Num momento, Mo Tian enxergava; no outro, sentiu algo tapar seus olhos.
Era o tecido da faixa preta que usava na testa, agora restringindo sua visão. Tentou enxergar por detrás dela, mas era impossível. Onde estava era escuro, exceto por algo ainda mais escuro na sua frente. Uma silhueta. Uma sombra em forma humana. Tentou usar as mãos para puxar a faixa de volta e impedir que seus fios rebeldes se misturassem no suor da testa, mas percebeu ser também impossível. Seus punhos estavam presos — e por mãos muito firmes.
Um sopro ergueu todos os seus pelos. Ele simplesmente não se lembrava de como foi parar ali, mas tomou consciência da sua situação rapidamente. Onde estavam suas roupas? Por que ele estava nu na cama de alguém?!
— Ngh… Ah-!
Aquele era o seu fôlego acelerado, saindo abafado por entre dentes. Não conseguia controlá-lo — controle era o que menos tinha ali. Seus membros, seus gemidos, o calor que o queimava de dentro para fora, e a pessoa que o tinha na palma da mão, controlando-o como um instrumento onde você apertava um lugar e um som saia por outro. Mo Tian baforava de tanto calor, suor escapava pelos poros, a latência o fazia pulsar. Então, uma daquelas mãos o restringindo soltou-o, sua localização indecifrável por alguns segundos, até três de seus dedos afundarem…
Para dentro dele.
De uma forma lenta.
Lenta o suficiente para ele pensar “que merda é essa?!” enquanto o único som que saiu de sua boca foi:
— Hah-!
Mo Tian gritou de surpresa quando sentiu aqueles dedos sendo retirados. Um. Por. Um.
E mais surpreso ainda quando se viu desejando aquilo de novo.
O som úmido deixava claro que aquela região estava totalmente molhada, e que a intenção da pessoa diante dele era observar o líquido escorrendo, escorrendo, escorrendo de dentro pra fora. Através da camada preta cobrindo seus olhos, Mo Tian sentiu-se comido por olhos famintos.
Gemeu mais uma vez.
— Olhe como você é lindo assim, meu amor — uma voz murmurou contra sua pele, os lábios mordiscando um mamilo inchado. — Totalmente encharcado pela minha porra.
Mo Tian acordou num sobressalto.
Suas pernas pulsavam o teor realístico do sonho, tão sem forças que estavam bambas. Seu peito descompassado, o rosto corado como duas maçãs e a faixa desalinhada deixavam sua aparência embaraçosa. Mas o foco de Mo Tian foi parar no impulso que sentia no ventre, movimentando a cintura para cima uma vez apenas para constatar o óbvio: a ereção pulsando sob as cobertas, formando um pequeno volume.
Não seria uma novidade acordar assim; mas da forma que foi, sim. Mo Tian não era um rapaz de sonhos — não se lembrava dos que tinha e, em sua vida toda, nunca teve um de cunho erótico e que parecesse tão… real.
Apenas para se certificar, movimentou o quadril mais uma vez. Nada doía, a não ser o membro duro entre as suas pernas, implorando por um mínimo de atenção que não receberia. Entretanto, não havia nenhuma região mais sensível ardendo, como se lembrava de ter sentido no sonho. Ele inspirou fundo e soltou um sonoro, enfático e aliviante ufa.
Não sei porque sonhei com isso, mas se tiver que escolher… prefiro não passar por isso de novo.
Fora o pequeno problema ali embaixo, a moleza do corpo dizia que estava atrasado para alguma coisa. Sentia isso, como uma má intuição. E se estava atrasado, significava que outra pessoa estava fazendo seu serviço e provavelmente estava infeliz por isso… e pior, provavelmente fazendo tudo errado para ele consertar depois!
Além de tudo, o que o líder iria fazer quando soubesse que ele estava cochilando enquanto outras pessoas faziam seu trabalho?
Tão rápido quanto cresceu, seu membro murchou. Que bela tática ele tinha para esses momentos. Pensar no mal serviço alheio e na comida mal feita de Yawen Chen, se ela não estivesse por perto.
Com o primeiro problema resolvido, ele notou o segundo. Não reconhecia o lugar onde estava. Sua cama não era tão confortável e larga, nem os lençóis de tecidos tão caros. Seu quarto era pequeno, comportava somente o básico; esse, por outro lado, possuía várias divisórias por bimbos, móveis de madeira maciça e decoração artística.
Arregalou os olhos quando a lembrança o alcançou. Era o quarto do líder. De Xiang Dao.
Saltou da cama, temendo que alguém entrasse e o flagrasse refastelado na cama da pessoa mais importante de Lanhua. Era um cômodo tão importante e privado que Mo Tian só havia estado ali uma vez, quando os servos particulares do chefe contraíram uma gripe e coube a ele, o melhor empregado de todos, limpar o lugar. E — nunca iria esquecer, já que tinha detestado isso — com a supervisão de um superior, com olhos severos cobrindo tudo o que mexia e fazia. Mo Tian pensou que iria explodir de raiva naquele dia. O trabalho de vistoriar o serviço alheio normalmente era dele, então foi realmente estressante ser o alvo de outra pessoa, principalmente quando sabia cumprir as tarefas tão bem. O que o deixava mais puto era saber que não estavam desconfiando de suas habilidades, mas da sua lealdade. Enfrentou o preconceito de ser um forasteiro a vida inteira, até trocar de nome e fazer conexões pela cidade por ser prestativo e simpático. As pessoas se esqueceram de que ele não era dali. Mas toda vez que era designado a cumprir trabalhos que exigiam um grau de hierarquia e poder, Mo Tian era lembrado de que jamais seria totalmente parte daquele lugar, pois renascia a desconfiança sobre ele ser um espião ou traidor.
Estar naquele quarto sozinho soava tão errado. E se estivesse no sonho ainda? Ou melhor, em um pesadelo, porque o estado do quarto deixava seus pelos em pé de tão aterrorizante.
Era como se um tornado tivesse passado por ali à noite, deixando os rastros de destruição para trás. Roupas estavam espalhadas sobre cadeiras, escrivaninhas, armários e no chão. Todas elas, amarrotadas. O ambiente cheirava a ácaro e mofo.
Acho que vou… me sentar.
— Como os servos do chefe puderam deixar esse lugar chegar a esse ponto…? — Mo Tian falava sozinho, sentindo as mãos coçarem, enquanto voltava ao estado catártico repousado na cadeira — não iria sentar naquela cama de novo (nunca mais, esperava ele). Sua vontade era pegar um balde e um esfregão e exorcizar toda aquela sujeira.
Será que me colocaram aqui para limpar? Mas ninguém me avisou… e além do mais, não estou com meu paninho favorito.
Não havia nenhum produto de limpeza ali. Coçou a cabeça. Nada fazia sentido. Se estava naquele aposento para adiantar a limpeza, por que ninguém trouxe…
Só então lembrou da noite anterior, as memórias o socando tão forte que quase caiu de joelhos. Levou a mão trêmula até a boca, cobrindo-a, lembrando da expressão de ódio no rosto do líder ao perceber a besteira que ele havia feito. Havia estragado o festival e desmaiou depois dos céus o punirem.
Mo Tian não estava ali para limpar, mas para ser castigado.
Engoliu em seco, sentindo antecipadamente a dor das chicotadas em suas costas. Ele merecia, não merecia? Se até os Celestiais haviam ficado bravos, por que não seu clã?
Mo Tian saiu do quarto em busca de Xiang Dao. Ficar aguardando a sentença era pior do que recebê-la, preferia ser castigado de uma vez e se livrar da ansiedade que estava fazendo o seu coração pular batidas. Como o acesso da porta estava livre, caminhou pelos corredores até o escritório.
Mas a sensação de estranheza não ia embora.
O caminho estava, na maior parte do percurso, vazio. Quando esbarrava com algum outro servo, percebia o rosto de cada um escuro de preocupação. Quando fazia perguntas, eles pediam desculpas e se afastavam o mais rápido que podiam. Falavam sobre a “mudança” e o quanto estavam ocupados. Nada parecia fazer sentido e foi ainda pior quando subiu as escadas e virou no corredor do escritório do líder de Lanhua.
Quatro dos guardas do clã estavam saindo de lá naquele exato momento, com suas lanças em riste e rostos mal encarados. Não era amigo de nenhum deles, mas também nunca houve desavenças. Mo Tian paralisou vendo-os marchar, os de trás empurrando um homem que tinha os pulsos amarrados por uma corda. Os olhos arregalados e as lágrimas que escorriam não causaram nenhum sentimento de empatia em Mo Tian, a não ser confusão.
Xiang Dao era o líder, mas estava sendo preso como um criminoso.
— Chefe…? — Mo Tian balbuciou.
— Mo Tian! — Xiang Dao exclamou ao vê-lo, jogando o corpo para frente. Isso causou um estranhamento imediato em Mo Tian, que deu um passo para trás. — Mo Tian, você precisa impedi-lo! Irá acontecer uma guerra! Seremos todos condenados!
— Cala a boca, traidor — O guarda de trás puxou Xiang Dao de volta. Ele olhou para Mo Tian, apontando o polegar para a porta atrás de si. — Você acordou, finalmente. O líder quer falar com você.
— O… líder? — Mo Tian perguntou pausadamente, olhando para Xiang Dao.
— Esse aqui? — O guarda da frente riu com escárnio. — É um traidor. Vai ser julgado mais tarde.
— Não os escute, Mo Tian! Eles não tem ideia do mal que estão trazendo para o clã aceitando aquele-…
— Chega, vamos logo! — Os guardas voltaram a marchar, puxando Xiang Dao.
Mesmo depois de sumirem escada abaixo — com o antigo líder gritando que eles seriam todos mortos — Mo Tian demorou para se mexer. Aquela não parecia a atitude certa para se ter com a pessoa que estragou todo o festival mais importante do ano. Ninguém iria puni-lo? Pelo contrário, pareciam felizes por ter acordado?
O que está acontecendo? Alguém… pode me explicar?!
A indecisão de Mo Tian tomou forma: entrar por aquela porta para descobrir o que infernos tinha acontecido ou procurar informações seguras com Yawen Chen? Um lado seu gritava pela segunda opção, mas o outro lado…
Era fofoqueiro.
Quem leva uma fofoca primeiro sempre tem a vantagem. A graça da troca de informações, não é verdade?
Continua...
No próximo capítulo...
Mo Tian conhece o novo líder da seita, mas isso só aumenta as suas dúvidas. Um lindo homem diz que ele o reviveu, mas Mo Tian tem certeza que nunca reviveu ninguém!
No próximo capítulo: "Orelhas de Coelho"
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Até o próximo capítulo!
Beijos felinos,
Mork
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