— Não acredito que ele mentiu na cara dura — Rilley diz pasma com a situação —

— Ele poderia ter me contado a verdade — ando em voltas em seu quarto — eu entenderia se ele me dissesse que começou a gostar de outra garota e que o sentimento por mim mudou, a gente terminaria e continuaríamos como amigos — me sento no puff — eu super apoiaria o novo namoro dele, mas ele mentiu que a mãe estava doente, depois mentiu dizendo que ela faria camarão no jantar e nem me deixou ver o celular.

— Invasão de privacidade você olhar o celular dele Live.

— Você está certa, fui um pouco além nessa parte — deito — nem sei se realmente havia uma conversa naquele celular, talvez ele estivesse falando com algum amigo e perguntando se algum lugar para me entregar o anel.

— Acho que você se exaltou, liga pra ele e tenta conversar — ela se aproxima e se senta no chão ao meu lado — você já tem dezessete, é mais velha que a gente e por isso deveria passar uma impressão mais madura.

Odeio quando me lembram disso, por conta das mudanças constantes, acabei tendo que recomeçar um ano inteiro do último ano do fundamental, com isso entrei no ensino médio atrasada e me tornei a mais velha da turma. 

— Você acha que eu deveria agir mais como adulta?

— Eu não acho, tenho certeza.

Rilley talvez tenha razão, sou um ano mais velha e enquanto todos farão seus dezessete anos, no final do ano farei meus dezoito anos. Serei considerada uma adulta pela lei.

— Vou mandar uma mensagem para ele e quem sabe resolvo essa situação.

Pego meu celular para mandar mensagem, Rilley se levanta indo deitar em sua cama enquanto teclava para alguém. Digito um oi para Jake e apago logo em seguida. Meus sentidos me dizem que não estou errada em ter terminado, posso ter me adiantado ou ter feito a coisa certa. Saio do quarto para ligar para Jake, fico atrás da porta enquanto espero ele atender. Não sei quanto tempo se passa, em cada toque meu coração se acelera. Acho que Jake não quer nem ao menos escutar a minha voz depois de hoje. Disco tantas vezes que perco a conta, mando alguns emojis para chamar a sua atenção e nada. Ele entra on-line e visualiza tudo, mas não me responde. Escuto uma risada de Rilley vindo de dentro de seu quarto, melhor ir embora.

Pode se dizer que a solidão de uma casa vazia e só para mim se tornou meu momento de prazer, sem barulhos de panelas caindo por conta de um certo senhor que cisma em fazer experimentos com argila e fogo na cozinha, odeio quando meu pai usa as panelas e deixa suja ao ponto de não ficar limpa nem que um meteoro a atinja. Peço para a assistente virtual tocar a minha playlist de yoga, ao escutar Nothing else metters sinto meu corpo se arrepiar, minha mente se sintoniza com a música tocada pela banda aproveitando cada segundo. Me sento no chão alongando meus braços para trás quando escuto alguém bater na porta, se não for um entregador trazendo meu novo kit de magia para iniciantes, nem a música será capaz de me fazer ficar relaxada. Abro a porta dando de cara com Jake.

— Posso entrar? — Olho para seu rosto suado, ou pelos menos acho que deve ser suor —

— Não, estou na minha sessão de descarregamento espiritual e amanhã vai ser um dia importante para mim, tive a minha cota de estresse demais por hoje.

— Desculpa, mas eu preciso mesmo conversar com você.

— Vai tentar me entregar o anel de novo? 

Ele se envergonha, estranho.

— O anel não era pra você — ele coça a cabeça — desculpa mesmo, mas… Live eu gosto de outra pessoa.

Bang! Um tiro certeiro em meu coração. O que ele faria se eu tivesse aceitado o anel?

— Então vá se encontrar com essa pessoa, não estamos mais juntos Jake.

— Eu não quero terminar com você, gosto de você e sinto carinho por todo esse tempo que passamos juntos, mas…

— Mas você não sente paixão por mim, não sente o mesmo que sinto por você — o abraço — Jake, eu amo você apesar de tudo, entretanto sei que o amor não me dá o direito de impedir você de achar a sua felicidade, eu te amo ao ponto de te deixar ir embora só para te ver feliz — eu me afasto dele — vá atrás da pessoa que você gosta, não seja um babaca dessa vez, se essa pessoa tiver alergias alimentares, por favor tente se lembrar.

Seguro meu choro, sinto a ardência em minha garganta subir.

— Sinto muito pela pipoca.

— Se sente mesmo, dê meia volta e corra atrás da sua felicidade.

— Mas e você? Como fica?

— Solteira e livre para namorar outro cara, dessa vez um cara que me trate bem.

— Fui muito babaca?

— Foi.

— Uma pena você me perder, não irá achar alguém igual a mim. 

Ouvi um glória? 

Assim se encerrou uma página da minha vida, Jake me deu um beijo na testa e foi embora sem se despedir. Ele foi babaca até o último segundo. O amor cega as pessoas, te coloca em um conto de fadas com correntes que te forçam a ficar e sentir tudo mesmo que doa, ao ver as costas de Jake eu desabei. Meus joelhos cederam e toda a ardência em minha garganta deu lugar ao oxigênio que insistia em sair me deixando cada vez mais sem fôlego, não preciso escutar um som de algo se quebrando para saber que meu coração agora está em pedaços. Eu não tô bem.