No dia de sua morte, Yan não teve o poder de escolher coisa alguma. A dor tampouco foi uma escolha.
O peito ardia, é verdade: de medo e culpa; de frustração e raiva. A dor, contudo, era tremendamente literal. Tomou seu fôlego de súbito, travando os movimentos, deixando sua visão turva.
Um punhado de palavras fez cócegas em sua língua, embolou-se na garganta e morreu sem achar outro destino que não o esquecimento. Ele cambaleou, vítima de uma ânsia que menos tinha a ver com a certeza de que estava morrendo, e mais com o culpado por sua morte.
Tinha depositado sua confiança nas mãos de bem poucas criaturas naquele mundo. De todas, não esperava que justo aquela fosse traí-lo.
Machucá-lo.
Matá-lo.
O sangue manchava as pontas de seus dedos quando ergueu o olhar novamente em busca do algoz. Mal sentiu o exato momento em que sua vida se esvaiu, enquanto seus olhos, sem tempo de alcançar o destino, ainda miravam o vazio.
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