Eram duas da madrugada na velha e confiável “Loja de Conveniências do Stu”, onde o proprietário apenas cuidava de seus problemas. Uma pequena televisão estava no seu balcão, e iluminava parte do escuro estabelecimento. As coisas não iam tão bem quanto ele gostaria, mas ele tinha uma clientela fiel e seu estabelecimento nunca passou por uma fase em que ele considerou vendê-lo. Mas, estes pensamentos vieram acompanhados de uma figura encapuzada, um assaltante entrou de supetão em sua loja e lhe apontou uma pistola através do painel de sua cabine de caixa.
- Me passa a grana, maluco!
- Tá bom, tá bom… – Ele abriu o caixa às pressas – Tô pegando.
- Rápido!
Stu não sabia bem o que pensar ou sentir, continuou arrancando o dinheiro da caixa registradora às pressas. Ele conseguiu perceber que o assaltante estava tremendo a mão que segurava a arma, provavelmente era algum garoto de rua desesperado, mas ele não podia correr o risco de querer conversar com o coitado. De repente, uma voz veio de fora da loja, era uma voz abafada e a pessoa que a dizia estava ocultada pelas sombras da noite.
- Acho bom você soltar a pistola, amigo… – Era uma voz feminina, mas ela era profunda e estranhamente rouca.
- Quem tá aí? - O assaltante moveu a arma para a direção da porta por onde passou, que mesmo sendo de vidro, não revelava nada além dela, apenas trevas.
- … Está apontando a pistola pro lado errado.
Um vulto começou a se formar de dentro da escuridão das ruas da Velha Gotham. Ele passou rapidamente pela visão dos dois que observavam, e em um piscar de olhares… A figura de uma pequena mulher se chocou violentamente contra uma janela lateral. O som do impacto assustou o assaltante, que atirou na porta de vidro, estilhaçando-a inteira. Agora eles podiam ouvir a baixa reclamação da menina, que caminhava da janela para a porta quebrada. As fortes cores de roxo e amarelo tornavam a reação de Stu e do assaltante não mais assustadas, mas confusas e curiosas. A garota adornava uma capa preta e uma máscara de morcego, com os cabelos e a parte inferior do rosto para fora.
- Desculpa aí, achei que ia fazer uma entrada triunfal, mas que janela dura! – Ela esfregava as mãos na cabeça, com uma expressão de dor, logo depois apontando para a porta quebrada – Pelo menos eu provoquei uma reação de medo real em você, hein amigo.
- Menina, o que está fazendo? – Stewart indagou, claramente confuso, mas consideravelmente desesperado.
- Fica tranquilo, Stu, eu sei o que eu to fazendo. Enfim, maninho da arma, larga agora e se rende até a polícia chegar.
- E você seria quem? – O assaltante indagou.
- Eu sou a Batgirl! – Ela cobriu a parte exposta do rosto sua capa, fazendo uma expressão misteriosa.
O garoto encapuzado e Stu se entreolharam, não mais levados pelo calor da situação, mas igualmente confusos e desconcertados com a situação. Quando a apresentação não surtiu o efeito que ela esperava, ela desfez a pose heróica e bufou.
- Minha nossa, que público exigente! Tenho que treinar melhor a minha apresentação – Ela estendeu as mãos para um de seus bolsos, que provocou uma reação negativa do assaltante, que apontou a arma para ela – Opa opa, calma amigo, só estou pegando meu celular.
- Você vai chamar a polícia?! – Ele quase gritou, apontando a arma para Stu de novo – Eu vou matar ele, eu juro.
- Calma, não vou chamar a polícia. Não ainda, pelo menos… – Ela começou a teclar despreocupadamente em seu celular, e o cano da arma na frente do dono da loja o tornou apreensivo.
- O que você tá fazendo, Batgirl? – Ele balbuciou.
- Só um momento… – Ela levantou o indicador para o assaltante, que respirava pesadamente – Ah sim… Eu estou fazendo isso.
Ela lentamente levou o indicador para a tela do celular e a apertou uma última vez, fazendo com que as luzes do estabelecimento se pagassem instantaneamente. O assaltante tentou atirar na direção da heroína, mas ela não estava mais lá, os flashes dos tiros apenas mostraram partes da rápida movimentação da garota, que rapidamente alcançou os braços do criminoso por trás, o desarmando. Os sons de socos e tumulto preencheram a escuridão da loja, e apesar da falta de luz não deixar o dono da loja ver o que estava ocorrendo, agora que a pistola aparentemente havia caído no chão em um pesado baque, ele podia ver as sombras dançando e se contorcendo na sua frente, como se elas tivessem ganhado vida. Pouco depois, um silêncio tomou o estabelecimento novamente. As luzes se acenderam de novo, e o assaltante estava desacordado no chão da loja, e em cima dele, Batgirl estava sentada, mexendo em seu celular novamente, despreocupada. Stu não sabia como reagir, e balbuciou algumas vezes antes de dizer algo concreto.
- Uh… Batgirl?
- Tudo bem com você, Stu?
- Tudo sim. Ele…
- Tá só desmaiado. Se eu fosse você, chamaria a polícia – Ela se levantou, entregando a pistola do assaltante para ele – Toma, não deixe isso perto dele.
- Ok… – Ele pegou a pistola e guardou embaixo do balcão do caixa, e logo após pegou seu celular – Obrigado, garota.
- Por nada! – Ela sorriu, algo que chamou a atenção de Stu.
- Eu… Te conheço?
- Conhece sim, Stu. Eu sou daqui da região, mas é tudo o que eu posso dizer, estou aqui pelas pessoinhas menores da Velha Gotham.
- Bom… Eu fico feliz. Se cuida, hein garota. Não quer levar essa arma não? – Ele moveu as mãos para pegar a arma.
- Não, não… Estou aqui para proteger as pessoas, não pra matar elas.
- Tudo bem… Valeu de novo.
Batgirl abriu um largo sorriso mais uma vez, correndo através da porta estilhaçada, sumindo dentro da escuridão novamente. Stu ficou admirando toda a situação com um estranhamento e fascínio únicos, talvez o Batman não fosse real, mas sua lenda estava viva nessa excêntrica Batgirl, e ela definitivamente era real.
Dick não conseguia encontrar a amiga em mais lugar nenhum depois da noite de ontem. Ela com certeza tinha chegado animada com o que fez, mas aquilo foi apenas um assalto de um garoto que não sabia atirar ele tinha medo disso está subindo a cabeça de Barbara. Entre os intervalos corridos e a falta de comunicação com a amiga, que nem mesmo respondia seus walkie-talkies ou o ponto de comunicação que ela fez questão de não tirar, ele se perguntava o que poderia ter acontecido. Foi no meio de uma das últimas aulas que ele recebeu uma mensagem dela, se resumindo a apenas pedir que se encontrassem na Batcaverna, como ela chamou. Ele sabia que ela estava aprontando algo, então pacientemente esperou o fim da aula e, pra sua infelicidade, correu para a entrada do metrô, uma vez que o quarto das meninas estava ocupado demais.
Ele chegou de volta à caverna batendo a terra e poeira de seu uniforme da academia, as luzes iluminando uma centrada Barbara, que já estava em seu uniforme de heroína, teclando freneticamente em sua estação de informática.
- Onde você se meteu o dia todo?
- Ah, oi Dick – Ela gesticulou para ele se sentar na cadeira ao lado da sua – Eu tava fazendo tudo.
- Tudo?
- É, adiantei todos os trabalhos da semana, saí de todas as aulas mais cedo por desempenho exemplar…
- Uau, antes eu tava duvidando que tudo isso fosse fazer bem pra você, mas pelo jeito…
- E também hackeei o sistema da Academia e já deixei todas as provas previamente prontas pra eu substituir nas datas agendadas.
- Barbara! – Ele gritou, indignado.
- O quê? Temos coisas mais importantes para fazer, não tô cometendo nenhum crime.
- Tá sim!
- Ah, tanto faz – Ela arrastou o laptop para perto do amigo – Esse é o resumo das atividades do Rei Relógio e os Horários. Isso daria um nome de banda incrível, a propósito.
Dick analisou a tela, que encontrava gráficos e transcrições das comunicações que Barbara havia organizado com muito preparo. Havia secções de muitos tópicos, mas os maiores e mais proeminentes eram três: “Ataque às Indústrias Stagg”, “Acobertamento de Rastros”, e “Plano Final” com “seja lá o que isso signifique” entre parênteses logo ao lado. Eram muitas conversas compilando a traçada de planos do alusivo líder da gangue de numerais, e todos os planos estavam bem amplos e compreensivos a respeito dos próximos passos dele.
- Isso… Ficou muito bom, Babs, parabéns, mas não pense que eu esqueci do que você fez.
- O próximo é o ataque às Indústrias Stagg, amanhã, eles planejam interceptar um comboio de armas na chegada de uma fragata amanhã à noite.
- E você pretende fazer algo a respeito, não é?
- Claro. Estou apostando que o Batman vai aparecer lá… – Barbara continuou, esfregando algo nas mãos, algo que Dick notou ser uma espécie de bumerangue em forma de morcego
- Onde você arrumou isso?
- É dele. O Batman usa armas, armas humanas e mortais, ele é humano, Dick.
- Ok… – Grayson tomou um momento para processar o que ela disse, ainda um bocado incrédulo com o que ela disse.
- De qualquer maneira, queria ver se você percebe algum padrão que eu não percebi, você sempre foi melhor com quebra cabeças e mistérios do que eu.
- Olha… Vendo isso aqui, uma coisa me chama atenção. No plano final, ele fala de pacotes em pontos chave que ele identifica só com uma série de números. Seja lá onde é, o que você acha que ele planeja. Se ele planeja algum tipo de assalto com armas, por que o plano final envolve só destacamentos de entregas secretas? Você não registrou mais nada do que eles falavam?
- Eu revisei umas duas vezes.
- Barbara… Tem alguma coisa faltando. Existe alguma peça do quebra-cabeça desse cara que não tá encaixando direito, ou que tá faltando.
- Você consegue ficar atento com as transmissões nessa noite?
- Vai sair?
- Vou. Preciso ficar em forma pra amanhã – Ela disse enquanto colocava seu capuz e capa – Gotham precisa da Batgirl nessa noite assim como em qualquer outra.
- Babs… Eu não comi.
- Eu passo num Batburguer e te compro algo.
E ela avançou entre os túneis da catacumba, deixando Dick observando impassível a tela do laptop, guardando seu casaco em volta de Kel e começando a trabalhar.
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