A luta acabou, Aki estava exausto, e Koda nem parecia ter suado. Todos eles pareciam tão acostumados com o jogo que se divertiam com a ideia de entrarem em perigo em busca de uma boa luta... Já eu...
– B-Bem... Foi um prazer conhecer vocês, mas acho que já vou indo! – Era óbvio meu nervosismo, meu sorriso constrangido, e meu peito apertado, uma ansiedade que havia esquecido que tinha. Agora lembrei os motivos de ter tentado me arriscar nessa coisa toda.
Eu estava buscando fazer novos amigos, me sentia deslocada na faculdade, e todos da minha turma pareciam só falar sobre jogos. Acabei tentando participar sem nunca ter sido uma grande entendedora, me forcei a gostar de algo que não entendia, e agora me vejo aqui perdida e sem razão, enquanto na minha frente existem verdadeiras pessoas que se divertem. É perceptível que aqui não é meu lugar, então talvez seja a hora de sair...
– Tranquilo, Emma! Você tem alguma coisa para fazer amanhã? A gente pode jogar junto outro dia! – O garoto que tinha acabado de levar uma surra falava sorrindo, como se nada tivesse acontecido.
– Jogar... Amanhã? – Eu respondia confusa.
– É, pô! É sempre bom ter uma sacerdotisa por perto! – Kronus falava com um sorriso que parecia não caber em seu rosto. A emissão de felicidade vinda dele era contagiante.
– Bem, admito que é bom ter alguém que preste atenção no que eu digo de vez em quando... – Uryu tentava esconder suas verdadeiras intenções, mas qualquer pessoa mais velha perceberia que ele estava tentando "fazer o difícil".
– Para falar a verdade... – Eu respirava fundo, nervosa. – Eu acho que este foi meu último dia jogando.
– Quê?! – Todos eles gritavam. Koda parecia ser o único em silêncio, mas ele também levantava uma de suas sobrancelhas em sinal de curiosidade.
– Eu... Eu nunca joguei esse tipo de jogo antes. É tudo muito assustador para mim. Fico com medo de tudo o que pode acontecer comigo. Me sinto insegura e parece que qualquer coisa vai me machucar!
– Então, por que você comprou ele? – O arqueiro perguntou.
– Bem... Como eu disse lá atrás, eu estava jogando com meus amigos e... – eu engolia em seco. – Na verdade, eles não eram bem meus amigos... Era apenas um grupo de pessoas que conheci na faculdade e que pareciam ser os únicos que falavam comigo. Eles sempre conversavam dizendo que estavam animados para o lançamento de Bhesda, e eu sempre os assisti comentando sobre seus gostos, mas nunca tive muita coragem de falar minha opinião a respeito.
Um dia, quando todos estavam reunidos, eles falaram que o jogo havia lançado uma expansão totalmente nova e que todos se reuniriam para testá-la. Então, pensei que esse seria o melhor momento para me enturmar, só que...
– Todos eles morreram e agora você não tem ninguém. – Koda completou minha explicação.
– I-Isso...
Todos ficaram em silêncio, parecendo respeitar minha situação. Era perceptível ver que Kronus e Uryu estavam sem o que dizer, um pouco envergonhados.
– E por que você não passa a jogar com a gente? – O ruivo cortava o silêncio.
– O que?
– Não somos seu grupo da faculdade, mas eu garanto que pode ser bem divertido se você tentar explorar Bhesda com a gente. – Ele sorria de forma positiva.
– Mas vocês são bem melhores do que eu! Só atrasaria vocês... – Por mais que eu quisesse aceitar, não queria ser um peso para eles e relutava com a proposta.
– Olha, você pagou nossos equipamentos, então acho que agora é nossa vez de retribuir. – Ele desbloqueava o menu de personagem, vendo meus status e equipamentos. – Felizmente, sacerdotes são a classe mais fácil de upar se você estiver com as pessoas certas. Então, se você viesse com a gente, seria bem fácil montar uma build pra você que permita jogar com a gente e ser extremamente prestativa. – Ele desativa o menu e volta a olhar para mim com um sorriso. – Mas para isso, você precisa querer.
– Mas e se eu ficar com medo e atrapalhar vocês? – Digo bem nervosa.
– Para uma adulta, até que você é bem covarde, ein? – As palavras de Kronus me fazem corar, principalmente porque ele está certo. – Olha, você pode tentar vir com a gente e, se não gostar, pode ir embora depois. Você decide.
Era uma situação difícil pra mim, querer aceitar, mas a insegurança de me decepcionar era maior. Eu sabia que precisava tomar uma iniciativa, porque ficar indo pra trás, pensando em desculpa atrás de desculpa, não funcionaria.
Vendo que desistir não ia levar a lugar nenhum, devido à insistência dos meninos, resolvi tomar uma decisão.
– Ok, posso tentar jogar com vocês mais uma vez. – Todos parecem comemorar felizes com a minha escolha. Eu não via muito sentido em toda aquela felicidade, mas achava fofo a atitude dos meninos e, principalmente, Koda ao fundo, tentando disfarçar um sorriso amigável que havia feito em silêncio.
– Muito bem! Agora... Mentor! – Aki grita, cortando o clima caloroso.
– Me erra, demônio. – Sua resposta foi tão lisa e direta que recebeu até mesmo um tom caricato.
– Você sabe o que a gente pode fazer para deixar a Emma na melhor forma para dungeons de prestígio alto? – Koda parece respirar fundo por causa da pergunta de Aki, mas ele dessa vez demonstra estar interessado em ajudar.
– Olha, não existe nenhum método rápido pra isso. A garota ainda está nos níveis iniciais e o único jeito dela pegar níveis absurdos seria fazendo missões com vocês e vocês ficarem bancando a babá. – Ele verifica os status de um a um para passar as informações da melhor forma possível. – O problema é que, dependendo de onde vocês forem, se ela levar um ataque de dano em área, nem mesmo essa estratégia vai funcionar... Hm... Agh... Foda-se, venham pra loja.
Koda pensa nas melhores opções, nas melhores maneiras e nos melhores segredos de Bhesda. Ele verifica seus itens, suas listas de equipamentos e, principalmente, a Wikipedia do jogo, buscando encontrar alguma coisa que seja útil para mim.
– Vocês querem uma build temporária ou definitiva para ela? – Ele pergunta enquanto checa um menu do jogo.
– Como não sabemos se ela continuará jogando conosco, seria ideal preparar algo mais focado no agora. Futuramente, podemos pensar em equipamentos caso ela atinja algum prestígio. – Uryu informa a seu colega ferreiro.
– Sendo assim, ela pode se prender no básico. Amuletos de fortalecimento de encantamentos, resistência a danos variáveis, proteção divina, algum item que dê escudo... Acho que isso já é o suficiente.
– Alguma sugestão? – Aki pergunta.
– Hmm... – Ele coça o queixo pensativo. – Ok, vamos aos detalhes mais importantes:
Sacerdotes não podem usar armadura, tudo que eles usam são mantos sagrados. Então, de proteção, eu sugiro o Vestes Cerimoniais do Senhor da Luz. Dá um aumento de defesa significativo no usuário e permite resistência aos principais tipos de dano que podem ser prejudiciais para um sacerdote. Veneno, Escuridão, Maldição... Coisas desse tipo precisam ter um nível bem acima para ter algum efeito. Além disso, ele aumenta o dano de feitiços sagrados.
Para tristeza da Emma, sacerdotes também não podem usar armas, então ela precisaria de um Catalisador Imbuído. Isso permite que ela possa lançar alguns feitiços mesmo com a mana tendo acabado.
No caso dela, nada seria melhor do que o Báculo de Selamento da Senhora da Ordem. Ele fortifica todos os encantamentos, independentemente da escola, Deus, o que for. Feitiços que são ligados ao alinhamento ordeiro são muito beneficiados por este báculo. Para um sacerdote, é um facilitador e tanto.
O único defeito é que a magia que você pode conjurar dele sem gastar mana não é ofensiva, mas para ela, que não gosta de se meter tanto em perigo... Poder usar a magia "Nivelar" sem gasto, vai salvar muito a vida.
Quanto aos Artefatos adicionais... Um Amuleto de Proteção da Rainha do Alvorecer, dois braceletes de resistência e três anéis de fortalecimento já devem servir. Acho que, para fechar essa build, só faltaria um Colar do Pacificador Abençoado.
Todos esses itens são focados inteiramente em aumentar suas chances de negação de dano e aumento em conjurações, focados tanto em suporte como em auto proteção.
– O-O que... O que seria a magia "Nivelar"?
– Ela pega o seu nível e deixa um número limitado de inimigos no mesmo nível ou mais baixo que você. É um item para iniciantes poderem receber ajuda de jogadores mais experientes ou para jogadores fazerem dungeons mais difíceis de forma mais fácil. – Uryu explica. – Basicamente, se você puder usar isso e participar de dungeons altas conosco, vai ser extremamente tranquilo qualquer desafio.
– E com um anel de fortalecimento, você pode aumentar a quantidade de inimigos afetados, ou seja, três desses já cobrem uma horda inteira. – Completa o mentor.
– E aí, Emma, já se sente mais confortável em jogar com a gente? – Aki parece confiante em suas palavras.
Parece que a aventura não acabou para mim. Só Deus sabe o que me espera agora, mas acredito que, se esses garotos forem tão bondosos, não duvido que eu vire alguém capaz de gostar dessas aventuras.
– Certo... Eu... Eu vou tentar! – Respondo com um sorriso no rosto. Meu coração está acelerado e, ao mesmo tempo que me sinto feliz, estou tremendo igual uma vara verde.
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