Já era fim de semana, e eles já haviam combinado com seus pais e o de Barbara passar o fim de semana na casa dos Graysons, que estavam mais do que felizes de a terem, e então, quando chegaram na casa de Dick, ambos haviam os recebido com uma bela janta.
Com a desculpa que o filho havia dado, eles não questionaram o galão de gasolina, e procederam para a mesa, onde muita da comida caseira preparada pela mãe enchiam os olhos e as narinas dos energéticos jovens.
- Muito bom ter você aqui de novo, Barbara – Sorriu o pai.
- O prazer é todo meu. Hmm, o cheiro ta uma delícia, Senhora Grayson.
- Ora, já dissemos mais de uma vez, é Mary e John – Mary corrigiu, com um olhar repressivo, mas um sorriso no rosto.
- E então… O que é esse projeto de vocês que vocês vão usar nosso gerador portátil? Praticamente uma relíquia de família aquilo.
- É pra algo secreto, por isso eu e o Dick precisamos de energia por fora – Dick chutou a canela de Barbara logo após o que ela disse, e ela percebeu que acabou dizendo demais
- Secreto, não é…? – Mary Grayson abriu um sorriso, observando os dois com evidente divertimento
- Ah… É muito bom ser jovem. Lembro quando conheci sua mãe nos subúrbios da Inglaterra, que época foi aquela… – John se dirigiu ao filho, engolindo uma porção de ervilhas de seu prato – Nós tínhamos vários “projetos secretos”, só que eles não eram sobre pesquisas científicas ou toda essa coisa de pequenos gênios que vocês fazem na academia.
- É, com certeza, hahaha – Dick forçou uma risada, concordando com o pai, chutando a canela de Barbara novamente, que o copiou depois de pular de dor na cadeira
- Você está querendo aprender algumas de nossas técnicas no trapézio? Nós vimos vocês indo para a tenda mais cedo hoje, talvez possamos ajudar? – A mãe se ofereceu
- Obrigada, Mary, mas a gente ta bem… Sabe como é, é tudo um grande passatempo, não é? – Gordon olhou de relance para o amigo, que deu um jóia para a performance da amiga dessa vez
Toda essa situação estava divertindo muito os pais de Richard, que continuaram a conversar e a comer com a convidada. O tempo que ela passava com outros adultos que não eram policiais ou gente ocupada demais pensando na sua educação eram os mais interessantes, uma espécie de conforto que a pequena garota ruiva não tinha em sua vida, para seu descontentamento, mas que ela podia ter com os calorosos Graysons volta e meia. Após o jantar, eles se reuniram no quarto de Dick mais uma vez antes de irem dormir para revisarem seus planos para os próximos dias, com o leito de Barbara sendo o sofá da sala, uma vez que, apesar de mais bem remunerados que seu pai, a família também era um bocado humilde.
No outro dia, era mais uma vez o momento de Barbara tentar seus movimentos acrobáticos no circuito que Dick preparou para ela. Quando eles entraram no centro da tenda de circo novamente, ela estava praticando seu foco, mas os olhos analíticos do amigo chamavam muito sua atenção. Ele com certeza estava tramando algo e não ia dizer até fazer.
- Eu pensei sobre o negócio da música, e talvez eu precise de algo que tenha mais ritmo acelerado, algo que combine com o circuito… – Barbara argumentou, mas Dick apenas alcançou para o bolso de sua blusa e tomou o celular dela – Ei! Isso vai ajudar como?
- Sem trilha sonora tonta, Babs. Você vai se concentrar no circuito completamente sozinha.
- Ha! Essa eu quero ver, o que você tem em mente?
- Você subestima o meu poder – Ele movimentou os braços, sorrindo.
Arrastando a amiga para a frente do circuito novamente, ele puxou uma cadeira para perto dela, e abriu sua mochila, retirando seu caderno da academia. “O que que é isso?” foram as primeiras palavras da reação de Gordon, que observava temerosa o que Dick estava sugerindo que faria. Abrindo o caderno, ele começou a recitar em voz alta:
- Álgebra – A primeira palavra ressoou aos ouvidos de Barbara como tambores pesados – Dizem que os primórdios da matéria são impossíveis de datar, mas os grandes estudiosos dos berços da humanidade já faziam operações complexas. Módulo 1: Operações de frações com potências.
- Pelo amor de Deus, para – Ela suplicou, e ele apenas apontou para o circuito.
- Quando o dividendo possui uma potência, ele também pode ser descrito por blá blá blá blá…
E lá se foi o desvio de atenção de Barbara novamente, até a aparência do amigo parecia completamente embaçada em sua visão, mas havia uma coisa para a qual ela podia desviar sua atenção: O circuito. É claro, quando todo o resto parecia completamente maçante, não havia para onde fugir. Agora, o circuito realmente estava na frente dela, e com um pé de cada vez, ela começou a se movimentar pelas plataformas em pequenos pulos, e chegou no final do percurso sem se desequilibrar. Ela voltou o olhar para o amigo, que batia palmas lentamente, com um sorriso no rosto. Ele tirou o cronômetro escondido detrás do caderno, e comentou:
- Vinte segundos. Tempo básico de iniciante, mas já vi piores. Você tem futuro, Barbara.
- Ok, genial da sua parte, mas a gente precisa continuar com a sessão de tortura?
- Até você bater quinze segundos.
Ela levantou os braços, suplicando aos céus silenciosamente. Dick deu uma risada silenciosa, e virou a página de seu caderno, começando a recitar as entediantes fórmulas matemáticas, e Barbara se apressou para continuar o circuito. Depois das quatro tentativas seguintes, ela já estava se acostumando com o ritmo, ele não precisava mais recitar as tediosas fórmulas de potência em fração e como elas se transformam em raízes, e isso deu margem para ele continuar seus rabiscos em seu caderno, observando o movimento ágil e determinado da amiga, que levantou uma série de ideias sobre uma surpresa que ele preparava…
Após a sessão de treinamento, eles se apressaram para voltar para academia assim que possível, tentando aproveitar o máximo que podiam o resto de domingo para poderem preparar a base de operações. Ao chegar na hora de abertura dos portões, eles tiveram liberdade o suficiente para moverem tudo para a passagem das catacumbas no dormitório feminino, ambos tendo o cuidado de não levantar suspeitas nem causar algum estardalhaço enquanto arrastavam seus equipamentos e materiais pelos corredores, se atentando a qualquer chega de adultos para estragarem seus planos. Após uma longa hora, eles estavam com tudo o que precisavam na fria e singela caverna que dava início às catacumbas da cidade, as sombras engolindo tudo em volta deles, até mesmo as luzes de seus celulares enquanto armavam a iluminação.
Com pouco tempo de sobra, eles tinham a armação pronta, não tinham certeza se ela estava completa ou bem-feita, mas a escuridão já estava ficando insuportavelmente densa, uma vez que os constantes trombos e confusão de direções estavam ficando insuportavelmente constantes para eles.
- Hora da verdade, então? – Barbara se reuniu em volta das lanternas dos celulares no chão das catacumbas.
- De mais maneiras que você consegue imaginar.
- Que história é essa, cara?
- Eu não testei o gerador de energia ainda… – Ele respondeu, e Barbara sabia que ele estava exprimindo aquele rosto de cão arrependido mesmo no escuro.
- Dick, se você valoriza a sua vida, acho bom isso funcionar…
- Bom, não há hora melhor do que o presente, não?
E o som de Grayson puxando a corda do motor, tentando dar partida no sistema, era ríspido e tinha uma estranha roupagem mecânica a ele, como se o motor estivesse sendo estrangulado por uma porção de sucata velha. Quando o motor finalmente deu partida, pôde-se ouvir a monstruosidade soando um ronco de partida alto, como um carro antigo, que ressoou por toda a estrutura da caverna. A dupla dinâmica temeu que fossem descobertos instantaneamente, mas os pensamentos de temor foram substituídos por fascínio enquanto a porção de luzes incandescentes começaram a se acender em volta deles, todas penduradas precariamente por fita crepe e alguns ganchos mal fixados nas paredes cavernosas.
Eles se entreolharam, e
simultaneamente, abriram um sorriso que ia de orelha a orelha. Compartilhando
um “toca aqui”, eles verificaram se todas as saídas de energia estavam
funcionando, e deixaram o resto das malas com o equipamento que iam armar
preparadas para o próximo dia. Quando se separaram, com Dick pulando a janela
do dormitório para não chamar a atenção dos passantes dos corredores, que se
enchiam cada vez mais enquanto os estudantes entravam para começar a semana,
Barbara não pode conter a ansiedade, e mesmo tendo ido deitar-se mais cedo, ela
demorou mais que todas as garotas para pegar no sono, imaginando o que os
aguardavam no dia seguinte, e quais seriam os próximos passos de heroísmo em
que ela estava embarcando.
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