Muito poucos lugares onde o chão era realmente sólido. A versão de Caster de andar por aí era, na verdade, seguir pequenos trechos de terra seca ao redor de sua casa. A vista era bonita se você a visse de longe ou em uma pintura. De perto, o cheiro ofuscava qualquer beleza.
Caster flutuava sem se importar com o mundo. Literalmente flutuando com um feitiço. Ela chamou isso de “exercitar suas habilidades mágicas”, mas Clarisse supôs que ela simplesmente não gosta muito de andar.
Clarisse ainda estava tentando processar tudo o que aconteceu. Outro mundo, longe de Colquis, longe da Ordem, longe de seus deveres e de todos que ela conhecia.
E o mais estranho era... como ela se sentia fadigada. Nenhum desespero por estar presa naquele mundo, nenhum temor por sua própria segurança, nenhum pavor por quase ter morrido, apenas... nada.
Mesmo as brasas normais em seus músculos pareciam opacas. Um eco do que já foi.
Ela não sabia como se sentir sobre isso.
A cavaleira ainda estava longe dos 100%, mas ela estava bem o suficiente para andar sem ajuda. Caster insistiu que o cavaleiro desse um passeio com ela para se exercitar e “limpar a ferrugem de seus ossos”, como ela disse.
"Outro mundo. Um que funciona como um jogo. Com classes, habilidades especiais, habilidades passivas…” Clarisse repetiu, mais para si mesma do que para Caster.
O mago assentiu mesmo assim. “Eu sei que é muito. Foi muito quando eu caí aqui também. Tenho uma amiga que pode ajudá-lo a se adaptar."
Clarisse assentiu distraidamente.
Eles caminharam em silêncio ao redor do pântano um pouco mais. Caster de repente quebrou o silêncio com um pedido de desculpas.
"Desculpe."
"Perdão?" Clarisse questionou.
“Por mentir para você. Sobre a princesa e tudo. Foi só para te acalmar um pouco, mas…”
Clarisse não disse nada por alguns momentos. Apenas quebrando com um suspiro suave.
“Não tema, Caster. Não guardo rancor contra você."
"Obrigada." Caster soltou uma risada suave misturada com alívio. "Sabe, é muito mais fácil conversar com você quando você fala mais normalmente, menos formal."
Clarisse virou os olhos, tentando esconder o constrangimento. É difícil não pegar alguns maneirismos quando você fala diariamente assim com pessoas que também falam assim. Seus companheiros cavaleiros sempre apontavam seu sotaque misto.
“Eu só me sinto... Perdida, eu acho. Sobre o que fazer a seguir." confessou a cavaleira.
Na época em que Clarisse ainda pretendia se juntar à guarda, os cavaleiros a treinaram ate o limite, tanto do corpo quanto em mente. Ela aprendeu a lutar desarmada e com uma espada. Como sobreviver em ambientes hostis. Como negociar em situações difíceis. Como se manter calma diante da própria morte.
Ninguém a ensinou o que fazer no caso de ficar presa em outro mundo. Quem poderia pensar em algo assim. O antigo Mago da Corte, talvez. Mas duvido que ele sairia por aí ensinando às pessoas sobre... deixa pra lá. Ele iria.
Talvez a sensação de entorpecimento que ela estava sentindo fosse a forma que sua mente encontrou para não ter um ataque de pânico. Quantos anos ela passou sob estresse e dor durante seu treinamento como cavaleira? Ela se lembrava vagamente de se sentir assim antes, na verdade.
“Minha amiga pode ajudar. Ela é uma cavaleira também, de certa forma. As pessoas em Pelles estão acostumadas a ensinar os ABCs para os novos caras." Caster tranquilizou a nova amiga.
"Tudo bem. Você tem meus agradecimentos, minha amiga mágica.”
"Ah, mais uma coisa que esqueci de explicar. Sobre a, eh... "tatuagem medicinal..." Caster disse, levemente temerosa. Apertando de leve os punhos e brincando com os proprios dedos.
Clarisse havia notado alguns dos maneirismos da maga. Principalmente os muitos gestos que ela fazia enquanto falava e se movia. Mexer os braços e gesticular quando falava, principalmente sobre topicos que a interessavam. Se mover e sapatear de leve quando forçada a ficar parada em pé por muito tempo. Murmurar cançoes e melodias quando quieta por muito tempo...
Bem semelhante ao mago da Corte Real. Clarisse se perguntou se esse tipo de pessoa possuia algum tipo inerente de afinidade a magia.
"Sim?" Clarisse levantou uma sobrancelha. Ja levemente desconfiada.
"Não é medicinal." Ela confessou.
Clarisse virou-se para dar ao mago o maior olhar de "É mesmo?" que Caster já tinha visto. E ela achava que a ferreia de Blackwater era expressiva.
"Lembra o que eu expliquei sobre Classes? As tatuagens são chamadas de Marcas de Classe. Elas mostram qual Classe você foi designada. Olhe." Caster explicou.
Caster ergueu o braço esquerdo. Bem diante dos olhos da cavaleira, profundas linhas roxas apareceram em sua pele. Um intrincado padrão de videiras correndo de seu ombro até sua mão. As linhas nas costas da palma da mão formavam uma flor e folhas. Isso lembrou Clarisse de um velho mercenário em uma aldeia que ela viveu uma vez. Uma marca tribal, como o homem chamava.
A cavaleira olhou para a marca de Caster. A maga sorriu, ergueu uma sobrancelha espirituosa e estalou os dedos. Uma pequena faisca apareceu sobre sua mão. Laranja quente e brilhante, chamas cuidadosamente contidas em um pequeno sol.
"Classe Maga." Caster apontou. Como se a bola de fogo não fosse indicação suficiente. "Bruxa, para ser mais preciso."
"Heh. Entendo porque você é chamado de Caster agora." Clarisse não pode evitar um pqueno sorriso.
O mago soltou uma gargalhada. Um sorriso que Clarisse só tinha visto em leprechauns irritantes antes. Combinava estranhamente bem com ela. "Exatamente."
Caster dispensou a bola de fogo. Clarisse de repente estava muito consciente de sua própria Marca em suas costas. Aquele comentário que Caster fez sobre parecer a de um bárbaro estava saltando dentro de sua cabeça como um sapo erratico.
“Talvez você saiba o que minha Marca significa?” O cavaleiro perguntou.
Caster, para sua decepção, apenas balançou a cabeça. “Cada marca é única. Existem alguns detalhes comuns, como o meu. Longos tribais como o meu são comuns entre os magos. E você tem espadas nas suas, como um cavaleiro. É o crânio que estragou meu palpite. Esses geralmente aparecem em Bárbaros. O tipo "Puto demais pra morrer", sabe?"
Clarisse lutou para engolir um nó na garganta. Algo sobre estar “puta demais para morrer” fez os cabelos de sua nuca se arrepiarem.
"Não se preocupe. Você vai descobrir em breve. Alexia é boa em ajudar os novos a descobrirem suas habilidades.”
Elas voltaram para a casa de Caster sem nem perceber. O sol havia começado a se pôr. De repente, o ar cheirava mais a florestas perto de sua cidade natal do que um pântano.
Uma das galinhas escapou da cerca. Estava andando casualmente pelo jardim da frente. Caster rapidamente o pegou antes que pudesse notá-la.
“Hum…” A maga cantarolou baixinho para si mesma. Olhando para o pássaro como se estivesse inspecionando um animal premiado. Ela sorriu animadamente para Clarisse "Bom para o jantar."
O cavaleiro apertou os lábios. Subitamente consciente de uma sensação de que, aconteça o que acontecer, ela embarcará em uma jornada muito interessante.
Acompanhe a nova vida de Clarisse Delannoy, outrora uma grande cavaleira do reino de Colquis, enquanto ela se ajusta ao novo e estranho mundo em que agora se encontra. Enquanto ela reúne novos amigos e inimigos, luta com unhas e dentes para proteger a eles e a seu novo... lar? Talvez...
Caster, a bruxa misteriosa com uma atitude estranhamente despreocupada. Conhecedor de inúmeros feitiços e remédios. Seu objetivo atual parece ser apenas viver em paz em seu pântano, mas a chegada de Clarisse muda radicalmente seus planos.
E Alexia César Maximus Decimus. O maior guerreiro a pisar no Coliseu Romano. Agora uma lâmina de aluguel que busca paz e tranquilidade em Pelles, assim como Caster.
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