Kahelat havia conseguido pacificamente seu dinheiro, e seu mais novo servo encontrou um ótimo esqueleto de Wyvern para seu plano. O elfo saca a sua espada e começa a gira-la pelo anel, a fincando no chão:
_Levante-se oh grande Wyvern, torne-se a montaria do herdeiro de Deimos, o primeiro Draco-litch e dragão original da escuridão, aceite sua nova missão de vida e o nome de Beru!
Após as palavras de Kahelat ecoarem no deserto, um devastador silêncio acontece, e então o ser draconico feito de escuridão surge do próprio esqueleto, que se desfazia para dar lugar a sombra de um ser reptiliano de corpo esguio, duas pastas traseiras separadas por uma longa cauda, dois longos braços cada um com uma longa asa, denunciando sua descendência draconica, um rosto fino e com um focinho prolongado, olhos de pupilas em fenda e íris azuis, contrastando com a pele de pura escuridão e detalhes roxos. Quando finalmente está desperto, Beru solta um rugido poderoso e se ajoelha perante seu mestre, permitindo que ele suba em suas costas, ao qual o elfo se mantinha em pé, mesmo com o dragão voando pelos céus em pelo menos dez vezes a velocidade da luz:
_mesmo nessa velocidade não será o bastante para cruzarmos Ares e o oceano até o centro de Femto, mas posso abrir um portal para nós...
O Wyvern concorda com a cabeça e avança voando para nordeste, até que um portal de sombras surge, e Kahelat o atravessa voando com sua mais nova montaria.
Femto continuava do jeito que Kahelat a vira pela última vez quinze anos atras, se expandindo absurdamente, com várias estalagens, bares e prostibulos novos, e claro, o castelo da guilda do falcão branco finalmente havia chegado na mesma altura do castelo do Imperador, o que normalmente seria algo preocupante se metade da realeza não tivesse na Guilda como figuras de marketing.
Enquanto Kahelat notava essas coisas, Beru desviava bruscamente para a direita, e uma bola de fogo subia rente pelo pescoço do Wyvern. O elfo olha para baixo e percebe que voava perto demais do Sol, cobrindo o mesmo e criando uma sombra assustadora no formato de dragão sobre boa parte da cidade, já que havia desacelerado consideravelmente para observar as mudanças que uma década e meia proporcionavam. Porém, Kahelat levou na esportiva, e fez o seu animal de estimação soltar um rugido, que ressoara por toda a região, o que para a surpresa de zero pessoas, fez com que o número de ataques continuasse.
☬
Abgail olhava o dragão com desejo, graças a sua magia primordial, sabia que era Kahelat, e o Shifter não poderia perder a oportunidade de matar o Aspecto da Sombra de Malvunnin por "acidente". Ele então sorri e vai até onde havia mais civis para presenciar seu golpe triunfal que mataria a perigosa fera, e infelizmente levaria o aspecto das Sombras.
O rapaz começa a preparar suas energias arcanas, preparando chamas azuis e as concentrando em uma pequena esfera, que gradualmente vai se comprimindo e aumentando o calor:
_Se afastem civis! Eu irei matar a fera!
Diz Abgail que começa a ficar cada vez mais animalesco, o que o permitia ouvir alguns dos que tentavam ferir o Wyvern de sombras sem sucesso dizendo coisas como "o Mestre Abgail veio nos salvar!" "Ele vai destruir aquele monstro com um golpe!"
"Claro que vou... Eu treinei quinze anos pra isso, e se ele não está mais no processo para virar um Litch ele está bem mais fraco" Abgail pensa com um sorriso, lançando então uma pequena esfera de chamas azuis primordiais contra Kahelat que deixam um rastro em linha no ar, porém, o dragão some antes que fosse atingido, surpreendendo Abgail, e enganando os civis, que pensavam que a suposta fera havia sido destruída pela magia da Chama de Malvunnin.
_Tava mirando aonde pirralho com fogo no cu?
Kahelat aparece atrás de Abgail com as mãos no bolso abaixo de um manto verde com pele de urso branco na região do pescoço e touca, era perfeita para locais frios, ou para habitantes de um deserto que haviam se desacostumado com as temperaturas amenas do continente central. Ele exalava uma aura assassina opressora que fizeram todos os civis em um raio de cinco metros desmaiarem e começarem a espumar, e os que estavam em um raio de dez metros a partir desta pressão apenas desmaiarem, apenas Abgail estava conseguindo se manter de pé, e com dificuldades.
_O que foi Abgail? O gato comeu sua língua? Eu falei com você.
_Kahelat! Para de atazanar o garoto! — Uma voz feminina surge e a aura assassina simplesmente cessa, fazendo o usuário das chamas primordiais cair no chão em uma crise de tosse — Se ele morrer quem vai garantir os patrocínios da Guilda?
A origem da voz se revela uma velha e ranzinza anã, com cerca de 80cm de altura, braços fortes e uma expressiva quantia de pelos faciais, era a cientista Genya, com a sua carranca que parecia ser esculpida em pedra de tão fixa na sensação de ódio:
_Você volta para o continente depois de quinze anos que saiu sem se despedir e com uma alma de Wyvern ainda por cima?
_Velha Genya! — Kahelat se vira para a anã e avança em sua direção, indo abraça-la, mas com um passo ela desvia da investida, fazendo Kahelat ficar no vácuo.
_Velha é aquela tua namoradinha, a Amélia, aliás, como ela está?
_Não sei, nós não estamos juntos faz 75 anos Genya, você sabe, você quase me bateu por causa disso.
_Ah sim, eu havia esquecido, ela fazia bem pra você, não devia ter abandonado ela
_Eu não abandonei ninguém, ela pediu pra eu escolher e eu escolhi, simples.
Kahelat estava sério, seu sorriso por ver a velha amiga, sumira após o assunto de Amélia, que o fazia lembrar dos recentes acontecimentos em Ares, e Genya, percebeu que algo aconteceu:
_Ok ok, não vamos falar sobre isso. Tá aqui porque?
_Er... Eu ainda estou aqui, todos estamos...
Lembra Abgail atrás de ambos, se levantando e massageando o pescoço.
_Verdade — Kahelat diz — Isso é assunto confidencial dos Espectos, amadores iguais vocês devem viver em um mundo de ignorância para que nosso trabalho seja mais fácil
Abgail ao ouvir isso se infla de raiva, avançando contra o elfo desferindo velozes e furiosos golpes com as garras ferais que tinha, mas Kahelat desviava com tranquilidade e elegância, mesmo de costas, e conversando com Genya:
_... Que bom que sua família está bem velha, eu vou ver os outros Espectos agora, nos vemos na reunião ok?
_Claro Kahelat, só para de brincar com o garoto, ele tá dando tudo de si tadinho, demonstra um pouco de respeito
_Ok ok, aprecie um pouco de como eu lutava a quase cem anos atrás pirralho.
Kahelat dá uma piscadela para Genya e dá um giro sob o próprio eixo corporal, criando uma espada de treino feita de escuridão sólida e barrando a investida de Abgail. O choque entre os golpes derruba o círculo de civis que prendiam os três ali, e Genya aproveitou a brecha para sair dali, já que não havia caído tal qual os outros
_Tecnica élfica. Modelo da Lua, selo de mil de travas, auto aplicação. — Proferindo aquelas palavras a escuridão emanada ao redor de Kahelat diminuía exponencialmente — agora sim, acho que você não vai ser tão humilhado.
Kahelat avança com sua espada de treino, desferindo golpes rápidos e diretos, sem brecha para um contra ataque
_Eu fui capaz de bater de frente com seu poder total agora a pouco — Abgail diz claramente se esforçando para falar sorrir e não apanhar ao mesmo tempo — porque diz isso?
_Porque eu não fiz força, eu apenas criei uma espada de sombras e coloquei ela no caminho do seu ataque, inclusive, isso aqui é muito lento, como consegue se mover nessa velocidade?
Todos os aldeões ao ouvirem aquelas palavras se assustam, pois os dois lutando não eram mais visíveis a olho nu, seus golpes eram tão rápidos que feixes de luz eram emitidos do encontro da lâmina e das garras, se isso era lento para o mago das sombras, qual a velocidade dele?
Kahelat sorri, percebendo a confusão dos presentes ali, e ao fazer isso, desfere um golpe para afastar o mago de fogo e pula para atrás:
_Selo de mil travas, reduzir. Cinquenta por cento.
Kahelat fala e avança, desferindo um peteleco na testa de Abgail, que é pego desprevenido pela velocidade extrema de Kahelat e arremessado por quilômetros em direção ao fim da rua, batendo em um muro e ficando desacordado.
_Desfazer selo...
Kahelat diz e sai andando, os civis, antes barrando a passagem, abrem espaço para o elfo passar e ir em direção do Castelo da Guilda do Falcão Branco.
Só que ao chegar lá, novamente se depara com alguém que não queria. Amélia estava na porta, com sua roupa de combate, não mais o vestido de gala da antes, um conjunto de roupas azul marinho que deixavam apenas seus braços definidos, coberto por uma armadura de couro batido também azul, provavelmente de algum búfalo de pelo flamejante de alguma ilha de Himeno, ela não possuía nenhuma arma a mostra, não que precisasse, já que sua maestria em magia de gelo e a luz primordial a permitia criar armas com apenas a humidade do ar, um definitivo trunfo para uma maga de batalha do colégio da lâmina dançante, já que dava uma vantagem poderosa contra seus adversários.
_Olá Amélia, tá preparada pra matar quem?
_Ah oi Kahelat, houve um alerta de Wyvern, deve ter se perdido na migração pra Zephir, vou mata-lo rapidamente, é um descendente dos Dragões afinal...
_Ah sobre isso... — Kahelat levanta uma das mãos para o lado de fora do castelo, e Beru surge com um grande fugido — Beru, Amélia. Amélia, Beru. Agora vocês se conhecem.
_Você tomou o espírito de um dragão?
_Um dragão não, um Wyvern, dragões tem quatro matas e são mais robustos, você devia saber disso floco de neve
Amélia revira os olhos, indignada com aquilo
_Isso é profanar os sagrados seres draconico
_Um belo de um foda-se pra isso — diz Kahelat retornando o Wyvern para sua sombra — Eu nunca me importei com essas coisas, não é agora que vou me importar.
O elfo sorri para a garota, que surpreende ele com um tapa em seu rosto, sem mana, sem força desnecessária, apenas um tapa para virar seu rosto.
_Você não mudou nada Kahelat... Eu achei que você saindo da Restrição Sombria ia ficar pelo menos mais compreensível, mas nem sequer os grandiosos Dragões que criaram nosso mundo você respeita. — Kahelat escutava calado, pensando se devia ou não responder algo — Você me enoja Kahelat Thanor'Thym, não merece o título de Sombra de Malvunnin.
Após dizer estas palavras, Amélia sai do lugar, deixando o elfo ali, parado, com o rosto virado pensando no que acabara de ouvir.
_Acho que antes de ver o resto dos Espectos devo descansar um pouco, esse dia tá sendo demais para mim...
Diz Kahelat suspirando, subindo lentamente os degraus para seus antigos aposentos, que estavam abandonados a 75 anos, enquanto pensava no que tinha dito de errado para levar aquele tapa, já que, mesmo que Amélia tivesse deixado claro, Kahelat não entendia que a devoção da elfa pelos dragões era muito maior que a possível paixão que existia no coração dela.
Enquanto subia a escadaria para seu quarto abandonado a mais de meio século, Kahelat acaba por acidentalmente trombar com uma jovem humana, com provavelmente vinte anos, com um longo cabelo cacheado de cor carmim, olhos cor de amêndoas e uma pele escura sem ruga alguma que denunciava sua jovem idade tanto quanto o livro de um famoso poeta do norte, que os velhos odiavam e os jovens adoravam, porém, Kahelat não a reconhecera e seguiu seu caminho, até ouvir a jovem falando:
_Mestre Kahelat? É você mesmo?
O elfo para e olha novamente para a garota:
_Eu te conheço...?
_Fazem quinze anos... Não esperava que fosse me reconhecer mesmo — ela sorri e vai até ele, intencionalmente deixando uma aura Gélida escapar — Uma dica: "essa pirralha tem talento, me dê um ano e ela provavelmente vai ser o próximo Oceano de Malvunnin"
Kahelat olha novamente, tentando se lembrar de ter dito algo assim, ele lembrava de uma criança, mas quinze anos era muito pouco tempo para ela ter virado uma adulta
_Você é mãe da Trixierina? O que tá fazendo na Guilda?
A jovem dá uma boa risada, olhando para seu antigo mestre com uma mistura de saudosismo e melancolia:
_Ser elfo dever ser incrível mesmo... Vivem tanto que é impensável uma criança crescer tanto em quinze anos, que inveja... — ela se aproxima de Kahelat e dá um soquinho de leve em seu ombro — Eu sou a Trixierina, o mais novo Especto de Malvunnin, o Oceano de Malvunnin.
A jovem diz e sorri, e Kahelat finalmente percebe sua antiga aluna na garota, dando uma risada envergonhada:
_Quinze anos é muito para humanos né... Como vocês vivem pouco... — ele coloca a mão na cabeça da jovem, que batia pouco acima de seu umbigo, ela era baixa até mesmo para humanos, com seus 1,5 metros de altura. — É bom te ver de novo pirralha... Você deu uma boa esticada.
Após isso, Kahelat diz que precisava descansar um pouco, e que a procuraria depois da reunião, seguindo para o quarto e se jogando na cama empoeirada, suspirando enquanto olha para o teto:
_Talvez Amélia esteja certa, viver muito tempo longe desses humanos me deixou meio duro com socialização... Eu nem reconheci minha querida aluna...
Kahelat então se levanta da cama e invoca suas armas, as apoiando na parede e colocando as adagas na bancada:
_Eu devia ficar um tempo aqui? Descansar uns dez anos da minha busca?
Após dizer essas palavras, o quarto é tomado pela escuridão e dá lugar a um salão com um trono, e no trono, havia um dragão com o corpo apodrecido enrolado, suas azas com buracos expondo os ossos, as escamas antes negras dando lugar a um verde podre, seus olhos antes belos davam lugar a buracos vazios:
_Meu filho... Faz tempo não?
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