Por detrás daquelas portas haviam diversas pessoas, mais do que esperava ver e mais do que podia contar, três grandes regiões de cadeiras dividiam as diversas pessoas que ali estavam, a primeira região, a da esquerda, parecia ser a mais iniciante, por possuir pessoas com os rostos mais joviais, enquanto que as outras duas pareciam ser preenchidas por pessoas um pouco mais velhas.
O local estava bem iluminado e mais parecia uma gigantesca sala de cinema, com cadeiras ricamente acolchoadas e confortáveis, luminárias que estavam nas paredes mantendo o local iluminado, no chão haviam algumas trilhas de Led, guiando todos pelos caminhos do auditório quando não houvessem luzes e também um carpete preto cobria o piso, as paredes eram acolchoadas por um tecido vermelho escuro, na frente de todas as fileiras havia um grande palco, com o chão de madeira e cortinas de veludo, as quais estavam recolhidas e amarradas por cordas douradas, um palanque estava também em cima do palco, com um único microfone em seu centro.
Eu e Gibb nos dirigimos imediatamente para a esquerda, procurando um local que estivesse livre, encontrando, sem muita dificuldade, duas cadeiras, uma ao lado da outra, e nelas sentamos.
— Pronto, estamos onde deveríamos, dentro do horário e sem complicações, mais calmo?
— Agora sim, pelo menos estando aqui fico mais tranquilo. — Tranquilizava-me um pouco mais, afundando meu corpo na poltrona.
— Isso é tudo por causa da escola nova?
— Eu acho que sim… Já viu como é esse lugar? Nunca estive em um tão chique assim.
— Eu te entendo, também fiquei bem intimidado da primeira vez. — Gibb sorria levemente, me apoiando.
Não demorava muito para que um sino tocasse, um toque longo, era o som que indicava o início das aulas, com o toque terminado apenas demorava-se alguns segundos até alguém aparecer no palco e andar até o palanque, com isso as poucas vozes que antes preenchiam o auditório agora davam lugar ao silêncio.
A pessoa dava alguns leves toques no microfone, testando se este estava funcionando perfeitamente, aproximando-se em seguida e dando começo ao seu discurso.
— Bom dia a todos. — Dizia o orador, com uma pausa para que todos respondessemos, verbalmente ou mentalmente. — Gostaria de iniciar minha fala com um agradecimento para todos os novos alunos que escolheram a Adam Highschool como sua instituição de ensino, saibam que todos os anos estamos trabalhando para poder dar a todos a melhor experiência possível…
E com esse início de discurso eu entendia que seria mais uma apresentação padrão das escolas, feita para dar uma explicação básica sobre a instituição ou algo do tipo, claro que eu estava nervoso, mas assim que a fala do homem começou meu desinteresse também aumentou, fazendo com que minha mente se desligasse do que estava ocorrendo ao meu redor, distraindo-me com meus próprios pensamentos, só que em meio ao mundo das ideias algo me chamava atenção, palavras que me fizeram despertar novamente para a realidade…
— Agora com os avisos iniciais entregues, peço para que, dos alunos os quais aqui se encontram, retirem-se aqueles que não estão cadastrados na classe especial.
Ao terminar sua fala, vários alunos que estavam presentes se levantaram, começando a retirar-se do auditório de forma ordenada, esvaziando rapidamente o recinto.
E eu seria mais um deles, se Gibb não tivesse chamado minha atenção.
— O que você está fazendo? — Sussurrou ele.
— Ué, me retirando. — Sussurei de volta, pronto para me mover, e levantaria, se ele não tivesse puxado meu blazer.
— Como assim? Você não está inscrito?
— Não sei, me parece algo ruim, então eu passo. — Tentei forçar minha saída, tirando a mão de meu amigo de minha roupa, mas sua pegada era forte. — Me larga, vai rasgar.
— Tu deve estar inscrito sim. — Ele repetia.
— Não devo não, me deixa ir pra aula.
— Senta.
— Não.
— SENTA! — Ele gritou, mas em um tom baixo, que apenas nós podíamos ouvir.
— NÃO! — Gritei, no mesmo tom usado por Gibb.
Enquanto estávamos em uma briga, inaudível para os demais, o homem que estava atrás do palanque limpou sua garganta, fazendo um barulho que era transmitido a todos, por ele estar próximo ao microfone, como se chamasse a atenção do recinto para si.
— Ahem! — Ele fez, com os olhos fechados e arrumando sua gravata.
A pessoa a frente tratava-se de um homem loiro, num tom quase branco, de rosto jovial e pele branca, óculos finos, retangulares e transparentes, estavam a frente de seus olhos azuis, ele passava a impressão de ser muito organizado e limpo, uma vez que suas roupas estavam impecáveis e seu cabelo arrumado, sendo penteado para trás perfeitamente (E talvez com a ajuda de muito gel), as roupas que o homem usava eram iguais aos uniformes escolares, porém o blazer era substituído por um grande sobretudo e também havia a adição de um colete social por cima da camisa, sem falar que as cores de suas roupas eram pretas, ao contrário do azul marinho, e em suas mãos havia um par de luvas brancas.
Porém, outra coisa chamava minha atenção sobre o homem, em seu lenço, no pescoço, havia uma pequena pedra verde, em formato oval, coisa que fugia do padrão de todos os alunos que havia visto até agora.
— Aos novatos que ainda não estão acostumados, nossa instituição possui duas divisões de estudo, os alunos de classe comum e os de classe especial. — Ele continuou, sério. — Aqueles que ainda possuem dúvidas sobre sua inscrição…
Ao mesmo tempo que o homem terminava sua fala, uma grande tela descia do teto, logo atrás dele, como se fosse uma gigantesca televisão de última geração ou então aquelas telas que só aparecem em arenas ou estádios esportivos, um branco piscou e a imagem de uma tabela começou a ser exibida, vários nomes estavam escritos nela, alguns de difícil escrita ou os quais eu nem mesmo conseguia pronunciar, e dentre tantos nomes…
O meu…
Meu queixo quase caiu, minha pressão despencou e quase fui junto, eu estava incrédulo, isso provavelmente era obra de meu pai, ele havia me colocado nessa tal classe especial, sabia que devia ter algo errado, eu não seria mandado para essa escola por nada…
— Maldição… — Resmunguei.
— Teu nome está ali, não disse?
— Eu to vendo Gibb… — Respondi emburrado. — E o seu?
— Bom, eu vim me matricular, então já sabia que estava na classe especial.
— Ah é, fui o único sem opção de escolha…
Em minha cabeça eu tentava entender como tantas decisões importantes foram tomadas sem eu ter controle, era minha vida, não a de meu pai, como ele sabia o que eu gostaria de viver? Simplesmente fui jogado nesse trajeto sem nem ter chance de saber o que era ou recusá-lo.
— Temos muitos novatos esse ano. — Continuou o homem, após os segundos de silêncio. — E a todos vocês que aqui estão, lhes dou de antemão os meu mais sinceros parabéns, pela coragem e garra de aceitarem participar da classe especial, com isso peço para que todos os novatos me sigam, iremos dar início aos testes de ingresso.
O homem dava alguns passos para a frente do palco, saindo detrás do palanque e agora olhando atentamente para aqueles que restavam no auditório, aguardando todos se levantarem.
— Os veteranos estão dispensados, o restante me acompanhe. — Ele dava de costas e caminhava para a direção da parede atrás do palco, de onde surgia uma passagem, literalmente, do nada, abrindo espaço para ele seguir caminho, o restante das pessoas começavam a seguí-lo, enquanto outra retirava-se do auditório. — Vamos. — Ele reforçava o comando, seguindo caminho.
— Pera… É sério? Ele nem mesmo vai explicar? — Perguntei, incrédulo com a situação.
— Acho que não. — Disse Gibb se levantando e acatando a ordem.
— Espera, você não sabe o que a classe especial representa? — Questionou uma voz logo atrás de nós, um estranho que se aproximava. — Que pessoas sem classe.
O garoto que entrava em meu campo de visão vestia as mesmas roupas que eu e Gibb, seus cabelos castanhos estavam penteados para o lado, arrumados com cuidado, e seus olhos acompanhavam a mesma cor, sua pele era branca e sua aura acompanhava uma certa aura que me incomodava...
— E você sabe? — Perguntei.
— Hoho! Claro que sim. — Respondia ele, com um ar de superioridade. — Qualquer um que se preze, sabe do que se trata.
— Eu posso te falar depois, não se preocupa. — Disse Gibb ao meu lado, observando a situação. — Vamos, esquece ele.
— Eu poderia apresentar-me, contudo, não me parece digno de saber meu nome. — Dizia o engomado, com mais desdém.
— Vocês mancham a reputação de nossa escola só de estarem aqui. - Comentava outra pessoa que se juntava ao lado do garoto de cabelos castanhos, esse tinha os cabelos negros e lisos, penteados para baixo, ao mesmo tempo, outro garoto, maior e de cabelos curtos, se juntava ao grupo, formando um trio.
— Eu nem mesmo queria estar aqui pra começo de conversa. — Respondi ainda chateado pela ação de meu pai.
— Só ignora eles. — Sussurrou Gibb para mim.
— Que bom, aproveite e saia logo da A.H, sua presença nunca foi bem-vinda. — O de cabelos curtos dizia.
— Ah é? Só porque não sei o que sua estúpida classe faz?
— Somente é estúpida para burros e ignorantes, para pessoas é algo grandioso.
Eu me calei por alguns segundos, sentindo minha raiva crescer e arder pelo meu corpo, aqueles garotos estavam fazendo isso de propósito, me estressando, e eu socaria o rosto de cada um deles, se não fosse por Gibb.
— Tá certo, obrigado pelas boas-vindas. — Gibb disse, segurando meu pulso e puxando.
— Ei. — Reclamei, mas desisti de demonstrar resistência, entendendo que o acompanhar era a melhor solução.
— Melhor tomar cuidado espurco, pessoas como você não duram muito. — Desdenhou o garoto que parecia ser o líder daquele grupo, fazendo minha veia saltar e a têmpora doer, mas Gibb continuou me puxando, aumentando a distância entre nós.
Seguimos juntos até a passagem que havia sido aberta, acompanhando a fila que havia se formado, continuei no meu lugar, ainda estressado com o que aconteceu, nós dois ficamos calados depois do que aconteceu, não dando uma única palavra durante alguns passos.
— Por que me puxou? Pra nocautear aqueles três babacas era fácil.
— Confusão no primeiro dia de aula não é algo que você iria querer.
— A culpa é minha? Da próxima vez vou amassar a cara deles. — Disse socando a palma da minha mão.
— É melhor esquecer isso, aviso de amigo.
— Tá… — Respondi meio que a contragosto. — Mas então, me fala o que é a classe especial.
— Quando algo entra na sua cabeça é difícil tirar, hein? — Comentou meu amigo, erguendo uma das sobrancelhas. — Melhor te explicar depois do teste.
— Teste? — Dei uma pausa na fala, para compreender o que havia sido dito. — Pera aí, vai ter um teste?!
— Vai, o porta-voz acabou de falar lá no palco.
Eu me calava por um instante, não tinha prestado atenção na fala do porta-voz.
— E agora Gibb? Eu não estudei nada. — Indaguei, trocando meu sentimento de raiva pelo de nervosismo.
— Relaxa, tem que ficar calmo para fazer esse tipo de coisa.
— Agora não tem como, já to nervoso. — Disse segurando meus cabelos. — Como é esse teste?
— E eu sei lá, não sei muito mais do que tu não. — Gibb deu de ombros.
— Considerando que eu não sei absolutamente nada, pouco já é muita coisa. — Digo encarando-o.
Depois da última frase um grande feixe de luz brilhou, uma fonte luminescente estava à nossa espera ao final da passagem que aquele homem nos guiava, e ao passarmos por ela víamos-nos em uma sala, que foi sendo revelada à medida que nossas retinas acostumavam-se a luminosidade.

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