Já era fim de tarde, o período de aulas já estava passando, e Barbara se preparava para encontrar com Dick na caverna. Ajeitando sua bolsa com todos os itens que havia preparado para a base improvisada, ela estava quase pronta para sair do dormitório e seguir para a passagem, onde Dick já a esperava, até que, dessa vez, uma pessoa estava em seu caminho por acidente. Antes de partir, ela havia percebido a presença de Helena Bertinelli em sua cama, sentada ao lado da janela, com seus pensamentos em outro lugar, seus olhos perdidos no horizonte. Barbara não sabia como reagir, mas então lembrou do que ela tinha feito a alguns dias atrás… Hel não era uma garota ruim, de fato, ela era reservada, mas nunca arrumou problemas e sempre evitou os outros em se meterem neles.
Depois de deixar sua mochila em sua cama por um momento, Gordon se aproximou dela, acenando sem jeito, seus passos pequenos e tímidos, Barbara sentia tanto medo quanto respeito pela Bertinelli.
- Oii, Helena… Tudo bem? – Ela sorriu, tentando não parecer nervosa.
- Oi, Gordon… Eu estou bem, obrigada por perguntar.
- Olha, eu não agradeci outro dia pela confusão que você evitou entre mim e a Harley… – Barbara acenou para a cama, pedindo para se sentar. Helena assentiu – Valeu mesmo. Se tiver qualquer coisa que eu possa fazer para compensar você no futuro, é só dizer.
- Eu não sei, Barbara… Você acha que há alguma coisa para nós além desse futuro aqui, nessa academia?
- Isso é uma pergunta um pouco profunda… Mas você me pegou em uma boa época pra responder ela. Na verdade… – Helena a interrompeu logo antes de dizer.
- Eu…! – Ela pausou em meio pensamento, voltando o olhar para a janela de novo – Deixa pra lá… você não entenderia.
- Ora, não diga isso! Nós somos mais parecidas do que você pensa e que eu gostaria de admitir, temos pais importantes que lidam com problemas maiores do que nós, passamos os nossos dias aqui nessa academia, e francamente… – Barbara olhou em volta com uma expressão levada, verificando se havia mais alguém, e retornou para Helena, sussurrando – A maior parte das pessoas aqui não nos entendem. Somos garotas diferentes, não fazemos parte de nenhum clubinho ou ficamos com as mesmas picuinhas e problemas infantis que todas as outras insistem em ter. Eu te vejo por aí, e eu sei que você simplesmente não quer se misturar, diferente de não ter capacidade pra isso, que é o que todo mundo imagina.
Helena não havia tirado os olhos da janela, observando o céu avermelhado de Gotham ao pôr-do-sol. Barbara tinha um número de teorias a respeito do que ela estava pensando, mas uma se destacou do resto.
- Você é uma caçadora, não é? Ouvi dizer que sua família tem casas de campo, onde vocês saem pra caçar, como verdadeiros… Bem, como verdadeiros animais. E isso foi um elogio, a propósito. Sempre me perguntei se você tinha essa natureza escondida por baixo desse seu disfarce de garota quieta.
Helena soltou o ar:
- … Meu primo e eu somos os maiores caçadores da nossa família. Nós já empalhamos mais animais do que nossos pais conseguem contar. Mas tudo isso é um costume nosso… Normalmente pra fugir da realidade, coisa que nenhum de nós tem tido o luxo de fazer. Mas o que você poderia saber sobre a caçada?
- Ah, eu sou uma caçadora também, Helena… Mais do que você imagina. A Caçada está lá fora, o tempo todo… Nossas presas podem ser diferentes, mas a emoção e objetivo da conquista são as mesmas.
- Talvez você tenha razão… – Ela se levantou, seguindo para a porta – Agora eu vou deixar você sozinha, eu sei que é isso que veio me pedir…
- Oh… Obrigada, eu acho.
- E Barbara…
- Sim?
- Não se meta em confusão – Helena lhe deu um de seus raros sorrisos, e saiu pela porta melodramaticamente.
- Ah… Você não faz ideia de que eu vou fazer justo o contrário… – Barbara sussurrou para si mesma, respondendo.
Logo, pegando sua mochila de volta, ela entrou na passagem do piso, que eles haviam consertado e remendado para fácil acesso, e entraram na já iluminada caverna, onde Dick já havia ligado o gerador, e estava com todos os materiais e objetos prontos para preparar sua base de operações. Eles passaram a próxima hora preparando pequenas bancadas, armando pequenos armários que levaram para lá peça por peça, armaram um canto perto da saída de energia para uma pequena mesa retrátil, onde Barbara preparou sua estação de informática: Um bom acesso ao sinal de wi-fi da Academia, acesso a uma tomada para o carregador, e o que ela mais gostou, uma tela de computador velha que ela plugou em seu laptop, que era o centro de toda essa bancada.
Pregando um grande quadro de madeira ao lado do esqueleto acorrentado, a quem Barbara afetuosamente chamou de “Kel, o Esqueleto”, Gordon prendeu a primeira imagem nele: O retrato falado de Batman, grande e imponente, bem no centro. Ela abriu um grande sorriso e falou sobre como foi o encontro dela com o Cavaleiro das Trevas em pessoa, o que fez com que Dick apenas abrisse um sorriso, admirando o que estava acontecendo diante dele… Talvez esse fosse um ponto de partida novo para a vida da amiga, independente do que aconteceu recentemente na sua vida. Assim, com a base pronta, e sem um nome preparado para ela ainda, como pontuou Barbara, eles seguiram em caminhos diferentes. Ela estava indo instalar o retransmissor das transmissões do Rei Relógio, e Dick, aparentemente, estava indo resolver um problema na casa de seus pais, mas ele parecia muito contente para isso.
Escolhendo ignorar o comportamento do amigo, ela voltou para outro dos prédios abandonados nas localidades da Torre do Relógio, já estava bastante escuro e esperava que as sombras a escondesse assim como da última vez, mas ainda podia lembrar da Meia-Noite e dos outros capangas armados do terrorista que eles iam enfrentar, o medo subindo na cabeça enquanto ela se afundava no capuz de sua blusa. Claro, medo não era a única coisa que ela estava sentindo, a adrenalina subindo na sua cabeça era um incentivo igualmente animador e divertido. Quando finalmente estava em posição para armar a pequena caixa cheia de fios e antenas em algum lugar que não chamasse a atenção dentro dos destroços do decrépito edifício, ela podia dizer com toda a certeza de que nunca havia se sentido tão viva antes, finalmente entrando em ação, finalmente fazendo a diferença num lugar como Gotham.
Ao voltar para a Academia pouco antes do toque de recolher, ela apenas recebeu uma mensagem de Dick para encontrá-lo na caverna, o que era preocupante, porque a academia estava muito movimentada uma hora dessas, mas ela conseguiu, salvo algumas deslizes com uns passos maiores do que outros, se esgueirar por entre as camas do dormitório feminino no escuro e entrar na passagem sem chamar atenção. Lá, Dick parecia mais animado do que o normal, segurando uma lanterna e sentado em cima de uma grande mala, algo que sua amiga não percebeu a princípio, caminhando para a estação dela e ligando seu laptop sem demora.
- Certo, eu arrumei o retransmissor das operações do cabeça de ponteiros. Só deixa eu acessar o canal de comunicação por aqui e eu posso deixar um ciclo de gravação contínuo…
- Barbara, atenção por favor?
- Engraçado, por que você ainda tá aqui? Não vão dar falta de você no dormitório dos meninos? – Ela continuou, ainda sem foco – Se te pegarem saindo do dormitório das meninas, meu amigo, você vai estar perdido, tem noção disso né?
- Barbara! – Ele gritou, finalmente chamando a atenção dela – Obrigado. Eu tenho notícias. O que acha de testar suas habilidades como acrobata ainda hoje?
- … Que história é essa, Dick?
- Como pode ver, pela lanterna que eu peguei, eu explorei um pouco mais das passagens saindo dessa nossa caverninha e tem uma saída que dá num dos túneis de metrô que saem na estação mais próxima, e o caminho tá anotado ali no mapa do quadro.
- Certo… E o que você tem em mente?
- Barbara, você não pode enfrentar o Rei Relógio e seus doze horários sem um pouco de prática, e encontrar um crime pra impedir em Gotham é absurdamente fácil. Então eu fico aqui, monitoro você através disso – Ele estende um ponto de comunicação para ela, e aponta para o ouvido – E você faz sua mágica, o que acha?
- Você realmente está me incentivando a sair no meio da noite e bater em algum trombadinha? O que é, tipo, exatamente o que eu quero fazer. Você tá bem?
- Eu só quero inspirar esse seu novo lado… Essa nova Barbara que eu vim a conhecer nos últimos dias. Considere um pedido de desculpas parte dois da última vez que a gente passou pela Torre.
- Certo… – Gordon estava tanto surpresa quanto confusa, mas um sorriso já começava em formar no seu rosto – Só está faltando uma coisa então… Eu preciso de um codinome. Digo, tenho a máscara de morcego que você me deu da última vez, e… Bom, seria bom algo flexível na verdade…
- É aí que estou trinta passos na sua frente, Babs – Ele saiu de cima do estranho malão em que estava sentado, e o abriu, mostrando o seu conteúdo para a amiga, que ficou boquiaberta, maravilhada com o conteúdo – Eu vi alguns rascunhos no seu caderno, fiz algumas alterações próprias esses dias pra deixar mais viável, e de resto, pedi pra um amigo do circo me ajudar, sabe como é, temos todo tipo de figurino lá, e fazemos todos sozinhos, então seria burrice não pedir por ajuda. Pra eles é só um projeto secreto… Mas pra você, menina morcego… Bom, acho que é todo o seu futuro.
Barbara abraçou seu amigo com toda a força que podia, o que era muita pra infelicidade de Dick, que foi lembrado sobre quanto Barbara vem malhando nos últimos tempos para se sair por cima nos treinamentos de Karatê. Eles trocaram um sorriso de camaradagem, e ela agarrou seu destino com as duas mãos.
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