Era quase horário do fim do toque de recolher novamente, mas dessa vez Barbara iria ficar perto da Torre do Relógio na Velha Gotham. Estava em um edifício abandonado no quarteirão ao lado, com todos os equipamentos que ela julgava necessários para a missão espalhados no chão. Eram seu laptop, o caderno, alguns “equipamentos de proteção pessoal” e, é claro, o walkie-talkie, com o qual esperava as transmissões crípticas da noite passada. Olhava para ele atentamente, em silêncio dentro das trevas do edifício, onde ela encontrava um pouco de paz, era realmente reconfortante estar em um lugar vazio do qual ela tem completo conhecimento, o silêncio era como almofadas para sua mente agitada, o frio como um despertador para chamar sua atenção para a tarefa em mãos.
Se passou algum tempo enquanto ela esperava por um sinal, meditando, podia ver agora porque o Batman ficava lá. Ou surgiu de lá, quem sabe da onde ele realmente veio? Foi então que ouviu a voz do estranho homem mais uma vez, ele começou o curioso ditado de números novamente, o qual ela foi anotando em seu caderno pacientemente. Havia um padrão que ela não conseguia entender ainda, mas ele estava lá. “8 e 37, transporte do carregamento. 9 e 32, preparação da carga…”, os números iniciais sempre eram crescentes, mas os finais eram praticamente aleatórios. Foi anotando mais alguns comandos que a voz subitamente se silenciou, apenas para, poucos momentos depois, começar a falar comandos reais.
- Cinco Horas, como está a vigília do perímetro? — Perguntou a voz rouca
- Tudo no horário. — Veio outra voz, finalmente, também a de um homem
- Muito bem, das Cinco até as Onze, comecem a armar os explosivos… — Barbara se arrepiou ao ouvir aquilo. Explosivos? Cinco às Onze?
- Certo. Deixando o posto do topo agora.
O Posto do topo… Topo do que? Ela indagou consigo mesma por algum tempo, nada lhe vinha à cabeça além do topo de um edifício, mas não sabia dizer qual. O edifício mais alto da área, mas qual seria… A Torre do Relógio! O edifício mais alto da Velha Gotham, da onde saiu a van no dia anterior. Gente sinistra plantando explosivos sabe se lá aonde na cidade, isso tinha acabado de ficar sério demais. Ela precisava contar pra polícia, mas… Isso com certeza é o tipo de coisa que atrai o Batman. Imagine, conhecer o Batman combatendo o crime! Talvez até mesmo ajudá-lo, vai que era por isso que ele estava aqui. Com certeza era por isso. Ela precisava chegar ao topo da Torre, e tinha uma ideia de como fazer isso, mas não ia ser nada fácil.
Estava no topo do prédio abandonado, agachada para não ser vista pelo grupo de criminosos armados que deixavam a Torre montados em suas motos. Ela contou, eram sete deles, e lembrou da mensagem, “Das Cinco às Onze”, sete números. Teve de anotar isso no caderno antes de continuar, imaginava que a junção de todas as pistas fosse denunciar a história completa depois. Ficou de pé depois que todos saíram de vista, e olhou em volta, procurando uma rota pelo topo dos prédios, e conseguiu visualizá-la. Dois prédios e depois um salto para perto de uma das janelas da Torre. Mas se lembrou, é o topo que estava não viajado, teria que escalar mais um andar para alcançar a entrada de cima. Isso deveria ser fácil, não eram saltos tão grandes, e ela pratica escalada na Academia… Certo?
Bom, só havia uma maneira de descobrir, enfiou o caderno de volta na mochila e encarou o vão entre o seu prédio e o próximo. Dando alguns passos para trás, respirou fundo, dizendo a si mesma que podia, por mais que as probabilidades não fossem muitas. Procurou não pensar… E correu. O mais rápido que podia, avançou e saltou, o pico de adrenalina correndo pelo seu corpo enquanto ela rolava na aterrissagem no outro prédio. Procurando não perder o momento da aceleração, ela se levantou em um rápido impulso e continuou correndo pela trajetória, e ao se aproximar do segundo vão, teve de dar um salto maior do que esperava. O vão até podia ser maior, mas alcançou o segundo prédio com alguns centímetros de sobra, pousando agachada dessa vez. Suando frio por causa da última manobra, ela tombou no chão da cobertura, ofegante das manobras que havia executado.
Pouco depois, se levantou novamente, se aproximando do vão entre o prédio e a torre. Concluiu que não ia conseguir alcançar seu objetivo com o peso extra da mochila, então agarrou seu Walkie-Talkie e o celular, deixando a mochila naquele terraço mesmo, acabaria tendo de voltar até ali eventualmente mesmo. Colocando ambos nos bolsos de sua blusa, ela recuou até a borda oposta do terraço, se ajoelhando e colocando os punhos no chão. Respirou profundamente mais uma vez, e partiu com toda a força de suas pernas. Deve ter sido o maior salto que ela tomou, pensou consigo mesma, ao passo que se agarrou na gárgula mais próxima, dependurada a vários metros do chão. Com muito esforço, se debruçou em cima da estátua, e depois de respirar mais um pouco, se levantou para escalar a borda. Construções antigas eram cheias de parapeitos e decorações sobressalentes que davam pra escalar, volta e meia ela tentava fazer isso quando estava entediada em sua casa.
Começou a escalar, se apoiando em cada peça que conseguia achar até o topo, um pequeno parapeito com um alçapão, e acima dele, um sino pendurado, para marcar cada hora. Ela agarrou o Walkie-Talkie e colocou o seu capuz. Tinha sido um trabalho árduo chegar até ali, mas a parte mais difícil era agora: Ficar quieta. “Pense como o Batman, Barbara. Seja o Batman.” Sussurrava para si mesma. Passando pelo alçapão, ela desceu as escadas vagarosamente, não ouvia a presença de mais ninguém, mas assim pôde perceber algumas vozes ao longe. Ela saiu das escadarias entre as engrenagens do relógio gigante, seu Walkie-Talkie finalmente recebendo um sinal de transmissão, e ela se agachou para ouvir atentamente, abaixo o volume num nível que só se aproximasse de seu ouvido, poderia escutar.
- Atenção. Uma Hora, precisamos de uma cobertura dos eventos do fim de semana assim que possível, aproveitem, esse é o único cronograma sem horário que você vai receber. — O Líder disse novamente
- Entendido. — Uma voz feminina respondeu dessa vez.
Barbara começou a se mover na direção que o sinal da transmissão ficasse mais claro. Os sons reverberaram em seus ouvidos ao ritmo que ficava mais próxima da fonte. Não demorou muito, estava em uma engrenagens muitos metros acima da tela dos ponteiros, só que do lado de dentro. Pode ver embaixo da onde estava, e havia uma plataforma escondida, nela, uma mesa com vários materiais de escritório, algumas cadeiras, alguns gabinetes, surpreendentemente, vários e vários relógios. Guardou seu walkie-talkie, conseguia ouvir as ordens do próprio líder da operação, que se sentava em sua mesa, e em frente a ele, uma mulher alta, usando uma espécie de fantasia que cobria todo o seu corpo, o material de algo que Barbara não conseguia identificar, mas a deixava muito mais robusta. A Máscara, cobrindo todo o rosto, sendo ela e todo o traje completamente pretos, com alguns pontos brancos espalhados, e o número doze marcado no peito.
- Tudo está indo completamente como agendado… — O homem da mesa disse, ainda escondido pelas sombras do local
- Qual será a próxima programação? — A voz abafada da mulher respondeu, Barbara se perguntou se ela podia enxergar.
- Para você, Meia-Noite: 23 e 30, cause um pouco de problema para o tráfico de armas das Indústrias Stagg, isso vai chamar a atenção do morcego o suficiente.
- Morcego… — Barbara suspirou quietamente, o Batman realmente estava envolvido nisso.
- Tudo bem, Rei. — A mulher respondeu, se levantando.
- Só um momento… — Ele pediu para a subordinada parar, pegando um grande e velho walkie-talkie em suas mãos — Quatro Horas…
Barbara havia deixado seu walkie-talkie na superfície da engrenagem, e quando ele falou ao dispositivo, o de Barbara reverberou, as palavras dele pela estrutura de metal do relógio. A criança congelou de medo, e se encolheu, agarrando o walkie-talkie o mais rápido que pode. A penetra não pode ver, mas o homem parou imediatamente e olhou para cima, a mulher Meia-Noite também. Gordon segurou até mesmo sua respiração, e começou a se esgueirar lentamente para observá-los novamente. Quando estendeu seus olhos para fora novamente, teve a sorte dos dois não estarem observando ela diretamente, apenas a área em sua direção. Vendo que não podia mais chamar a atenção deles, ficou completamente estática. O Homem se levantou da mesa e se aproximou de Meia-Noite… Ele usava um chapéu coco, óculos, terno e uma bengala… O Problema era que a bengala era um grande ponteiro de relógio, afiado por sinal. A gravata, vários relógios estampados nela, e os óculos… Tinham ponteiros também. Cada lente era um relógio com um horário diferente estampado.
Gordon não pode acreditar no que estava vendo… Que tipo de maluco ela tinha acabado de encontrar? Esse era o tipo de coisa que ela apenas via na TV ou ao longe em alguma rua de Gotham com a polícia logo atrás. Ouvia seu pai falando de encontros com esses mega vilões, mas agora… Tinha um bem na frente dela. A Mulher Meia-Noite havia chamado ele de Rei…
- Rei Relógio… — Barbara sussurrou para si mesma novamente, concluindo o nome.
- Meia-Noite… Vá ver a nossa infestação de ratos, por favor.
- Sim, Rei.
Barbara estava estática de medo ao passo que a mulher começou a escalar uma das paredes apenas com o braço esquerdo, enterrando as mãos nos tijolos e se impulsionando para cima. O medo congela seus sentidos, ela ainda estava parada observando Meia-Noite se aproximar e não sabia o que fazer, até que o badalar das das dez da noite soou, o relógio todo tocando e se mexendo freneticamente, isso não só acordou Barbara, como a deu a deixa para sair correndo dali sem ser rastreada. Não teve certeza, mas podia jurar que quando bateu o sino, Meia-Noite caiu, mas não conseguia ouvir nada ainda enquanto o sino soava dez vezes. Chegou ao topo da Torre novamente, podia ouvir a movimentação dentro do edifício enquanto pensava como iria fugir.
Estava a um vão e um andar da trajetória que ela precisava chegar, e precisava chegar rápido. Teve uma ideia da qual ela tinha certeza que ia se arrepender, mas não pensou, apenas… Pulou. Caindo com o impacto de um andar de altura, pode ouvir seu braço esquerdo se deslocando com o impacto do salto. Ficou algum tempo ao lado de sua mochila, tentando suportar a dor sem gritar, imaginando no que tinha acabado de se meter. Ela levantou com muito custo, passou a alça da mochila por ser braço direito e correu para pular os dois edifícios novamente. Foi quando ela finalmente chegou ao original que tiros começaram a ser disparados perto dela. Não dava pra ouvir, estavam usando silenciadores, mas ela sabia que vinham do topo da Torre, não podiam deixá-la escapar. Ela conseguiu correr mais um pouco para entrar na escadaria a tempo, os tiros ainda soando do lado de fora.
Seus olhos estalaram de medo, não sabia o que fazer nem pensar a não ser fugir de lá naquele momento, eles iam vir atrás dela a qualquer hora, e devia tirar vantagem do time reduzido. Desceu as escadas o mais rápido que podia, o terror aliviando a dor do braço por alguns momentos para realizar sua escapada. Assim que pode sair do prédio, se misturou às sombras da Velha Gotham assim como sempre fazia quando voltava para casa tarde. Teve de andar a pé para a Academia Gotham, o que não era nada fácil, passando a noite toda até chegar lá pela manhã, quando já a esperavam. Ficou isolada no quarto das meninas por hora, após tratarem seu braço deslocado. Sabia que haveriam consequências, mas não sabia quais seriam… Só sabia de uma coisa, ela precisava avisar alguém, e principalmente…
Precisava avisar o Batman.
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