1 mês depois.

- Então, o que acha ? - Nanber o encara através do espelho e sorri empolgada. Ele estava lindo como sempre.

- É bonito... - Desmond força um sorriso e desliza seus dedos sobre o tecido. Seus olhos fitam seu reflexo e tudo ali o desagrada.

- Você é a noiva mais linda que eu já vi! - a costureira, em sua inocência o elogia, mas recebe apenas um olhar indiferente.

- Poderia nos deixar sozinhos ? - Nanber a pede com gentileza.

- Claro. - ela se levanta e caminha em direção a porta.

- Algum problema ? - a moça o questiona logo após ouvir a porta se fechar. Ela da a volta e para em sua frente, o encarando enquanto tenta descobrir o que havia de errado.

- Não! Estou bem! - ele respira fundo e sorri novamente, mas o fato de que não consegue olhar em seus olhos o denúncia.

- Sabe que pode confiar em mim, não é ? - Nanber estende suas mãos.

- Claro! - Desmond as segura e sorri, mas a verdade é que não confia nem mesmo em sua sombra. Viver nas ruas o ensinou que todos sempre escondem suas sombras e fingem ser bons até precisarem pisar na cabeça de alguém.

- Ótimo, então podemos continuar ? O casamento será amanhã e sua roupa ainda precisa de muitos retoques!

- Claro! - ele concorda com a cabeça e volta seu olhar para o espelho. Não se reconhecia mais.

Ambrose está em sua sala rodeado por papeis e documentos dos quais precisa cuidar com urgência. Após a morte de seus pais tudo foi passado para ele, mesmo sendo o filho mais novo agora era seu dever resolver todos aqueles problemas.

- Merda.. - ele sussurra e esfrega seus olhos, que doem após tantas horas de leitura.

- Sr. Brenhin ? - um dos empregados fala ao bater à porta.

- Entre. - ele se recosta na cadeira e encara a porta, que logo se abre.

- Algum problema ?

- Senhor, me foi informado de que seu irmão esta vindo para o casamento... - o rapaz fala com certa hesitação.

- E quem foi o maldito que o deixou sair ? - Ambrose contrai sua mandíbula e tanta parecer calmo.

- Ninguém senhor, ele matou os guardas e saiu durante à noite. Provavelmente chegará amanhã pela tarde...

- Diga ao Lyter para cuidar disso e redobre a segurança. Ninguém pode saber que ele está aqui!

- Sim, senhor. - o jovem se curva e sai.

- Porra! - ele bate na mesa e grita furioso. Nada podia dar errado durante a cerimônia. Seu reino dependia disso.

No dia seguinte.

Desmond para em frente a entrada para a sala do trono e suspira, alinha sua capa feita com o couro de urso já e pode ouvir os sussurros no salão enquanto os convidados se levantam e esperam por sua entrada.

- Está nervoso ? - Nanber para ao seu lado e também encara a porta.

- Um pouco, eu acho...

- Vai se sair bem, não se preocupe. Mas saiba que vou estar no lá caso queira fugir. - ela ri.

- Certo! - Desmond dá risada também e se sente um pouco melhor com seu apoio.

- Okay, chegou a hora. - Nanber acaricia seu ombro e lhe mostra um sorriso gentil, em seguida da uma batidinha na porta, indicando que havia chegado a hora.

A porta feita de madeira se abre e todos os olhares se voltam para Desmond, ele ergue sua cabeça e caminha em direção ao altar onde Ambrose o espera. Enquanto se aproxima seus olhos se fixam no lobo a sua frente, que está usando roupas ainda mais elegantes do que de costume, em sua forma de homem-fera Ambrose era ainda mais intimidante e inexpressivo, mas por algum motivo isso sempre o atraia, não podia tirar seus olhos dele mesmo que tentasse. Aquele enorme lobo negro sempre o distraia.

O futuro Rei, ao vê-lo se aproximar, estende sua mão esquerda e o guia para cima do altar. Seus olhos se encontram e ele pode notar o quão nervoso Desmond está.

- Esta lindo... - ele sussurra tentando distrai-lo dos lobos raivosos que o encaram, mas acaba fazendo com que Desmond core até as orelhas. Deixando seu rosto completamente vermelho.

- Sentem-se, vamos dar inicio a cerimonia! - o Sacerdote da Casa Kazimier anuncia alegremente e todos rapidamente se sentam.

- Sob a luz do eclipse e com a permissão da Deusa Mãe, dou inicio a essa cerimônia para unir esses lobos... - ele prossegue com os rituais para o casamento e após um longo discurso o homem se prepara para fazer a pergunta que mudaria tudo.

- Brenhin, aceita se casar com esse lobo ? - o Sacerdote o questiona com um sorriso gentil.

- Sim! - sua voz sai quase que sem emoção, mas é alta o suficiente para que todos ouçam.

- Desmond, aceita se casar com esse lobo ?

- Sim... - diferente de Ambrose, sua voz é baixa e hesitante. Não estava tão confiante de sua capacidade para fazer isso, mas não podia desistir agora.

- Eu os declaro casados com a benção de Gaia. Que a Deusa derrame seu amor sobre o casal e traga prosperidade. - ele anuncia sorridente. Ambrose segura a mão direta de Desmond e o guia até os tronos vazios, que antes pertenciam aos seus pais. Eles se sentam em seus lugares e todos se levantam em respeito.

O Sacerdote se aproxima de Ambrose, já com a coroa em suas mãos e a põe em sua cabeça, em seguida faz o mesmo com Desmond, que agora está ainda mais corado e desconfortável. Toda aquela situação era de mais para ele.

- Alegrem-se, temos um novo Rei!

Durante a breve comemoração alguns lobos deixaram presentes próximo aos tronos e cumprimentaram os novos monarcas. Como mandava a tradição.

- Olá Sr. Rei! - Lyter se aproxima e se curva.

- Sugiro que tenha respeito maldito bastardo. Sou o Rei agora! - Ambrose ri e se levanta, cumprimenta seu amigo e ambos dão risada da situação enquanto Desmond os encara curioso.

- Sou Lyter da Casa Astemyo, é um prazer finalmente conhece-la! - com todo seu charme e educação, Lyter se aproxima e beija sua mão.

- O prazer é todo meu, Lyter. - Desmond sorri.

- Aqui, um presente para a senhora... - Lyter põe a mão dentro de seu casaco e tira uma adaga de cor prata de dentro dela.

- Não hesite em usar... - ele sussurra e lhe entrega o objeto. Desmond o guarda entre suas roupas e sorri.

- Obrigado!

- O que tanto conversa com minha Rainha, Lyter ?

- Nada de mais! - o jovem lobo dá risada e o abraça.

- Ele está aqui, sinto muito. Cuide dele. - ele sussurra e o solta, voltando para a multidão. Ambrose volta seu olhar para os convidados e os observa em busca do perigo, mas não encontra nada.

- Algum problema ? - Desmond questiona ao notar que ele estava agitado.

- Não. - Ambrose suspira e se senta ao seu lado, segura sua mão e o encara com um olhar gentil.

- Se saiu bem hoje.

- Obrigado. - Desmond sorri envergonhado. Ambrose arregala seus olhos ao vê-lo sorrir com alguma sinceridade e mais uma vez aquela sensação estranha preenche seu peito, o deixando inquieto e pensativo. Sempre era o mesmo quando seus olhos se fixavam em Desmond, só conseguia pensar no quão lindo era.

Enquanto se perde em seus pensamentos, um homem usando capa branca e capuz, se aproxima dos monarcas. Desmond desvia seu olhar para ele e logo Ambrose faz o mesmo.

- Olá, irmão... - ele retira o capuz, revelando seu rosto que têm os pelos em um tom de castanho escuro e olhos negros. O lobo abre seus braços e o convida para um abraço.

- Azael... - Ambrose sussurra e se levanta, caminha em sua direção e o puxa pela nuca, aproximando seus rostos

- Está desejando morrer, irmão ? - Ambrose sussurra e aperta seu pescoço com mais força, cravando suas garras em sua pele e a arranhando.

- So queria lhe dar meus cumprimentos.

- Saia. - ele o solta, mas Azael o segura pelo antebraço.

- O Conselho esta olhando, não cause um alvoroço desnecessário. Prometo que irei me comportar! - ele sorri de forma inocente. Aquele lobo continuava esperto, usar os olhares maldosos ao seu favor era uma ótima jogada.

- Se eu ao menos desconfiar de que está planejando algo, cortarei sua cabeça! - Ambrose puxa seu braço de volta e se senta em seu trono. Azael concorda com a cabeça e acena para Desmond, que sorri e também acena.

- Parabéns por seu casamento, irmão! - ele se curva e sai, se misturando aos outros lobos.

Enquanto caminham em direção aos seus aposentos, o casal se mantém em silêncio como dois estranhos, que apenas seguem o mesmo caminho.

- Não precisa se deitar comigo se não quer. Podemos pular a lua de mel. - Ambrose para em frente ao seu quarto.

- Está tudo bem ?

- Sim, nós nunca concordamos em chegar tão longe. Vá para cama e descanse. - ele acaricia seu rosto, deslizando suas garras com delicadeza por sua bochecha ao mesmo tempo em que seus olhos se fixam em sua boca. Aquela beleza exótica sempre roubava toda a sua atenção e fazia seu bom senso sumir.

- Boa noite, Ambrose. - Desmond se afasta e segue para o seu quarto, ao chegar Nanber já o esperava lá dentro.

- Boa noite, Desmond. - ela lhe mostra um olhar gentil e sorri. Como se já soubesse que ele viria.

- Me ajude a tirar essa roupa e depois pode ir. Vá descansar também. - Nanber concorda com a cabeça e o ajuda a se despir.

- Seu banho está pronto. O vejo amanhã! - ela fala após terminar de dobrar sua roupa e sai em seguida, o deixando sozinho. Desmond suspira ao vê-la sair e logo depois segue para o banheiro, ele entra na banheira que ainda está com a água quente e pode relaxar um pouco.

Enquanto sua mente vagueia entre vários pensamentos, ele se lembra de como Ambrose o tocou antes. Seu cuidado em não machuca-lo ou até mesmo a forma como olhou para ele, tudo isso fazia o coração de Desmond palpitar, como um adolescente que tem seu primeiro amor.

- Maldito lobo... - ele esbraveja e suspira. Não era do seu feitio se encarinhar tão rápido por alguém, mas desde que chegou em Neverhand tudo parecia estar mudando rapidamente. Já não se sentia mais o mesmo, em poucos dias foi cativado por Nanber, que sempre é gentil e o admira, também pelo velho Bosco, que o ensinou tudo com paciência e gentileza, e até mesmo Ambrose, que apesar de ter essa fachada dura e o rosto inexpressivo, é capaz de demonstrar algum carinho e gentileza.

- Acho que eu nunca deveria ter vindo... - ele apoia seu rosto na borda da banheira e encara o chão por algum tempo, com o olhar perdido enquanto sua mente continua com milhares de pensamentos.

Por um momento Desmond acaba fechando seus olhos e quase adormece, mas acaba se lembrando de algo que o faz se levantar de repente. Ele pega uma toalha, se enrola nela e sai apressado, volta para o quarto e veste seu robe, em seguida sai do cômodo e segue em direção ao quarto do Rei, porém ao parar em frente a sua porta pode ouvir os gemidos cheios de prazer de uma mulher que se misturam ao barulho da cama se chocando contra a parede. Sua expressão muda rapidamente sendo tomada pela tristeza e decepção, naquele instante ele pôde ouvir seu coração se partir como um jarro que se estilhaça ao tocar o chão.

Ele encara a porta paralisado por alguns segundos até que decide ir embora, Desmond caminha um pouco atordoado em direção ao seu quarto, não sabia o que pensar ou sentir, mas definitivamente estava magoado.

- Senhora, o que está fazendo ? Precisa de ajuda ? - um guarda jovem e alto, de pelos quase negros o para em meio ao corredor. Era sua chance para esquecer tudo.

- Sim, preciso de ajuda... - Desmond sussurra e desfaz o nó em seu robe, revelando seu corpo. O guarda recua por um momento, mas não consegue tirar seus olhos de seu corpo.

- Acha que pode fazer isso por sua Rainha ? - ele sussurra novamente e se agarra ao seu corpo. Que cheira a carvalho, tabaco e suor.

- Sim, minha senhora.