Ela pegou na mão de Dick e, logo depois de pegar suas bolsas, o arrastou pelas ruas da Velha Gotham. Sob muitos protestos, eles continuaram a dentro dos quarteirões e ruelas do bairro. Tudo o que Dick queria eram respostas, mas ele não recebeu nenhuma, ao passo que Barbara só murmurava a respeito do quão empolgada estava para algo que ela ainda não queria revelar, e logo ele descobriu porque. Já estava escuro quando eles alcançaram a velha Torre do Relógio da Velha Gotham, no instante que Grayson viu o cenário, após cruzar uma esquina, ele sabia exatamente o que Barbara estava aprontando.
- Não!
- Nós já estamos aqui, Dick. Vamos ver no que vai dar, pelo menos.
- Barbara, a gente tem poucas horas antes do toque de recolher, pelo amor de Deus. E se acontecer alguma coisa?
- Tipo o quê? — Ela levantou os braços, despreocupada
- Parados aí! — Uma figura mascarada surgiu, a figura de um típico assaltante, aproximadamente da mesma idade dos dois.
- Tipo isso. — Dick replicou, levantando as mãos
- Me passa suas mochilas! — O assaltante continuou, mãos no bolso
- Só um momento aí, amigo. Você está ameaçando a gente com o que mesmo? — Barbara indagou
- Isso — Ele retirou um grande canivete do bolso, um tipo de lâmina militar. Imediatamente, Barbara começou a rir alto.
- Barbara, o que que é isso? — Dick estava claramente desesperado
- Ah, qual é, nós moramos em Gotham, pra você ameaçar alguém que vive na Velha Gotham, tem que ser de calibre 38 ou mais.
- Você não está com medo, menina?
- Por favor, eu cresci aqui, e ainda sou filha de um delegado de polícia, com quem você acha que tá se metendo?
O mal elemento já estava de saco cheio. Ele avançou com a lâmina, mas rapidamente, Barbara agarrou o braço com o qual ele avançou, e num rápido movimento, torceu o ombro do delinquente. Ele gritou de dor, soltando a lâmina, que Barbara pegou antes de cair, finalizando com um soco de direita no nariz dele, o que o fez cambelear e cair na sarjeta da rua. Dick observou, numa mistura de admiração e julgamento, a situação, abaixando as mãos lentamente.
- Espero que tenha aprendido. Vai dar um jeito na sua vida e não tentar tirar vantagem de gente inocente, seu babaca. Agora dá um fora daqui! — O assaltante se levantou e saiu correndo, o rosto de Barbara com um olhar de ira, e um sorriso de satisfação
- Barbara… O que deu em você?
- O que foi?!
- Você nunca foi agressiva assim com ninguém.
- Ele ia assaltar a gente, Dick!
- Pelo amor de Deus, o que o seu pai vive dizendo pra você? “Não se envolve em confusão”, e tudo o que você fez até agora foi procurar por ela.
- Ah, para de ser frouxo. Não me diz que você tá satisfeito em simplesmente ficar fechado em uma casa, uma academia ou qualquer coisa enquanto a verdadeira ação, o verdadeiro trabalho a ser feito tá lá fora.
- Na verdade, sim. Eu to muito feliz com a minha vida Barbara. Você não tá?
- Eu não sei, tá bom! — Ela amargamente retrucou, Dick realmente podendo ver a confusão do olhar da amiga
- Olha… Desculpa. Eu sabia que alguma coisa assim ia acontecer. Eu devia, sei lá, ter levado você pra uma pizzaria ou algo assim. Não tá na hora de remexer em coisas do Batman.
- Na verdade, você fez certo, tá exatamente na hora disso. Pense em tudo o que a gente já fez, Dick, ficar parados lá não da nossa vida nem um pouco mais significativa.
- E você está com todo esse desejo de se redescobrir por qual motivo? É porque essa situação toda realmente está despertando alguma coisa dentro de você? Ou porque você está desesperada que a vida que os seus pais te deram tá fadada a terminar em tragédia igual o relacionamento deles?
- Oh… — Barbara começou a lacrimejar — Não acredito que você disse isso…
- Você não quer lidar com isso do melhor jeito, eu tive que falar! A gente tá no meio de um bairro perigoso a noite, eu juro que se a gente se encrencar com algum monitor por causa disso…
- A Olive tá cobrindo a gente! Porque você tá assim, Dick?
- Porque você mudou!
- Não!
Logo, a conversa deles é abruptamente interrompida por uma voz, uma que vinha dos walkie-talkies que eles trouxeram. Ficaram em silêncio, se encarando, até Barbara abrir sua bolsa e pegar o aparelho. Ouviram uma voz masculina, ela era calma e rouca, claramente dizia um conjunto de instruções para alguém nos arredores. “22 e 37, momento de montagem do projeto 027. 22 e 44, carregamento dos transportes.” eram algumas das palavras que eles puderam ouvir. Barbara deduziu que eles captaram alguma transmissão de onda por perto, sussurrando a ideia para Dick, que apenas balançou a cabeça em afirmação. Pouco tempo depois, ele silenciou as instruções, não havia mais nenhuma voz respondendo, e de repente, um dos portões da abandonada Torre do Relógio se abriu. De dentro dela, várias vans escuras emergiram durante a noite.
Os dois se esconderam num beco próximo e observaram enquanto os veículos trafegavam, silenciosos pela noite. Seus condutores, armados e mascarados, fitando as ruas por qualquer testemunha, algo que realmente amedrontou as duas crianças. Depois que mais nenhuma delas se tinha por vista, Barbara rapidamente se aproximou da luz de um poste e retirou um caderno, começando a anotar tudo o que eles haviam visto. Dick se aproximou para perguntar o que eles iriam fazer, e ela não disse nada, apenas terminou suas anotações e começou a caminhar em direção a um ponto de ônibus. Os dois foram para a Academia novamente, não se atrasaram para o toque de recolher, mas Barbara continuou não respondendo o amigo, precisava de um tempo sozinha para reorganizar os pensamentos, pois ela não gostava nem um pouco do que ele havia implicado a respeito de si mesma. Talvez ele estivesse certo, talvez não, isso só o tempo diria.
A Delegacia de Polícia de Gotham. Barbara perdeu a conta das vezes que teve de passar alguns finais de semana trancada dentro de seus corredores e salas, já que ambos os pais estavam trabalhando, e para eles, não existe lugar melhor para deixar suas crianças que não seja num edifício cheio de policiais armados. Muitos deles tiraram um tempo para cumprimentá-la, mas ela estava atrás de um escritório em específico. Ao chegar na entrada do escritório do Chefe de Polícia Harvey Bullock, ela bateu na porta suavemente, aprendeu a fazer isso bem cedo, não queria incitar a ira de ninguém por lá de novo, principalmente do Bullock.
Ela ouviu a voz irritadiça de Bullock dizendo para entrar, e quando ela o fez, encontrou exatamente quem ela queria. O chefe de polícia de um lado da mesa, e os três adultos com quem ela mais passava seu tempo, do outro. Seu pai, e os Tenentes Renée Montoya e Crispus Allen. Todos ficaram contentes de vê-la, menos Harvey, que raramente ficava contente com qualquer coisa.
- Barbara! — Renée e Crispus disseram, em uníssono
- O que você veio fazer aqui? — Jim perguntou
- Queria fazer uma visita, não vejo o resto da equipe faz mais de uma semana.
- É muito bom ver você, querida. — Crispus se aproximou e a abraçou — Como estão as coisas na academia?
- Você sabe, um dia de cada vez.
- Babs. — Montoya levantou o punho para ela, Barbara tocou de volta — Legal você estar aqui, mas não devia.
- Eu estava com saudades!
- A Tenente Montoya está certa, garota — Bullock finalmente se manifestou — Você já passou muito tempo aqui, mas isso não lhe dá o direito de vir quando bem entender. Nosso trabalho é perigoso.
- É verdade, Babs. — Seu pai se aproximou — Tente pelo menos avisar da próxima vez. Mas… Já que você está aqui, não tem problema, queria falar comigo?
- Também… Eu só me sinto à vontade aqui. Posso ficar no saguão principal como sempre, na minha e não incomodo ninguém. Tudo bem por você, chefe?
- … Tá bom, menina. — Harvey respondeu, de cara fechada. Não gosta de mostrar seu lado mole perto de seus subordinados — Melhor ainda, fica no escritório dos Tenentes, nada de criança sozinha na minha delegacia.
- Obrigada, Chefe — Ela sorriu, e ele piscou para ela rapidamente, esperando que os outros na sala não percebessem.
- Vamos, então? — Crispus estendeu o braço, como se estivesse tratando uma dama.
Foi bom, por um tempo, ter um lugar para se acalmar e organizar os pensamentos. Pensou no que Dick havia dito… Ela realmente não gostava daquela frase, mas ele tinha certa razão, não importa o quanto ela tente esconder de si mesma, aquele era o jeito dela de processar tudo o que acontecia e podia acabar consumindo sua mente.
Crispus com uma caixa de donuts na mão. Ele se sentou ao lado dela no pequeno sofá que eles tinham enfiado na sala, justamente para Barbara, e estendeu a caixa para ela, oferecendo um. Ela inconscientemente agarrou um e começou a mastigá-lo, teclando rapidamente em seu laptop, centrada, algo que divertida Chris, ele abriu um sorriso antes de falar.
- Você tecla rápido. O que você vê de tão interessante aí?
- Ah… Nada não, tio Chris. — Ela rebateu, ainda concentrada na tela
- Alôo, Terra para Babs. — Ele estalou os dedos perto do rosto dela, a fazendo finalmente olhar para ele, ainda com uma expressão distraída
- O que… O que eu to vendo?
- Sim.
- É um fórum online…
- De…?
- Do Batman.
- Ah, o velho morcego! Então você é fã do elemento sombrio? Faz um tempo desde a última vez…
- Você já conheceu o Batman?! — Barbara arregalou os olhos
- Conhecer é uma palavra forte. Eu o vi… Não sei se eu comentei, foi na minha primeira semana de oficial aqui na delegacia. Estávamos eu, Renée e o seu pai num antigo armazém das docas, o Chefe Bullock ficou na retaguarda com o carro nas saídas e nós entramos.
“Aconteceu um grande incêndio no meio do fogo cruzado com um cartel de drogas, eu acabei me separando do grupo, saí do armazém e consegui perseguir um par de fugitivos, mas bem quando eu estava na cola deles… Um carro. Vieram com tudo pra cima de mim e eu estava em uma passagem estreita, e então… Alguma coisa me pegou. Eu fui lançado pra cima, e em poucos segundos, meu pé estava amarrado em uma das janelas altas do galpão. Foi tudo muito rápido, ele era um vulto preto, e estava no mesmo lugar que eu na rua. O carro ainda avançava, mas então ele apenas estendeu o braço dele em direção ao carro, algum tipo de brilho cintilante saiu das mãos dele e os pneus do carro estouraram na hora. Ele não se mexeu, o carro fez uma curva que desviou dele e se acidentou logo ao lado.
“E não parou por aí, as portas estavam emperradas, do acidente, ele simplesmente tirou uma das garras dele, não sei da onde, e lançou uma espécie de raio que desmontou a porta do carro. Os dois criminosos saíram do carro, ele se aproximou, e então os dois sacaram pistolas. Foi muito rápido, no momento em que eles tentavam mirar no Batman, ele enfiou as mãos para bem dentro das asas dele e… Um enxame de morcegos saiu de lá de dentro. Eles faziam um som que sibilava no ar, foram muitos, mas os primeiros desarmaram os criminosos, os outros simplesmente bateram neles até desmaiarem. Foi um show e tanto, principalmente vendo tudo de ponta cabeça, e então ele olhou pra mim, e voou para perto da janela, me desamarrando e descendo a corda até eu chegar no chão com segurança, quando voltei a olhar pra cima… Ele tinha sumido.”
- Uau… — Barbara suspirou
- Nós três temos encontros diferentes com ele na mesma noite. Ele salvou todos nós e nos entregou os traficantes de bandeja.
- Espera… Meu pai também?
- Sim, claro.
- Ele nunca me contou isso…
- Como assim? Ele fala dessas coisas com você? — Chris ficou um pouco perplexo
- Opa…
- Ha! Velho Jim, fala do protocolo com a gente, mas conta assuntos confidenciais com a filha, é a cara dele mesmo, coração mole.
- Não fala assim dele…
- E não liga pro que eu digo, querida. — Ele se levantou, bagunçando o cabelo de Barbara — É preciso um coração mole para reconhecer o outro.
- Para! — Ela afastou as mãos dele de seu cabelo, rindo
- Espero que você esteja lidando com essa situação melhor do que ele.
E Crispus voltou para sua mesa, pegando outro donut e deixando a caixa com Barbara. Ela sempre era muito mimada quando ia para lá, outro dos motivos pelo qual fez a visita, mimos no geral sempre a deixavam muito tranquila. Ela mexeu nos fóruns por mais alguns momentos, já estava entardecendo e tinham algumas coisas na mente dela. Fechando o laptop, ela se aproximou da mesa de Renée, que sempre ficava de rosto fechado enquanto mexia com relatórios, duas pilhas de papel em cada ponta e um computador bem antigo no meio, ela teclava devagar, mas sem parar. Barbara ficou do lado dela, e fez uma expressão curiosa para a mesa, Renée se virou para ver o que a menina queria, e o rosto com grandes olhos e um pequeno sorriso já diziam tudo.
- Ah… Chris! — A Tenente chamou
- Sim?
- A menina aqui tá me chamando…
- Ai… E quanto falta?
- Já tá no final… — Renée olhou para a pilha de papéis menor
- Tudo bem, passa aí — E Montoya passou os papéis para Allen, indo se sentar com Barbara logo após.
- Eu tenho trabalho pra fazer, Barbara…
- Sim, mas faz tempo que a gente não faz isso. E o Harvey deixou vocês ficarem comigo.
- Eu não tenho catorze anos, Babs — Renée acrescentou, virando Barbara de costas para ela e soltando o cabelo amarrado dela
- Mas você me dá uns conselhos tão bons!
- Eh, isso é verdade. — Montoya sorriu, e começou a fazer as tranças no cabelo de Barbara, como de costume — E porque você não tá por aí com o seu… “Amigo”. Qual o nome dele mesmo?
- Dick.
- Ah sim. — Ela abriu um sorriso largo, quase rindo, e Barbara soube sem mesmo ver.
- Para! — Barbara disse, quase rindo também.
- Eu me recuso a chamar ele assim. Porque você não tá por aí aprontando com o “Pequeno Richard”.
- Ele me disse uma coisa que me magoou.
- Que seria…?
- … Tem a ver com os meus pais se separando.
- Claro. Mas sobre o que foi?
- Sobre como isso pode estar mexendo comigo.
- Ele pode não estar errado, sabia. Você veio aqui pra ter um tempo pra pensar nisso, suponho?
- Sim…
- Bom Babs, vindo de uma garota com uma família desestruturada também, esse é normalmente um momento que você precisa de muita calma, normalmente se concentra em algo que te eleve, é uma hora bem decisiva.
- Como foi pra você?
- Eu decidi entrar numa escola de luta livre, acredite se quiser.
- Luta livre? Mas os seus pais podiam pagar?
- Não, eu concorri uma vaga, a escola dava para alguns alunos de bairros pobres. Eu consegui, é claro.
- E te ajudou?
- Bom, tudo o que eu queria era amassar a cara de alguém até ficar irreconhecível, e eu podia fazer isso sem pudor por lá, então sim — As duas riram — Mas, mais do que tudo, isso me ajudou a me tornar a policial que sou hoje, tudo começou naquele ringue.
- Entendi…
- Você tem algo em mente…?
- Eu e o… “Pequeno Richard” estávamos fazendo uma coisa ontem, antes dele falar aquilo.
- Era algo que você queria fazer?
- Muito.
- Ainda dá tempo de você fazer hoje?
- Talvez… — Barbara olhou os tons de vermelho no pôr-do-sol de Gotham pela janela do escritório
- Então você já sabe a minha recomendação. — Renée disse, finalizando a trança de Barbara.
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