– Você? Ha! – Meu captor me largou de lado e se virou para o Guerreiro recém-chegado. – Um simples soldado acha mesmo que pode me desafiar quando até seu bárbaro sucumbiu?!
Akiguya não respondeu às provocações do Arquimago. Apenas deu alguns passos adiante, sorrindo determinado.
Porém, subitamente ele não estava mais tão longe, estava bem à frente do Yuan-ti. Sua espada já fazia um arco horizontal, em rota direta contra o pescoço de Zhatlan.
Naquele segundo, mesmo em meio ao medo e ao pânico, uma pergunta pipocou na minha cabeça: Desde quando ele sabia teletransporte?
No segundo seguinte, o Inimigo estava a alguns metros de nós. Meu coração bateu forte quando reparei não apenas na súbita apreensão nos olhos do Homem-Serpente, mas também no talho que surgiu em seu pescoço.
– Emma. – O tom da voz dele era sério. Eu percebi que não tinha visto ele ficar neste estado até agora. Essa postura, aquela aura, era a de um verdadeiro soldado. – Pode tentar curar o Uryu? Eu vou distrair o Lorde Serpentina.
Eu assenti. E o sorriso dele me tranquilizou um pouco.
– Eu vou tentar. – Respondi com um olhar determinado, estava disposta ajudá-los, custe o que custar!
Eu corri até o Arqueiro enquanto Akiguya foi atrás do Lorde Serpente. Uryu estava em mal estado. Mas também parecia observar Aki com admiração.
Me ajoelhei ao lado dele e comecei o feitiço de cura. Os ferimentos mais superficiais como cortes e arranhões fecharam quase na hora. A perna porém ia demorar mais. Os pixels lentamente se regenerando de volta à forma de um pé.
Enquanto eu cuidava dele, os sons da luta ecoavam por toda a arena. O ressoar de Metal contra garras, gritos e sibilos a cada impacto, o barulho descompassado dos passos de Akiguya e o arrastar da cauda da serpente. Eu tentei ignorar tudo o melhor que pude. Até que um grito mais doloroso do Guerreiro me fez virar e olhar.
O Guerreiro tinha dado um grande salto para trás. Uma linha abaixo do olho esquerdo pingava sangue. O Arquimago o encarava de forma intensa. Garras estendidas e brilhando naquele amarelo tóxico da magia Yuan-ti.
Akiguya avançou novamente, tão rápido quanto antes. Zhatlan disparou outro daqueles feitiços na direção do Guerreiro, que desviou com maestria e passou a direita do homem-serpente.
O Lorde se torceu para mantê-lo em seu olhar, mas ele já estava atrás– não, a direita, esquerda, atrás de novo? A frente?
– Qual o problema, não consegue acompanhar? – A voz dele parecia vir de todo canto. De cada um dos clones que circulavam Zhatlan como fantasmas. O que era aquilo? Uma magia? Habilidade? Existem magias que permitem fazer este tipo de coisa mas não sabia que classes combatentes também poderiam usufruí-las.
Subitamente, ele parou a alguns metros atrás do Yuan-ti. A espada brilhou novamente com as cores do fogo. O Guerreiro deu um passo à frente e novamente desapareceu de vista.
O brilho devia ter alertado o Arquimago, que ergueu o escudo refletor novamente. Momentos depois um brilho vermelho riscou as costas da Criatura e Aki ressurgiu próximo a nós.
– Aki, minhas flechas! – O arqueiro sugeriu apressado.
Aki assentiu pegando a aljava de seu colega e, tão rápido quanto veio, voltou ao combate contra o Lorde Serpente. Uryu se remexeu tentando mudar de posição.
– Emma... – Disse Uryu sério, enquanto mirava.
– S-sim, diga!
– Esqueceu de levantar o escudo. – o Arqueiro disse. Eu percebi o erro e comecei o feitiço, mas ele me interrompeu. – Dessa vez é melhor assim, mas na próxima, erga um escudo e depois cure.
Eu assenti, querendo me estapear pelo descuido. Antes que eu pudesse perguntar o que ele quis dizer com "dessa vez é melhor assim", ele pediu ajuda para se ajeitar e mirar melhor. O Arqueiro novamente conjurou uma daquelas flechas e a deixou encaixada no arco.
Nós ficamos observando a luta, tensos e preocupados. Nesse meio tempo Uryu me explicou que seria mais fácil mirar sem o brilho do escudo. Ainda assim eu me sentia mal, era minha culpa eles estarem passando por dificuldades na luta.
– Não se sinta mal. – ele me disse, como se estivesse lendo meus pensamentos. – Você ainda é novata. Logo, logo aprende. – Até mesmo quando tentava ser caloroso, seu olhar era sério e concentrado, aquilo era o mais próximo que aquele garoto conseguia demonstrar de empatia e sentimentalismo.
Enquanto conversávamos, Akiguya continuava sua luta contra o Arquimago Yuan-ti. Mesmo com o escudo e teletransportes, o garoto estava conseguindo fazer tanta pressão no Homem-Serpente quanto Kronus e Uryu combinados. Tanta que Zhatlan não tinha nem espaço para usar seus feitiços.
– A mana do Lorde Serpente deve estar acabando. Reparou que ele está usando bem menos aquelas magias? Deve estar cansado. – Uryu apontou.
Alguns momentos depois uma pergunta me veio a mente.
– Como vocês conseguem ficar tão calmos no meio de tanta ação?
Uryu virou pra mim com um olhar quase descontraído, mas ainda alerta. – Experiência. Jogamos faz bastante tempo, a mente acostuma com o ritmo depois de um tempo. E principalmente manter em mente que, no fim, isso tudo ainda é só um jogo.
– Um jogo... É – simulação feita dentro deste sistema é tão real que eu até esqueci –... Espera, então como seus níveis são mais baixos que o meu?
Um sibilar sinistro arrepiou os cabelos da minha nuca. Zhatlan estava novamente preparando aquela bomba venenosa. E Akiguya parecia não conseguir chegar muito perto.
– Agora! – O Arqueiro puxou a flecha e esperou. Akiguya circulou o oponente, parecendo esperar algo. Uryu enfim disparou a flecha. O projétil encantado sibilou no ar, central a cabeça do Lorde Serpente, este ataque poderia dar fim a nosso sofrimento mas...
O dito Lorde desviou da flecha com uma destreza surpreendente e virou-se para nós.
– HAHAHAAHAHA!! Humanos imbecis, acham mesmo que eu não estava prestando atenção nesse plano de pouco intelecto de vocês?! Eu sou o Lorde Serpente Zhatlan! Eu jamais seria pego por essas suas flechas que tentam simular um terço de minha grandiosa magia. Eu vou destruí-los de uma vez por todas com minha onda de veneno, e vocês não terão mais chanc–...
– E Quem disse que eu mirei em você? – Uryu interrompia o Yuan-ti com um olhar mórbido. A besta esbugalhava seus olhos, presenciando o que teria sido uma armadilha. – AKI! – O Arqueiro gritou.
A criatura voltava os olhos para o ruivo. Akiguya estava com uma flecha fincada em seu peito, era uma flecha de antimagia... Algo que eu não sabia, era que essas flechas não podiam apenas anular magias feitas por conjuradores, mas também, se usadas daquele jeito, poderiam impedir que a pessoa perfurada fosse imune a qualquer conjuração mágica!
– É filhote de Godzilla... A gente te enganou. – Aki olhava para o Lorde Serpente, com um sorriso confiante, enquanto a criatura parecia tremer temendo por sua vida, não importasse o que fizesse... Zhatlan não seria capaz de ferir Aki com magia. O jovem guerreiro era imbuído em um fogo místico, brilhando com uma leve aura quase cósmica. E atrás dele, surgia uma enorme pantera-negra que exalava fogo.
– Era nele... – Uryu apontou – Que eu estava mirando. – Ele caia cansado, sorrindo, orgulhoso de seu feito.
O Lorde Serpente levantou novamente seu escudo. Mas Akiguya avançou contra o Yuan-ti como se nem se importasse. A pantera invocada o seguiu, rugindo de forma selvagem e parecendo crescer. Não, ela estava crescendo, quase até o tamanho de um elefante!
Talvez o Homem-Serpente confiasse demais no escudo, talvez estivesse surpreso demais para reagir, o fato foi que a espada de Aki afundou no peito de Zhatlan como se o escudo fosse pouco mais que manteiga. O Arquimago soltou um grito agudo, engasgado de dor e surpresa.
A pantera pulou em seguida. A bocarra flamejante se fechou em volta do torso do Lorde. Ambos ficaram imóveis por um momento, só o bastante para Akiguya saltar para longe, e então ambos explodiram num inferno flamejante. Eu ergui o escudo tão rápido que nem soube dizer como.
– MALDIÇÃÃÃÃÃÃOOO!!!! – Vociferou o monstro enquanto suas escamas viravam cinzas e se mesclavam nas chamas da bestialidade.
Enfim, quando o rugido do fogaréu e o brilho da explosão diminuíram, apenas a cintura da besta haviam sobrado. Todo o torso tinha sido reduzido a cinzas.
Nós três encaramos a cintura, meio esperando que algo fosse acontecer. Mas não. O que restou começou lentamente a se desfazer em pixels brilhantes e uma tela de "BOSS DEFEATED" surgiu no topo de nossas cabeças.
Nós finalmente... Havíamos ganhado.
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