Ao ver o belo entardecer, Zhan Yao quis aproveitar para se banhar na lagoa próxima a pousada. O movimento é tranquilo e pode ver Jun Fan dormindo na sua caminha de gato que fica na recepção, provavelmente Madame Xu pediu para que ele cuidasse da recepção e esta é a forma que ele cuida da recepção. Não viu o kitsune e imagina que ele esteja dando uma volta, algo que sempre o deixa apreensivo. Não pode ignorar que aquela raposa lhe causa uma forte sensação. Ainda não decidiu se positiva ou negativa.
Ao chegar à margem da lagoa, enxerga a imagem do próprio reflexo na água cristalina. O que vê no lago é uma imagem diferente daquele homem simples da pousada. Em vez de sua roupa de linho bege, usa uma roupa branca e dourada, tão impactante quanto o próprio dragão divino. Os olhos e a parte interna de seu cabelo reluziam num tom dourado, podia ver seu chifres que brilham da mesma forma e logo que tirou sua roupa, uma grande dragão do mesmo tom brilhante se ilumina em suas costas, assim como as marcas de suas veias por toda a sua pele. Emanava tanta luz quanto o sol na imagem que via em seu reflexo. Aquele dragão poderoso enfrentou muitas batalhas e obteve muitas vitórias, mas por que nenhuma importava? Tudo o que pensa é naquela derrota. Quando O Corvo atingiu seu ponto fraco. Zhan Yao sempre foi conhecido por ser muito rígido em suas decisões ao ponto de ser considerado muito teimoso, não sendo capaz de fazer concessões.
Os deuses do monte celestial tinham uma imagem perfeita e intocável para os humanos, mas Yao sabe muito bem que todos estão longe de serem perfeitos. O Dragão Dourado era intransigente e frio na maior parte do tempo. A Tigresa, violenta e impulsiva, o que é uma péssima combinação por sinal. O Qilin, era passivo e distante ao ponto de alguns desconfiarem de sua índole. A Fênix, muito emocional ao ponto de ter escolhido ficar reclusa desde o evento com O Corvo. E a Tartaruga, extremamente desconfiado e raivoso, porém quando alguém conseguia ultrapassar seu casco, era o total oposto. Não havia meio termo para ele, não existia o cinza. Maldita hora que Shui Sheng resolveu confiar cegamente naquela criatura traiçoeira. Zhan Yao tentou de todas as forma abrir os olhos de seu amigo, mas para a tristeza do Dragão Dourado, ele escolheu O Corvo.
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A cripta das almas está selada por séculos e Shui Sheng tinha seu reino natural para proteger a entrada daquele lugar amaldiçoado. Mas como poderia imaginar que aquele selo seria quebrado? E sempre imaginou que seu grande amigo estaria ali para proteger o lugar e não ajudar a causar tudo aquilo.
Ao chegar ao local podia sentir uma energia caótica cheia de ódio e ressentimento. E logo viu de onde estava vindo tudo aquilo. Era Shui Sheng, a Tartaruga Divina que não demorou a esbravejar.
— Você não passará por aqui!
— Por favor, Shui Sheng! Nós precisamos selar a cripta.
— Está me enganando, não passa de um usurpador. Não deixarei destruir o meu reino.
Não conseguia compreender aquelas palavras. Não fazia o menor sentido. Naquele momento Zhan Yao tinha certeza de que Sheng tinha tido sua mente envenenada. Isso na melhor das hipóteses. A situação toda era bem pessimista. Como um deus milenar poderia cometer tantos erros consecutivos?
— Meu caro amigo...como pode esquecer o seu propósito?
— Não fui eu quem esqueci. A sua sede por poder é inesgotável Dragão Dourado. Ninguém suporta mais sua tirania.
— Tirania!?! – o Dragão respondeu num tom de voz potente e tentou se aproximar de seu até então amigo mais íntimo. Porém recebeu um golpe que o arremessou para trás. Não seria possível um diálogo.
O amigo que conhecia, nunca teria o atacado daquela forma. Queria quebrar aquele feitiço que tomou a mente de Shui Sheng, mas sua fúria impossibilitava que se aproximasse. Amava profundamente seu amigo, mas seu senso de dever estava acima de tudo então não teve outra escolha.
Com um poderoso golpe criou uma fenda profunda que impediria que qualquer um ultrapassasse aquele ponto e então a selou. Seu amigo caiu nas profundezas e de lá não sairia.
Sentiu que o mesmo buraco que criou se formou dentro de seu peito e pela primeira vez em séculos, sentiu lágrimas deslizando por seu rosto, sendo tomado por aquela dor intensa que não era física. Preferia sentir o corpo sendo surrado do que lidar com aquela perda.
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Zhan Yao evitava voltar a lembranças tão dolorosas, mas ver o próprio reflexo na água que reflete um brilho dourado diferente, sempre o levava a algum momento importante de sua longa vida. Por algum motivo, naquele momento, sua mente viajou até quando perdeu Shui Sheng para a mais profunda escuridão. E ao pensar naquela escuridão, sua mente se volta para o kitsune. Isso era um sinal de que aquela jovem raposa era perigosa? Ou que de algum modo o levaria de volta para a cripta? Madame Xu tem razão em relação ao chamado.
Estava pensando demais em coisas tão complexas e mais do que nunca precisava de um banho para relaxar o corpo e limpar as dores da alma, deixando suas roupas próximas a margem e caminhando com leveza em direção a água, logo cobrindo metade de seu corpo.
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Hui Ling gentilmente foi buscar maçãs para Madame Xu e a caminho do pomar, vê a figura de Zhan Yao tirando a roupa. Tem um impulso de se aproximar, se escondendo atrás de uma árvore próxima. Não acha absurdo espiar um homem bonito tomar banho, mas é absurdo espiar especificamente aquele homem.
Não que o considere feio, na verdade era belo, mas de um jeito estranho, tem algo de inalcançável naquela beleza. E essa sensação só se intensifica ao vê-lo nu, com toda aquela musculatura bem delineada, e um brilho dourado que contorna seu corpo. Aquele brilho poderia ser apenas o sol do entardecer refletindo na água, mas e se não for só isso. O homem simples que conheceu ao chegar à vila, parece cada vez menos comum. Mas como explicar o que significa aquela sensação? Não faz sentido pensar qualquer coisa extraordinária de alguém que usa roupas tão feias e passa o dia tomando chá. Ver o homem com seus longos cabelos soltos, que também parecem compostos por fios dourados que brilham a luz do sol, a forma como ele deslizava as mãos pelo corpo. Huì Líng sentiu a face quente e uma certa agitação, principalmente ao sentir um leve formigamento abaixo do umbigo.
Se lembrou de sua mãe falando em como os humanos procurariam prazer sexual com ele e entendia isso apenas pelo ponto de vista da outra pessoa. Mas dessa vez, experimenta a sensação de desejar alguém e não o oposto e não tinha a menor ideia do que faria com aquela informação. Levando isso em conta, resolve ignorar, senta-se atrás da árvore e fecha os olhos, tentando meditar, mesmo que seja péssimo nisso.
Ao abrir os olhos, o que vê a sua frente é Zhan Yao vestindo apenas um fino robe claro, sendo possível ver perfeitamente seu corpo, o peitoral largo, o abdômen definido, as belas coxas e então o que tem entre suas pernas. Na mesma hora salivou, sentindo o rosto tão quente que pode imaginar o quanto está corado. A essa altura não existe meditação possível para que evitasse sentir seu pau endurecer.
O homem à sua frente sorriu de um jeito charmoso, ele parece gostar do que vê e logo se abaixa e diz naquela voz grave e sedutora: — eu posso te ajudar se quiser.
A raposa só assente com veemência, sentindo até certo desespero e antes que se desse conta o homem está com uma das mãos em volta de seu pau, e a movimenta de forma ritmada, fazendo o corpo do kitsune ser dominado pelo prazer. Conforme sente que o ritmo daquele movimento aumenta, sente que chegaria ao orgasmo quando abre os olhos e se dá conta de que que segura o próprio pau. Mas o pior não é isso e sim que Zhan Yao está parado à sua frente, totalmente vestido e com os braços cruzados. A forma como ele o olha é tão enigmática que não sabe se levaria uma bronca, se ele tinha gostado ou se ele está preocupado, quem é que sabe?
Hui Ling se jogou no chão de bruços de um jeito bem dramático e exagerado, tentando esconder o que estava fazendo de algum modo, pensando se era possível morrer de vergonha, tipo realmente morrer.
— Me desculpe....eu não percebi o que eu estava fazendo. Eu fui meditar, eu não sei...acho que fui possuído por alguma coisa. — diz em uma voz chorosa, tentando consertar a situação mas só evidencia tudo com todo aquele escândalo.
O homem a sua frente parece não se importar com as desculpas. Hui Ling pasa a se perguntar por quanto tempo ele ficou o olhando se masturbar. O tempo todo, 10 segundos, por que não disse nada? Ou ignorou? Ele tinha gostado ou queria ver até onde iria. Foi quando se deu conta que assim como Jun Fan e Madame Xu, ele sabia.
— Lao Zhan eu posso explicar.
Ele o interrompeu com um gesto firme.
— Eu preciso que venha comigo. — Fala em tom imperativo.
— O quê?
— Eu disse que preciso que venha comigo. Se recomponha e venha, te espero próximo a curva da estrada. — Fala de maneira até meio seca e então praticamente desaparece dali. Hui Ling se lembra imediatamente o quanto odeia aquele maldito homem. Apesar que ódio é um termo um tanto forte. Ele não era ninguém, um homem qualquer, sem importância e deveria estar alucinando todas as vezes que achava que via algo de diferente nele.
A raposa se levanta e se recompõe da situação e vai até onde Zhan Yao o aguardava. Ele bebia água de um cantil e parecia calmo.
— O que precisa...
Antes que complete a pergunta, sentiu o rosto molhado, olhando meio chocado para o outro.
— Mas por que você fez isso? — fala furioso.
Ele cruza os braços e apenas o olha de cima a baixo e foi então que Hui Ling se deu conta. Ele queria vê-lo em sua forma real.
— Você deveria ter pedido! — fala totalmente enfurecido.
— Você estava me espionando, só achei justo. — fala de maneira calma.
— Eu não estava te espionando, eu só vim pegar maçãs para a Madame Xu.
— E por acaso é daquela forma que você colhe maçãs?
A raposa sente o rosto tão quente que acha que vai explodir e virar cinzas, sentindo a orelha tremer agora ela está visível. Sua orelha sempre tremia quando estava muito nervoso ou tenso, assim como sua cauda ficava toda eriçada.
— Eu só fiquei curioso quando eu vi você. Mas não estava te espionando.
— Curioso? — Yao parece refletir um pouco antes de seguir com o que tinha em mente. — Está tentando me amaldiçoar?
— Como é que é? — A raposa parece confuso além da raiva.
— Você é um kitsune do santuário.
— E daí? Por causa disso acha que eu saio tentando amaldiçoar todo mundo?
— É o quê kitsunes fazem.
— Você já conheceu um para saber?
— Vivendo aqui é comum conhecermos kitsunes.
Hui Ling coça a cabeça meio na dúvida sobre o que ouviu, mas no fim decide que faz sentido. Ele e Madame Xu devem conhecer outras kitsunes.
— Eu não estava te espionando e nem quero te amaldiçoar, se eu quisesse você nem perceberia até que já tivesse acontecido. Naquele momento, eu acho que estava sonhando.
— Aparentemente um sonho bom. — Yao diz num tom levemente debochado, era a primeira vez que Hui Ling percebia algo assim naquele homem misterioso.
— Não! Não tinha nada de bom e nem tinha nada a ver com você.
Zhan Yao sorri de um jeito bem discreto, mas Hui Ling percebe e teve que fingir muito que não ficou um tanto fascinado com o sorriso daquele homem.
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