— Eu não avisei a você que iria modelar.
— Eu tenho meus meios. — O sorriso dele era contagiante. Eu esfreguei os pulsos, o band-aid coçava terrivelmente. O olhar de Alex foi direto para minhas mãos. — O que aconteceu?
— Um acidente. Nada sério. — Dei um gole no café, ainda estava bem quente.
— Sei. — Alex ergueu uma meia sobrancelha, enquanto Dave o olhar de seu caderno.
— Vocês são muito nojentos.
— Ah, vai me dizer que você e Samuca não trocam mensagens super apaixonadas?
— Não...! Só falamos sobre livros. Não é nada impuro...
— Mas você gostaria que fosse, né?
Dave corou, se levantando.
— Vou para minha aula...!
O cavaleiro em sua armadura brilhante se ergueu, a mochila em punho, e eu apenas ergui uma sobrancelha. Embora não fosse comum que Dave tomasse a iniciativa para ir para qualquer lugar, era visível que Alex estava ali, pronto para acompanhá-lo, como um guarda-costas a defender uma princesa de um país estrangeiro. Era muito estranho imaginar um adulto crescido como Dave com roupas de renda e babados, porque o estilo de Dave era obviamente voltado para o punk rock, especialmente com o cabelo pintado de lavanda e raspado dos lados. O que tornava toda a coisa da agorafobia muito curiosa.
Eu queria saber mais sobre aquilo?
Não necessariamente.
Não era da minha conta. Estava interessado em Alex, e não no amiguinho com defeitos dele. Alex podia brincar de salvador o quanto quisesse, desde que me fodesse no final do dia. E quando eu me cansasse daquilo, eu sempre tinha a quem voltar.
Ao menos, era o que eu me dizia. Mas meus ombros ficaram um pouco menos tensos quando Dave fez Alex sentar-se de novo ao meu lado, e o calor de sua jaqueta invadiu a minha.
— Fique aí com seu amorzinho.
— Não estamos namorando, Dave.
Ele apenas deu um sorriso, e com o vapor escapando de sua boca, ele saiu olhando intensamente para o telefone enquanto caminhava pelo campo congelado, onde a fina neve finalmente tinha feito sua cama, e eu fiquei a encarar Alex, ao meu lado, com meu café no copo térmico a esquentar as minhas mãos.
— Então... — comecei.
— Está frio, não está?
— Sim. Vi que vem uma frente fria por aí. Talvez a primeira nevasca do ano. Não gostaria de me encontrar fora de alguns braços quando acontecesse.
— Gosta de braços quentinhos, hm? — Alex cantarolou, os dedos tocando as beiradas do muro. — Mais do que de café?
— Alex... — Tentei permanecer sério, mas não conseguia manter uma fronte com ele. Era como se ele conseguisse penetrar todas as barreiras que eu impusesse. Pigarreando, eu me levantei da mureta em que nos encontrávamos. — Temos de ir. O modelo não pode se atrasar para a aula.
— É verdade. Você sempre é muito correto, mas... — Alex me puxou pela cintura, e senti seus braços me envolverem. Droga. O corpo dele todo era muito caloroso. Era quase uma covardia. — Só mais cinco minutos, está bem?
— Você está jogando sujo... — fiz um muxoxo, mas não consegui não ceder. Abracei-o de volta.
Ele volveu os olhos verdes, brilhantes e sapecas, em minha direção.
— Ah, eu nunca prometi um jogo limpo, meu caro Jesse.
Puta merda.
Era difícil não se apaixonar por um cara daqueles.
Mas eu não podia.
Podia...?
A série de mensagens apareceram no meio da
aula, portanto, eu só a vi quando estava terminando de me arrumar.
Chase: Você vai voltar que horas para casa hoje?
Chase: Mamãe quer conversar com você.
Sabia exatamente o tipo de conversa que aquilo iria render. Mais links que eu não leria. Acompanhados de um sermão que eu não estava preparado psicologicamente para ter, não depois de uma manhã e uma noite daquelas.
Palavras e cenas travaram na minha garganta.
Coloquei a jaqueta, sem saber como responder à mensagem, quando senti uma cutucada nas costelas. Virei-me, soltando uma respiração presa, pronto para ver o sorriso largo de Alex e sentir a vida melhorar um pouco, mas não era ele quem estava ali atrás de mim. Era um de seus colegas, um dos mais tediosos cujo nome eu desconhecia. Na verdade, eu mal sabia o nome de todos os alunos para qual eu modelava, porque eu não me interessava. Eu tinha dificuldades em gravar o nome dos professores, quanto mais. Portanto, aquele tipinho com os cabelos recém cortados morenos e os óculos de grau falsos apenas me despertavam desconfiança. Porque eu sabia exatamente o que estava por detrás deles, por detrás do sorrisinho sem graça.
Um convite.
— Sr. Modelo...
— Jesse — disse, curto. — O que você deseja?
— Você é muito bonito.
Ah, a bajulação.
De certa forma, eu vivia disso. Não era o primeiro homem a chegar em mim depois de uma aula, especialmente uma em que eu me sentira empolgado o suficiente após o abraço de Alex e dera o máximo de mim. Eu queria me mostrar para Alex, mas acabara atraindo mais olhares. Isso obviamente, não era um problema.
Ele estendeu a mão para mim, com um papelzinho amassado.
Dejá vù?
— Se te interessar...
— Ele não está interessado. — Não fui eu a responder, e sim o vulto gigante de Alex, que apareceu como um raio assim que o outro ameaçou seu território. Eu estava surpreso, porque a última vez que colocara os olhos nele, ele estava do outro lado da sala, falando alguma coisa com uma colega de classe enquanto arrumava seus materiais, e provavelmente estava me esperando terminar de me arrumar para que pudéssemos buscar Dave depois de sua aula de literatura. Não esperava que ele fizesse o tipo ciumento.
O cara, apesar de ser mais alto do que eu, certamente não se comparava com Alex. Ele recolheu os ombros, apesar de eu já estar guardando o número de telefone. Olhou de Alex para mim, e apenas sorriu de escárnio.
— Se você algum dia se cansar dele, e quiser uma sessão privada de desenho...
— Você não pode pagar o preço dele — Alex repetiu, se colocando entre nós. Tinha vontade de suprimir o riso. Era a primeira vez que um dos meus “casos” se importava tanto. — Acho melhor você ir embora.
Quando o outro finalmente se foi, eu fechei o zíper da minha jaqueta.
— Não sabia que você era assim.
— Assim, como? — Alex se virou para mim. — Não gosto dele.
— Ciumento.
— Não são ciúmes. — Ele bufou, mas dava para ver que estava corando um pouco. Fofo. — O cara não bate bem da bola. Anote o número dele para bloquear da sua agenda. Não sei se ele vai desistir assim tão fácil...
Peguei meu celular mais uma vez, mas a mensagem estava lá escancarada no visor.
Eu não poderia escapar.
Chase: Jesse? Você vai voltar para casa hoje?
— Posso ir para a sua casa hoje?
Alex sorriu, e passou os braços pelos meus ombros, e eu pude enfim respirar.
— Você não é de responder muitas mensagens, não
é mesmo?
— Não sei do que está falando. Não conversamos o tempo todo pelo celular?
— As minhas você responde. As de outras pessoas...
Apesar de tudo, eu sorri. O calor daquela estufa que Alex chamava de casa era suficiente para derreter até a mais fria parede de gelo que eu pudesse erguer para proteger o meu coração. Eu não conseguia ceder quanto aos desejos dele de ser seu modelo, por isso estava ali, nu, com apenas algumas cobertas a esconder minhas intimidades, mas até mesmo meu tédio tinha alguns limites, e por isso, meu smartphone tinha encontrado seu caminho de volta aos meus dedos. Alex estava à minha frente, também com poucas roupas e um pescoço marcado por meus lábios; um caderno de desenho que aos poucos se preenchia em seu colo.
— As outras pessoas não importam tanto quanto você.
— E, no entanto, o senhorzinho não larga o celular.
Virei-me na cama, expondo minha bela bunda no processo, querendo dar um fim àquela discussão com um pouco de sedução de minha parte.
— Bem, foi você quem me deixou sozinho nesta cama. Está tão frio e escuro...
Alex continuou a desenhar, mas eu sabia que estava o afetando. Alex era uma pessoa simples de se entender. Ao menos, era o que parecia.
— Ora, ora, estamos jogando sujo?
— Aprendi com o melhor mestre no assunto. Agora pare de me enrolar, e venha me enrolar de verdade.
Ele revirou os olhos, mas pelo canto de olho, pude vê-lo colocando o caderno em cima da mesinha, e indo em direção da cama. Ele pulou em cima de mim, e meu coração começou a acelerar.
— Você é muito exigente, Sr. Bennett.
— Apenas gostaria de um beijo, Sr. Morris. — Eu sorri, o provocando. Alex pareceu surpreso, e um sorriso em seu rosto a centímetros do meu, quando tapei sua boca com a mão. — Não disse onde queria o beijo, Sr. Morris.
Alex parou por um momento, até que a compreensão alcançasse os olhos verdes e as meia-sobrancelhas unidas em um ponto se ergueram em surpresa. Um sorriso de escárnio surgiu debaixo da tatuagem de Ás de espadas.
— Seu desejo é meu comando, meu caro Jesse.
E enquanto ele se abaixava para pegar meu membro riste, eu dei uma última olhada na mensagem flutuante.
Chase: Onde você está?
E ao envolver meu membro por inteiro com a boca, o celular ficou decididamente esquecido.
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