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Tratado de Vidro - BETA

7.1 - Prometidos

7.1 - Prometidos

Jul 05, 2023


Os soluços me congestionam o peito, inundado com as lágrimas que turvam minha visão. Levo as mãos à cabeça, latejando com o caos de todas as peças do quebra-cabeças se juntando com o impacto de uma trovoada.

Mal ousando acreditar que é mesmo Hector diante de mim, com toda sua maldita implicância e o ensolarado sorriso…

— Alissa…?

Ele toca meu ombro com a ponta dos dedos, hesitante. E é o que basta.

Se ainda restava qualquer fragmento de autocontrole em mim, é esmigalhado.

O primeiro soluço se liberta, rasgando garganta acima junto às lágrimas.

Num único impulso, avanço e o abraço com força.

— Não acredito que voltou… que realmente… — as palavras se atropelam e sufocam em meio aos soluços abafados em seu ombro.

Hector passa um segundo congelado em surpresa. Então os braços me envolvem e apertam contra si a ponto de me erguer do chão, o rosto enterrado na lateral de meu pescoço enquanto absorve a tempestade que desabo nele.

— Eu disse que viria, não disse? — a voz rouca é abafada ao murmurar contra meus cabelos, num abraço tão apertado como o último que trocamos, antes de ele ir para Bérthia.

E então sumir por quase sete anos.

Me contorço para me afastar e ele me devolve ao chão, confuso. Ainda mais quando acerto um soco em seu ombro esquerdo, manchado de lágrimas.

— O que-

— Seu estúpido… por que… não escreveu?! — rosno entre soluços, pontuando cada palavra com um novo murro em seu ombro. — Disse… até a morte nos separe… mas não escreveu… nem um… único dia! Seu implicante estúpido miserável! Seu-

— Ei, Alissa… espera… calma aí, Mimosa — ele replica, tentando desviar e segurar meus punhos ao mesmo tempo, mas em meio aos meus soluços, escuto o risinho em sua voz. — Pelos céus, parece que regredimos uns treze anos aqui… Calma!

— Como… ousa… me dizer para ficar calma… quando reaparece… do nada… depois de anos… com essa cara… rindo de mim? Por que-

Hector me aperta contra seu peito largo novamente. Pela forma que me segura pelo meio dos braços, se parece mais uma cerca de contenção que um abraço. Me debato, tentando sair, mas agora ele está mais alto e, embora não aparente ser tão musculoso, consegue me segurar como se fosse nada.

— Shh… se acalme, se acalme — sussurra, as mãos alternando tapinhas ritmados nas laterais de meus braços, embora continue me segurando com firmeza. — Tente se concentrar no-

— Concentrar o caramba! — retruco, em meio aos soluços abafados. — Como ousa pedir que me acalme quando você aparece aqui depois de ter sumido por anos mesmo tendo prometido que-

— Você prometeu a mesma coisa. E não lembro de ter chegado carta para mim também. — A ponta de mágoa grita na voz murmurada, me atingindo mais forte que os murros que desfiro contra ele.

— Perdi o endereço que me deu — admito por fim, a voz tão trêmula quanto o resto do corpo. — Só percebi que tinha escapado da minha mão quando a carruagem já havia saído.

Como cesso os ataques, Hector afrouxa a contenção, me afastando pelos ombros apenas o suficiente para poder me encarar de sobrancelhas erguidas.

— Perdeu o endereço… Como, exatamente? Entreguei na sua mão.

— Não sei, droga! Devo ter largado por acidente quando… — As palavras travam na garganta, e todo o calor alojado no peito sobe para o rosto. Hector ergue uma sobrancelha e comprime os lábios num sorriso enviesado, entendendo a razão. O fulmino com os olhos, recobrando o argumento. — De qualquer modo, esperei que escrevesse, para poder responder. Mas não fez isso!

— Fala como se eu tivesse desaparecido numa caverna. Não é mistério onde fica a Academia de Bérthia, era só-

— Ah, é mesmo? Então era só eu endereçar para “Hector Santiago Michaelis, Academia de Bérthia” e milagrosamente a carta iria encontrá-lo?

Hector bufa um risinho.

— Na verdade, iria, se colocasse meu nome completo assim… Mas isso é ridículo. Morei aqui por anos, seus pais devem ter o endereço do papai. Sem mencionar o embaixador-

— O embaixador? — replico, erguendo as sobrancelhas. — Queria que eu incomodasse o embaixador por uma razão pessoal? E dizendo o quê? “Caro embaixador, descubra o endereço do Hector porque fui burra o suficiente para perder no mesmo dia em que ele me entregou e agora ele esqueceu minha existência ou como se escreve.”? — desdenho, como se a ideia não tivesse me ocorrido centenas de vezes. — Por que faria isso? Acreditei que era só questão de tempo até me escrever… Você sabia onde me encontrar. Por que não fez isso?

Hector solta o ar pesadamente, passando as mãos pelo cabelo e depois esfregando no rosto. Ele abre a boca para iniciar uma réplica, mas então a fecha e franze a testa, tornando a me encarar, a mão direita sobre o peito.

— Não esqueci de você.

— Desaprendeu a escrever, então? — retruco. — Considerando todos os exercícios de caligrafia a que fomos obrigados em nossos castigos, é realmente espantoso.

Hector revira os olhos e a mão sobe para a gola aberta, puxando para fora a correntinha dourada… na qual estão pendurados dois pequenos anéis dourados: um de Alexander, entregue em seu leito de morte; e um meu, entregue a ele pouco antes que partisse para Bérthia.

Ele os usa da mesma forma…

Involuntariamente, minha mão direita volta a agarrar o anel de aço que carrego… o anel que ele me entregou antes de partir.

— Não esqueci de você — repete devagar, tocando os anéis com a ponta dos dedos. — Como poderia? Sempre estiveram comigo… Vocês sempre foram minha família, sabe disso, Alissa.

Meu nome soa como “Aliíssa” quando ele fala devagar assim. Na infância, era engraçado de forma fofa, porque ele vivia mordendo a ponta da língua em suas quedas. Mas agora, com a voz mais grave… é meio desconcertante, na verdade.

Cerro os lábios, contendo a agitação dentro de mim.

— Muito fácil chegar aqui e dizer isso depois de anos sem qualquer sinal de vida — resmungo entredentes. — Você tinha como saber de mim, mas eu não fazia ideia nem se ainda… Como pôde? Qual sua desculpa?

— Uma tão ruim quanto a sua: esperei que me escrevesse — suspira novamente. — Pensei que quando quisesse falar, faria isso. Sempre foi assim. E com seus estudos para assumir o trono e os meus na Academia… Achei que ao menos iria escrever nos aniversários de Alex… ou no meu. Também fiquei sem saber o que pensar e você ter perdido o endereço jamais se passou pela minha cabeça. Comecei a escrever várias vezes, para tentar descobrir se estava tudo bem… mas nunca consegui passar das primeiras linhas. E quanto mais tempo passava, mais difícil ficava.

— Isso é-

— Ridículo? Patético? Estúpido?

Aceno em confirmação, apesar de ter feito a mesma coisa: iniciar várias cartas e então arremessá-las no fogo ao lembrar que não tinha como enviar e sendo incapaz de ir me humilhar pedindo o maldito endereço aos meus pais ou ao embaixador.

— É, percebo isso. Agora — Hector bufa um riso sem graça. — Superestimamos demais nossa própria inteligência para não ter pensado em tirar na sorte quem teria que escrever primeiro e quando, sendo que sempre resolvemos nossos problemas cara a cara… Um acordo tão estrito ao menos nos faria escrever para cobrar o outro, não é? — Ele solta outro suspiro pesado e joga o cabelo rebelde para trás, inutilmente. — Mas prometi, com todas as letras, que ia voltar. E estava para cumprir, apesar de tudo.

— O quê, quando se tornasse embaixador, daqui três a-

— Eu vinha em setembro passado, no aniversário do Alex — interrompe meu resmungo. — Mas meu pai teve um problema no coração às vésperas da viagem e tudo ficou um caos… não consegui simplesmente sair de lá. Assim que a situação acalmou, comecei a planejar para vir ao seu aniversário… e quando fui comunicar ao papai sobre os planos, ele contou do noivado.

Não consigo pensar em nada a dizer, os lábios apertados. Embora os soluços tenham acalmado, as lágrimas ainda gotejam vagarosas.

Ele pousa a mão direita sobre os anéis pendendo no peito, o olhar fixo no meu.

— Eu juro, Alissa. Juro, por Alex e por tudo que já vivemos, que apesar de ter falhado na parte de escrever, nunca esqueci de você e nem da promessa que fiz… E vejo que você também. Não podemos declarar um empate de burrice infantil, bebermos um copo de chá como penitência e virarmos a chave? — Ele estende a mão para mim junto a um meio sorriso apologético em oferta. — Teremos anos para compensar isso e sempre fomos melhores sendo estúpidos em dupla do que um com o outro, certo?

Ergo o olhar da mão que ele estende, de volta para seus olhos. Ainda que sejam tão escuros, é como encarar um lago cristalino numa manhã ensolarada. Mesmo se não tivesse jurado por Alexander, é fácil ver a sinceridade em cada palavra proferida, senti-la ressoando em mim. E embora não esteja nem perto de arrumar a bagunça que a tempestade deixou, e que vários prometidos parecessem ter se estilhaçado…

Estendo a mão, mas paro pouco acima da dele.

— Não vou beber porcaria de chá nenhum. Beba sozinho. E se ousar me propor isso mais uma vez, juro que afogo você num bule — sentencio, com o dedo em riste em seu peito.

Hector dá uma gargalhada curta.

— Não, obrigado. Tenho amor à vida.

— Isso é novidade.

Hector apenas abre mais o sorriso, o chocolate em seus olhos reluzindo como se derretesse ao estender mais a mão com uma sobrancelha arqueada.

Reviro os olhos e, soltando o ar num suspiro, coloco a mão na sua.

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