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Tratado de Vidro - BETA

2 - Proposta

2 - Proposta

Jun 14, 2023



— Não estou com tempo para falar com você. Nem paciência.

Thereezee, ou qualquer outro nobre irritante, decerto teria uma embolia se me visse falando assim com o Príncipe-Regente.

Mas aturar Escórpio é o que menos preciso agora, quando meu interior ferve a indignação e sinto vontade de gritar.

— Não diria isso tão cedo. Especialmente aqui. — Ele não se move; o ombro direito apoiado numa das pilastra-estante a meio caminho da saída, segurando um livro botânico de cabeça para baixo. Os olhos escuros, porém, erguem-se para além de meus ombros, e então para os lados e para cima: apontando as estantes aos nossos lados e o mezanino. — E não quando quem mais tem a perder é você.

No tempo em que estive no gabinete, a biblioteca se esvaziou um pouco, mas ainda há uma ou outra cabeça visível, além dos guardas. E bem sei o quanto essa gente tem um ouvido afiado para escutar conversa alheia e uma boca rápida para espalhar tudo de forma distorcida pela corte.

O que é mais um ótimo motivo para ignorar Escórpio e sair daqui.

— Poupe seus enigmas e ameaças veladas para outra pessoa. Tenho mais o que fazer — bufo de exasperação.

Mal tenho tempo de me virar e dar dois passos.

Uma garra se fecha ao redor de meu pulso esquerdo e me puxa de volta, praticamente me arrastando para entre duas estantes. Tão rápido que não consigo reagir a tempo — e quando dou conta já estou ao lado do corredor, com Escórpio diante de mim.

O atordoamento se desvanece e inflama o borbulhar indignado em meu peito.

— Que inferno se passa na sua cabeça?! — sibilo, olhando rapidamente para os lados. Estamos num corredor mais estreito, que é caminho para as escadas circulares que levam ao mezanino. Se alguém passar por aqui…

— Tem algo que quero discutir com você.

Tento puxar o braço e fugir pela direita, mas ele segura com mais firmeza e apoia o outro braço na prateleira atrás de mim, fazendo uma cerca sem me tocar. Bufo exasperada.

— Pouco me importa. Não te-

— Não tem tempo? Está um pouco repetitiva hoje, não acha? — provoca, arqueando uma sobrancelha loira, num tom pouco mais escuro que a platina de seus cabelos encaracolados, mas que ainda assim parece sumir na pele tão branca. — Por acaso eu sei que está sem tempo. Não é hoje que anunciam seu noivado?

Escórpio ergue apenas uma ponta dos lábios, num arremedo de sorriso desdenhoso — o único tipo que ele tem.

Abro a boca e então torno a fechar, sem conseguir emitir qualquer resposta, a respiração suspensa. Por um segundo, o calor borbulhante é substituído por gelo, que se instaura em minha barriga. Não teria como… Ele também é príncipe. Mesmo que na época fosse o terceiro na linha de sucessão, ainda estava próximo demais da coroa — tanto que agora é o herdeiro, faltando poucas semanas para sua coroação.

A constatação me devolve o ar — embora a pedra de gelo no estômago permaneça. A impossibilidade de o noivo ser Escórpio, não muda que estou noiva sem saber de quem.

— Não vejo como isso pode ser da sua conta — retruco por fim, tão baixo quanto possível, verificando novamente os arredores.

Falar com Escórpio diante de todos, ciente que cada mínima atitude de animosidade será julgada, só não é pior do que ser flagrada conversando com ele aos cochichos entre duas estantes afastadas na biblioteca…

Só de imaginar a possibilidade de que possam espalhar que estou em algum tipo de relacionamento com Escórpio — ou mesmo a ideia de ter qualquer envolvimento com ele nesse aspecto — faz uma careta involuntária se formar. Há quem suspire por ele na corte e sonhe em ter sua atenção; mas, para mim, até imaginar ter algo com ele nesse sentido é apenas… não. O remoto grau de parentesco é apenas o menor dos problemas.

— E não é da minha conta mesmo. Não da forma que poderiam achar — ele diz, com sorriso enviesado se espalhando sem alcançar os olhos negros. — Tenho uma proposta a vo-

— E a resposta é não. Agora me deixe ir.

Novamente tento puxar o braço.

Sem sucesso.

Apesar de o aperto não ser tão forte ao ponto de machucar, a pele em meus pulsos é particularmente sensível e seu toque é desconfortável. Tal proximidade já seria irritante com qualquer pessoa; com Escórpio ganha o agravante de que, se não conseguir me libertar a tempo, novamente ele encontrará o gatilho que me faz revelar mais do que gostaria. O abismo de seus olhos parece capaz de puxar para a superfície e jogar na minha cara tudo aquilo que tento sufocar num porão mental… Como se encarasse um espelho.

— Não quer um escândalo que pode magoar seu noivinho justo no dia do noivado? Ou a preocupação é com aquele outro… como era mesmo o nome daquele seu namorado…?

— Pouco me importo com isso. Só sai de perto de mim! — retruco, tateando discretamente a estante atrás de mim.

— Não antes de escutar o que tenho a dizer.

Agarro a lombada dura de um livro mediano. Se for rápida o suficiente, talvez consiga acertar sua cara; mas provavelmente…

Isso só vai lhe trazer mais problemas

A intuição de bom-senso volta a soprar em meu ouvido, e bufo exasperada, abandonando o livro.

— Então pare de enrolar e fale essa merda de uma vez!

— Que linguajar mais apropriado para uma princesa. Se falar só um pouco mais alto, tenho certeza de que até quem está na cidade vai concordar.

Minha cabeça lateja com o sangue fervendo a indignação até virar raiva, tornando a respiração rasa. Não à toa o evitei a tarde inteira — ou melhor, a semana inteira; porque o infeliz fez questão de chegar mais cedo para meu aniversário, e ficou espreitando como assombração… esperando para se aproximar no pior momento.

— Se vai continuar nessa-

— Fuja comigo.

Me engasgo com as palavras.

— … o quê?

— Fuja comigo — Escórpio repete. O tom resoluto faz parecer um convite para algo tão simples quanto ir comer tortinhas na cidade.

E isso é tão…

Aperto os lábios, mas não adianta. A risada sobe incontrolável, reverberando por meu corpo. Viro o rosto, tampando a boca para não atrair qualquer cortesão zanzando pela biblioteca.

Fugir com Escórpio, francamente!

Nem meus pesadelos mais bizarros conseguem chegar a esse nível de absurdo aleatório.

— De onde… de onde tirou a ideia de que eu poderia, de alguma forma, aceitar isso? Não sabia que é dado a fazer planos românticos e estúpidos assim — digo, entre o riso abafado. — Desde quando-

— Não há nada de romântico nisso — retruca, numa carranca de desgosto, como se a mera sugestão fosse ofensiva. — Mas temos objetivos em comum, então nos unir seria mais prático para conseguir.

Interrompo a risada, erguendo as sobrancelhas. Essa é nova.

— E posso saber que objetivos em comum seriam esses?

Escórpio ajeita a postura, enfim me soltando para poder cruzar os braços fortes. A camisa roxa e o colete preto o fazem parecer ainda mais pálido, como um fantasma.

— Nunca quis ser rainha, não é? Já deixou isso claro muitas vezes. Eu também não. Não deveria ser nenhum de nós dois nessa posição, mas acabou acontecendo. E a cada dia está mais perto de ser irreversível.

— Já é irreversível — as palavras escapam num murmúrio.

Ele não me segura mais, e ainda assim… não consigo me mover, os pés enraizaram no mármore frio. Até o plano de ir encontrar mamãe para exigir respostas perdeu a urgência.

— Não, não é. Se formos embora antes…

— E desde quando você não quer ser rei? Me lembro muito bem de tudo o que disse daquela vez… dizendo que tínhamos que ser próximos e se vangloriando por-

— Quando eu tinha 12 anos? — devolve, franzindo a testa. — Talvez naquela época tenha parecido… Como não iria? Um plano dá errado, mas uma coroa cai no seu colo. Faz um garoto se sentir invencível, parece um sonho… mas é só um piscar para perceber que na verdade entrou num pesadelo.

Enquanto Escórpio tem uma facilidade absurda de arrancar pensamentos de mim, é raro que deixe escapar algo de si. Não sei como reagir a essa ponta de sinceridade que escorre de suas palavras amarguradas, como resquícios de veneno.

— E qual é seu grande plano? Ir viver nas montanhas do extremo norte pastoreando ovelhas? Sabe que ainda seríamos encontrados… Solluaria não é tão grande — desdenho, na falta de algo melhor a dizer.

Escórpio inclina a cabeça, e a ponta do frio sorriso torna a surgir, presunçoso.

— Está se incluindo nos planos. Mudou de ideia?

— Claro que não — bufo irritada. — Só estou lhe mostrando quão absurda é essa ideia. E que não tem qualquer chance de dar certo. Seria um esforço inútil, uma vida fugindo e, ainda assim, seria encontrado em pouco tempo.

— Fala como quem já pensou nisso tudo antes.

— …

O irritante sorrisinho desdenhoso aumenta ao ler a confirmação estampada na minha cara, e sinto vontade de me morder de frustração.

O sorriso aumenta ao acrescentar:

— E eu nunca disse que pretendo ficar na Ilha.

Meus olhos se arregalam e balanço a cabeça em incredulidade.

— Isso é loucura.

A Ilha é cercada por uma barreira de pedras afiadas, algumas tão grandes que se pode ver na superfície do mar; sem mencionar os redemoinhos d'água. Há quem diga que, da praia de Bérthia, é possível ver à distância um ou outro casco de navio preso e encontrar restos que chegam na areia. Até há, na Ilha, aqueles com conhecimento para passar entre tais perigos e voltar com vida — exploradores e comerciantes, que trazem matérias-primas e conhecimentos científicos. É tão arriscado que são poucos a fazer a viagem, e ainda menos a levarem civis.

Conseguir o transporte e passar pela viagem é só o menor dos problemas, claro.

Se arriscar numa viagem insana é melhor do que ser coroado?

— E então? Ainda acha que vamos ser encontrados tão rápido?

— Não pode estar realmente falando sério — balbucio, ainda perplexa. — Não acha mesmo que irei-

— Não sou ingênuo para imaginar que aceitaria de primeira, por isso não vou considerar sua resposta de agora — declara, sem abalar a confiança ou o sorriso frio.

Isso torna a inflamar minha irritação.

— Pois deveria. Não irei a qualquer lugar com você.

Escórpio se aproxima de abrupto, os braços formando uma prisão sem escapatória. Embora não me toque, o perfume enjoativo e almiscarado torna a proximidade sufocante.

— Por quê? Por que é tão covarde e se recusa a encarar a verdade? Somos parecidos e sabe disso. Se juntar a mim é a única chance que tem de seguir uma vida diferente, escolhida por você… longe da maldição da Coroa. O que a prende nesse lugar, afinal? Alexander não está mais aqui, aquele outro garoto estúpido também não… nem é tão próxima da sua família. — Ele para um segundo e faz um muxoxo irônico. — Ou vai me dizer que está ansiosa para passar o resto da vida se sacrificando pelos outros enquanto está presa a um casamento com alguém que foi escolhido para você só porque um bando de reis que agora não passam de pó colocaram num papel que esse era o melhor caminho para preservar a paz?

Aperto os lábios, novamente incapaz de encontrar qualquer resposta. Nem mesmo uma ruim. A discussão com papai ainda ronda minha cabeça, vespas furiosas só esperando a oportunidade para ferroar — e as palavras de Escórpio se une a elas, atiçando mais.

Sabendo que não tenho como responder a isso, Escórpio retrocede uns passos. Na face, a presunção da vitória.

— Apenas pense nisso… e no que vai significar para você. Vamos ver se sua resposta continuará sendo “não” até o fim dessa noite, priminha — diz, já se afastando pelo corredor estreito. — E esse noivado é só o começo.

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#shoujo #romance #romance_fantasy #novel_shoujo #Slice_of_Life_Fantasy #drama #Temporada1 #paranormal

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Primeiras Impressões do Escórpio:

A música combina extremamente com o visual, pois sinto que o personagem seja alguém que seja muito intrometido em assuntos que não tem a ver com ele porque envolve alguém no qual ele esteja com interesse. Talvez seja esse o impulso dele com a Alissa? Não sei. Apenas teorias por enquanto.

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