- E o que exatamente quer que eu faça com isso ? - o jovem lobo segura a caixa de presente e a observa rapidamente, buscando por alguma resposta.
- Você estava lá durante o casamento, não é ? - Desmond cruza as pernas, deixando sua tatuagem a mostra enquanto encara o lobo fixamente.
- Sim, praticamente todos os guardas estavam lá.
- Preciso que investigue quem deixou esse presente. Se você e seus companheiros estavam lá algum de vocês com certeza viu.
- Mas por que quer saber disso ? - ele questiona curioso e inocente.
- Recebi algo desagradável dentro desta caixa e quero saber quem me mandou.
- Tudo bem, como quiser senhora.
- Ótimo, já pode ir. - Desmond sorri e o observa enquanto o guarda põe sua pesada armadura de volta.
- Venha aqui. - ele o chama gesticulando com seus dedos e o jovem rapidamente obedece.
- Só apareça aqui quando tiver alguma informação. Entendeu ? - Desmond o puxa pela armadura e beija seu focinho.
- Sim, senhora. - o lobo sorri e logo se despede. Desmond dá um longo suspiro ao vê-lo sair e se levanta, caminha até a varanda e observa o céu noturno de Neverhand.
- Quer que eu prepare seu banho ? - Nanber fala ao entrar no quarto.
- Não, ainda não. - Desmond dá uma última olhada no céu e volta para dentro, ele se senta na cadeira onde estava antes e indica a cadeira ao lado, pedindo para que ela se sente.
- Precisa de algo ? - ela questiona ao seu sentar.
- Nanber, sempre viveu aqui, não é ?
- Sim.
- Então você conhece a história dos brancos ? - Desmond mantém seus olhos sobre a moça e pode notar uma ligeira mudança de expressão.
- Sim... - Nanber responde hesitante.
- Me diga o que aconteceu.
- Nós não costumamos falar sobre isso, então eu não me lembro bem... - ela brinca com seus dedos e mantém seu olhar baixo.
- Nanber, por favor. - Desmond lhe mostra um olhar gentil e faz a jovem ceder.
- Tudo bem, eu vou contar. - ela suspira e limpa a garganta.
- Desde o começo dos tempos a família Brenhin é quem governa Neverhand, no passado mantinham uma boa relação com os brancos ao ponto de transforma-los em conselheiros reais. Foi assim por gerações até que um dos alfas tentou usurpar o trono e foi morto acusado de traição, toda a família Bianchi foi expulsa do país ou morta no processo.
- Então é por isso que eles me odeiam ? - Desmond a encara desacreditado. O quão forte pode ser o ódio para que permaneça vivo durante gerações ?
- Sim, o Conselho ainda guarda rancor da família Bianchi.
- E eu sou o único que pode salva-los... - Desmond sussurra para si mesmo e ri, pensando no quão irônico era aquela situação.
- O que disse ?
- Nada! Pode ir descansar agora, eu tomo banho sozinho.
- Tem certeza ?
- Sim, pode ir. Te vejo amanhã.
Ambrose caminha um pouco atordoado em direção ao templo particular da Casa Brenhin situado dentro do terreno, mas um pouco afastado do palácio. Ele segue pelo caminho de pedra até chegar ao local e empurrando as grandes portas de madeira de uma vez, deixa que o vento frio entre e apague as velas.
Ambrose vai até o altar onde há uma imagem da Deusa Gaia, ele cai de joelhos diante dela e grunhi de dor, como se seu peito estivesse sendo esmagado, comprimindo seus ossos e fazendo com que eles perfurem seus pulmões.
- Por que continua fazendo isso ? Eu fiz tudo... tudo o que queria... - ele murmura ofegante e volta seu olhar para a imagem esculpida em pedra, que mantém um olhar sereno e doce.
- Enquanto está ai sorrindo nós estamos morrendo. Como pode fazer isso, mãe ? - as lágrimas brotam em seus olhos e a tristeza invade seu peito, mas a fúria e a revolta são ainda maiores. Ambrose se levanta e joga a imagem contra uma das paredes, ele continua quebrando e atirando tudo o que vê pela frente. Seus gritos e uivos se misturam ao barulho dos objetos se quebrando.
- Vão se foder, você e a sua maldita profecia! - ele grita e atira um dos bancos de madeira contra o altar, mas cai novamente de joelhos, desolado, perdido e ansioso. Ambrose desejava apenas ser um bom Rei, deixar seu pai orgulhoso e fazer com que o povo prospere.
- Me desculpe, eu não consigo fazer isso... - ele se encolhe no chão frio e suas garras afiadas rasgam suas roupas e também sua pele.
- Todos vão morrer e será culpa minha. - Ambrose sussurra e fecha seus olhos, seu corpo começa a mudar lentamente para a forma humana. Ele se encolhe ainda mais dentro das enormes peças de roupa que usava em sua forma de homem-fera e permanece ali, vulnerável e instável.
- "Ambrose..." - um sussurro doce ressoa em seus ouvidos e ele abre seus olhos de repente.
- "Venha aqui, eu ajudo você" - Ambrose se levanta de repente e vê uma luz próximo a porta que se aproxima lentamente. Ao chegar mais perto ele vê o rosto de Desmond, que sorri com gentileza e amor.
- Des... - ele estende sua mão em direção a figura brilhante e ela o abraça.
- "Durma agora, está tudo bem. Eu estou aqui" - Ambrose concorda com a cabeça, se deita sobre suas roupas e lentamente adormece enquanto é afagado por aquela misteriosa figura.
07:15 horas da manhã.
Ambrose acorda de repente e sente uma dor insuportável em sua cabeça, mas se senta na cama e logo nota que seu corpo ainda está na forma humana.
- Finalmente acordou. - Lyter que está sentado em uma cadeira de frente para a cama, come o que deveria ser seu café da manhã enquanto o observa.
- Não foi um sonho ? - Ambrose o ignora e sussurra enquanto encara suas mãos.
- Não, você surtou e destruiu o templo. O Bosco tá uma fera com você!
- Foda-se a porra do templo. - ele suspira e se recosta na cama.
- Quando me encontrou ?
- Hoje de manhã, um dos guardas viu as portas abertas. - Lyter enche a boca com ovos mexidos e come com uma expressão de satisfação.
- E eu estava assim ?
- Sim! - ele ri.
- Merda... - Ambrose enrola o lençol na cintura e se levanta, vai para trás de um biombo feito de madeira e volta a sua forma de homem-fera. Ele rapidamente se veste e está pronto para começar o dia, ou quase.
- Café. - ele se aproxima por trás e Lyter estende a xícara para o alto. Ambrose a pega e bebe um gole do líquido negro e quente. Agora estava pronto.
- Senhores, se acalmem por favor. Um de cada vez! - Ambrose tenta acalma-los enquanto eles discutem entre si.
- Otelo, fale. - ele aponta em direção ao velho lobo, que se levanta e limpa a garganta.
- Meu senhor, o meu Distrito tem sofrido com a fome e sede mais do que qualquer outro. Como bem sabe nós não temos uma fonte de água e nossos animais estão praticamente todos mortos, preciso de uma solução para isso!
- Estou negociando com a Casa Astemyo e a Casa Vadim, lhe garanto que na próxima lua minguante terá comida e água em seu Distrito.
- Obrigado, senhor! - o lobo se curva e se senta.
- Mais alguém ?
- Eu gostaria de falar, meu senhor. - o alfa da Casa Willbur se levanta. Ambrose acena com a cabeça lhe dando permissão para falar.
- Como todos aqui sabem, existe uma profecia sobre o atual Rei e acredito que também devem saber que o país deveria ser abençoado com prosperidade no ato de consumação do casamento, mas não há sinais de melhora. Então eu me pergunto se esse lobo é realmente o certo, ou até mesmo se esse casamento foi de fato consumado. Ouvi rumores interessantes sobre a Rainha e... - o lobo fala enquanto mantém seus olhos fixos em Ambrose.
- Chega Wilbur! - ele intervém e o lobo se cala. Já havia conseguido o que queria.
- Desde quando minha vida sexual e particular se tornou assunto do Conselho ? Minha Rainha e eu estamos bem. Ele é o lobo certo. - Ambrose o encara inexpressivo, mas suas palavras tem poder suficiente para cala-lo.
- Peço desculpas, meu senhor...
- Se tem tanto tempo livre para espalhar rumores sobre minha esposa, deveria fazer um melhor uso dele e cuidar dos assuntos do seu Distrito. - os lobos trocam olhares raivosos, mas o Willbur permanece em silêncio e se senta. Os outros alfas cochicham curiosos e ansiosos por suas palavras.
- Declaro que este assunto está encerrado, e qualquer lobo que falar sobre esse estúpido rumor novamente perderá sua língua! - Ambrose aumenta a voz e se impõe, fazendo com que o Conselho recue.
- Proximo assunto.
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