O ciclo continuou pelos próximos dias. Acordar, dormir um pouco, voltar a dormir. Às vezes Clarisse acordava à noite, às vezes ao meio-dia. Às vezes a garota estava lá, às vezes não. Às vezes a dor era avassaladora, às vezes forte como sempre.
Logo, quando ela se curou e a febre baixou, ela descobriu o nível real de seus ferimentos.
Acontece que a dor intensa na parte inferior do abdômen não veio de um arranhão ou corte, mas de um buraco onde um galho a empalou.
Clarisse provavelmente deveria estar mais alarmada depois de saber de um ferimento tão grave. Mas, honestamente, ela estava mais surpresa por ter sequer sobrevivido. Ela tinha visto companheiros cavaleiros sofrerem infecções causadas por ferimentos muito menores. Tinha visto seus corpos lutarem para sobreviver só para perderem e definharem no final.
E lá estava Clarisse, viva e se recuperando. Embora em um ritmo lento.
Essa garota... como uma curandeira poderosa como ela não mora na capital? Como ela não está cuidando do próprio rei?
Clarisse desistiu de fazer perguntas. Toda vez que ela perguntava sobre os outros cavaleiros ou a princesa ou mesmo sobre ela mesma, a maga (ela estava assumindo que a garota era um tipo de mago) ficava evasiva. Assegurando que suas coisas estavam bem e insistindo que ela descansasse.
Ela sabia que não devia provocar uma briga quando mal conseguia se mover. A carruagem provavelmente seguiu sem ela de qualquer maneira. Como eles deveriam.
Ela começou a se sentir melhor depois de... quem sabe quanto tempo. Dias? Semanas? A maga provavelmente sabe. E ainda nem havia dito o nome dela ainda.
"Meu nome é Caster." ela disse. Em um dos poucos dias, Clarisse conseguiu ficar lúcida por mais de dois minutos.
"Caster? Perdão se estou relutante a acreditar.."
"Aham." Ela assentiu com a cabeça, o sorriso mais alegre que Clarisse ja viu. "Escolher eu mesma." Ela disse e não deu mais detalhes.
Clarisse tentou ficar brava, ela realmente tentou. Mas algo em um sorriso tão genuíno e despreocupado disse a ela que- Ela simplesmente sabia. Só sabia que ela não estava mentindo. Ela não tinha outro nome.
“Clarisse.” O cavaleiro se apresentou. “Clarisse Delannoy.”
Clarisse não se lembra de ter uma tatuagem nas costas.
Caster a ajudou a se levantar para tomar banho. Mesmo com a maga limpando-a com balde e esponja, ela ainda precisava de um banho. Então Caster a ajudou a caminhar até o pequeno “quarto” separado por uma cortina. Ocupado por um pequeno fogão, uma pilha de madeira cortada e uma banheira de madeira. O mago também forneceu quatro baldes cheios de água limpa.
Foi a primeira vez que ela teve a chance de dar uma boa olhada em seu ferimento.
Foi ruim. Muito ruim.
O buraco em si era talvez do tamanho de seu mindinho, e quase curado. Ainda vermelho, ainda super inchado, ainda cheirando mal, mas cicatrizando.
Clarisse não queria mais olhar para aquilo.
Então ela se concentrou em se limpar. Despeje um balde em sua cabeça e esfregue-se com uma escova. Despeje outro e esfregue mais.
Foi quando ela notou a tatuagem.
Clarisse nunca teve nenhuma tatuagem. Ela já tem cicatrizes de batalha para contar mil histórias. Ela não precisava de uma tatuagem. Ela só notou isso quando se virou para esfregar o lado e viu em um espelho apoiado na parede. Um alvo mas com uma caveira no meio e quatro espadas imitando pontos cardeais. Apontando para o referido crânio.
“O que em nome do fundador...” Ela exclamou de pura surpresa.
"Algo errado?" Caster perguntou por trás da cortina.
“Meu- uh, o que... Caster! O que é isso?!" Clarisse engasgou.
A maga colocou a cabeça para fora para ver. Clarisse instintivamente virou as costas para esconder seu corpo. O que ironicamente era a melhor maneira de expor a estranha marca.
"Oh." A maga assentiu com uma calma que Clarisse com certeza não estava sentindo agora.
“Responda imediatamente, maga! Qual é o significado dessa feitiçaria?”
“Uma marca de classe.” Ela disse. Como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. “Você é uma cavaleira, certo?”
"De fato. Uma Lâmina de Colquis. Creio que deixei isso claro."
"Huh." Caster coçou o queixo. Uma imitação perfeita do antigo Mago da Corte no castelo real. “Essa aí parece mais a de um bárbaro, na real…”
"Perdão?!"
“Opa, falei merda. Eh… Faz parte do processo de cura. Uma tatuagem medicinal, sim sim sim." Caster explicou de forma atrapalhada.
“Então me responda. Por que razão esta marca medicinal está gravada com uma caveira e lâminas?”
Caster, para seu crédito, conseguiu soar pelo menos um pouco envergonhado de suas próximas palavras.
“Eu só acho que ficou legal…”
E para ainda mais crédito, ela se abaixou surpreendentemente rápido quando Clarisse jogou um balde em sua cabeça.
Apesar do sigilo, eles ainda conversaram. Principalmente quando Caster trazia água e comida. Principalmente sopa. Sopa de legumes, sopa de batata, canja de galinha. A princípio Clarisse ficou preocupada por ter perdido alguns dentes sem perceber. Mas logo ficou muito claro que só Caster gosta muito de sopa.
"De onde você é?" Caster perguntou um dia.
Era um dia normal, aproximando-se da noite. Caster tinha feito canja de galinha para o jantar. A própria maga estava bebendo algo em uma caneca. Cheirava quente e doce.
A pergunta confundiu Clarisse. Ela olhou para uma pequena mesa no canto, onde sua armadura havia sido colocada. Tinha o brasão dos Cavaleiros de Colquis bem visível nas costas. E eles ainda estavam no país quando o ataque aconteceu.
"Colquis." O cavaleiro respondeu claramente. "Acredito que não estamos longe da capital."
A maga respirou fundo. Olhando para o conteúdo de sua caneca. Um olhar preocupado em seus olhos.
"Você é notóriamente incapaz de esconder suas emoções, você está ciente?" perguntou Clarisse.
"Sim." Ela assentiu. "Mas eu não acho que ser sincera fará melhor."
Clarisse torceu o nariz para a resposta, sabendo muito bem que não obteria mais informações. Parte dela estava curiosa para saber se ela era naturalmente criptica assim ou se ela estava apenas zombando com ela.
“Seja franca comigo, maga. Qual é a sua intenção? Clarisse perguntou diretamente. "Se sua intenção fosse minha morte, meu corpo já estaria a muito repousando na terra."
A maga permaneceu em silêncio por um tempo. Segurando a caneca perto do peito.
“Você não está mais no seu mundo.” Ela murmurou.
Clarisse olhou para a garota. Tentando processar o que Caster acabara de dizer. Isso- isso tinha que ser mais besteira enigmática, certo?
Acompanhe a nova vida de Clarisse Delannoy, outrora uma grande cavaleira do reino de Colquis, enquanto ela se ajusta ao novo e estranho mundo em que agora se encontra. Enquanto ela reúne novos amigos e inimigos, luta com unhas e dentes para proteger a eles e a seu novo... lar? Talvez...
Caster, a bruxa misteriosa com uma atitude estranhamente despreocupada. Conhecedor de inúmeros feitiços e remédios. Seu objetivo atual parece ser apenas viver em paz em seu pântano, mas a chegada de Clarisse muda radicalmente seus planos.
E Alexia César Maximus Decimus. O maior guerreiro a pisar no Coliseu Romano. Agora uma lâmina de aluguel que busca paz e tranquilidade em Pelles, assim como Caster.
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