Me sento na cadeira pensativa, não é fácil contar para as pessoas que você irá se mudar, sumir da vida delas de repente. Rilley chega correndo na sala toda sorridente.
— Qual o motivo da alegria da senhorita Cinderela? — Rilley se senta ao meu lado mostrando a mão —
— FUI PEDIDA EM NAMORO — ela da seus gritinhos de felicidade, reparo em seu dedo anelar um anel, eu conheço esse anel —
— Quando foi que você arranjou um namorado? — meu coração sente uma facada —
Rilley começa a mexer em seus dedos como se quisesse mudar de assunto.
— Eu estava conversando com ele por mensagens fazem algumas semanas, saímos pela primeira vez no começo do mês e continuamos nos encontrando — fixo meu olhar no anel, o que todo mundo teve no começo do mês? — no domingo ele foi me visitar em casa e me pediu em namoro.
Um anel com uma pedra vermelha em formato de coração, tinha que ser esse anel?
— Parabéns Rilley — tento dar o sorriso mais falso que consegui para disfarçar o quanto eu estava me sentindo traída — deram o seu primeiro beijo ontem?
— Não, já havíamos nos beijado antes.
— Ontem vocês só oficializaram.
— Parando para pensar, meio que já estávamos namorando mesmo.
Obrigada pai por me forçar a mais uma mudança, dessa vez não sentirei nenhum pingo de saudades.
— Espero que você e o Jake sejam felizes juntos.
— Obrigada Live — ela sorri e de repente arregala os olhos se dando conta do que acabou de acontecer — eu não te disse o nome dele.
— Não precisou me dizer, o anel já disse tudo.
Me levantei da cadeira pegando minha mochila, não preciso vim a escola quando estou próximo de sumir dessa cidade.
— Live, espera. A gente precisa conversar — ela segura meu pulso —
— Não precisamos.
— Claro que precisamos, como vou conseguir conviver com a minha melhor amiga desse jeito?
Solto sua mão me segurando ao máximo para não torcer seu braço e o quebrar.
— Para a sua sorte, você não precisa mais conviver comigo.
— Como assim?
— Vou embora da cidade, provavelmente semana que vem já estarei em outra escola e você poderá aproveitar seu namoro sem a ex namorada que foi corneada.
— Live, você precisa entender o meu lado.
— E quem vai entender o meu?
— Eu entendo o seu lado, mas será que você pode focar no meu lado dessa vez?
— Quando é que não foi sobre você nessa amizade Rilley?
Saio da sala deixando para trás a última página desta vida atual.
Enquanto espero o ônibus para voltar para casa, olho em minhas redes sociais em busca de algo que possa me distrair dos pensamentos negativos, observo que VIVA fez um novo post.
Em respeito aqueles que me odeiam, vou continuar postando trechos das músicas ~ continuem me odiando enquanto escutam minhas músicas, ganho visualizações grátis ~
Isso me tira uma gargalhada tão alta que me assusta, como ele consegue postar essas coisas sem ter um pingo de vergonha na cara? Abro a conversa em seu perfil, VIVA nunca olha as mensagens privadas dos fãs e com isso eu ganhei um lugar para desabafar sem medo de ser julgada.
Caro VIVA, se eu te contar que fui traída por minha colega e namorado, você iria rir da situação? Espero que sim, já que eu estou tentando o máximo possível para não surtar e levar tudo como algo do passado que você usa no futuro como piada e todos riem. Eu seria presa se os prendessem em um prédio velho e os encharcassem de gasolina? Se bem que a gasolina está cara. Posso trocar por álcool de supermercado. Ontem meu pai falou que vamos voltar a minha cidade natal, nem sei como lidar com isso. Me traz memórias amargas.
Envio sentindo meu coração se aliviar, eu só precisava desabafar sem se preocupar com a opinião de alguém. Coloco meus fones dando play a nova música de VIVA. Saudades. Deixo a bomba guardada dentro de mim explodir, tudo se desaba.
Colocar um fone de ouvido e escutar sete horas de Taylor Swift enquanto imagina estar em um filme romântico trágico, é um ritual que adotei após anos de mudanças inesperadas. Se bem que dessa vez não preciso inventar um romance trágico, minhas histórias imaginárias se tornaram realidade. Sinto minha testa pinicar.
Voltar para aquela cidade que neva tanto que falta te congelar e consegue no verão ficar quente a ponto de te assar na rua, é um misto de emoções. Dessa vez mamãe não estará junto, já meu pai passará mais tempo nos campos de pesquisa do que em casa e eu vou estar a todo tempo sozinha, uma escola nunca frequentada e nem ao menos sei se as pessoas se lembrarão de mim. Sou altamente esquecível. Não importa o quanto me destaque, sempre vão se esquecer de mim, isso nunca muda. Ponto positivo quando quero recomeçar, porém...sou tão rasa a ponto de nem conseguir manter uma amizade a longa distância? Me lembro de cada pessoa que entrou e saiu de minha vida, mas nenhuma delas se lembram por muito tempo, e no fim, as memórias permanecem guardadas apenas em meu coração. Do que adianta ser popular ou reconhecida se tudo aquilo é falso? Temporário?
Entrar em casa me trouxe memórias da era de ouro, as paredes continuam com meus rabiscos e o cheiro de lavanda preenchem minhas narinas.
— Pai? — o chamo —
Meu pai aparece na porta de entrada carregando uma enorme caixa.
— Me chamou querida?
— Ainda está com cheiro de lavanda, alguém veio cuidar da plantação?
Meu pai me olha sem entender.
— Querida, está puro cheiro de mofo — ele põe a caixa na cozinha — a casa ficou fechada por anos, vou precisar chamar a inspeção para ver se teremos problemas em morar aqui. A mini plantação de lavanda deve ter morrido a anos.
Eu não sinto o cheiro de mofo, só consigo sentir a lavanda que a mamãe usava para fazer perfumes e espalhava pela casa.
— Continuo sentindo o cheiro da lavanda...— sussurro para mim mesma —
— Disse algo querida?
— Não é nada pai, vou limpar meu quarto ou não vou conseguir ter um lugar para dormir.
Subo as escadas seguindo pelo corredor parando em frente à porta com borboletas pintadas ou pelo menos eram para parecerem borboletas, me lembro de quando entrei em meu primeiro clube de artes e sai desenhando em tudo que é canto, reluto em tocar na maçaneta. Conto até vinte e respiro fundo sugando todo o ar ao meu redor o soltando violentamente, dou um espirro ao sentir o pó da poeira adentrando minhas narinas, agarro a maçaneta abrindo a porta. Meu quarto continua do mesmo jeito, a parede branca com marcas de bola que foram chutadas quando treinava para o meu primeiro campeonato de futebol, uma prateleira solta que antes era lotada de livros de biologia e botânica. A minha cama comparada agora é extremamente pequena, toda empoeirada. Devíamos ter contratado alguma empresa para limpar a casa antes da mudança. Eu não queria ter voltado aqui. Mamãe me ajudou a decorar o quarto e meu pai abriu uma enorme janela só para me proporcionar uma luz matinal. É solitário. Amargo. Tão azul.
Quando percebo, já estou sentada na cama soluçando de tanto chorar. Meu peito dói, minha garganta seca, é como se todo o ar estivesse acabando a cada inspiração, tudo começa a arder. Isso dói! Dói lembrar de tudo e saber que não terei nada daquilo de volta.
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