A noite era fria mais tarde naquele dia, os tenentes Montoya e Allen estavam se dirigindo aos fundos da Delegacia de Gotham para um pequeno intervalo. Ele tinha os cigarros, e ela tinha o isqueiro, e ambos compartilharam um cigarro, ao lado dos veículos mais antigos que ficam guardados por ali. Fumar era um hábito em comum para muitos dos policiais da cidade, o serviço era muito perigoso, o pagamento era minimamente aceitável e as ruas continuavam se enchendo de criminalidade e caos, independentemente de seus esforços.
- Às vezes eu acho que a gente precisa mais do que um desses – Renée comentou, olhando para o cigarro entre os dedos.
- Deveríamos é parar de fumar, isso sim – Crispus pegou o cigarro da mão dela e tragou, tossindo logo em seguida.
- E por acaso você tem alguma outra sugestão para aliviar os nervos no meio da delegacia?
- Há quem diga que ter pra quem voltar pra casa todos os dias ajuda…
- É só ver o quanto isso fez bem pro Jim – Renée retrucou, terminando de tragar o cigarro, pisando em cima do sobrou logo depois.
- Nem sei por que continuo tendo essas conversas com você, Renée.
- Eu sou uma boa companhia – Ela sorriu sarcasticamente, fechando a cara na expressão emburrada de sempre logo em seguida.
- É o que a Barbara vive dizendo… Você não acha que se você tivesse, sabe… “Sua própria Barbara” as coisas fariam mais sentido?
- … Não – Ela respondeu, depois de ponderar por alguns segundos – Isso com certeza me deixaria doente. Na minha opinião, Gotham não é lugar pra criar crianças, eu não faria isso, com toda a certeza.
E então, uma batida abafada soou em algum lugar do complexo. Os dois policiais olharam em volta, atentos. Ouviram mais alguns passos abafados, Crispus questionou se eram ratos, mas Montoya negou, balançando a cabeça. Ambos sacaram suas pistolas e avançaram para a direção dos sons, que ocorriam com intervalos de alguns segundos entre eles. Logo, entre os inúmeros veículos da delegacia, eles rastreiam a fonte dos sons para uma antiga van de vigilância, do tipo que usavam para comunicações de longa distância com a delegacia. Ouviram passos de mais de uma pessoa lá dentro, e alguma conversa abafada. Eles se dirigiram para as portas traseiras e Crispus agarrou a maçaneta, fazendo uma contagem regressiva silenciosa para abri-lá. Quando ele abriu, os dois apontaram as pistolas para dentro, gritando em uníssono:
- Polícia de Gotham! – Ambos disseram, encontrando apenas Barbara e Dick rindo um com o outro, se assustando com a chegada dos tenentes
- Oi – Barbara acenou, com um sorriso desconcertado.
- Pelo amor de Deus, Babs! – Crispus gritou, abaixando a pistola junto da parceira – O que vocês tão fazendo aqui?
- E aí! Renée, Crispus – Dick cumprimentou, despreocupado, mas suando frio através de seu sorriso falso – Faz tempo.
- Beleza, Dick? O que você e a Barbara tão aprontando aqui? – Allen completou, sorrindo maliciosamente.
- Ah, a gente só queria… – Barbara se aproximou, vermelha – Privacidade, sabe.
- É, é que – Dick continuou, percebendo como a frase de Barbara soou mal – Eu sempre quis ver como era dentro de uma dessas vans chiques, se era como nos filmes e tudo mais.
- Exato – Barbara apontou para Dick, concordando sem jeito.
- Sei – Crispus apontou para os dois saírem – Já falamos pra você não ficar zanzando de um lado pro outro por aqui.
- Você não tem amor à vida não? – Renée completou.
- Desculpa, tá? – Barbara pegou sua mochila com certa dificuldade, ela estava aparentemente pesada.
- Quer ajuda? – Crispus perguntou.
- Não! Não precisa, Tio Chris – Gordon disse, em um tom um pouco assustado, mas os tenentes relevaram enquanto eles saíam do veículo.
Logo, os adultos começaram a levar os jovens para fora dali, mas as vozes de Harvey Bullock e Jim Gordon os fizeram parar, eles estavam se aproximando da porta em um passo devagar, mas constante. Se o pai de Barbara a visse ali, ela com certeza levaria uma bronca. As crianças se abrigaram atrás de um dos veículos novamente, e os tenentes foram encontrar com seus superiores. O delegado e o chefe entraram na área dos fundos tranquilamente, voltando sua atenção para Renée e Crispus quando se aproximaram, claramente procurando por eles mesmos.
- Aí estão vocês – Bullock disse, colocando as mãos nos bolsos de seu sobretudo – Precisamos falar dos relatos dos moradores da Velha Gotham a respeito da circulação de veículos suspeitos em horários da madrugada.
- Vocês parecem nervosos – Jim disse, cortando a fala de Bullock – Está tudo bem?
- Tudo sim – Montoya respondeu de pronto, um pouco desesperada, o que foi um pouco chamativo – É que, sabe…
- Nós fumamos demais! – Crispus interveio, desviando o olhar da parceira para Harvey e não para onde as crianças estavam
- Isso! Nós acabamos extrapolando.
- Estresse, sabem como é – Crispus soou uma risada forçada, Jim e Harvey se entreolharam, mas deram de ombros – O que acham de um cafézinho?
- Mas nós precisamos conversar… – Bullock disse, ainda um tanto confuso
- São só cinco minutos, não vai demorar – Crispus disse, enfatizando o tempo, uma dica para Bárbara, e começou a arrastar os outros três policiais para fora ao som de protestos.
Quando o som da porta se fechando soou, Barbara e Dick saíram de seu esconderijo, e correram silenciosamente para a porta, mas não sem antes Dick segurar o braço de Barbara, pedindo para esperar.
- Você ta com tudo aí, não tá? – Ele indagou
- Bom… – Ela abriu sua pesada mochila, revelando diversos equipamentos e uma antena que pegaram da van – Veja você.
- Ok então, porque não vai dar pra voltar aqui tão cedo. Não tem mais nada?
- Nada que eu me lembre. Não pergunta essas coisas pra mim!
- Ah sim, a memória de jerico. Bom, acho que vai ser um golpe de sorte então, você ouviu o Crispus, cinco minutos.
E assim, eles saíram dos fundos da delegacia e correram para fora. Assim, eles se reuniram em uma praça não muito longe dali, onde Barbara contou sobre a necessidade de roubar as peças do transmissor da polícia. Não apenas eles poderiam ter acesso ao sistema de comunicações da polícia, como poderiam montar uma vigilância às comunicações do Rei Relógio se armassem uma torre de captação por perto da Torre do Relógio. Ela mostrou os esquemas rudimentares que armou, e com a antena e seus walkie-talkies em mãos, eles tinham tudo o que precisavam para executar a prioridade dois de seus planos.
A grande tenda de circo se iluminou quando Dick acendeu as luzes, dando espaço e visão para as crianças que entravam lá. Para Barbara, havia muito tempo desde quando ela havia entrado ali pela última vez, a vida escolar tomando muito tempo dela, e agora todo esse problema com o alusivo vilão tem deixado as coisas cada vez mais apertadas. Termo que, nesse caso, era o motivo em que eles estavam ali.
- Certo, chegamos - Dick apontou para seu arredor quando entraram na grande estrutura
- É estranho ver o lugar vazio – Apontou Barbara
- É verdade… – Ele completou
Eles continuaram a caminhar para perto da estrutura dos trapézios, algo que sempre chamou muito a atenção de Barbara, que era fascinada com os movimentos dos hábeis trapezistas, já que sonhava em fazer o mesmo. Com outros propósitos é claro, mas é o tipo de habilidade que eles teriam vindo para ensiná-la, e com sorte…
- Barbara! – Dick quase gritou para ela, que se voltou para observá-lo
- O que?
- Você fez de novo, foco aqui! – Dick apontou seus dedos para os olhos e depois para o chão
- Desculpa.
- Você vai ter muito problema pra aprender as acrobacias se você não focar, o segredo é você se concentrar no seu corpo e sentir os movimentos e blá blá blá
Barbara não podia acreditar no que os seus ouvidos estavam fazendo com ela mesma. As palavras de Dick realmente se transformavam em balbucios e sua visão ficava fora de foco, e ela própria não tinha nada que pudesse fazer para evitar esse comportamento. Ela agarrou os ombros do amigo com as duas mãos, e com os olhos arregalados, disse em um sussurro:
- Dick, cala a boca.
- … Oi? – Ele se espantou, com uma expressão completamente confusa
- Você não tá ajudando com esse seu blá blá blá.
- Ai Meu Deus – Ele afundou seu rosto em suas mãos, desolado – Isso vai dar muito problema mesmo.
- Eu não tô no clima ainda, preciso de uma ajuda.
- Como o quê!? – Grayson perguntou, levantando os braços ao alto, inconformado. Os olhos arregalados e o pequeno sorriso em Barbara já indicavam suas intenções – Não…
- Dick!
Ele estava completamente ultrajado pela ideia, mas acabou cedendo aos pedidos da amiga. Colocando alto em seu próprio celular, Entrance of the Gladiators começou a tocar, e Barbara exprimiu um sorriso de orelha a orelha.
- Papa pararararara papara, papa pararararara papara – Ela começou a cantarolar as notas da típica música circense.
- Tá me escutando agora?
- Manda, professor.
- Seguinte: Ta olhando aquele trajeto de plataformas logo ali – Ele apontou para uma série de tábuas no chão – Você tem que se movimentar o mais rápido possível por cima de todas elas.
Ela se moveu para a direção do trajeto se movimentando no ritmo da música, ainda cantarolando. Dick passou correndo na frente dela, tirando um cronômetro do bolso às pressas, gritando “na minha marca, mané”. Gordon mostrou seu polegar, concordando. Movimentando o corpo no ritmo da canção, ela pulava com os dois pés em cada tábua, o ritmo da música deixando suas pernas desengonçadas, a fazendo perder o equilíbrio. Caindo de bunda no chão, ela havia parado de cantarolar a música, e do chão, podia ver o rosto levemente debochado, mas claramente decepcionado de Dick.
- Acabou?
- Não precisa esfregar na cara, ok? – Ela disse, se levantando.
- Talvez sua música tema não seja exatamente a música tema dos circos, apesar da cara de palhaça.
- Cala a boca – Ela deu um soco no ombro dele.
- Ai!
Eles ficaram treinando os movimentos por mais algum tempo, e para um começo de treinamentos, Barbara pode dizer que estava ao menos fazendo progresso. Quando decidiram terminar o dia, eles seguiram para as ruas noturnas de Gotham em direção ao posto de gasolina mais próximo. Pegaram uma das avenidas mais movimentadas, é claro, seguindo pela calçada banhados pelas pesadas luzes noturnas dos telões e dos carros que passavam a altas velocidades ao lado deles. Barbara estava abrindo seu walkie-talkie e Dick falava em voz alta o seu plano.
- Então, meus pais têm esse gerador de energia portátil que o circo usava quando ainda era itinerário, falei que vamos usar para um projeto que a gente teve a ideia de desenvolver lá na academia, o que não é completamente mentira, se você for parar pra pensar… E o que você tá fazendo?
- Vamos deixar uma estação de retransmissão das comunicações do Rei Relógio nas vizinhanças da Torre do Relógio, nem ferrando eu vou passar todas as noites por lá pra gravar tudo sozinha. Vou instalar uma ferramenta de transmissão de áudio contínua através de um canal de comunicação online, pra isso, algumas pequenas alterações precisam ser feitas nesse comunicador…
- Vou fingir que eu entendi do que você ta falando.
- Resumindo: Essa belezinha vai escutar e mandar tudo para o BabsComputador, onde vai estar tudo gravado para escutarmos depois. Mas ela não faz isso sozinha, então vai precisar de uma pequena turbinada…
- Bom… Chegamos – Dick abriu os braços para apontar para o posto onde tinham chegado – Espero que tenha trazido o dinheiro.
- Aqui – Barbara revirou os olhos, entregando sua carteira – Minha mesada toda, acho bom você fazer valer a pena.
- O gerador funciona por gasolina, não vamos poder dar start na sua base de operações sem ele. Fique grata que eu tenho o gerador ou nunca ia funcionar de verdade.
Estendendo o grande galão vazio e o
dinheiro que pegou da carteira da amiga, Dick entregou os dois para um dos
atendentes do posto de gasolina, que passou a encher o galão com o valor que
ele ofereceu. A caminhada de volta foi exaustiva para o garoto, que não estava
exatamente na melhor forma para levar peso daquele jeito.
Comments (0)
See all