Indo para o fundo da sala, encontro-me com um grupo de cinco garotos e uma única garota, deixando-me ainda mais intimidada. Achei que seria um grupo pequeno, mas parece que o trabalho exigia uma quantidade considerável de pessoas.
– Esses são Tanizaki, Kishibe, Yokodera, Kenji, Daiki e Kunikida. – Ele fazia uma feição assustada, percebendo que havia esquecido de alguma coisa. – Ah, perdão! Esqueci de me apresentar haha… Pode me chamar de Naoki!
– P-prazer em conhecê-los! – Todos eles me cumprimentavam bem informalmente e eu ousava uma interação. – Eu não pude deixar de notar, "Kunikida", igual ao nome do poeta?
– Nossa, você é realmente bem erudita. – Ele abria um sorriso. – Tem certeza que não é nativa? Acho que ninguém mais pensaria nisso hoje em dia.
– É que eu leio muito hahaha! – Ainda bem que ele não tem ideia do real motivo de eu saber este nome…
Enfim, me sentei com o resto do grupo, e eles pareciam curiosos sobre mim e faziam algumas perguntas.
– Então de que lugar da Escócia você veio mesmo? – Yokodera perguntava. Ele tinha uma aparência bem estudiosa, roupa social bem-arrumada, cabelo curto, óculos e um caderno cheio de adesivos de personagens.
– Eu vim do interior, bem afastado de tudo.
– Oooh, e como é lá? É igual aos cenários dos filmes do Anel Amaldiçoado?! – Ele parecia empolgado com a resposta.
– Todos têm essa visão, mas a Escócia deixou de ser inteiramente rural há muitos anos. Lá não é muito diferente do interior de qualquer outro lugar. – Sempre que o assunto era sobre onde vim, as mesmas perguntas eram repetidas, era quase como automático minhas respostas. – E Anel Amaldiçoado foi gravado na Nova Zelândia. – O corrigi.
– Cara, ela sabe de tudo mesmo, ein Naoki?! – Respondia gritando o nome de seu amigo.
– Eu falei. – Naoki sorria confiante.
– É a primeira vez que lê esse livro, Emma? Kunikida perguntou. Ele tinha um cabelo comprido solto, parecia se vestir igual a um rockstar de séries adolescentes, mas agia igual a um garoto dócil.
– Ah, não! Eu apenas estou relendo este. Tenho a trilogia completa em casa. É meu livro favorito, então gosto de ler quando estou entediada.
– Que legal, ficou sabendo que vai ter uma adaptação em anime? – Seu rosto demonstrava uma incrível empolgação por ter achado alguém com quem comentar sobre seus gostos.
– É sério? Bom, espero que possa ser fiel à obra original. Adaptações literárias sempre tendem a decepcionar… Exceto Anel Amaldiçoado. – Olhei com um sorriso para Yokodera, e ele percebia a piada e sorria de volta.
– Nem me fale! Já é a segunda vez que tentam adaptar meu livro favorito, mas parece que nunca conseguem escolher os personagens direito. Espero que esse remake valha a pena. – Kishibe entrava na conversa. Ela era uma garota bonita para os padrões japoneses, cabelos pintados de ruivo, lindos cachos volumosos amarrados em um coque, olhos atraentes e bem vestida.
– De qual livro você está falando? – Resolvi perguntar.
– Game of Castles. O livro foi adaptado há um tempo, a primeira temporada foi ótima, mas aí resolveram mudar tudo a partir da terceira temporada. – Ela parecia bastante indignada enquanto falava sobre cada alteração das oito temporadas. – E para piorar, o final foi considerado um dos piores já feitos. Fizeram basicamente uma fanfic de fãs se tornar realidade!
– Eu não achei o final tão ruim. – Tanizaki discordou.
– Pelo amor de Deus! Sério? Tanizaki, John Sunshine e a Rainha dos Trolls não tinham química nenhuma! – Ela gritava com seu amigo.
– Poh, mas os efeitos especiais eram mó legais! – Ele tentava argumentar falando da parte técnica.
– Tanizaki… O escritor do livro estaria se remexendo no túmulo se pudesse.
Resolvi não interrompê-los e os deixei discutindo enquanto focava em entender o que era o trabalho do professor. Pelas anotações do quadro, ele exigia um trabalho falando sobre "Soluções para Acessibilidade à Saúde Mental em Locais de Pouco Investimento". Não entendo porquê não poderia fazer este trabalho sozinha, mas acredito que ele queira que juntemos nossos pontos de vista para uma versão final.
Todos eles eram bastante animados e cheios de energia. No fim, acabei fazendo boa parte sozinha, mas tentaram ajudar no fim da aula com a conclusão dos assuntos.
– Desculpa, Valentine, a gente acabou deixando tudo nas suas costas. Somos péssimos em trabalho de grupo. – Naoki se desculpava pelos seus amigos.
– Tudo bem, já estava nos meus planos fazer sozinha, então nada fugiu da ideia inicial. – Eu guardava meus materiais enquanto falava com ele.
– Nós vamos almoçar juntos lá fora, gostaria de ir com a gente? – Ele parecia bem caloroso e receptivo.
– Tudo bem, vejo vocês em breve. Preciso entregar o trabalho para o professor.
– Certo! Valeu! – Nós dois nos despedíamos, e acenei para o resto do grupo.
Após ajeitar tudo, fui em direção ao professor e esperei para entregar meu trabalho. A ideia inicial seria que a turma apresentasse no final, mas pela falta de tempo, ele permitiu que apenas entregássemos e deixássemos as apresentações para a próxima aula.
– Professor, aqui está o trabalho do grupo. Espero que esteja tudo como o senhor gostaria. – Fiz uma reverência por educação e estendi minha mão para que ele pegasse as folhas.
– Excelente, Valentine. Huh, que surpresa, você fazendo trabalho em grupo? Já estava esperando qual seria sua desculpa de hoje para fazer sozinha. – Sua forma de falar parecia grosseira, mas de tanto conviver com ele, sabia que estava brincando.
– Me convidaram dessa vez, pareciam boas pessoas e resolvi aceitar. Os nomes deles estão abaixo do meu.
– Certo. – Ele folheava e analisava cada parte do trabalho. – Antes de ir, poderia fazer um favor para mim?
– O que seria?
– Poderia me ajudar a levar esses arquivos e papéis para a sala dos professores? É muita coisa para levar sozinho, e como só sobrou você na sala, estou sem outras opções. Não quero deixar isso aqui para algum engraçadinho roubar. – Sua fala era claramente de alguém que já passou por aquilo antes.
– Claro, posso ajudá-lo a levar uma parte. – Às vezes sinto que minha vontade de ajudar as pessoas poderá me prejudicar no futuro, mas enquanto isso não acontece, acredito que deve ser o certo a se fazer.
– Muito obrigado.
– Disponha.
Eu pegava uma parte dos materiais e seguia para a sala dos professores. Era tudo muito pesado e dificultava um pouco minha visão, mas eu conseguia! Já tive que carregar coisas muito piores ajudando meu pai. Caminhando pelos corredores, via vários grupos de pessoas interagindo ao saírem de suas respectivas aulas. Todos pareciam bastante energéticos, enquanto havia outros que demonstravam claramente que suas almas estavam sugadas. "O Monstro do Último Período" era como as pessoas chamavam este momento, uma situação onde apenas os mais dedicados conseguem sobreviver e também os mais perseverantes.
Com muita sorte, fui agraciada com uma boa família, que me permite me dedicar apenas a estudos e deixando o resto do dia para lazer, assim me mantendo em um estado são e sem tantos estresses. Mas admito ter pena de alguns colegas que, ao mesmo tempo que estudam, precisam conciliar seu tempo com trabalho ou cuidando de suas próprias famílias. Para mim, o mais admirável são aqueles que, mesmo tendo passado da idade, continuam fazendo o possível para se manter em meio aos estudos. Em minha classe, por exemplo, existe um senhor de sessenta anos que entrou dizendo que só agora conseguiu garantir-se tempo e estrutura para realizar o seu sonho. Pessoas como essas são as principais responsáveis por me fazerem continuar acreditando que o que faço é o certo. Infelizmente, enquanto divagava em meus pensamentos, um acidente aconteceu.
Andando sem conseguir enxergar o meu caminho à frente, e distraída com minhas ideias, esbarrei em alguma coisa, não sabia o que era, e a única coisa que consegui ver foi quando já estava no chão.
– Sinto muito! – Foi a primeira coisa que consegui dizer. – Haviam muitos livros e isso dificultou meu campo de visão.
– Não há problema… – Ouvi uma voz fria me respondendo, ela era grave e um pouco sem vida, cheguei a me sentir um pouco intimidada.
Quando olho para cima para enxergar a vítima do meu acidente, vejo um rapaz, aparentemente alto, de cabelos negros bem-arrumados, com uma franja caindo para o lado direito do rosto, óculos, pele bem pálida e roupas formais, ele parecia vir no curso de medicina.
– Precisa de ajuda para se levantar? – Ele dizia estendendo sua mão. Admito que sua abordagem era intimidante, fazendo com que sua ajuda soasse mais como uma ameaça.
– N-não precisa!!! Eu estou bem! – Obviamente reagi nervosa, minha dificuldade social era um tanto elevada, e diante de alguém com toda aquela presença, ela aumentava ainda mais.
Me afastei dele rapidamente, mas infelizmente não podia ignorá-lo e ir embora, afinal os materiais do meu professor estavam no chão e eu precisava recolhê-los. Agachei-me novamente, dessa vez para recuperar os livros e toda aquela papelada, pouco a pouco. Pensando que ele iria embora depois de termos nos desculpado, tive parte de minha alma congelada ao ver que ele também estava se agachando ao meu lado, parecendo também recolher os materiais.
– Deixe-me ajudá-la, é muita coisa para ser levada por uma pessoa só. – Ele recolhia parecendo encarar o vazio, sua inexpressão o fazia bastante assustador.
– N-não precisa! Posso fazer isso sozinha!!! – Falava de forma bem estabanada, errando um pouco a pronúncia de palavras e deixando meu sotaque, que era invisível, bastante aparente.
– Não se preocupe, eu também estava indo para a sala dos professores, preciso entregar um relatório.
– Relatório? Você por acaso é algum inspetor? Espero que isso não me deixe encrencada… – Nunca tive problemas na faculdade, era considerada a aluna exemplar entre meus colegas, estava com medo de qualquer coisa manchar a visão das pessoas sobre mim.
– Não, sou o Representante de minha classe, acabamos nossas aulas e necessito enviar um relatório sobre como foi nossa avaliação em campo.
Pegamos todos os materiais, e ele foi seguindo à frente. Para não perdê-lo de vista, apressei o passo, conseguindo acompanhá-lo. Era muito mais fácil andar agora que metade do peso era reduzido.
– "Avaliação de Campo"? Qual seria seu curso? – As palavras me chamaram a atenção, e perguntei curiosa.
– Medicina. Fomos enviados para avaliar a situação médica de um hospital. – Ele respondia de forma seca e quase indiferente.
– Entendo… Ah! Mil perdões, já ia esquecendo. Me chamo Valentine Aiko, prazer em conhecê-lo. – Ainda tenho a mesma péssima atitude de esquecer de me apresentar às pessoas antes de conversar com elas, um erro comum, mas completamente incorreto.
– Takagui Oshiro.
– Um belo nome. – Conversar com ele parecia algo bem difícil, então apenas optei pelo silêncio até chegarmos à sala dos professores e nos despedirmos.
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