Khoedros, Gaiiau Central
Kivuli acordou parcialmente, com o som da porta do banheiro batendo. Ainda sonolenta, pegou seu celular e olhou as horas: 9:23, resmungou e pegou no sono novamente.
Com o ranger da porta do banheiro se abrindo, despertou de vez. Nota mental: passar oléo nesse inferno de porta, pensou. Ela se virou em direção ao barulho, apertou os olhos e bocejou. Em sua visão estava um garoto de altura média e pele preta. Ah, o francesinho.
Ela o observou com mais calma que mais cedo: tinha cabelos num degradê que começava preto e terminava verde, com cachos bem fechados. Seus olhos também eram verdes, mas com um aspecto acinzentado. Nuit vestia uma calça de moletom preta, apenas, sem camisa e de chinelos. Estava secando seu cabelo com uma toalha, também preta.
A ruiva balbuciou algumas palavras e pegou seu celular novamente. Dez horas. Havia uma notificação de Segrel, mas ela nem prestou atenção e levantou furiosa.
— Qual é o seu problema? — o garoto colocou seus fones e a ignorou, enquanto vestia algumas correntes e uma gargantilha de espinhos — Tu não tá na sua mansãozinha de merda, Riviére, quase uma hora no chuveiro? Não é você que paga as contas! — continuou a ignorado, agora vestindo braceletes pretos, aparentemente de couro. Ela foi até ele e estalou os dedos na frente de seu rosto, para chamar atenção — Estou falando com você — Nuit parou e subiu a cabeça, olhando dentro dos olhos de Kivuli. Seu olhar era frio e intimidador, mas ao mesmo tempo magnético. Era como se milhares de borboletas invadissem Kiki, passando de seus pés a sua cabeça, porém ela manteve sua pose — Achei que não poderia me surpreender mais… — riu sarcástica, ele levantou uma sobrancelha — Achei que francês não gostava de tomar banho. Por essa eu não esperava!
— Estereótipos, garota? — não dava para saber se seu tom era desinteressado ou cínico, qualquer uma das opções deixava Kivuli com vontade de quebrar a cara do francês.
— Não sou uma garota — virou os olhos — Só vê se não gasta água, tu não tá na sua mansãozinha.
Antes de ouvir alguma resposta, a jovem partiu em direção ao banheiro, esbarrando nele, que voltou ao que estava fazendo. Vou mandar a conta para aquele empresário metido a galã, só pode estar de brincadeira. Resmungou enquanto lavava seu rosto e escovava os dentes. O dia vai ser longo, suspirou.Após concluir que a falta de sono só deixaria ela mais irritada, Kivuli voltou a se deitar. Nuit estava sentado, rabiscando em um caderno. Ela adormeceu enquanto observava aquela figura que a despertava curiosidade.
Quando estava começando a entrar no sono pesado, Kivuli despertou com gritos e batidas em sua porta.
— NARCISA! — ela levantou, irritada e abriu a porta.
— É NAKISISA! — devolveu no mesmo tom — O que é?
— Eu NECESSITO de um banho quente, esse banheiro é podre e não tem banheira! — era Zeynep, de roupão, reclamando.
— Tu só pode estar de brincadeira…
— Eu estou com cara de quem está brincando? Eu tenho um evento daqui meia hora e não consigo ser produtiva sem meu banho de banheira!
— Com todo respeito, ó, dona influencer — ela fez uma pausa — O que eu tenho a ver com isso? Se ta achando ruim, sei lá, vai pra um hotel, não me enche o saco porra! — mordeu o lábio, com certeza esses filhos do italiano a deixariam doida.
— Me desculpe pela minha irmã — Eymen apareceu, tentando contornar a situação, e começou a puxar Zeynep.
— É, é, tanto faz — Kivuli respondeu no automático e fechou a porta e voltou a tentar dormir.
Porém era tarde. Já estava estressada demais para conseguir recuperar seu sono, rolava de um lado para o outro na cama até se jogar no chão. Nuit permanecia imerso em seus desenhos. Apenas acordou de seu devaneio quando ouviu o estrondo da porta do quarto batendo e Kiki descendo ferozmente pelas escadas.
Kivuli andava de um lado para o outro, da sala para a cozinha e vice-versa, já que entre ambas havia apenas um balcão. Ela estava com tédio. O inferno da porta tinha a acordado, o inferno dos irmãos a estressou e agora ela não conseguia mais dormir, que inferno! Segrel provavelmente estava trabalhando e ela não tinha mais nenhum amigo ali. O tic tac do relógio continuava a deixando louca, e ela estava pronta para quebrá-lo ao meio, quando uma voz doce a interrompeu.
— Com licença — Kivuli olhou para o sofá, onde Yanna e Aaron estavam sentados, a observando.
— Tem pizza na geladeira — respondeu no reflexo e voltou a seu plano de destroçar o relógio.
— Não é isso — a ruiva parou novamente e tornou a olhá-los, agora pensando um alemão e uma russa? Que amizade irônica — A gente queria saber se você tá precisando de alguma coisa…
— Ela quer saber — completou Aaron.
— Entendo que todo mundo aqui tá com uma energia negativa pelo que aconteceu, deve ter te afetado — sorriu, Kiki franziu as sobrancelhas — Se quiser podemos meditar juntas.
Kivuli segurou profundamente o riso e Aaron se pronunciou novamente:
— Eu só quero acesso à rede, mesmo.
— Claro, qual o IP de vocês? — aliviou-se pelo garoto mudar de assunto — Aliás, qual o seu? Eu faço um grupo e tu adiciona todos seus irmãos, pode ser?
— É DIV — ditava devagar — B4D3v.
— Ok… Weeca, criar grupo: Inquilinos — recebeu a confirmação da Assistente virtual da casa — Adicionar o usuário DIV-B4D3v ao grupo e torná-lo administrador — mais uma vez confirmado — Querem mais algo? — perguntou desanimada.
— Eu quero! — a figura de Zeynep apareceu novamente.
Eu me recuso, por hoje chega! Pensou Kivuli e saiu pela porta, sem olhar para trás. Ela iria procurar Segrel. Não sabia sequer se ele estava em casa, mas qualquer lugar era melhor que a sua no momento, então ela tinha que tentar. Não era tão distante, porém nada agradável para ir a pé.
Mas ela foi.
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