2042, 03 de Junho - 5AM - Khoedros, Gaiiau Central
A madrugada pertence aos apaixonados, aos poetas e aos suicidas. Kivuli Nakisisa sabia bem disso, o que não sabia era qual desses a representava, mas tinha certeza que era ao menos um. Talvez todos? Quem saberia? A única certeza era que ela estava presente em todas elas, todas as madrugadas.
E mais uma em claro. Após um longo dia repleto de mudanças e estresse, claro, esses dois sempre andavam juntos. Mais de vinte e quatro horas sem dormir, pois quando pensava em ter seu sono da beleza, às cinco da manhã, seu pai tirou sua paz.
— Quanto ao financeiro, a ICA irá contribuir com roupas e alimentos. Tullo vai mandar uma quantia assim que puder também.
— E espaço? Nós só temos dois quartos de hóspede, quatro camas…
— Eles podem dividir os quartos, sem problemas.
— Sem problemas é forçar um pouco — cruzou os braços — Aquele cara é montado na grana, eu duvido que esses pirralhos saibam o que é dividir.
— Todo o luxo é recente para eles, mtoto. Não se esqueça do porquê de eles estarem aqui — Kiki soltou uma risada sarcástica — Alguns deles têm quase sua idade, será tranquilo. São cinco — a ruiva franziu as sobrancelhas — Temos 4 camas, certo? Cinco com a que tu tem em seu quarto.
— O QUE? E A MINHA PRIVACIDADE? — ela levantou a voz novamente, era seu limite — O senhor não se incomoda com um desconhecido dormindo no MEU quarto?
— Kivuli Nakisisa Lutalo — repreendê-la havia se tornado frequente naquela conversa — Tu mal dorme em casa, o que há para reclamar?
— Como o senhor sabe? Tu nunca tá aqui! — retrucou. Seu pai apertou os lábios e respirou fundo, ignorando o comentário.
— Eles estão na sala nos esperando, tu precisa recebê-los.
— O SENHOR TÁ DE BRINCADEIRA COM A MINHA CARA? O que quer dizer com “TU precisa”?— esbravejou e saiu andando, porém ele segurou seu braço.
— Pelo amor de deus, mtoto, pare de me atrasar! Tu não é mais criança para fazer drama — soltou seu braço — Sabes que parto agora para Ifra, e graças a esse incidente, terei que visitar Pradizo também, para ficar a par do caso e resolver algumas coisas — o diplomata coçou a cabeça — Voltarei em uma semana.
— Mas... Baba?! — Nada poderia explicar o quanto Nakisisa estava irritada naquele momento. Ele pegava a encrenca e ainda deixava tudo nas mãos dela? Sozinha? Não era justo!
— Eles ficam em sua responsabilidade. Tu já é uma moça formada, consegue cuidar disso sem mim — Kiki mordeu o lábio — Não querias confiança? Pois conquiste agora! — segurou os ombros da jovem — E pelo amor de Deus, mtoto, seja compreensiva. Segure um pouco seu veneno, eles estão passando por um momento difícil.
— Mas... Mas… — Sua voz, antes exaltada, sumia aos poucos.
— Sem mas. Não tenho mais tempo, vou te apresentar a eles e partir. — Pegou em sua mão e a puxou em direção a porta. Olhou de cima a baixo para Segrel — Não achas que já deu sua hora, garoto? Isso é assunto de família.
— Não saio do lado da Nakisisa — colocou a mão no ombro da jovem.
— Segrel É minha família — contestou Kivuli.
— Que seja…
Não acreditava que seu pai havia tido a audácia de aparecer por dois segundos, apenas para deixar uma bomba nos braços dela e sumir de novo. Era isso uma espécie de teste? Estava mais para tortura!
Kivuli Nakisisa odiava gente.
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