Uma aura de imensa alegria preencheu o ar no instante em que o Rei Tahir de Lionnes anunciou o início das grandiosas festividades do Grande Campeonato de Cavalaria. Era o primeiro dia do mês de Altarad, e essa celebração há muito adiada finalmente se desdobrava perante o reino. Dois meses haviam se passado desde que o evento deveria ter ocorrido, mas a sombra da iminente guerra havia lançado sua incerteza sobre todos.
Tahir, o monarca de maneiras excêntricas, porém de coração generoso, sempre foi um entusiasta de festividades majestosas. Entretanto, nos últimos tempos, a proximidade do conflito o havia conduzido a um isolamento introspectivo.
Nesse dia singular, porém, uma onda de celebração contagiante permeava Lionnes. Não havia espaço para tristeza ou melancolia, pois o povo se entregava de corpo e alma à música, à dança e à pura alegria. Os estandartes do Campeonato de Cavalaria enfeitavam as praças de Lionnes mais uma vez, e uma miscelânea de raças percorria as ruas em festa.
Das alturas do palácio, o Rei Tahir observava com aprovação à medida que um jovem licanen* se aproximava de uma pequena kiteni, com despreocupação e um interesse palpável. Seus olhos aguçados captavam o sutil sorriso da garota, em harmonia com o movimento gracioso de suas orelhas felinas. O lupino parecia não notar o sorriso, cativado pela doçura do gesto da kiteni.
Dali, da vista privilegiada do palácio, os olhos do rei observavam as barracas coloridas sendo montadas com um ar de aprovação. "Ora, estão um pouco atrasados!", pensou ele, um sorriso sereno pintando seus lábios. Tahir se encontrava satisfeito. Finalmente, seu povo experimentava o retorno da paz.
O próprio Rei Tahir, no auge de seus 49 anos, ostentava três filhos. Dois deles eram frutos do amor partilhado com Tessália, sua rainha, agora uma alma que repousava nos domínios celestiais de Arcádia**, honrada pela companhia dos anjos e abraçada pelas bênçãos dos Miríades***. O terceiro filho, concebido com Andrena, sua misteriosa bruxa, era um meio-elvanen movido por uma ânsia incansável por aventura. Jacob, o caçula, era um verdadeiro espírito guerreiro, em uma jornada incessante por desafios. E, embora Tahir o incentivasse sempre a perseguir seus sonhos, seu espírito aventureiro era motivo de preocupação para o pai.
"Malaqued, você se importaria de me trazer um pouco mais de vinho?"
"Certamente, majestade, farei isso imediatamente!"
"Ah, Malaqued, você sabe que toda essa formalidade é desnecessária. Venha, junte-se a mim na sacada e compartilhe da alegria do festival."
Sob um céu azul e claro, o riso puro das crianças entoava como uma sinfonia, harmonizando-se com as melodias dos bardos. Tudo isso inundava o rei com um deleite genuíno. Entretanto, seu sentido auditivo apurado detectou uma ausência. Um incômodo instante de silêncio se instalou, pois desde o raiar do dia, não havia captado o canto suave de um pássaro sequer.
Subitamente, a taça escapou de suas mãos e se estilhaçou no chão, fazendo com que o líquido rubro se espalhasse como um sinal. O olhar de Tahir se concentrou adiante, onde seu filho Jacob vinha correndo em sua direção. Contudo, as palavras proferidas por Jacob pareciam não atingir os ouvidos do rei. Gradualmente, diversos sons começaram a desvanecer, e a preocupação estampada no semblante de Jacob o intrigou. Por que o jovem parecia tão apreensivo... ou até mesmo furioso?
Jacob se aproximava rapidamente, mas passou diretamente por Tahir. Os gritos do jovem ecoaram em vão para o rei, enquanto a intensidade da fúria de Jacob se tornava ainda mais evidente.
Somente quando Tahir se voltou para trás, contemplando Jacob cravando sua cimitarra no fiel servo Malaqued, a compreensão finalmente o invadiu. A adaga, fina como uma agulha, repousava no chão, ao lado dos fragmentos da taça, manchada com o líquido brilhante e misturada com o sangue do rei. Tahir havia sido apunhalado.
Agora, todos os sons que preenchiam os sentidos de Tahir se reduziam ao ritmo lento de seu próprio coração, enquanto ele deslizava em câmera lenta, testemunhando Jacob consumar um único golpe, partindo Malaqued ao meio. Orgulhoso do fervor guerreiro de seu filho, Tahir compreendia que, por quaisquer que fossem os motivos, Jacob, Linah, Jaoh e sua amada Andrena certamente buscariam vingança.
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