Após passar a euforia do combate, Kahelat se deu conta do que fez, absorveu todos os soldados de sombra que havia espalhado por todo o plano de Malvunnin e mais as sombras do continente inteiro. Ele então automaticamente olha para baixo, e algo que antes, não estava ali e ninguém notará, devido a magia de sombra que ele havia colocado para cobrir a Lua e escurecer o continente: sua sombra.
Kahelat ao ver aquilo fica abismado, queimando a pilha de corpos até virar uma bola uniforme de carne queimada e a chuta para algum lugar no horizonte, e dizem as lendas que aquele amontoado de corpos incinerados havia atingido um navio no extremo norte do planeta, o naufragando por acidente.
_Mas que droga! Setenta e cinco anos jogados no lixo! — urra o elfo, que soca uma das paredes com Canyon, criando rachaduras em todo perímetro e uma cratera de cerca de 30 metros de raio a partir de onde acertará seu punho — em 25 anos eu teria conseguido virar um Litch completo! Me fortaleci à toa!
Kahelat continuou praguejando aos quatro ventos enquanto queimava chutava e socava coisas, até que ele sente uma presença diferente e aproveita para descontar sua raiva, porém, para seu punho de acertar a silhueta de pura luz de uma elfa das neves quando percebe o que, ou melhor, quem era: Amélia Pendleton, a Luz Gélida, sua companheira de guilda, e um dos Aspectos de Malvunnin, assim como ele.
_Olá Kahelat... É um prazer te ver também...
A luz enfraquece e revela uma bela elfa das neves de pele azul claro beirando o branco, traços marcantes realçados tanto pela fraca porém bem feita maquiagem, quanto pelo belo vestido de cor azul escuro, beirando o preto que usava, com seu esbelto corpo de 2,05 de altura, uma mulher alta entre os seus, o que para os elfos das neves que são a segunda subespécie élfica mais alta, perdendo apenas para os elfos noturnos, o que claramente é visível com Kahelat, estando na média da altura de sua tribo, sendo apenas cinco centímetros mais alto.
_Ah... Amélia, o que faz aqui?
_Eu ia mandar aquela sombra que você colocou pra me vigiar aqui, mas ela sumiu do nada, então eu fiquei preocupada e vim pessoalmente ver o que houve — a elfa olha ao redor — você vai me explicar?
_Eu fui contratado por uma vila aqui perto pra matar esses caras antes que houvesse um ataque, aí eu.... — Ele olha ao redor, dando de ombros, até que se lembra do usuário de magia primordial — me dá dois segundos, já falo contigo
Ele corre, pega as metades do orc, e leva mais pra perto de onde estavam, então, as aproxima onde o corpo foi repartido e saca a espada, simulando a nomeação de um cavaleiro:
—Erga-se, General Throgg, a primeira sombra do meu mais novo exército dos mortos
O corpo do líder orc se desfaz em sombras puras, se remontando novamente em um orc de 3 metros, com um machado duplo e sem armadura, sua pele feita por pura escuridão, com tatuagens roxas e roupas apenas na parte de baixo do corpo. General Throgg então se ajoelha perante seu mestre e entra dento de sua sombra, era possível ver os olhos do orc na sombra de Kahelat piscando, até que se fecham totalmente e sumia aparentemente.
_Desculpe floco de neve, quando eu tava lutando com esse cara eu me empolguei e absorvi todo o meu exército e as sombras do continente, inclusive até minha preparação para me tornar um Litch foi totalmente arruinada... Pera, você ficou preocupada comigo? Achei que tinha dito que me odiasse
_Fico muito triste por isso... — a elfa dizia ironicamente, olhando Kahelat de cima para baixo com um sorriso de canto de boca, até que se toca no que disse e dá um soco no ombro de Kahelat — Não foi isso que eu quis dizer! Você é a Sombra de Malvunnin! Um dos dez membros mais poderosos da maior guilda do mundo! Se você morresse seria perigoso pra ordem de poder...
_Então você estava realmente preocupada comigo... Que fofa, nem parece que matou os últimos dez homens e mulheres que pediram a sua mão... Quase como se tivesse esperando por alguém... Um elfo Litch bonitão talvez?
_Talvez, e como você não é um Litch bonitão acho que já pode tirar seu cavalinho da chuva. —Amélia revira os olhos, suspirando indignada, mas também triste. — Mas enfim, não foi só por isso que eu vim. É o seguinte Kahelat, a guilda da convocando uma reunião dos aspectos depois de 10 anos, e você precisa ir.
_Disseram isso da última vez, e pelo que me falaram era sobre um problema que eu havia resolvido a dois dias.
_Dessa vez é diferente Kahelat, tem a ver com a doutora Genya, a teoria dela estava certa.
Kahelat, que estava quase sem prestar atenção, brincando com as armas dos orcs mortos, ao ouvir aquilo, larga as armas e coloca toda a sua atenção na elfa:
_Nem fodendo que aquela anã rabugenta conseguiu... Isso vai mudar toda a dinâmica com os Dragões que nós temos, é incrível! — os olhos do rapaz brilham, faziam quase 200 anos que ele não ficava tão empolgado com uma descoberta de sua velha amiga cientista — certo, você conseguiu minha atenção floco de neve, eu vou voltar para Femto em até três dias, eu preciso pegar minha grana.
_Olha oh sombrinha, a reunião é amanhã, então deixa seu lado agiota pra depois e vai nessa porra ok? — a elfa diz claramente irritada com a fala de Kahelat.
_Eu já falei que você fica linda quando tá brava? — Kahelat dá um sorrisinho e vai até a garota, dando um beijo em sua bochecha — já que você tá pedindo com tanto carinho, eu vou chegar lá amanhã, mas eu vou resolver meus negócios primeiro, certo?
Amélia, corada, se segura para não bater em Kahelat e concorda com a cabeça, suspirando:
_Nós não estamos mais juntos Kahelat, nem começa ok? — Ela suspira e se vira para o nordeste, em direção ao continente de Femto — mas foi uma boa tentativa, talvez se você desistir dessa história de se tornar um Litch, eu te dê outra chance
_Você sabe que eu não posso, é a única forma que tem de eu descobrir o porquê sou o último filho do pesadelo... E o que é um filho do pesadelo, tipo, Deimos, o dragão original da escuridão me abençoou e me deu a sua espada, não é porque ele é o pesadelo encarnado que eu seja seu último filho, até porque todos os mortos vivos são suas crias...
_Nunca existe só uma única forma, eu já te disse isso...
_E sempre há uma exceção da regra, este caso é a exceção
_Se é o que você acha... — Amélia suspira, Kahelat não podia ver, mas uma lágrima escorria em seu rosto — até amanhã Kahelat, nos vemos na reunião.
Kahelat se erguia para a impedir de partir, mas era tarde demais. A elfa das neves de desfaz em partículas de luz e some, retornando para o continente de Femto, deixando Kahelat novamente sozinho no Canyon.
Cinco minutos se passaram, mas Kahelat havia travado na posição que estava, esticando o braço para onde Amélia estava quando ela voltou para Femto, até que ele volta para si e fecha o punho, respirando fundo e forçando Throgg para fora de sua sombra:
_Me encontra um Wyvern, Ares é magicamente instável, e por isso esses meio dragões de merda conseguem viver aqui, deve ter um esqueleto de Wyvern em algum lugar, eu o quero.
O morto-vivo concorda com a cabeça e sai em busca do esqueleto de Wyvern.
Enquanto isso, Kahelat fica olhando para Nordeste, onde estava a única pessoa que o entendera e o amara, e que, assim como também fora a primeira pessoa que Kahelat desejou que não tivesse o conhecido, pois gostaria que essa situação não existisse.
☬
Enquanto isso, em Femto, Amélia Pendleton treinava incansavelmente em uma sala de treino de ponta, com bonecos mágicos que eram capazes não só de se defender e atacar, como de utilizar estratégias e magias de alto nível, o que os faziam ser a única forma de um mago primordial treinar sozinho, porém, o rancor e angústia em seu peito faziam com que todos os ataques da elfa fossem quase cem vezes mais implacáveis que o comum, e, em um instante, a jovem elfa de 525 anos já havia destruido todos os mil bonecos de treino.
Arfando irritada, a luz gélida soca uma das paredes, o que acaba destruindo as 172 barreiras magicas da sala, e a faz revirar os olhos:
_Vocês precisam reforçar essa barreira! Se o novato ou o Kahelat socarem isso não vai ser só os escudos que cairão, mas o quarteirão inteiro!
Após este berro de Amélia, um ser que lembrava um leão esbelto e podeeoso, porém antropomorfico, entra no local, limpando um dos ouvidos com o dedo mindinho, sua aparência então vai se tornando lentamente a de um humano comum, com seus 1,75 metros de puro músculo, um belo cabelo ruivo ondulado e uma barba grande, porém bem cuidada. O homem vestia um traje formal vermelho, com detalhes em preto e em dourado, era Abgail Ug'mundie, um jovem Shifter, uma raça de humanóides com capacidades transformadoras, sendo Abgail do clã Leonin, uma família focada em transformações felinas:
_Você ia destruindo o quarteirão se não fosse eu usando o recuo primordial, aqueles dois provavelmente destruiriam o continente mesmo comigo os segurando, isso é, se socassem tão bravos igual você socou agora, que bicho te mordeu Amélia?
_Kahelat Thanor'Thym me mordeu — Ela diz claramente irritada, a sala parecia congelar devido ao seu descontrole — aquele idiota mesquinho, arrogante e prepotente que acha que o poder de um Litch poderia ajudar ele a descobrir a droga do seu passado! Eu tentei falar pra ele da bibl-
Ela percebe que estava para dizer algo que não deveria e para, respirando fundo, ela então anda em direção a saída, retomando a calma:
_Não é da sua conta gatinho. E não, eu não estou me referindo a sua beleza que por sinal é inexistente
_Fria como sempre, nem parece que estava falando de seu amado assassino — diz o meio leão com um sorriso malicioso — mas você ia falar pra ele do que? Fiquei curioso agora
_Eu já falei que não é da sua conta Abgail. Não insista. — Amélia diz duramente, as roupas de Abgail começavam a congelar, porém, instantâneamente o gelo derrete e seca, era magia primordial de fogo
_Eu sou a chama de Malvunnin, você achou mesmo que uma simples aura de magia de gelo iria ser o suficiente? Você realmente não é a faca mais afiada da gaveta... Orelhas de flecha
Ao ouvir aquelas palavras, Abgail olha para ele abismada, o termo orelhas de flecha é extremamente racista e ofensivo para os elfos, já que usavam de suas orelhas pontudas e a cultura arqueira dos alto elfos e elfos da floresta para chamar uma espécie inteira, e claro, insinuava que os elfos pensavam apenas com seus arcos, tal qual selvagens. Mas o que surpreendeu a jovem elfa foi que tais palavras saíram da boca de um Shifter, provavelmente a espécie que mais sofre por conta de racismo em toda Malvunnin. A Luz Gélida então suspira, olha novamente para Abgail e diz:
_Claro que profere palavras racistas... Você abandonou os seus, quando saiu de Genthr, quando entrou para a Guilda do Falcão Branco de Femto, traindo os mercenários que você se aliou ao chegar no continente, e abandonou a Ember quan-
_NÃO PROFIRA UMA PALAVRA SOBRE ELA ELFA! VOCÊ NÃO SABE O QUE ACONTECEU LÁ!
Amélia sorri com escárnio, ela atingiu onde dois mais.
_Eu sei exatamente o que houve, ela me contou, graças a Kahelat. — Ela dá de ombros — eu poderia até pedir para ele deixar você falar com ela... Não, deixa quieto, isso é impossível, ele absorveu o exército das sombras...
Abgail olha para a elfa incrédulo.
_Então quer dizer que... — o Shifter cai de joelhos — Não pode ser....
Sim, é o que aconteceu — ela anda até o homem e fala no ouvido dele — a alma dela virou a mais pura escuridão, nunca vai descansar com os Dragões, virou alimento para Deimos
O jovem racista fica ali, sem se mover, de joelhos, olhando para o chão, enquanto Amélia sai imponente do salão, triste por profanar o nome da falecida amiga, mas satisfeita por ter quebrado o orgulho de Abgail, era o mínimo que ele merecia depois de se mostrar como um racista mesmo sendo tão importante para a guilda e de uma raça que sofrera tanto por tais atitudes.
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