e ainda menos que pedem desculpas pra mim. Você sempre faz o que é certo, no final das contas.
- Eu… Também acho você legal.
- Acho bom! — Ela brincou, e abriu ainda mais o sorriso, os dois riram.
Eles seguiram caminhos separados, e pela primeira vez depois de algum tempo, ele começou a sentir algo mais do que admiração por alguém, o sorriso intoxicante de Michelle estava em sua mente, e ele se sentia muito bem sempre que lembrava dele. Já ela também estava com Peter em sua cabeça, ela abriu seu caderno para dar os toques finais na sua última ilustração, o rosto de Peter, e em volta dele, muitas e muitas aranhas. Ela tinha um palpite, mas escolheu esperar o momento certo de arriscar uma tentativa de acerto, afinal… Peter não havia apenas conquistado seus pensamentos, mas também, seu coração.
Apenas em um lugar, muito longe dali, ainda se falava sobre como o Homem-Aranha era uma ameaça, um delinquente juvenil que deveria pagar pelas suas ações. Um velho repórter falido colocava seu terno e gravata novamente, ele tinha um trabalho a fazer. Sim, a garota também era tão ruim quanto ele, mas havia provas que ele não podia negar. Provas sobre um vigilante mascarado que se achava acima da lei. “Homem-Aranha - Ele ainda não deve ser confiado!” era a manchete que ele tinha acabado de escrever de dentro de seu armário com uma tela verde. Ele assinou a reportagem com suas iniciais, “JJJ”, e não iria descansar até que toda essa comoção que começou com o vazamento da pobre vítima do abuso do delinquente não passasse em vão. John Jonah Jameson queria o Homem-Aranha!
Peter Parker estava sentado em sua cama, ainda relembrando todos estes eventos. A bola de tinta de Screwball ainda em sua mão. Muita coisa mudou desde então, Tony e os Vingadores, Thanos, Mysterio, Nick Fury, Doutor Estranho, Octopus, Duende Verde, Electro, todos aqueles vilões de outras realidades, e também… Os outros aranhas. Sozinho, ali naquele apartamento, ele encontrava conforto no pensamento que ele não era o único, seus irmãos ainda estavam por aí, no multiverso, enfrentando as mesmas batalhas que ele enfrentava. Ele alcançou um último item da caixa de mudanças dele… O caderno de desenho de MJ. Todos os desenhos das pessoas em crise que ela fez, os desenhos sobre ele, ele com todas as aranhas, ele com o uniforme, e todas as ilustrações de uma garota apaixonada. A última era apenas um desenho dos dois, juntos, dando as mãos. Os sentimentos que aquela imagem trazia à sua mente eram agridoces, ele imaginou que tipo de vida ela estava vivendo naquele exato momento.
Mas então, na última folha do caderno, um desenho que ele mesmo fez. Três símbolos de aranhas, acompanhados de três rostos. Os rostos seu de seus irmãos, em algum lugar por aí, rostos que ele gostaria de ver algum dia, mais uma vez. Ele fechou o caderno, e finalmente organizou todas as caixas. No final daquele dia, que ainda era inverno, ele acendeu uma das bocas de seu fogão, e começou a esquentar um chocolate quente. Ele pegou a bola de tinta do bolso uma última vez, e precisava se despedir de sua ardilosa primeira arqui-inimiga com louvor. Ele pegou a caixa de fósforos, e abriu a janela, uma fraca brisa fria entrou, e então ele acendeu um dos fósforos, e incendiou a bola, colocando-a rapidamente na beirada da janela. Como ele imaginou, a bola começou a se desfazer, e as cores dela coloriam uma intensa fumaça que saía da queima. Ele sorriu, e as cores rosa e branco coloriram aquele frio reduto de Nova York.
Finalmente, um pouco de cor pintava a vida do jovem herói, que se encontrava sozinho, mas não abandonado. A vida daquele homem havia passado por muitas transformações, mas agora, ele era um homem, ele havia aprendido a mais avassaladora de suas lições. “Com grandes poderes, também vem grandes responsabilidades”, essa era sua dádiva, e também sua maldição. Peter Parker não existe mais, mas o Homem-Aranha vive.
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