Bhesda: Reino de Daemon, Abril de 2047.
Eu estava prestes a ter minha alma ceifada por uma espécie de criatura metade homem e metade serpente, sua boca era enorme e salivava sem parar, seus olhos me encaravam fixamente de forma maliciosa e assustadora, aquilo era como ver um demônio escamoso frente a frente.
Me encontrava caída no chão, desarmada e vendo que todos os meus companheiros de equipe já estavam abatidos. Pensávamos que esta seria uma missão fácil já que dá última vez que olhamos, essas criaturas não pareciam ser muito fortes. O que não sabíamos é que a dificuldade dos monstros desse jogo poderia aumentar ou diminuir de acordo com a área que eles se encontravam.
Tudo parecia acabar para mim naquele momento. Mesmo que nada fosse de verdade, eu não deixava de ficar com medo do terrível futuro que me aguardava naquelas lâminas... Até ouvir uma voz que se tornou a principal fonte da minha esperança...
– Uryu cuide dos xamãs! Kronus esmague os berserks, eu ajudo a garota. – A voz demonstrava uma segurança extraordinária, parecia que ele realmente sabia o que estava fazendo.
– E desde quando você é quem dá as ordens aqui?! – Outra voz gritava ao fundo em resposta da primeira, era uma voz mais madura e rabugenta comparada com a anterior.
– Agh! A gente não vai começar a discutir isso agora, né?! – Os dois brigavam como se aquela situação fosse apenas mais um dia, era assustador sua tranquilidade perante seus inimigos.
Eu via flechas que nunca vi antes sendo disparadas, eram como as de um dos membros de minha antiga equipe, só que emanavam um brilho mágico fabuloso! Os homem-serpentes nem puderam reagir, todos eram eliminados com apenas um disparar de seu arco. Além disso, eu ouvia explosões ao fundo, não fazia a menor ideia do que causava elas, mas era como se fosse o impacto de algo gigantesco ao colidir com o chão.
– Ei, você tá bem? – Proclamou uma voz jovem e doce. Meu cérebro ainda processava o que estava acontecendo, nem pude perceber o aproximar do garoto que surgiu para minha salvação.
Seus olhos eram de um castanho tão vívido que parecia vermelho, seu cabelo era ruivo e bem arrepiado, sua pele era um pouco bronzeada e ele parecia do tipo atlético. Era chocante ver que meu salvador não parecia ser alguém maior do que 18 anos de idade.
– S-sim, obrigada... – Eu agradeci um pouco envergonhada com a situação.
– Aí Aki, será que dá pra parar de namorar e dar uma mãozinha aqui? – Uma terceira voz falava ao fundo em tom sarcástico. Quando fui na procura de quem pronunciou aquelas palavras, me deparei com uma visão assustadora! Um garoto de pele morena, cabelos claros, cicatrizes, músculos bem desenvolvidos... E a estatura de uma criança. Ele segurava um machado de duas mãos que, com toda certeza, era o dobro de seu tamanho.
– Que?! E-eu não to namorando, Gandula de Pebolim! – Ele respondia com raiva e um pouco corado, para o que parecia ser seu colega. Puxando sua espada, o menino de cabelos ruivos partia em direção dos homem-serpentes golpeando-os um a um.
Depois de alguns pequenos segundos, todos já estavam mortos. Ainda não estava acreditando que aqueles três conseguiram derrotar, em apenas 8 segundos, os monstros que massacraram meus colegas.
– Ok! Chegou a hora das apresentações. – O ruivo guardava sua espada na cintura e ia em minha direção, junto de seus outros dois colegas. – Vamos ver... Aqui no registro diz que seu nome é Emma, certo? Nível 42, classe Sacerdotisa... Lugarzinho perigoso pra vir sozinha, ein?
– E-eu não estava sozinha... Eu estava em um grupo de amigos, mas todos eles foram atacados, sobrando mais ninguém além de mim.
– O nível dos seus amigos também era abaixo do 60? Daemon não é um reino recomendado para jogadores novatos, principalmente com o sistema de permadeath implementado. – Explicou o rapaz com a voz mais madura. Olhando agora, sua voz era bem mais grave do que sua aparência, ele tinha um longo cabelo de tonalidade azul bem escuro, que optava por manter amarrado, era alto e seu olhar era bastante penetrante. Se não fosse pelos seus óculos, poderia sentir que minha alma seria sugada através de sua visão.
– Bem, eles disseram que esta missão não era tão difícil... Então tentamos cumpri-la. Não sabíamos que este lugar era difícil para novatos. – Tentei ser o mais sincera possível, jogos virtuais nunca foram meu forte, entrei nesta ideia para poder socializar com as pessoas da minha turma que pareciam gostar muito do assunto.
– A clássica história dos jogadores novatos que acham que são mais fortes que o próprio jogo... Eu vou te contar, viu? – O garoto ruivo parecia decepcionado.
– Hã, me desculpe mas... Qual o nome de vocês?
– Hm? Ué, não consegue ver o nosso registro? – A criança musculosa perguntou com um olhar confuso e inocente para mim. Naquele momento meu primeiro sentimento foi de querer esconder meu rosto dentro da terra, por tamanha pergunta estúpida.
– P-perdoe-me! Eu sempre me esqueço disso... – Tentei soltar uma risada um pouco nervosa pra quebrar o clima constrangedor... Não parecia ter funcionado.
Usando o Registro de Jogador, descobri o nome daqueles que me ajudaram. O garoto de voz madura e rabugenta, chamava-se "Akira Uryu", sua classe era Arqueiro e sua raça era meio-elfo. O outro rapaz de cabelos claros e aparência infantil, chamava-se "Kronus" e sua classe era Bárbaro, também humano. Por fim, o de cabelos cor de fogo, era um Cavaleiro, humano, com o nome de "Akiguya".
Algo me deixou confusa quando conferi seus status, todos os três possuíam um nível muito mais abaixo do meu, mas, mesmo assim, eram extremamente fortes.
– Kro-nus, Aki-guya e... Uryu? – Pronunciava seus nomes em voz alta para conseguir memorizá-los facilmente.
– Isso aí! Esses somos nós, é um prazer de conhecer Emma! – Akiguya falava em um tom animado e cativante, seus outros colegas sorriam em sinal de simpatia. – Entãããão... Que missão você e seus amigos pegaram aqui?
– Hã... Se me lembro bem... Era sobre matar um tal de "Lorde Serpente", eu acho? – Toda o nervosismo que senti me fez desligar um pouco do que realmente buscava fazer naquele lugar.
– Então é a mesma missão que a gente! Teus amigos só podiam estar malucos hahaha – Kronus gargalhava bem alto de minha resposta, ele se segurava pelo tronco do corpo para poder não cair de tanto rir.
– O caminho pra cidade pode ser bem perigoso se você for sozinha, já que está aqui e pegou a mesma missão que nós, quer se juntar ao grupo? Podemos levá-la de volta pra capital depois. – Akiguya estendia sua mão me convidando para participar de sua aventura.
– Não é só eu usar o teleporte? – Perguntei confusa. Em jogos de mundo aberto, é comum haver pontos de teletransporte para que o jogador não tenha que refazer todo o percurso para voltar a uma cidade.
– O Deserto do Senhor dos Demônios é uma zona de PvP ativo, portanto, os teleportes não funcionam aqui para evitar trapaças em combates entre jogadores. – As palavras de Uryu sempre pareciam tão serenas, era impossível não se sentir calma ao ouvir sua voz e suas explicações.
– Esse lugar é bem difícil e vocês parecem precisar de ajuda. Como agradecimento, seria uma honra poder entrar para o grupo de vocês! – Minhas palavras eram pronunciadas em um tom determinado, eu não tinha nada a oferecer em troca da ajuda que me foi dada, então pensei que retribuí-la seria uma boa maneira de começar. Como eles disseram, este lugar é permitido lutas entre jogadores, eles poderiam simplesmente ter me matado e roubado meus pertences, mas fizeram questão de querer me ajudar.
Todos pareciam estar de acordo com a ideia, eles sorriam de forma calorosa e se preparavam para invadir a masmorra dos homem-serpentes. Eu estava logo atrás pronta para dar o máximo de suporte possível.
– Muito bem, vamos nessa! – Akiguya dizia em um tom confiante enquanto apontava para a porta da masmorra com sua espada.
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