Isniffi foi o primeiro a acordar. Emika ainda dormia, depois de um dia difícil, ter um sono pesado era natural. O pequeno decidiu ser melhor procurar mais madeira para uma fogueira. Ele queria fazer uma surpresa para Emika assando um peixe. Ele andou de fininho para o lado de fora da caverna e correu rumo ao lago que tinha ali perto.
— Emiquinha vai ficar feliz comigo se ela comer um bom peixe, nem sei direito o que é um peixe, mas ela vai gostar!
Isniffi não tinha memórias, ele só sabia que Emika era sua mãe, de resto, não se lembrava de nada. Para ele tudo era novo, desde as árvores daquela ilha, até os peixes no fundo do mar. Ser inocente numa ilha como Seichi não é nada bom.
— Peixes, peixinhos apareçam! — disse Isniffi olhando para a água com uma careta engraçada.
— Tem certeza que é assim que se pesca? — perguntou uma voz vinda de uma vitória régia.
— Quem é que está falando? — perguntou ele com medo.
— Meu nome é Anahí, e o seu?
— Meu nome é Isniffi, mas pode me chamar de Isniffi!
— Você é diferente dos outros que vieram até aqui — afirmou Anahí.
— Posso ver você?
— Tem certeza? Eu não sou mais uma humana bonita.
— Por quê?
— Há alguns anos, eu queria me casar com a lua, porém, meus pais me alertaram que eu deixaria de ser uma humana quando se vira noiva do deus lua. O que eu não sabia era que, na verdade, não existe deus lua, mas um mago goblin que vivia escondido nessa floresta. Ele amaldiçoou essas águas com um feitiço que faz todas as virgens apaixonadas pela lua se transformarem em vitórias régias.
— O que é virgem? — perguntou Isniffi com um olhar curioso.
— Alguém que… que… que… nunca virou os olhos! — respondeu Anahí sorrindo.
— Será que posso ajudar você?
— O mago goblin foi morto pelos homens de minha tribo quando contei a verdade para eles, todavia, o feitiço nunca foi desfeito.
— Que pena… Isniffi pode ver você mesmo assim?
— Promete que não vai rir?
— Isniffi também foi transformado em algo não humano… ele nem sabe quem é… — falou Isniffi com um olhar triste — Isniffi não tem o direito de zombar de ninguém por ser diferente.
Uma mulher nua de pele da mesma substância da planta, com uma vitória régia no lugar do cabelo, se ergueu do lago. Sua expressão era de vergonha, ela tapava suas partes íntimas com as mãos e tentava forçar um sorriso para parecer mais bonita.
— Você… é linda demais! — disse Isniffi correndo na direção dela para abraçá-la.
— Você vai se afogar! — gritou ela.
Isniffi começou a afundar na água. Ela o pegou em seus braços e o abraçou. Ele olhou nos olhos dela com um sorriso fofo.
— Como se pesca peixe? — perguntou ele.
— Acho melhor ensinar você a nadar primeiro — afirmou Anahí.
— Nadar? Como se nada? — perguntou ele curioso.
— Prenda a respiração, vou te levar para conhecer os peixes.
— Tudo bem, mas não podemos demorar, a Emiquinha vai ficar com fome!
— Não se preocupe, vamos ser rápidos!
Anahí contou até três. Isniffi encheu as bochechas de ar. Ela afundou na água. Ele abriu os olhos e viu vários peixes de inúmeras cores. Isniffi sorriu. Anahí olhou para ele e disse com um sorriso:
— Mexa os braços e as pernas iguais a mim.
Isniffi acenou com a cabeça. Ela mexeu os braços para o fundo. O nosso herói a seguiu imitando seus movimentos. Crocodilos maiores que elefantes olharam para eles, mas foram advertidos por Anahí a não atacá-lo, já que era um amigo dela. Isniffi começou a sufocar. Ela o beijou, enchendo as bochechas dele de ar. Ele ficou envergonhado, mas sorriu logo em seguida quando viu uma sereia vindo em sua direção.
— Anahí, quem é essa garota? — perguntou a sereia.
— Na verdade, ele é um homem, seu nome é Isniffi — respondeu ela.
— Meu nome é Yara, quando precisar de algo, pode pedir para mim, sou ótima em seduzir idiotas e matá-los afogados! — zombou a sereia.
— Não assuste ele.
— O que seu amigo está querendo?
— Um peixe para a mãe dele.
— Tem tantos peixes aqui, qual você vai querer? — perguntou Yara.
— Ele não consegue falar!
Isniffi fez sinal que estava se afogando. Anahí beijou ele mais uma vez. Yara apontou para um peixe vermelho com escamas douradas. Isniffi fez que não. Ela mostrou um verde com calda amarela, mas ele também negou esse. Anahí apontou para um peixe feio sem muita aparência. Isniffi acenou com um olhar fofo.
— Por que esse peixe feio? Tem tantos bonitos no lago, você vai querer logo aquele! — disse Yara.
— Boba, não é a aparência do peixe que o faz bom, mas o que tem dentro dele. Todos aqueles eram bonitos, mas se você o comesse, morreria envenenada.
— Como nunca morri? — afirmou ela.
— Você come os peixes que eu te dou, se não já estaria morta! — zombou Anahí.
Ela pegou o peixe do Isniffi e o levou para cima, segurando a mão dele.
— Obrigada por fazer meu dia feliz, faz tempo que não sou elogiada com sinceridade. Pode pedir qualquer coisa, que eu te darei.
— Pode beijar o Isniffi de novo? — pediu ele envergonhado.
Anahí beijou a bochecha dele e se despediu do seu novo amigo. Isniffi correu rumo a caverna com o peixe em seus braços. Emika ainda dormia quando ele chegou. Isniffi pegou vários galhos e, com duas pedras de fogo, fez uma fogueira. Ele colocou o peixe para assar enquanto olhava feliz para Emika. “Ela vai gostar de mim agora” disse Isniffi em seu íntimo.
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