Emika não conseguia se mexer. Deitada sobre a pedra de sacrifício, ela ouviu os gritos de euforia dos goblins. Eles queriam sangue. A pequena fada estava amarrada sobre o o seu ventre. Os olhos da fadinha, cheios de lágrimas, encaravam o rosto sorridente de Rasmus. Ele vestia sua roupa de sacerdote, segurando em sua mão o livro dos mortos e uma faca cerimonial.
— Irmãos goblins! — gritou ele com uma expressão de fúria — Hoje, por meio do sacrifício dessa fada, iremos trazer de volta nossa deusa!
— Vida longa ao rei! — gritaram a multidão de goblins verdes.
— Houve um dia que fomos duendes como aqueles bastardos adoradores de ninfas — falou Rasmus com autoridade —, na época nossos ancestrais não concordaram com as falácias da princesa Lalita.
— Imunda! Imunda! Imunda! Que ela morra! — bradavam os goblins.
— Eles tentaram tomar o poder do reino dos duendes, porém, o espírito de Seichi não gostou dessa revolução e os puniu transformando-os nos goblins de hoje!
— Amaldiçoados sejam os espíritos de Seichi!
— Quando nossa deusa voltar dos mortos, ela fará as ninfas pagarem pelo seu crime, poderemos finalmente vingar nossos ancestrais!
— Vida longa aos ancestrais, morte eterna as ninfas! — bradou os goblins.
Isniffi observava Rasmus e seu exército. Estávamos escondidos da multidão. Não seria fácil salvar Emika, ainda mais com aquela magia toda emanando do rei dos goblins! Isniffi sabia disso. Suas pernas tremiam e seu olhar expressava medo. Eu fui criada para protegê-lo, não deixaria nada de ruim acontecer com ele, mas naquele dia, sentia que devia deixá-lo agir por conta própria.
— O que vamos fazer? — perguntei, quebrando o silêncio.
— Você… você… salva a Emika — disse ele.
— Pensei que o senhor salvaria ela!
— Isniffi está sentindo algo… como se fosse um instinto que me diz para atacar aquele exército.
— Um instinto? — perguntei admirada — Então você também herdou algo do antigo bárbaro.
— Será?
— Senhor, você tem a personalidade daquela menina, nada mais justo do que ter herdado algo do seu antigo passado.
— Salve Emika… — disse ele caminhando rumo ao exército de goblins.
A caverna era escura, a única iluminação vinha de luzes laranjadas emanadas de tochas nas paredes. As criaturas olharam para o Isniffi e abriram sorrisos malignos. Rasmus ficou admirado. "Não acredito, ele veio mesmo" Pensou ele sentindo sua espinha se arrepiar.
— Seu filho não é tão covarde assim — disse Rasmus para Emika.
— Não… não, sai daqui! — gritou Emika desesperada.
— É tão ruim assim não conseguir se mexer? — zombou Rasmus.
— Deixa meu filho em paz, você já conseguiu o que queria…
— Só vou conseguir o que eu quero quando esse verme estiver morto!
Isniffi tropeçou. Ele limpou as lágrimas e se ergueu novamente. Os gritos de Emika dizendo para ele fugir não o impediu. Isniffi sentia algo gritando em seu coração. Esse instinto era a única coisa que ele tinha de confortante naquele momento.
— Homens, matem esse verme maldito! — gritou o rei dos goblins.
— Aaaah! — bradou os duendes verdes correndo rumo ao nosso herói.
— Acho melhor você assistir essa cena — disse Rasmus levantando Emika com sua magia das trevas.
— Isniffi, sai daqui! — falou Emika.
Isniffi se desviou do primeiro ataque. Ele pegou o braço do inimigo e o quebrou. As criaturas recuaram. Isniffi limpou o sangue verde em sua roupa e fuzilou os inimigos com um olhar furioso.
— Isniffi não gosta de usar a violência, mas se vocês não soltarem minha Emiquinha, vou fazê-los chorar… de medinho!
— O que estão esperando, acabem com ele! — gritou Rasmus.
Isniffi deixou seu instinto guiar o seu corpo. Ele deu um soco no chão, fazendo metade dos seus atacantes caírem. As espadas do goblins se quebraram ao tocar os braços do nosso herói. Ele bateu a cabeça contra um deles, fazendo-o ser arremessado rumo ao seu rei, que se desviou a tempo. Os goblins se afastaram. Aquela coisa era muito mais do que um bichinho fofinho. Seus olhos eram de um guerreiro bárbaro sedento por sangue. Isniffi fez sinal para eles atacarem. Os monstros obedeceram o chamado. Nosso herói continuou lutando, como se sua vida dependesse disso. Emika, com lágrimas nos olhos, sorriu. Ela finalmente reconheceu algo de seu antigo filho nesse novo Isniffi.
— Você está ferrado! — zombou Emika.
— Cale sua boca, isso só foi um golpe de sorte! — gritou Rasmus.
— Mate ela logo, não temos muito tempo! — gritou a fantasma orc surgindo atrás de Rasmus.
— Não… temos que fazer a cerimônia! — falou Rasmus.
— Eu disse para você que eles eram perigosos, me liberte, depois convencemos os goblins de que sou sua deusa! — afirmou a orc.
— Essa daí deve ser sua mamãe, — falou Emika — Vocês são só dois farsantes que acham que pode dominar essa ilha idiota usando os goblins como exército.
Rasmus se cansou das falas de Emika. Ele segurou a ponta da faca com força e cravou no peito de nossa heroína! Para sua surpresa, a faca partiu-se em mil pedaços.
— Que magia maligna é essa! — indagou o rei dos goblins.
— Minha pele é mais dura que diamante, seu idiota.
— Mãe, o que devo fazer? — perguntou ele desesperado.
— Esquece, você é uma perda de tempo, devia ter escolhido outro demônio para ter feito o serviço… — disse o espírito desaparecendo logo em seguida.
Rasmus olhou para Emika com uma expressão de ódio. Ele encheu sua mão de magia e gritou um feitiço, fazendo ela perder a respiração. Para sorte de nossa Emika, cancelei o feitiço dele e o joguei para longe dela com um forpelita.
— Vamos, me liberte! — gritou Emika.
— Não posso — Respondi —, precisamos deixar o Isniffi agir sozinho, ou ele nunca libertará o seu verdadeiro potencial.
— Quem é você?
— Meu nome é Nicole Nicolini, mas pode me chamar de Nini!
Rasmus se ergueu do chão. Os goblins, alguns mortos e outros quebrados, estavam caídos ao seus pés. Isniffi respirava fundo, com seus olhos fitando o rei dos goblins com uma expressão de fúria.
— Liberte minha Emiquinha…
— Prefiro morrer do que atender ao seu pedido, verme — respondeu Rasmus enchendo sua mão de poder.
— Isniffi só quer ser Kawaii, mas com vou abrir uma exceção… Emika é tudo que tenho, se você tirar ela de mim, você vai tirar o meu mundo…
— Como se isso me importasse! — gritou Rasmus lançando um tondro de mallumo contra nosso herói.
O raio negro acertou Isniffi em cheio, fazendo ser ele jogado contra a parede, destruindo metade da caverna. Fiz um escudo de proteção no teto, impedindo que tudo desmoronasse. Isniffi não deixou barato, ele correu contra os raios de Rasmus, fazendo-os se desviar conforme acertavam seus punhos. As pernas do vilão estremeceu. Sua última visão foi os punhos do Isniffi brilhando com luz cor de rosa, emanando faíscas de suas mãos.
— Pink Love Power! — gritou Isniffi acertando um super soco no vilão.
Os goblins restantes fugiram. Ninguém iria querer lutar contra a pessoa que derrotou o híbrido mágico. Isniffi caiu de joelhos ao lado do corpo do seu inimigo. Ele olhou para mim e sorriu. Isniffi nunca havia usado aquele poder antes. Peguei a fadinha nos braços e conjurei um encanto para quebrar o feitiço de paralisia. Emika correu rumo ao seu filho e o abraçou com os olhos lacrimejando.
— Me desculpe… eu te amo tanto, nunca mais vou te tratar como uma aberração… — dizia Emika beijando várias vezes a bochecha de Isniffi.
— Emiquinha, Isniffi usou um poder estranho, o que será que é aquilo? — perguntou ele com uma expressão fofa de curiosidade.
— Não faço a mínima ideia, esse tal de Pink Love Power é cor de Rosa, a mesma cor do líquido de Yumiko…
— Será que tem a ver com o que ela fez com o Isniffi?
— Talvez sim, talvez não, o que importa mesmo é que você ganhou um poder do c…. — brincou Emika fazendo cosquinha no Isniffi, provocando doces gargalhadas.
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