Para a física se você é o ponto de referência e está caminhando, as coisas ao seu redor estão em movimento e não você. Isso acontece pois ao caminhar você exerce força para empurrar o chão para trás e o chão te empurra para frente, ou seja, para toda ação existe uma reação. No meu caso, a ação atual foi o meu punho acertando a cara de Ítalo e a reação foi a cabeça dele sendo empurrada para trás em uma velocidade impressionante. Calma, irei explicar como chegamos a essa situação.
Consegui sobreviver aos primeiros dias como novata, conheci alguns colegas que transformaram a minha afobação em calmaria, finalmente iniciei a minha jornada de aceitação de uma vida nova, ou melhor, de uma vida antiga que foi repaginada.
— Olive, você precisa entrar no clube de futebol — Rita se joga em mim suplicando — precisamos de uma zagueira e você é perfeita para o papel.
Em busca de achar um clube para passar meu tempo vespertino, fiz teste no clube de futebol e pode se dizer que quase fui amarrada pelas integrantes é jogada em um porão e eu só poderia sair dele após assinar a minha ficha de entrada no clube, consegui escapar da treinadora e suas miniaturas masoquistas, mas Rita infelizmente é minha colega de turma então eu meio que sou perseguida por ela durante as aulas.
— Rita, eu preciso testar mais opções antes de entrar no seu clube, quero experimentar tudo e ter certeza da minha escolha.
Pode se dizer que sou uma Barbie humana, já participei de tantos clubes e testei quase todos os esportes existentes em toda a minha existência, gosto de tudo, entretanto isso não quer dizer que eu ame tudo, não achei algo bom ao ponto de fazer meu coração palpitar e me fazer ficar obcecada e querer fazer aquilo pelo resto da minha vida. Isso não vale só para os esportes, matérias escolares são do mesmo modo. O ensino médio está próximo do fim, o que farei depois dele? Uma faculdade? Mas qual curso? Posso começar a trabalhar em uma empresa antes, mas para qual rumo devo me candidatar? São milhões de possibilidades e eu não sei qual devo escolher.
— Qual clube você participava em sua antiga escola? — Jude pergunta desgrudando Rita de mim —
— Eu estava no karatê — sinto uma pontada em meu peito, me lembrar do karatê me deixa triste. Ninguém me ligou ou ao menos mandou uma única mensagem, não fui respondida por ninguém e sei que já fui esquecida por eles —
—Quer visitar o clube de karatê? Quem sabe você goste de lá — Jude entrelaça seu braço ao meu — vamos lá, você precisa ver os uniformes — Rita se agarra ao meu braço esquerdo me parando — solta ela Rita, Live precisa conhecer e dar oportunidade a outros clubes além do seu.
— Mas se ela ver o clube de karatê, vou perder o lugar de escolha.
— Não custa dar uma olhada Rita, se não gostar ou achar o clube de futebol melhor, vou me inscrever no seu clube — Rita me solta —
— Promete?
— Prometo, se eu não achar algo que me entusiasme, vou para o seu clube.
Jude me leva a um galpão enorme e ao abrir a porta revela diversas pessoas vestindo seus kimonos coloridos, me aproximo de Jude sussurrando.
— Por que eles estão coloridos?
— Eu te falei que você ia gostar daqui, eles não usam faixas para identificar o nível, a cor do kimono que indica — ela me arrasta pelo galpão, reparo que os tatame são novos e as paredes contém desenhos antigos com frases em japonês, os alunos pararam seus treinos para prestar atenção a garota que estava sendo arrastada por uma outra garota com cabelo de cabelos verde Shrek — Professor — ela chama atenção de um muralha segurando pesos como se fosse simples papéis — essa é a nova aluna que te falei, Olive.
Ele me olha sério e logo estende a mão direita.
— Seja bem vinda Olive.
— Ah... eu meio que não vou entrar no clube — ele muda sua face confusa — estou testando novas coisas e Jude me falou para visitar o clube, quem sabe eu não me adapte.
— Entendo. Já que quer testar, que tal uma partida com um dos nossos alunos?
— Não quero um faixa preta, então meio que agradeço se não me fazer lutar com algum desse tipo.
— Não temos alunos de kimono preto, consegue dar conta de alguém abaixo do kimono preto?
Eu com certeza consigo derrotar alguém abaixo da faixa preta, eu sou recém faixa preta e não sei se consigo derrotar alguém da mesma cor, se o oponente for mais experiente tenho certeza que vou levar um soco em um piscar de olhos.
Um aluno em um kimono azul entra correndo parando ao lado do professor. O azul combina com ele, deixando seu vermelho em um destaque ainda maior.
— Olive, que tal lutar com um aluno atrasado? — o sensei cutuca Ítalo que está agachado recuperando seu fôlego, ele levanta sua cabeça me encarando —
— Eu topo, vai ser ótimo fazer um pouco de exercício físico hoje.
Ítalo se levanta com um sorriso lindo, digo, horrorosamente lindo. Qual é? Não dá para não elogiar o garoto que conseguiu alugar um triplex na minha mente, em minha defesa o ruivo dele é chamativo demais para que eu não elogie.
— Oliver você por aqui — ele se endireita — vou pegar leve contigo, vai ver como sou incrível em muitas coisas.
Jude vai em seu armário e volta com um short em suas mãos.
— Coloca por baixo da saia, vai ser um treino rápido e você não vai precisar usar um kimono.
Vou atrás de uma pilastra com Jude, ela usa seu casaco para me proteger de qualquer parte exposta, coloco o short em uma velocidade que me impressiona, se eu tivesse essa velocidade ao me vestir de manhã para vim a escola, não precisaria acordar mais cedo com medo de me atrasar.
Voltamos ao tatame, Ítalo fica em posição de combate enquanto eu fico em defesa, meus primeiros movimentos sempre são de defesa, preciso descobrir um pouco do modo de luta do adversário antes de atacar. O sensei grita um alto "Rá" e não sei o que houve com o meu cérebro, ao invés de me fazer defender eu ataquei Ítalo sem nem ao menos dar tempo de reagir. Meu punho o acerta em cheio e sua cabeça cai para trás o fazendo cair de bunda no tatame.
Eu me desespero, sou uma recém faixa preta que acabou de dar um soco em um faixa azul. Isso é injusto ou sei lá o que possa ser.
— Você está bem? — pergunto me agachando —
Ítalo continua com a mão no rosto, deve estar doendo muito e talvez seu nariz tenha saído do lugar. O sensei chega próximo e retira as mãos dele do rosto, revelando um sorriso maroto.
— Eu estou completamente bem Oliver, seu soco dói muito — ele estende sua mão — você foi incrível, parabéns por me derrotar.
Sinto meu coração querer sair do lugar. Pela primeira vez sinto o calor que eu precisava, achei o meu lugar.
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