Mal acordei e já estava segurando o celular com entusiasmo, prestes a ligar para Gzhry para planejarmos nossa ida no VCXP, o evento mais esperado do ano em Suffragjord City, onde os amantes dos grandes robôs e aventureiros se reuniam para testemunhar os novos modelos da Von Voyage Company em ação.
- E aí, Gryz! Tudo pronto para o Voyage Con?! Vamos arrasar lá! - disse empolgado, enquanto verificava minhas roupas e ajeitava a caixa que escondia minha identidade humana.
Alguns segundos em silêncio, Gzhry responde, ele não demonstrava nem um pouco de entusiasmo, muito contrário disso, sua voz estava trêmula.
- Ah...! Caixeta, então, eu... Eu não posso mais ir ao evento. Foi mal, cara. - A ligação foi encerrada abruptamente antes que eu pudesse dizer algo. Fiquei confuso e preocupado. Não sei o que pegou com ele. Tínhamos combinado isso há semanas, ele é tão fã dos Voyageurs quanto eu...
Passado alguns minutos, sem receber retorno pelas minhas outras ligações e mensagens, decidi seguir em frente com meu plano, sozinho de agora em diante, e pegar trem até San Diego, onde aconteceria o VCXP. Seria uma "curta" viagem de apenas três horinhas. Depois de tomar uma longa xícara de café e com a caixa já na minha cabeça, saio determinado do meu prédio, com os fones em meus ouvidos tocando boa música dos anos 2000. Sou alguém imparável. Percebo a vida lá fora, era mais uma típica manhã com neblina branca sobre o céu, pra falar a verdade, nunca mais vi um único raio de sol dar as caras por aqui pelas manhãs, no máximo a tarde, igualmente naquela tarde que me aproximei mais de Gryz, e isso ainda é um acontecimento raro.
Tive a brilhante ideia de passar por algumas vielas para cortar o caminho usando seus atalhos até a na estação, nada pior como andar no meio dos bêbados adormecidos pelo caminho. Finalmente chegando ao local, notei ao redor e me vi cercado por zkhayans que pareciam ir no mesmo evento, já que a maioria estava em posse de algum merchan dos Voyageurs. Eu achava meramente curioso a diferença entre a espécie deles, como alguns que flutuavam suavemente no ar, uns baixinhos e ligeiramente parecidos com plantas, enquanto outros tinham pernas finas e alongadas que os levavam rapidamente para qualquer espaço. É pelo menos, a quarta vez que eu entro no metrô desta cidade e não deixo de achar estes seres fascinantes, com cada cores e texturas variadas.
Enquanto esperava o trem, continuei a observar a diversidade daquela multidão zkhayan. Alguns pareciam animados e conversavam animadamente em seus idiomas únicos, outros pareciam sérios e concentrados em seus próprios pensamentos. Era um verdadeiro mosaico de culturas e personalidades. De qualquer forma, meu sentimento de inquietação ainda perpetuava em meu coração, era inexplicável. Ainda pensando sobre o que Gzhry me disse, ou deixou de dizer naquela manhã... Uma coisa que ele havia comentado numa conversa que tivemos há tempos, é sobre ele sempre estar presente nos eventos dos Voyageurs, e, eu não sei ao certo se era culpa, se minha presença junto a ele fora do ambiente escolar que pode ter o incomodado pra ir hoje. O que poderia ter acontecido para ele mudar de ideia tão repentinamente? Fiquei me questionando enquanto estava perdido, com o olhar vazio saindo da caixa, tão perdido em meus pensamentos, desviando os meus olhos para os cantos aleatórios do local quando me deparo com as telas de notícia, tão aleatórias quanto, e olha só! quem diria que o maluco vestido de vermelho com uma guitarra-arma estaria sendo procurado pela Interpol por saquear 6 museus e ter bombardeado propriedades do governo americano e shopping centers. Muito excêntrico, eu diria, mas já gostei um pouco desse cara por estar vivendo a vida adoidado e... Puts! Uma lástima que tenham conseguido apreender a guitarra-arma dele pela segunda vez.
Sendo interrompido do meu mundinho, percebo que o trem predestinado para San Diego chegou. As portas se abriram, e rapidamente as criaturas iam adentrando em empurrões e cotoveladas, uma certeza era que todos queriam chegar ao VCXP, e aquilo significava que eu teria que enfrentar a multidão e procurar um assento disponível. Com a sorte de ser pequeno comparado com a maioria deles, consegui encontrar um lugar vago em outro vagão. Agradeci por isso mentalmente, pois não estava nem um pouco animado para a perspectiva de viajar em pé por cinco horas. Me acomodei no assento e respirei fundo, tentando relaxar um pouco antes da jornada.
De repente, um desconhecido usando uma típica jaqueta tech wear azul escuro, um capuz azul por baixo, calça branca com listras azuis, e, por último, uma máscara branca com um visor preto na localização dos olhos, o que fez que adivinhar que seja outro humao. Ele se aproximou de mim, rompendo meus pensamentos. Ele segurava com certa pressão, uma bolsa de lado. Sua presença misteriosa capturou minha atenção.
- Ahh, você também ser outro humana de Zuffragjord, ya?! Ser um pouca difícil encontrar humanos por aqui! Prazer em conhecê-lo." - ele disse com um forte sotaque alemão, estendendo a mão para cumprimentar. Fiquei surpreso o bastante para eu retirar meus fones do ouvido apenas para entender mais o que está rolando neste momento inesperado.
- Epa, sim! estou indo para o VCXP. E você?
- Também estou indo! Ich bin Lock! Eu ser um grande entusiasta dos Robôs da Voyage. O meu favorita é o Type2Beta- Wires. - o mascarado respondeu amigavelmente.
Apesar da máscara que escondia seus olhos, Lock parecia ser uma pessoa confiável e simpática, e logo nossas conversas sobre a Von Voyage e os robôs criaram uma conexão instantânea. Ele é realmente um humano como eu, o que era raro em Jord City, e nossa conversa fluiu de forma descontraída ao ponto de eu deixa-lo ouvir as minhas playlists do iPod. No entanto, por mais agradável que fosse a conversa com Lock, minha inquietação sobre Gzhry ainda persistia. Enquanto o metrô seguia viagem, tentei afastar meus pensamentos e me concentrar na empolgação do evento que me aguardava.
Inesperadamente, a atmosfera do vagão mudou de forma drástica quando um grupo estranho adentrou o local. A GANGUE DO ENIGMA entrou com uma aura de intimidação, são um grupo de delinquentes liderados por Edgyar, uma esfinge cyber-alienígena, a parte superior do seu torso, zkhayan e musculosa, contrastava com a parte inferior, que se assemelhava a um cavalo robótico, com membros poderosos e reluzentes. Todos ao redor ficaram tensos e correram para o outro vagão, mas eu e o mascarado fomos impedidos de fugir pelos capangas da gangue. Edgyar, com uma presença sádica, pousou seus olhos sobre mim, apontando com sua garra para a minha direção.
- Olá, humanos! O que temos aqui? - a esfinge falan enquanto encara eu e o Lock - Oho! vou começar com você, cabeça-de-caixa. - sua voz era um sussurro ameaçador. Tentei disfarçar meu nervosismo enquanto ele se aproximava, mas não consegui evitar que minha expressão corporal entregasse um pouco do medo que sentia. Entrei numa cilada.
- E-eu não quero encrenca, por favor... - gaguejei, desejando estar em qualquer outro lugar naquele momento. Edgyar sorriu com malícia, jogando seu topete para o lado, parecendo se divertir com meu desconforto.
- Ah, mas não é uma simples encrenca, meu caro. Vamos fazer um pequeno jogo. - ele propôs, deixando-me ainda mais inquieto.
Um jogo? Ou se não é um e seus enigmas... Eu não sabia qual enigma esperar vindo desse delinquente, mas não tinha escolha a não ser tentar jogar e ganhar tempo.
- Tudo bem, estou pronto. - respondi, tentando disfarçar minha ansiedade e confiando em meu potencial. O mascarado tentava recuar comigo puxando-me pelo casaco, mas persisti para continuar ali. Edgyar lançou seu enigma:
- Oho! Ok,ok, aqui vai: "Sou uma ponte que ninguém pode cruzar, pois de um lado estou, e do outro não estou. Quem sou eu?"
Passei alguns momentos imerso no enigma proposto pelo o delinquente. Suas palavras flutuavam na minha mente, formando um quebra-cabeça intrigante que eu precisava resolver. Eu não tinha certeza se estava certo, mas decidi arriscar. - É... b-bom, uma ponte que ninguém pode cruzar, mas que está de um lado e não está do outro... Não seria a estrada? - minha voz soou hesitante, enquanto eu apresentava minha resposta. Os olhos turquesa e característicos do Edgyar brilharam com um toque de divertimento. Parecia que ele estava se deleitando com minha tentativa de desvendar seu mistério. A atmosfera estava carregada com uma tensão estranha, como se aquele encontro fosse mais do que simplesmente um jogo.
- Oho! Muito bem, você é esperto! - ele declarou, mas sua entonação carregava um tom de sarcasmo. Senti um calafrio percorrer minha espinha. - Mas infelizmente, está ERRADO!
Senti um nó de frustração se formar em meu peito. Meu palpite tinha sido em vão, e a resposta que eu buscava continuava esquiva. No entanto, antes que eu pudesse expressar minha decepção, Edgyar sorriu de maneira sinistra e se inclinou em minha direção, como se estivesse prestes a revelar um segredo sombrio.
- A resposta real, meu jovem desafiante, é a vida após a morte - Edgyar se abaixou e sussurrou pausadamente em meu ouvido com uma entonação de suspense, como se estivesse compartilhando algo profundo e perturbador.
- O QUÊ? COMO? - Fiquei em completa confusão. A resposta era tão inesperada que minha mente levou um momento para processá-la. Edgyar estava jogando um jogo muito mais sujo do que eu tinha imaginado. Enquanto eu tentava assimilar essa reviravolta inesperada, o zkhayan soltou uma risada sinistra, em seguida a expressão de Edgyar mudou abruptamente. Em seu semblante mostrava um misto de crueldade e diversão, e antes que eu pudesse correr com Lock, ele golpeou-me com uma joelhada em meu estômago numa velocidade sinistra. Sua perna robótica se ergueu e me atingiu com força, derrubando-me ao chão com um impacto doloroso. Eu lutei para me levantar, minha mente correndo em busca de uma maneira de me defender mas a esfinge é ágil e implacável, desferindo golpes que me deixava sem defesas. Suas patadas caíram sobre mim como martelos de ferro, eu tentei bloquear seus ataques, mas a força de suas investidas era avassaladora. Cada vez que eu tentava me levantar, Edgyar me derrubava novamente, como se estivesse brincando comigo antes de dar o golpe final.
Entretanto, algo começou a mudar. Uma sensação estranha tomou conta de mim; esta sensação que me envolveu era estranhamente familiar, como se eu já tivesse experimentado isso antes, mas agora veio em um nível muito mais intenso. Minha visão se turvou, e eu senti meu corpo ceder sob o peso que lutava para emergir de mim, e de novo, lutei para me manter de pé, minhas mãos apoiadas contra a superfície fria do piso do vagão. A esfinge, agora parado, estava rindo enquanto me olhava sofrendo. Eu estava fraco e vulnerável, uma presa fácil para ele. Com um último esforço, consegui arrastar-me para um canto do vagão, minha mente estava confusa, mas um pensamento claro atravessou a névoa de agonia que me envolvia: eu não precisava conter aquela força que se agitava dentro de mim. Com as mãos trêmulas, agarrei a caixa que havia sido jogada da minha cabeça e regurgitei ali mesmo, sentindo minhas entranhas se revirando com a violência do esforço. E então, como se fosse um reflexo do meu próprio tormento, a escuridão emergiu de mim. Minha reminiscência surgiu da caixa, já havia me esquecido de como sua presença era uma mistura estranha entre uma forma humanoide e o aspecto de um corvo gigante. Suas penas escuras se misturavam com a penumbra ao seu redor, dando-lhe uma aparência etérea e aterrorizante.
A presença da minha reminiscência pareceu encher o vagão, eu senti sua energia sombria colidindo com a aura ameaçadora de Edgyar, que se encaravam. Duas forças opostas, cada uma lutando para dominar a outra na batalha psicológica da encarada. Ouvi a reminiscência emitir um som estranho, uma mistura de grasnidos de corvo e murmúrios indistintos. Era como se ela estivesse se comunicando com Edgyar de alguma forma que eu não conseguia compreender. Minhas forças se esgotaram completamente, e eu me vi caindo em um abismo de inconsciência, a batalha ao meu redor se transformando em uma cacofonia distante enquanto a escuridão me envolvia mais uma vez.
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