Seus olhos pareciam se incomodar com a luz do sol que passava pelas grades indo de encontro com sua retina.
A cabeça de Colin doía com o barulho das rodas se movendo. Ao acordar, os Elfos na jaula naturalmente se afastaram dele, parecendo ter mais medo dele do que dos soldados que havia feito-os de prisioneiros.
Colin tentou se erguer e sentiu uma dor lacerante nas suas costelas.
Esses desgraçados me pegaram de jeito!
Arrastando-se, Colin recostou na grade de ferro e suspirou tentando manter a calma.
Seu olho esquerdo estava roxo e sua boca inchada, além de ter diversas escoriações por todo seu corpo.
Ele virou sutilmente o pescoço e chamou um dos cocheiros.
— Ei! — O cocheiro se virou. — Para onde estão me levando?
— Fique calado! Ou te usaremos de exemplo para esse bando de bastardos filhos da puta!
Tsc!
Enquanto a caravana se movia lentamente, a brisa fresca que soprava pelo campo trazia consigo um aroma de flores silvestres e grama recém-cortada.
O sol brilhava forte no céu azul, iluminando as montanhas que pareciam alcançar as nuvens. Colin observou com admiração a beleza da paisagem, mas logo foi arrancado de seus pensamentos ao ouvir os gritos e choros vindos das outras carruagens.
Ele olhou para o lado e viu homens, mulheres e crianças encolhidos uns contra os outros, alguns feridos, outros com olhares vazios e apáticos.
A dor e o sofrimento eram visíveis em seus rostos cansados e enrugados. Os grilhões que os mantinham presos eram pesados e desconfortáveis, cortando suas peles delicadas.
À medida que a caravana avançava, Colin notou que o caminho estava repleto de obstáculos: pedras, buracos, rios rasos e pontes precárias que pareciam prestes a ruir.
Ele sentiu uma dor aguda em suas costelas cada vez que a carruagem saltava sobre um obstáculo, e imaginou como os outros prisioneiros estavam se sentindo.
Ainda assim, a paisagem oferecia uma beleza que contrastava com a crueldade do tratamento que estavam recebendo.
Colin se perguntou se um dia voltaria a ver um lugar assim, ou se a vida de prisioneiro seria sua sina até a morte. Ele fechou os olhos e respirou fundo, tentando encontrar um pouco de paz em meio ao caos que o cercava.
Entre os Elfos, havia uma grande diversidade de aparências, a maioria era alta e esguia, outras eram baixas e robustas.
Alguns tinham cabelos loiros e cacheados, enquanto outros tinham cabelos escuros e lisos. Muitos tinham cicatrizes e marcas de batalha em seus rostos e corpos, indicando que haviam passado por muitos conflitos.
Os sacerdotes e acólitos élficos usavam roupas sagradas com detalhes em ouro e prata, com símbolos élficos bordados em seus mantos.
As freiras e monges também usavam roupas distintas, com véus e tons terrosos que denotavam sua devoção e modéstia.
Além disso, havia outras raças além de Elfos e humanos, como anões e orcs, cada um com suas próprias características físicas e culturais distintas.
— Por que jogaram um Elfo Negro aqui com a gente?
Colin virou-se para encarar uma Elfa com o semblante sisudo. Seu olhar de ódio era algo marcante, junto a pinta agressiva que tinha do lado direito da bochecha.
“Outra vez esse assunto.”
— Não entendi — disse Colin.
— Não entendeu? — A Elfa aumentou a voz. — Não estaríamos nessa situação se não fosse por vocês!
Colin encarou a mulher e deu de ombros.
— Não sei sobre o que você está falando…
— Ora seu-
Um dos guardas bateu sua espada na grade, fazendo um barulho alto e agudo.
— Calem a merda da boca ou corto a garganta de vocês, Elfos de merda!
Enfiando a cabeça entre as pernas, a Elfa, que antes bradava agressivamente, ficou em silêncio.
Os outros Elfos olhavam Colin de forma estranha, mas não dirigiram a palavra a ele, pois, aquelas pessoas de alma e coração quebrados conheciam bem as ameaças dos soldados do império de Ultan.
— Para aonde vamos agora? — perguntou um dos guardas ao seu parceiro que segurava as rédeas.
Fungando o nariz e depois dando uma escarrada para o lado, o cocheiro deu de ombros e sacudiu as rédeas.
— Você sabe, a gente vai se encontrar com o chefe no vilarejo ao leste daqui e depois ele decidirá para aonde vamos.
— Certo, acho que ele vai ficar feliz com os escravos que capturamos, temos até um Elfo Negro.
Por cima dos ombros, o cocheiro encarou Colin encostado na grade.
— O chefe vai decidir o que fazer com ele assim que chegarmos ao nosso destino.
[...]
[Quatro dias depois.]
Enquanto a caravana seguia em frente, Colin percebia que a fome e a sede estavam afetando não apenas as crianças, mas todos os prisioneiros.
Alguns pareciam frágeis e cambaleavam ao caminhar, enquanto outros já tinham desistido de andar e se arrastavam pelo chão, incapazes de continuar.
A sujeira e o mau cheiro eram insuportáveis.
Aqueles que não suportavam mais o fedor, se arriscavam a beber água de riachos e poças, muitas vezes contaminados. As doenças começavam a se espalhar, e Colin podia ver que alguns prisioneiros tossiam e espirravam sem parar.
Os soldados, por outro lado, pareciam se divertir com o sofrimento alheio. Eles riam alto enquanto comiam, bebiam e fumavam, sem se importar com a dor e a miséria dos prisioneiros.
À noite, o acampamento era um verdadeiro inferno.
As Elfas eram arrastadas para tendas dos soldados, onde eram abusadas sexualmente e espancadas. Os gritos e gemidos das vítimas ecoavam por toda a área, mas os soldados pareciam não se importar.
Colin, por sua vez, estava em um estado lastimável.
Suas feridas estavam infeccionadas e o cheiro de podridão que exalava delas era insuportável. Ele mal tinha forças para se mexer, e se sentia cada vez mais fraco e desnutrido.
A cada dia que passava, a perspectiva de sobreviver a essa jornada se tornava mais distante.
Em um gesto de bondade ou estupidez, Colin deixou os restos para as crianças e as mulheres. Uma decisão tola, mas ele se recusou a aceitar a comer algo tão nojento.
Engoliu em seco e tomou aquela água com o gosto horrível somente para não morrer.
[...]
O sol mal acabara de nascer quando os soldados começaram outro ataque, desta vez era uma vila grande.
Foi o encontro de dois pequenos exércitos contra uma vila indefesa.
O ataque à vila foi brutal e Colin não conseguiu fazer nada além de assistir.
Ele se sentia impotente e frustrado, tendo que testemunhar aquela crueldade sem poder fazer nada para impedir.
O massacre foi tão violento que a vila ficou irreconhecível, com casas e celeiros em chamas e cadáveres espalhados pelo chão.
Quando os soldados abriram a jaula, o caos se instalou.
Os prisioneiros foram jogados ao chão, muitos ainda enfraquecidos pela fome e pelo tratamento desumano. Os soldados pareciam não se importar com a vida dos prisioneiros e matavam indiscriminadamente aqueles que não conseguiam se levantar.
Colin, mesmo sentindo uma dor insuportável, se esforçou para ficar em pé, sabendo que sua vida dependia disso. Ele sentia o peso do seu corpo e as pernas ardendo, mas estava determinado a sobreviver.
Soldados separaram Colin do grupo, levando-o até uma tenda de panos vermelhos onde estava um homem grande e rechonchudo portando uma espada damasco.
Colin foi arremessado ao chão tão forte que viu estrelas.
— Não se mexa, Elfo! — ordenou um dos soldados.
Sem forças, Colin continuou lá, agachado e com a testa no chão.
O brutamontes ergueu-se e se aproximou do garoto.
— Um Elfo Negro? — disse o homem de barba volumosa e voz potente. — É um espião do império do sul ou do Oeste?
— Eu não sou um Elfo Negr-
Bam!
Colin levou um pontapé forte na cabeça.
— Só fale quando o grande líder se referir diretamente a você! — sua cabeça havia aberto mais um ferimento.
— Você, Elfo Negro, qual o seu nome?
— …
— Quer levar outro chute? — perguntou um dos guardas.
— Colin…
Sua boca doía só de ele tentar falar, mas ele não tinha escolha a não ser fazer o que estes homens mandavam.
— Você é Meio Elfo, não é?
— Sou um humano… como vocês.
Mesmo prostrado sem oferecer ameaça alguma, Colin foi recebido com vários chutes violentos por parte daqueles soldados que o trouxeram até a tenda.
— Não nos compare a você, aberração!
Enfiando as mãos no bolso, o chefe retirou uma pequena pedra negra. Era circular, do tamanho de uma bola de gude.
— Erga a cabeça, Elfo! — ordenou o chefe.
Tremendo de dor, Colin ergueu a cabeça e encarou o chefe que segurou a pequena esfera em frente a sua testa.
Depois de alguns segundos, ele guardou a esfera e suspirou com as mãos na anca.
— Planejavam vendê-lo?
Os dois homens se entreolharam e engoliram em seco.
— Si-S-sim, senhor!
— Pois esqueçam, este Meio Elfo é completamente inútil.
— Por que diz isso, senhor?
— Ele não tem magia. Mesmo para um Meio Elfo, ele deveria ter algo. Se o vendessem, ele valeria menos que a vida de uma Elfa puta.
O silêncio que tomava conta da tenda foi quebrado quando Colin foi recebido com outro pontapé sendo jogado para fora da tenda.
Ele teve um encontro nada agradável com o chão enlameado. Tentou se erguer, mas foi recebido com mais alguns socos e pontapés.
— Porcaria, você é mesmo um inútil!
Após terminarem de espancá-lo, arrastaram-no pelos cabelos até ficarem de frente para uma árvore de enforcados.
— Vamos colocá-lo na gaiola e deixá-lo ali morrendo de fome — apontou um dos guardas para a gaiola.
— Por que simplesmente não o matamos?
— Ele é a merda de um Elfo Negro, ele merece o pior castigo de todos!
Jogaram Colin numa gaiola e a ergueram, deixando-o pendente naquela árvore centenária ao lado de cadáveres enforcados.
A mente de Colin já não racionava mais devido à dor que sentia por todo seu corpo.
Seus últimos dias foram os piores.
Ele nunca apanhou tanto em sua vida, nem mesmo quando foi cercado por garotos de outro colégio e acabou no hospital por três dias.
Colin correu o olho por todo cenário caótico que se desenrolava bem a sua frente. Os soldados continuavam seu massacre, violavam mulheres e prendiam crianças, tudo isso acontecia em simultâneo.
Ele estava exausto para se importar, e em sua condição atual, ele não poderia fazer nada além de observar em silêncio.
Tudo que ele sentia era raiva, uma raiva descontrolada que ele nunca sentiu em toda sua vida.
Ele estava sendo tratado com menos dignidade que um cão.
Sua mãe sempre o ensinou a ser um bom garoto, uma pessoa gentil que estava sempre disposta a ajudar os outros e Colin tentou ser essa pessoa, mas isso apenas o arrastou para o fundo do poço onde raramente saía.
Suas mãos seguraram a grade enquanto ele observava os soldados um a um.
“Eu vou matar, vou matar todos vocês! Estripá-los, jogar seus restos aos cães, aos vermes, vocês vão se arrepender de terem feito isso comigo, eu juro!” Um sorriso assustador formou em sua face.
Colin não estava disposto a morrer novamente.
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