- Isso é tudo, Senhores? - questiona Wisdow, olhando para Thamiso e Ílliou.

    - Sim, senhor. Esse é o relatório final da missão

    - Ótimo. Antes de eu dispensá-los, tenho algo para conversar com vocês. Peço que sentem-se um pouco.

    Thamiso e Ílliou, curiosos com o que estava por vir, puxam as cadeiras rapidamente e sentam, sem dizer uma única palavra e dando espaço para que o general prosseguisse.

    - Eu sei que vocês acabaram de retornar de uma missão e estão cansados, afinal, foram sete dias fora. Entretanto, eu gostaria que os senhores, caso decidam visitar suas famílias, estejam de volta à capital em no máximo 11 dias - diz Wisdow, com seriedade.

    - Claro, Senhor. Estaremos aqui. Poderia nos dar mais detalhes sobre a motivação para nos convocar mais cedo do que o normal? - questiona Thamiso.

    O general, abrindo a gaveta de sua mesa de madeira, procura por um cigarro e seu isqueiro. Após apanhá-los, Wisdow levanta-se vagarosamente da cadeira, vira de costas para Thamiso e Ílliou e caminha a passos curtos até a janela da sala. Após esses instantes de silêncio, o general começa:

    - Peço que não se desesperem ou fiquem ansiosos com o que vou lhes dizer, mas sendo direto, estamos prestes a entrar em um momento complicado da guerra.

     Thamiso, inquieto, pergunta:

    - Complicado? O que está acontecendo?

     - O que está acontecendo é que há suspeitas de que eletherios estão se infiltrando dentro de grandes centros do império. Semana passada, 7 eletherios foram presos e posteriormente executados pela polícia militar. Eles foram encontrados em um apartamento, o qual estava repleto de fuzis, espingardas e granadas - diz Wisdow, batendo levemente duas vezes com o cigarro na beirada da janela para que as cinzas caíssem para o lado de fora.

    Ao ouvirem sobre a possibilidade de subversivos estarem dentro de cidades, Thamiso e Ílliou olham com nervosismo um para o outro, uma vez que acabaram de presenciar e, de certa forma, contribuir com algo da mesma natureza.

    - Mas como eles conseguiram ganhar tanto espaço sem serem notados? - questiona o jovem de tapa-olho ao general.

    - Imaginei que perguntaria, Artemisa - responde o militar, virando-se novamente para a dupla e caminhando lentamente em direção à sua mesa, o general abre uma gaveta e retira um jornal de dentro da mesma. Wisdow o joga em cima da mesa em frente a Thamiso e Ílliou para que pudessem ver a manchete.

    A dupla olhava assustada para o jornal em que o general largou sobre a mesa. A foto principal era de duas pessoas vestindo fardas da polícia militar decapitadas. Era uma imagem muito forte. Logo acima da imagem, podia-se ler a manchete:

    Ambos ficam completamente transtornados com a situação, pois era justamente o que eles acabaram de fazer deixando aquela família de eletherios partir. Sem que tivessem tempo de falar nada, Wisdow prossegue:

    - Acredito que isso responda sua pergunta. Existem militares que acobertam esses terroristas e, por conta disso, eles conseguem se infiltrar. 

    Fixando seu olhar seriamente em ambos, completa:

    - Por conta disso, se vocês têm alguém ou algum comportamento suspeito a denunciar, agora é a hora de falar. Com isso, podemos nos preparar melhor e evitar que vidas sejam perdidas.

    Thamiso e Ílliou suavam frio, pois essa conversa entre eles e o general não poderia ter vindo em pior hora. Esforçando-se para controlar suas emoções e ansiedade, Thamiso não consegue responder Wisdow imediatamente. Ílliou, que já estava um pouco mais estável que o amigo, diz:

     - Não temos nada a relatar, senhor. Não presenciamos nada de anormal desde que voltamos.

     - Ótimo. Estão liberados então, soldados. Aproveitem seu breve descanso, pois o caos está para chegar… um caos ainda maior do que enfrentamos até agora.

     - Obrigado pela atenção, senhor - diz Thamiso, com a voz levemente trêmula.

     Ílliou e Thamiso levantam-se, arrumam as cadeiras e preparam-se para sair da sala. Abrindo a porta, ambos saem pela mesma calmamente, fechando-a enquanto o olhar de Wisdow acompanha Thamiso pela fresta da porta que ficara cada vez mais estreita. Após deixarem a sala, descem novamente as escadas, despedem-se da secretária a qual conversaram quando chegaram e saem pela porta da unidade militar.

     Fora do local, eles começam a caminhar em direção a seu dormitório onde Lian e Stan estavam e Thamiso finalmente se tranquiliza ao respirar o ar puro de um local aberto onde não precisava mais enfrentar a expressão assustadora do general enquanto era questionado. 

    - Nós nos tornamos criminosos, Ílliou.

    - Sim, Thamiso. Nós escolhemos isso juntos e agora temos que arcar com isso.

    - E se essas pessoas as quais deixamos ir também causarem problemas no futuro, e se nos descobrirem?

    - Foi uma aposta, não vamos pensar no pior desfecho. Não vão nos descobrir, apenas nós sabemos do que aconteceu.

    - O que eu mais temia aconteceu, eu coloquei você em problemas - diz Thamiso, culpando-se.

    - Você acha que decidiu por mim? Não seja tão arrogante, eu concordei com você e nós, não apenas você, os deixamos ir. Você escolheu deixar aquele menino crescer e viver, não é? Então, não ouse se arrepender agora.

    - Você está certo, ílliou. Mas se não fosse por conta de mim, você nem teria ciência de que eram eletherios, você não teria culpa de nada.

    - Thamiso, não adianta nos preocuparmos com isso agora. Já tomamos a nossa decisão e não há como mudar isso. Nossa maior preocupação agora deve ser o que o general nos disse, talvez as coisas piorem, então vamos focar nisso.

    - Eu tenho medo do que está por vir, mas talvez isso nos ajude a esquecer o que fizemos 

    Na tentativa de deixar de lado o que se sucedeu e visando diminuir a culpa que sentiam, os amigos foram até seu dormitório sem falar no assunto novamente. Agora, eles tinham algo maior para se preocupar, algo do qual não tinham conhecimento. É claro que Thamiso e Ílliou nunca esqueceriam completamente o que fizeram, afinal, era um crime grave de traição ao império. Mas, pelo menos, poderiam amadurecer com o tempo e punir menos a si mesmos.

    Chegando ao dormitório, Thamiso abre a porta, mas hesita em entrar, uma vez que Ílliou planejava algo para assustar os amigos para que sentissem que tudo estava na normalidade.

    - “Tá” quente!! - exclama Ílliou, jogando uma pedra coberta em chamas dentro do dormitório onde estam Stan e Lian.

    - O que é isso, Ílliou?! Você surtou?! - diz Lian, desesperada.

    Stan, o qual lia um livro deitado no sofá, sem dizer muito, só usa seu poder de gelo para apagar as chamas em volta da pedra. Após apagá-lo, ele diz:

    - É perceptível que vocês dois chegaram.

    Thamiso e Ílliou, em risos, entram no cômodo em que os amigos estavam e Ílliou diz, controlando-se para não rir:

    - Não fique tão bravo com a gente, Stan, você já devia ter se acostumado.

    - O Stan pode até se acostumar, mas eu não. Abram o olho! - diz Lian, enfurecida por conta do susto que levara.

    - Como vocês estão, está tudo certo com nosso dormitório? - questiona Thamiso.

    - Está tudo certo sim. Eu estou arrumando algumas coisas minhas e o Stan não sai desse livro desde que chegamos - diz Lian.

    - Estamos dispensados pelos próximos 11 dias.

     - Só 11 dias? É menos que o normal, aconteceu algo? - questiona Stan.

    - Sim, e é justamente sobre isso que quero conversar com vocês - diz Thamiso.

    Puxando uma cadeira e sentando em frente aos amigos, Thamiso se prepara para falar, enquanto o olhar e atenção de todos estavam voltados para ele.