Cheiro de carniça. A aparência daquela caverna não era das melhores. Isniffi não conseguia tirar seus olhos da entrada. Eu estava ao seu lado. Percebi o seu medo. Essa era a minha primeira vez como um kuratoro. Era meu dever proteger o Isniffi, porém, naquele dia, algo dizia para mim que eu deveria moldá-lo.
— Nini… — disse Isniffi com as pernas tremendo.
— O que foi? — perguntei correndo na sua direção.
— Isniffi está tremendo… estou com medo de entrar lá dentro…
— Isso é normal, quem não iria ter medo de entrar nessa caverna!
— Você tem medo? — perguntou ele olhando para mim com uma expressão temerosa.
— Na verdade… eu não me lembro muito da minha antiga vida, praticamente nasci ontem! — brinquei.
— Sério? — disse ele admirado — Você tem um 1 dia de idade!
— Mais ou menos, na verdade, eu tenho 33 anos, se for contar o dia que morri.
— Isniffi precisa que você prometa que não vai sair de perto dele…
— Amorzinho, você é muito mais forte do que eu! — afirmei com uma expressão brava — está na hora de criar vergonha na cara e entrar naquela caverna rodando a baiana!
— Tem razão… mas como posso saber se sou forte?
— Não sei, fui informada que você era o deus da Força…
— Deus da força? Emika nunca me contou isso!
— Seu pai era o Deus das tempestades e sua mãe biológica uma Bárbara, essa combinação gerou você, o semideus super forte!
— Uau! — disse ele olhando para suas mãos como uma menininha curiosa — se o que diz é verdade, posso salvar a Emiquinha!
— Eles são seus amigos? — perguntei com o dedo indicador apontando para dois orcs.
Isniffi, com uma expressão de medo, correu para atrás de mim tremendo. Ele estava muito assustado, nem parecia ser uma pessoa com tamanho poder. Se eu quisesse ajudá-lo, precisaria dar um jeito de fazê-lo controlar seu lado Ayaka.
— Esse daí deve ser o filho daquela fada — falou o orc pálido.
— Rasmus nos fez vir atrás dessa coisinha pequena? — indagou o outro orc — Tenho mais coisas a fazer do que ficar obedecendo um híbrido maldito!
— Não se preocupe, logo esse híbrido idiota vai nos dar o ouro que nos prometeu, aí não precisaremos mais ficar atendendo seus malditos caprichos!
— Vocês sabem onde está minha Emiquinha? — perguntou Isniffi com a voz trêmula.
— Se está falando sobre aquela fada feia, sim, estamos com ela…
Percebi que se não fizesse nada, Isniffi continuaria atrás de mim com medo de levar uma surra. Saí da frente dele e apontei para os orcs, dando sinal para ele os atacar.
— O que é isso? — indagou o Orc Pálido.
— A mulherzinha está pedindo para esse covarde nos atacar! — zombou o outro.
— Isniffi, essa é sua oportunidade de testar sua super força! — falei tentando animá-lo.
Isniffi, com as pernas trêmulas, correu rumo aos orcs gritando com o punho preparado para acertar um soco. Os dois monstros gargalharam. Ele tropeçou antes que pudesse acertá-los, rolando rumo à entrada da caverna.
— Droga, isso vai dar mais trabalho do que eu estava imaginando — suspirei olhando envergonhada para ele que naquele momento estava no chão chorando feito uma criança que acabara de cair.
— Mulherzinha, acho melhor não resistir… — antes que ele pudesse terminar de falar, fiz um os galhos das árvores perfurarem seu abdômen.
— Meu irmão! — gritou o orc pálido.
— Acho melhor você correr e nunca mais voltar, ou farei o mesmo com você — afirmei caminhando em direção ao meu protegido.
— Sua… — fiz a cabeça dele explodir, não queria ficar ouvindo seus murmúrios.
Sentei ao lado do Isniffi e o abracei, acalmando seu coração temeroso. Ele olhou para mim com os olhos brilhando. Dentro dele, eu percebi, havia um guerreiro que estava louco para se libertar.
— Isniffi é um peso morto, se quiser, pode me deixar aqui…
— Você vai deixar a Emika ser morta?
— Nunca! Isniffi só tem medo de não conseguir.
— Se você acreditar que pode, com certeza você vai conseguir salvá-la. Vai por mim, eu sei que você conseguirá salvar a Emika… confie.
Isniffi olhou para a entrada da caverna e respirou fundo. Ele sabia que o único jeito de salvar sua mãe era entrando naquele maldito lugar. Ele se levantou, olhou para mim e encheu sua bochecha de ar com um olhar determinado.
— Senhorita Nini…
— Pode me chamar só de Nini.
— Nini, Isniffi vai entrar naquela caverna e fazer o homem que sequestrou a Emiquinha sangrar feito um porco!
— Esse é o espírito! — bati palmas, sabendo que provavelmente ele não conseguiria fazer algo tão radical.
Entramos na caverna. O cheiro era horrível! Nossos pés afundaram em estrume. Senti vontade de vomitar. Isniffi tapou o nariz. “Que lugarzinho medonho!” Pensei enquanto andávamos. A caverna estava ficando mais escura, tive que fazer uma tocha com o feitiço lumiĝas. As paredes continham marcas de sangue. No chão havia sinais de vítimas assustadas despedaçadas por machados. Os goblins são assustadores. Isniffi era o que mais demonstrava medo, como eu queria tirar ele de lá, mas se o fizesse…
— Nini, está escutando esse barulho?
— Sim… parece tambores de um ritual.
— Isniffi sente que lá é o lugar que devemos ir!
— Tem certeza? Daremos de frente com o inimigo!
— Quero ver a Emika o mais rápido possível, farei de tudo para conseguir isso, mesmo que tenha que enfrentar a morte!
— Esse é o espírito! — comemorei.
Seguimos o som dos tambores. A cada passo, nos aproximávamos de uma multidão de duendes verdes cantando uma canção em homenagem aos seus deuses. Rasmus via nos goblins o segredo para dominar Seichi, isso não veio dele, foi herdado de sua mãe. Ela sonhou que somente os goblins poderiam destruir as ninfas de uma vez por todas, não preciso dizer que isso é uma doideira, ainda mais vindo de uma orc!
— Nini… o que são aquelas coisas! — perguntou ele assustado.
— Aquilo é uma pedra de sacrifício! — respondi com uma expressão de aversão. Os goblins não planejavam só devorar as fadas, eles queriam sacrificá-las!
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