Uma semana se passou, o gerenciamento da vila estava indo bem, mesmo sendo apenas duas pessoas.

A vila possuía 6 casas, o dinheiro do aluguel que antes era divido entre os 5, levando em consideração cada cargo e sua devida importância, agora era dividido entre apenas duas pessoas.

O lucro era de 47% para cada, levando em consideração a minoria que gastavamos escutando a reclamação dos moradores. 

No início, Proerd não parecia um cara muito confiável, então eu tive que testar ele nas primeiras vezes, mesmo que ele roubasse parte do dinheiro da vila, eu sairia no lucro.

Para minha surpresa, ele se mostrava bem honesto nos dias que se passaram, além disso, era um cara muito gente boa, ou pelo menos, era o que parecia.

Cansados após um dia intenso de trabalho, nós nos sentamos em um banco próximo.

Na esquina da entrada da vila, avistamos um homem de topete esquisito, seu tamanho aparentava estar na média, ele olhava para as coisas como que estivesse julgando o lugar, ou pensando em alguma crítica.

Pensei em falar umas poucas e boas para ele, mas me contí.

Eu olho para o Proerd, que estava sentado a minha esquerda, e ele olha fixadamente para o homem, ele parecia conhecê-lo de algum lugar.

De repente, começa a chover, eu estava sem guarda-chuva, mas não me importei, afinal, eu gosto de chuva.

O cheiro de terra molhada se intensifica, enquanto o homem nos avista de longe, e começa a vir em nossa direção.

Ele chega mais perto, e eu consigo ver perfeitamente, ele usava luvas pretas nas suas duas mãos, e carregava uma arma esquisita.

A arma assemelhava-se a um bastão, mas era preta, como um aparelho de televisão, a chuva fica mais forte, e ele vai chegando mais perto.

Nós nos levantamos do banco, e ele e o Proerd se encaram durante alguns segundos.

O clima de tensão se estabelecia, até que o homem do topete decide falar.

-Quanto tempo Proerd, como vai a sua vida de pobre?

-Crafitos seu merda.

Crafitos, aparentemente, este era o seu nome, os dois já se conheciam.

Crafitos sarcasticamente sorri e diz.

-Calma lá amigão, eu posso te prender por desacato a autoridade agora sabia?

Proerd fica em silêncio.

-As coisas mudaram bastante desde que você perdeu o seu cargo de ADN Proerd.

Esse cara era mesmo um ADN?

Pensei, olhando no fundo dos olhos de Proerd. 

Crafitos era um dos ADNS, e Proerd aquele cara todo desengonçado, foi mesmo um ADN, como pode?

Crafitos olha para mim com uma expressão de desprezo e sai do lugar.

Ele joga duas cédulas de palta no chão.

-Não gastem tudo ouviram?

Provavelmente ele achou que eu era um mendigo, ou algo assim, sua arrogância era visível.

Ele se retira do lugar, segundos depois, Proerd pega o dinheiro molhado do chão.

A chuva começou a parar lentamente, ainda estava curioso, aquilo foi inesperado, como poderia alguém como o Proerd ter feito parte de um cargo importante como aquele?

Eu espero a poeira baixar, e decido perguntar.

-Proerd, você é um ex ADN?

-Sim, é uma longa história, mas você tem afazeres, eu tomaria muito do seu tempo te contando isso.

-Não importa, agora eu preciso saber, você vai ter que contar.

Ele suspira.

-Já que insiste, tudo bem, eu vou te contar.

-Conhece o caio não conhece?

-Não muito bem, mas sei que ele foi um cara importante aqui.

-Ótimo, podemos começar por ele então.

-A história começa quando havia apenas poeira e casas abandonadas neste lugar, 4 anos atrás...

Era um dia bem frio, este lugar passava por uma época de climas bem caóticos.

Eu vou andando, estava na beira da morte, o frio me consumia, até que.

Um homem misterioso surge, ele era alto, usava um óculos, e falava bem formalmente, era um homem honesto, bem gente fina.

Ele me acolheu, me deu um casaco, acendeu uma fogueira, e nós passamos horas conversando.

Ele me diz o seu nome.

-Meu nome é Paradoxo, vi potencial em você, queria que fizesse parte do meu forte.

De início eu pensei em recusar, mas quem poderia negar um cara como aquele?

Ele me chama para dentro de sua base, em volta dela, haviam várias casas abandonadas.

Pelo que eu entendi, ele pretendia reconstruí-las, sua intenção era criar uma potência e proteger uns pedaços de papel esquisitos.

Mesmo estranhando, eu não o questionei, o fato de ele ter me ajudado já foi o suficiente.

Mesmo assim, com o tempo, acabei cultivando uma curiosidade por esses papéis estranhos.

O lugar havia um grupo de pessoas, pessoas que o Paradoxo também acolheu.

Ambos eram gratos a ele, e ambos aparentavam ter boa pinta.

Entre eles, estavam o Caio, o Breno, o Pedro piadas, o Darksheep, o Izaias...

-Pera, o Izaias??

-Sim, aparentemente você o conhece.

-Era o antigo dono desse lugar, não fazia ideia de que ele tinha sido um ADN.

-Pois ele foi, acontece que depois de alguns problemas abandonou o cargo por vontade própria.

-Entendi...

-Continuando.

Haviam outros caras também, mas eu não sabia os seus nomes, nem mesmo possuía tanta afinidade com eles.

Com o tempo o Caio foi ganhando a nossa confiança, ele era um cara tranquilo, negro, com cabelos azuis, passava horas discutindo seus sonhos com o Paradoxo.

Mas tinha algo estranho, ele não confiava na gente.

Haviam dias em que ele nos isolava, e chamava particularmente o Paradoxo para conversar.

Ele sempre saía das conversas com um sorriso no rosto, aquilo atiçava a curiosidade de todos nós.

Com o tempo, Caio milagrosamente se tornou o melhor amigo de Paradoxo, consequentemente, ele parou de nos contar seus planos, suas ideias, e passou a contar exclusivamente ao Caio.

Criando assim uma espécie de cargo diferenciado, ele era um ADN, mas tinha poder sobre nós, "segundo o Paradoxo" ele sempre nos dizia essas palavras com uma expressão arrogante.

Um ano se passou, o Paradoxo e o Caio vieram com dois novatos, um deles era meio gótico, baixinho, e não falava muito, ele era do tipo que só falava quando necessário, ele se auto-intitulava Darksheep.

O outro tinha um topete engraçado.

-O Crafitos?

-É, ele mesmo, acredito que não preciso mais descrever né. 

Com o tempo o lugar foi crescendo, e Caio ganhava mais ainda afinidade dos demais, inclusive do Darksheep.

Apesar disso, eu suspeitava de que por trás dos panos ele falava mal da gente.

O Paradoxo sempre se comportava diferente a cada conversa que tinha com o Caio, mesmo que por alguns minutos.

Chegou um período em que o Darksheep, o novato, ia se abrindo cada vez mais, com o tempo ele deixou de lado essa sua frieza.

O Crafitos também se mostrava mais competente a cada tempo que se passava.

E nós, com o tempo, íamos ficando para trás, exceto o Breno, que virou amiguinho íntimo do Caio.

O Izaias decidiu deixar o cargo por questões pessoais, e nós tentamos compensar trazendo novos membros para aquele lugar.

Um tempo se passou, e minha curiosidade por aqueles papéis aumentava mais ainda, eu decidi bolar um plano.

O Paradoxo e o Caio, não ficavam todo o tempo na base em um único dia específico, quarta-feira.

Nas quartas, eles passavam 3 horas monitorando a grande área do dungeons, deixando a base livre durante um tempo.

As escrituras eram guardadas com segurança no quarto do Paradoxo.

E os ADNS, sairiam para o intervalo noturno, como fazem todo dia. 

Era um dia de sábado, então eu espero pacientemente até a quarta-feira.

No fatídico dia, as 8:00 da noite, sigo para a mesa do QG, e janto junto aos outros ADNS, eu estava bem nervoso. 

Mas eram apenas papéis, só uma olhadinha não faria mal, faria?

Eu termino meu alimento, e espero com paciência que os demais saiam da mesa, todos saem, restando apenas eu e o Breno.

Ele me encara e me pergunta.

-Não vai sair para o intervalo Proerd?

Sorrindo, eu respondo.

-Vou, tô só descansando a comida, uns 20 minutos tá ótimo.

-Bom, vou ficar aqui com você então.

Filhadaputa, o Breno parecia um enviado por um demônio para me atrapalhar.

Passando os 20 minutos, eu saio, confirmando a minha saída, Breno também sai, finjo estar indo em alguma direção, até que ele vai embora.

Percebendo que não havia mais ninguém para me atrapalhar, eu volto ao local, e entro na base.

O Quarto do paradoxo era trancado, mesmo assim, eu tinha meus truques, sempre carregava um pedaço de arame justamente para momentos como aquele.

Eu consigo destrancar a porta, e coloco a mão na maçaneta.

A maçaneta era muito lisa, sentí a impressão de estar com as mão soando, e provavelmente estava.

Com cautela, olho para os lados, e imediatamente abro a porta.

Fecho a porta por precaução e olho em volta do quarto, lá haviam uma cama com lençol azul de bolinhas amarelas.

Me perguntava como um cara culto como o Paradoxo possuía objetos daquele nível.

Olho em volta e vejo duas prateleiras e uma escrivaninha a minha direita.

Uma das prateleiras era grande, lotada de livros, a outra prateleira tinha vários cadeados.

Parecia um trabalho difícil encontrar as escrituras por todos aqueles livros, faria mais sentido tentar abrir a prateleira com os cadeados.

Cautelosamente vou em direção a prateleira com os cadeados, e tento usar o truque do arame, quando de repente, escuto um barulho de passos do lado de fora.

Olho para o lado, e consigo ver um semblante pela janela, assustado, eu acelero as minhas tentativas de abrir os cadeados e ler logo as escrituras.

Até que eu olho para a janela novamente, e o semblante não estava mais lá. 

Escuto passos, e repentinamente alguém abre a porta do quarto do Paradoxo, era o Caio....

Eu penso em dar alguma desculpa, mas aquela altura, eu não podia fazer nada.

-Que vergonha Proerd, de todos os outros, você é quem eu menos esperava que fizesse algo como isso.

-Caio, o que faz aqui, você não saiu com o paradoxo?

-Pois é, e eu esqueci a minha espada, escutei um barulho e decidi vir ver o que é.

-Que decepção.

Paradoxo abre a porta e entra também no quarto.

-Proerd, faça suas malas, não quero mais te ver andando por este lugar.

-Você não tem mais o cargo.

-O quê??? Deixa eu me explicar por favor, eu juro que..

Caio interrompe.

-Vaza, seu merda.

No momento em que encostei minhas mãos na mala, a consciência pesou, mas atiçou mais ainda a minha dúvida.

O que diabos tinha naquelas páginas, o que diabos ele tanto esconde, aonde ele queria chegar com isso?

-O único que ele permitiu ler era o Caio, e veja bem, hoje em dia ele é um criminoso fudido, banido, vagando por aí.

-Eu passei todo aquele tempo tentando alertar os demais, mas diziam que eu era doido.

-Eu sempre soube que o Caio manipulava o Paradoxo de alguma forma, não só ele, o ambiente também.

-Ele nos isolava cada vez mais do Paradoxo, criando a impressão de ser o único confiável daquele lugar.

-Só de pensar nele, eu sinto ódio, eu odeio o Caio, com todas as minhas forças.

-Relaxa Proerd, ele já teve o que merece, você pode relaxar e dormir em paz agora.

-Não brinque comigo Rideki, acha mesmo que ele vai descansar assim tão facilmente?

-Caio não é do tipo que desiste dessa forma, a essa altura ele deve estar planejando uma vingança.

-Engraçado Proerd, não consigo imaginar como alguém poderia atacar um lugar como este.

-Eu presenciei na minha frente, uma luta entre dois ADNS, no dia do tumulto, impossível que apenas um cara vencesse mais de um daqueles caras, independente do quão forte esse Caio for, é impossível.

-O quê?

-Então você viu o Banimento do Breno, diga-me Rideki, então você estava na multidão naquele dia?? 

Parece que acabei falando demais.

-Vamos me responda.

De repente, escutamos um barulho de gatilho, vindo da entrada da vila.