Eu não entendo como a situação ficou tão desesperadora, juro que tudo o que eu queria era justiça. - ######
A Capital era dividida entre distritos. Cada uma das áreas reservada para antigos impérios que sobreviveram ao longo dos séculos. Ruas largas eram completamente preenchidas por pessoas que se movimentavam de lugar a lugar, negociantes e vendedores ficavam à espreita, esperando o momento perfeito para lucrar ao máximo.
Kale Mori driblava todos esses obstáculos e caminhava pelas calçadas com pés rápido e um objetivo em mente.
O sol do verão era quente e incessante e o conglomerado de pessoas tornava difícil que Kale não se sentisse desconfortável com o grande calor.
Lojas, mercados, feiras, grandes edifícios passavam por suas laterais, mas nada que fosse de seu interesse, depois de passar horas em outros distritos procurando incansavelmente, Kale estava irritado e completamente sem paciência.
Cansado da busca, Kale encostou em uma grande parede de pedras antigas e parou para pensar na maneira mais inteligente para seus próximos passos, uma vez que andar de rua em rua não teve um resultado satisfatório.
Ao contrário da opinião dos que passavam, Kale não era um turista e muito menos estava ali por prazer.
Kale Mori tinha um trabalho. Um ofício complicado que estava com dificuldade de realizar.
Naquele momento, ele era um caçador, e por incrível que pareça, sua presa não era humana, muito menos viva. Ele estava caçando livros. E não qualquer tipo de livros, mas um conjunto de exemplares valiosíssimos que deveriam ser resgatados.
Kale trabalhava na Biblioteca Real, na proteção dos livros mais raros em todo o Continente.
E sua missão no momento, era a parte do trabalho que ele menos gostava. Catalogar antigas edições. Reescrever obras estragadas. Pesquisar com vários objetos de estudo. Todas áreas que ele fazia com prazer e satisfação.
Sair em campo, e procurar na maior cidade do Reino por livros? Ele desgostava daquilo em nível alarmante. Porém, ele estava sem opção, negar ordens superiores e diretas estava fora de cogitação.
Dessa forma, Kale procurava pelos grandes nomes de mercadores há semanas, tudo por aquele conjunto.
Encostado na parede, Kale retirou de seu bolso um papel entregue por seu Mestre. Uma ajuda para quando seu pupilo mais precisasse, lugares que poderiam servir de farol para encontrar seu objetivo.
Kale verificou os nomes, e seguiu seu caminho olhando de loja em loja até achar o que precisava, com sua atenção em outro lugar, Kale não viu que seu caminho se cruzava com de outra pessoa.
A batida foi eminente.
Kale se assustou dando alguns passos para trás, mudando sua direção. Ele trocou desculpas rápidas com o senhor em que trombou e estava pronto para seguir seu caminho.
-Cuidado. – Alguém gritou ao longe.
Kale foi puxado pelo senhor, uma vez que não tinha visto que saiu da calçada e estava preste a ser atropelado por grandes carruagens. O barulho das rodas fez Kale acordar do susto.
Ele virou ao senhor.
-Obrigado. – Agradeceu, o senhor se afastou, mas Kale continuou olhando para a estrada, vendo o grande número de carruagens pretas e cinzas descendo as ruas e fazendo voltas por toda a cidade.
Aquela carreata acontecia a dias. E era a primeira vez que Kale prestava atenção. Ele percebia as vestes escuras de todos que andavam pelas pedras, notou os semblantes triste, as lágrimas que caíam e as orações silenciosas que faziam à Deusa Suprema, para levar a alma do falecido para a paz.
O povo estava de luto.
O próprio Kale estava de luto. A perda recente ainda era uma ferida dolorosa no Reino.
O Rei Sarkov tinha falecido.
Kale ainda se lembrava da noite em que recebera a notícia, ele sempre fora um homem tranquilo, não gostava de aventuras de madrugada e as fazia com pouca frequência, naquele dia, no entanto, foi um período difícil, com feridas antigas, que ele achava que já tinha cicatrizado, voltando à memória e doendo de novo. Seu coração estava ferido e sua mente angustiada.
Ele achou que um copo de cerveja ajudaria as coisas. Homem tolo, é claro. Nenhum copo de bebida podia aliviar aquele tipo de dor. Ele, porém, continuou tentando, copo após copo.
No meio da sua diversão, quando sua mente estava avoada, dando risadas com pessoas desconhecidas e subindo em cima de mesas, o sino do Palácio tocou.
E aquele sino tocava em apenas ocasiões muito especiais. Kale que estava em cima de uma cadeira se assustou, o primeiro pensamento era que o Reino tinha entrado em guerra. Mas, não era isso.
Toda a taverna tinha ficado em silêncio, as risadas cessaram e o único som, o som que ecoava alto o suficiente por toda cidade era o incessante badalar do sino. Todos se apressaram para sair do local e olhar para a grande chaminé do Palácio.
Se a fumaça brilhasse vermelho, era sinal de invasão. Se brilhasse verde, era doença. Se brilhasse preto, era morte.
A névoa saiu tão escura quanto carvão. O Rei tinha morrido. Morrido e deixado um legado de proteção que nenhum outro Rei jamais deixou.
Então, é claro que o povo todo estava de luto.
A Biblioteca Real, que tinha sido grandiosamente apoiada pelo Rei estava de luto. Kale tinha as vestes pretas para provar isso.
Ele respirou fundo e deixou a triste memória em sua mente de novo.
Kale procurou até achar. Um pequeno letreiro, entre duas grandes lojas, uma de tapetes coloridos e outra de temperos exóticos. No meio de ambas, em uma porta de madeira velha e estreita, havia um letreiro escrito:
Antiguidades e Relíquias do Além- do- Mar
Kale se permitiu um momento de satisfação. Ele olhou para a porta com um sorriso discreto e entrou com extremo cuidado.
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