Os homens que normalmente se relacionava eram reconhecidos por sua beleza, mas nada que seja comparável ao kitsune. E Chen Yue não está fascinado apenas pela beleza da raposa e nem pelo fato de ser tal criatura. Na verdade, para alguns isso seria motivo de terror, existem muitas lendas sobre maldições envolvendo kitsunes. Mas ele conhece um mundo que os humanos comuns não sabem nada a respeito e encontrar a raposa mágica foi sorte, muita sorte. É o que ele considerava quando a viu.
Ter a oportunidade de tocá-lo, beijá-lo, ter o seu perfume impregnado em suas roupas e principalmente em sua memória, quem poderia dizer que viveu isso? Porém, sentia muito o fato de não se lembrar do ato em si. Na verdade, nem pode dizer com certeza que aconteceu, apenas tem a sensação que sim. Algo em seu corpo parecia diferente. Passa a vasculhar em sua mente onde está aquela memória, mas quando sente sua cabeça latejar, procura pelo resto de bebida que leva consigo, tomando tudo a ponto de sentir a bebida aquecer seu corpo.
Um cansaço repentino surge e não sente apenas aquela dor de cabeça latejante, sente o corpo todo doer, como se tivesse sido espancado. Mal pode se mexer, as articulações parecem ter endurecido, a vista se torna turva e não consegue falar pois sente uma bola na garganta. Muitas horas se passam e percebe que os sintomas pioram. Se arrasta pelo quarto, que era bem simples e tinha poucos móveis, em busca de seu casaco pendurado em uma cadeira próxima a janela. Não iria morrer ali, precisa cumprir sua missão. A floresta das raposas. Quem sabe voltaria a ver aqueles olhos azuis?
Ao alcançar o casaco, encontra o amuleto de resgate. Seu mestre lhe deu aquele amuleto para que pedisse por socorro quando precisasse. Nunca precisou. Era forte e autossuficiente, um tanto orgulhoso, mas sabia que o maldito médico do clã o ajudaria a sair daquela situação.
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Seu mestre, Chen Ruo é um dos imortais mais poderosos e chegou a alcançar o divino, mas circunstâncias estranhas fizeram que ele fosse banido do monte celestial. Mas Ruo tomou a cripta das almas e se tornou o grande mestre daquele local. Ser banido entre os deuses e se aliar a criaturas consideradas maléficas fez com que o nome do clã Chen se tornasse ruim. Antes um nome de prestígio, os membros da família e do clã foram quase que completamente dizimados e quem sobreviveu buscou refúgio em lugares distantes, com difícil acesso a alimento e abrigo. Yue foi o primeiro que procurou um destino diferente. Ele foi em busca de seu ancestral na cripta das almas, sendo treinado por ele para que pudesse levantar o nome de sua família novamente. Os Chen ainda são considerados infames em locais de maior prestígio, mas com o poder de cultivo conquistado por Yue, ele conquistou muitos seguidores para Ruo, criando um exército na superfície e voltando a colocar o clã Chen dentre os maiores clãs da terra. Estrategicamente nunca confrontaram os outros clãs e tem vivido diplomaticamente com quase todos. Porém o clã Hao se opôs a essa trégua e os dois entraram em guerra, com uma vitória esmagadora dos Chen. Este acontecimento fortaleceu aquela trégua com os outros clãs que não queriam passar por uma guerra com uma grande possibilidade de perda.
Com todas as conquistas de Yue, ele se tornou o nome mais confiável para Ruo que delegava as principais missões a ele. E foi quando o jovem mestre Chen seguiu para a floresta das raposas.
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Não sabe como, mas se levanta e queima o amuleto na janela, caindo no chão do quarto assim que consegue, como se tivesse esgotado as últimas energias que ainda restam para pedir socorro. A dor se torna insuportável e sente algo queimar entre suas pernas, tentava gritar, mas mal saía voz alguma. Em sua mente, ouve gritos que não sabe de quem são, mas que soam desesperadores e dizem de modo repetitivo “desapareça, raposa demoníaca!”. No meio daquela agonia se lembra do que diz uma das maldições das kitsunes e com certo custo abaixa sua calça e segura o próprio pau, como se assim fosse capaz de protegê-lo. Em um momento pode sentir o pênis em sua mão, porém gradativamente tem uma sensação extremamente dolorosa de que algo o puxa, como se tentasse arrancar uma planta pela raiz e aquela dor o fez tentar gritar novamente, passando a sentir-se sem ar, o corpo todo empapado de suor até que a dor cessa. Quando tudo parece ter melhorado nota que o pau passa a encolher, diminuindo de tamanho como um pedaço de gelo exposto ao calor. O coração de Yue bate tão rápido que é impossível que não exploda a qualquer momento e com a mão ainda em volta do pênis, percebe que não segurava nada, apertando a mão até que a abre, notando que seu pau estava do tamanho de um dedo mindinho. E queimava, queimava, até o ponto que desaparece completamente. A visão de ter perdido o pênis era por si só assustadora, mas sabe que a raposa sugou sua energia vital através de seu pau. Teria perdido as duas coisas que mais importava, na verdade as únicas coisas que importava em sua vida.
Yue foi o primeiro do clã Chen a voltar ao cultivo e mesmo com todo o peso em cima de sua família devido ao que aconteceu com o deus banido, se tornou um forte guerreiro. Mas nunca imaginou que uma missão para a floresta das raposas seria capaz de derrubá-lo.
Não tem mais forças para sair debaixo da janela, e a febre o faz alucinar, e sempre que a imagem daquela kitsune surge, sente euforia, felicidade e prazer. Não se lembra mais da dor e nem do que perdeu. Parece entrar em uma estado de hipnose sempre que vê os olhos azuis da raposa, tudo em sua vida se torna sem importância naquele momento.
— Maldita raposa dos olhos azuis. — quebra o silêncio daquele quarto escuro. Ao perceber a forma como sua voz preenche o local, sente a realidade se tornar mais forte e a imagem do jovem kitsune desaparece. Um sentimento de desespero toma conta de Yue e tenta gritar por ajuda, mas a voz falha mais uma vez. E percebe que não quer explicar o que aconteceu. Quem não daria risada de sua estupidez? Foi seduzido por um kitsune de sorriso fácil, como qualquer homem idiota faria. Ele não é qualquer homem e mais do que nunca precisava repetir isso para si.
Conhece as lendas que envolvem kitsunes e agora pode sentir na pele o que diz uma delas. Terrível foi o momento que seu caminho cruzou com aquele belo rapaz e ainda por cima achou que foi sorte. Está apavorado para o que pode acontecer na sequência. Se não encontrar a morte, certamente vai enlouquecer, pois mesmo a distância, se aquela raposa for poderosa o bastante, pode continuar a sugar sua energia até que sua mente se torne um repolho. Mas não se considera um aventureiro qualquer. Foi o primeiro de seu sangue em muitos anos a ser capaz de voltar ao cultivo, seria capaz de se livrar daquela situação. E se segurou nesse pensamento até adormecer.
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Ao acordar, está novamente na cama e vê a figura que geralmente causa-lhe arrepios. É um dos braços direito de seu mestre, RongShe, considerado o médico do clã, mas Yue acha que ele pratica coisas que vão além da medicina. O médico RongShe usa uma pesada capa e mal pode ver seu rosto, mas é possível enxergar o brilho estranho no olhar daquele ser.
Ao chegar, o médico encontra Yue alucinando devido a febre alta. Mesmo naquele estado, ele sente um forte cheiro, não tem certeza do que é, mas imagina que são raízes secas, canela e ameixa. Além do que se sabe lá o que. Perceber isso foi a parte fácil, pois logo nota que está no centro de uma roda e tem chamas por todos os lados. A sensação é que acabaria igual uma fruta ressecada. E foi nesse momento que perdeu os sentidos.
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Voltou a floresta e tudo ao seu redor tinha cores vibrantes. As folhas das árvores eram vermelhas e o tom da terra no chão parecia que o engoliria devido a intensidade. E havia flores de todas as cores imagináveis por todos os lados. Para alguém que vivia no escuro, aquele lugar lhe trazia apenas sensações boas. Não se importava mais com o seu infortúnio, naquele local a vida era um detalhe insignificante que diga uma parte de seu corpo. E quando viu aquele lindo rapaz com seus olhos brilhantes e uma farta cauda que parecia fogo, uma felicidade infinita tomou conta de seu corpo e sua mente. Passou então a caminhar em direção a raposa que estava parada a sua frente, com um sorriso charmoso, era irresistível. Mas não demorou a notar que caminhava e não saia do lugar e viu o jovem kitsune parecer triste. Ele lhe virou as costas e se afastou até que não pudesse mais vê-lo. O jovem mestre Chen sentiu um buraco no próprio peito e nesse instante percebeu que as cores do local foram desaparecendo, tudo se tornando escuridão. Uma escuridão que se fechava ao seu redor até prendê-lo e sufocá-lo. Estava sem ar e aquela sensação fazia com que seu corpo queimasse e o desespero pela morte iminente era maior que tudo.
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Ao acordar, percebe que está em seu quarto e que ainda não tem seu pênis, mas parece vivo e são. Foi quando pode ouvir a voz do médico.
— Se envolveu com uma kitsune? — A voz parece distante, mas ele está próximo, não usa mais o capuz e é possível ver seu longo cabelo preso numa trança que chega até suas coxas. O cabelo é escuro com mechas vermelhas. Ele está de costas e observa algo pela janela. — Kitsunes são traiçoeiras e astutas. Ao lidar com uma kitsune é necessário no mínimo cautela, pois, caso o contrário, será uma presa fácil.
Não quer falar nada, mas é uma informação importante, pois não conhecia muitas kitsunes que tomavam a forma masculina. — Um kitsune.
O RongShe não compreendia como seu mestre colocava tanta confiança em um idiota como Chen Yue. Mesmo sendo forte, poderoso e com uma certa lábia, não teria a menor chance na floresta das raposas. Era como mandar uma lebre direto para uma armadilha. Mas não imaginou que o maldito teria um fim tão trágico. Pensou que deveria deixá-lo morrer, mas seu mestre não o perdoaria. Precisa devolver aquele cabeça de bagre de volta à cripta como um ser funcional. Grande coisa que não tenha o pau desde que tenha a força e a mente não esteja embaralhada. — Você se envolveu sexualmente com ele? — pergunta em um tom de preocupação. A voz transmite calma excessiva considerando a situação.
— Eu acho que sim, mas não tenho certeza. Não consigo me lembrar de nada enquanto estive com ele. Fui seduzido por algo, mas eu não sei, o que me lembro é que… — Interrompe sua fala pois percebe sobre o que falaria. O médico demonstra certa impaciência. Ele não liga para o que as pessoas fazem em suas intimidades, só se importa em ter o máximo de informações para poder fazer seu trabalho.
— Ele absorveu parte de sua energia. Precisamos recuperá-la, não posso te levar assim para o seu mestre. — Continua naquele tom calmo, parece entediado, é definitivamente uma criatura estranha na visão de Yue.
— E eu vou recuperar o meu?
O médico refletiu ao ouvir a perguntar e a melhor forma seria capturar a kitsune para recuperar a força de Yue. E mais do que isso, é inimaginável o que pode sugar de uma criatura como aquela. O exército de Ruo se tornaria invencível. O problema é que não é uma tarefa fácil capturar uma raposa mágica. Não apenas por seu poder, mas por sua inteligência e agilidade. A kitsune sempre está dois passos à frente. Primeiro precisa descobrir quem amaldiçoou o idiota. Depois qual o motivo além do provável "por que é o que as raposas fazem". E o que aquele kitsune fazia tão perto da vila? Estava se aventurando ou tinha outras ambições? Ao pensar tudo aquilo, resolve ser direto.
— Não. O máximo que conseguiremos é tentar restaurar a energia que perdeu e evitar que perca a sanidade.
— E como você acha que eu vou conseguir isso sem o meu pau?
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