- Bosco! - Desmond fala animado e corre para abraçá-lo. O lobo o segura com cuidado em seus braços e está feliz por vê-lo.
- É um prazer acompanhá-la, senhora!
- Não me chame assim, apenas Desmond está bem!
- Nesse caso, me chame apenas de Silas. É meu primeiro nome!
- Um lindo nome! - ele sorri de forma gentil, deixando o lobo envergonhado.
- Desmond, está tudo pronto. - Nanber se aproxima, com um olhar um pouco tristonho.
- Obrigado. Prometo que vou voltar o mais rápido possível! - Desmond acaricia seu rosto e logo depois a abraça, tentando consolar sua amiga.
- Estarei aqui, esperando. - ela suspira e tenta se animar. Não gostava da ideia de estar longe dele.
- Então, podemos ir ? - Silas estende sua mão.
- Claro! - Desmond segura sua mão e se deixa ser guiado até a carruagem, onde dois guardas de alto nível da Casa Martinus os esperam.
- Chegaremos no final do dia, senhora. - um dos guardas fala de forma seria e distante.
- Certo. - Desmond entra na carruagem, seguido por Silas.
Após algumas horas de viagem, Desmond começa a se sentir extremamente entediado com o silêncio.
- Estamos quase chegando. Aguente mais um pouco! - Silas sorri, tentando acalmá-lo.
- Estou tentando! - ele ri e apoia sua cabeça na janela, ao voltar seu olhar para fora, vê um local praticamente deserto e com uma aparência sombria, muito diferente do que estava acostumado.
- Onde estamos ?
- No Distrito Rufinus. Uma das regiões que mais sofre com a fome e a seca atualmente.
- Quando isso começou ?
- Há quarenta anos, mais ou menos. Logo depois do anúncio da profecia os animais começaram a desaparecer, o solo se tornou infértil e por último veio a seca... - Silas fala com um olhar vago, pensando no quanto o seu povo sofreu.
- Isso é péssimo... - Desmond murmura, se sentindo estranhamente culpado.
- Sim, mas vamos sobreviver. Tenho certeza disso!
- Por que acha isso ? - ele questiona, curioso.
- Já enfrentamos muitas guerras, mas continuamos firmes. Lobos são criaturas extremamente teimosas e resistentes. - Silas ri, mas mantém o olhar vago em seu rosto.
- Isso é verdade! - Desmond também ri, pois sabia que ele estava certo.
- Como está indo com o Rei ? Parece que estão começando a se dar bem.
- Eu não diria bem, mas nos entendemos na medida do possível...
- Isso é ótimo. - Silas sorri, parecendo menos ansioso pela primeira vez desde que começaram a conversar.
- Chegamos! - o guarda fala um pouco alto, logo a carruagem para e a porta se abre. O lobo estende sua mão em direção a Desmond e o ajuda a descer.
- Seja bem-vindo, oráculo. - o principal sacerdote, que ministrou a cerimônia de Gaia, o recebe em frente ao templo, junto com outros sacerdotes.
- Olá, sacerdote. - ele sorri de forma gentil, tentando esconder sua ansiedade.
Silas bate à porta e espera por uma resposta, logo Desmond sai vestindo uma espécie de bata e o encara um pouco envergonhado.
- Está pronto para ir ?
- Preciso mesmo vestir isso ? - ele choraminga. Odiava se sentir feio.
- Sim. - o lobo tenta conter sua risada e afaga seus cabelos, bagunçando os fios.
- Okay... - ele murmura e segue pelo corredor, que o leva até o salão onde os outros sacerdotes o esperam.
- Oráculo, beba isso por favor e vá para o centro do círculo. - um lobo jovem se aproxima e lhe entrega uma taça com um líquido escuro. Desmond o bebe de uma vez e vai para o centro do salão, onde um círculo simples está desenhado no chão.
- Vamos começar! - o principal sacerdote dá a ordem e todos rapidamente assumem seus lugares, cada um com uma vela em suas mãos.
- O que eu faço ? - Desmond questiona ansioso. Não sabia o que estava prestes a acontecer.
- Apenas relaxe. Você não precisa fazer nada! - Silas o tranquiliza.
Os sacerdotes acendem as velas, um por um, até que todas estejam acesas. Em um coro quase bizarro, os lobos recitam palavras do seu idioma nativo, conhecido por Galiriano. Desmond, que apenas conhecia o idioma por meio dos livros, fica impressionado ao ouvi-los falar com tanta fluidez.
A medida em que o coro se intensifica, seus olhos e cabelos começam a brilhar, como a luz de uma grande lua cheia. O abdômen de Desmond começa a formigar e logo uma pontada de dor atravessa seu corpo, o fazendo cair e se encolher no chão.
- Não resista, Desmond! - Silas o aconselha.
- É muito fácil falar... porra! - Desmond esbraveja e bate no chão. Seu corpo se retorce e se arrepia, enquanto a dor continua se espalhando e se intensificando.
Quando a lua atinge seu ápice no céu e invade o cômodo, Desmond finalmente se cala. Os sacerdotes também param e se entreolham se perguntando se haviam conseguido, mas logo são surpreendidos ao ver o oráculo se erguer e flutuar, como se estivesse voando.
Todos os lobos se ajoelham diante dele e mantém suas cabeças baixas.
Desmond abre seus olhos devagar, um pouco confuso e logo depois se levanta.
- Onde eu... - ele murmura ao notar que está em meio a uma floresta, que mais parecia ter saido de um livro de contos de fadas.
- Finalmente está aqui, Desmond. - uma mulher alta, de cabelos negros que arrastam no chão a medida em que anda, se aproxima.
- É você, não é ? - Desmond questiona hesitante.
- Sim, sou eu! - ela ri.
- E onde nós estamos ?
- Na sua consciência. Pelo menos uma parte dela.
- Ah... - Desmond olha ao redor, pensando que tudo parecia verde e florido de mais para ser uma parte dele.
- Tem mais alguma pergunta ?
- Sim! Por que está fazendo isso ? Os lobos, eles... - Desmond hesita por um momento, pensando no quão duro é lutar por um pouco de comida todos os dias.
- Quando Fenrir os trouxe para mim, eu fiquei encantada. Aqueles pequenos lobos que podiam se transformar em humanos era algo que eu nunca havia visto. Eu os criei, ensinei a eles as leis da natureza e do universo, dei a eles um lugar onde podiam viver suas vidas tranquilamente, mas não foi isso o que aconteceu... - ela fala em um tom triste.
- O que aconteceu ?
- Os lobos começaram a brigar entre si, cegos pela ganância e poder. Era uma guerra atrás da outra, até se darem conta de que juntos podiam dominar outras espécies. Eles escravizaram outros animais, que como eles, também podiam mudar de forma. Derramaram sangue inocente apenas por prazer.
- Então está tentando ensinar uma lição ? - Desmond questiona confuso com onde ela queria chegar.
- Eu sou a mãe deles. Se os lobos fazem bagunça, é meu dever arrumar isso e reeduca-los. É por isso que você está aqui.
- Eu ? Por quê ?
- Você é o único que não está cego por poder. É o homem ideal para guia-los de acordo com a minha vontade.
- Isso não faz o menor sentido! - ele suspira e esfrega os olhos
- Foi o que eu imaginei! - ela ri e acaricia seus cabelos.
- Isso é tão... - Desmond se encolhe, ansioso com o futuro.
- Difícil ? Eu sei, mas vou estar aqui, Desmond. Nunca vai estar sozinho! - ela ergue sua mão direita e acaricia seu rosto, com a outra, ela toca gentilmente em seu peito.
- Acha que eles vão me ouvir ? - Desmond murmura.
- Sim, porquê você fala por mim agora! - ela faz um pouco de pressão em seu peito, como se estivesse empurrando algo para dentro da sua carne.
- Ugh... - ele grunhi de dor e recua.
- O que é isso ?
- Uma parte de mim. - Desmond toca em seu peito, esperando sentir algo estranho.
- Agora você precisa ir. Todos estão o esperando.
- Espera! Eu...
- Nós vamos nos encontrar de novo. Prometo que responderei suas perguntas... - ela acaricia seu rosto.
- Certo...
- Antes de ir, posso pedir um favor ?
- Claro!
- Diga a Ambrose que ele nunca está sozinho. Eu estou sempre lá... - ela sussurra próximo ao seu ouvido enquanto Desmond lentamente fecha seus olhos perde a consciência, retornando para a realidade.
Desmond salta da cama de repente, procurando pela mulher, mas rapidamente nota que está sozinho no cômodo.
- Merda... - ele toca em seu peito novamente e sente uma estranha onda de ansiedade percorrer seu corpo. Liderar um país era um fardo pesado de mais para Desmond.
- Estou muito fodido! - ele ri e se joga na cama. Sabia que sua vida ficaria ainda mais complicada agora.
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