- Com um pouco de treino de mana, não deve ser difícil começarmos a praticar magia. Mas vou logo avisando, magia não é uma coisa fácil ou tão maleável quanto você acha, que se domina em pouco tempo, e deve ser ainda mais complicado pra você, que pode ter boa parte dela vinculada ao seu crescimento, mas quanto mais cedo você puder começar os exercícios, melhor.
- Agora que a brincadeira tava ficando boa? Que droga, você faz parecer mais fácil. – Fyrr reclama, de beicinho.
- Não tem muito o que fazer, Fyrr, as pessoas normais não têm muita noção do que realmente é magia. Ela não é como um sistema se jogo que te permite converter em algum elemento e a lança de formas diferentes ou uma simples transfiguração de mana numa forma específica. Antigamente, as escolas de magia tinham quase uma conclusão aqui em Hindu, que magia se tratava de uma força natural manipulável por seres sencientes que os permitiam criar e manipular elementos da natureza, emitindo ou de alguma forma forçando-o a controlar uma emulação deles na palma da sua mão.
- Heh, é até engraçado lembrar. – comentou Nattan, sentado no canto entre os caixotes – Uma vez, teve um cara que descobriu que eu era mago, e quase me fez fazer o trabalho de uma casa, fazer água pra beber e tomar banho, acender fogueira, criar tocas e banheiras de terra... é cada folgado que existe por aí...
- Verdade. Na verdade, com treino, é possível sim você dominar bem a criação e manipulação de elementos, mas magia é muito mais do que isso. Nas últimas décadas, o mundo acadêmico mudou completamente a perspectiva de como se usar magia com as pesquisas...
- E os Íons. – Apontou Hory, o cortando.
- Sim, e os íons... – acrescentou o kristano, sem graça.
- O que são íons?
- É como antigamente chamavam os magos que não possuíam uma filiação militar ou acadêmica. Era meio pejorativo antigamente, mas hoje em dia não. Voltando ao assunto, com o passar do tempo, as aplicações e pontos de vista sobre a magia foram mudando e os sábios foram percebendo cada vez mais que magia não é simplesmente controle de mana. Magia é sistema.
- Hã? – o garoto se indagava.
- A mana é a força espiritual que todos os seres vivos liberam num mar gigantesco e infinito, que mantêm o mundo em equilíbrio com os outros planos astrais, mas magia é apenas o sistema psicológico que nós usamos para manipulá-la e criar os encantos. Vou tentar ser mais claro. Magia é o sistema, e o sistema é criado a partir de uma base única e especial, proficiência. A mesma coisa que faz um encanador um encanador e um cavaleiro um cavaleiro, proficiência, o acúmulo de conhecimento e experiência numa área que envolve ações e interações. Se alguém que tem muito potencial de ser um mago se envolve numa área como engenheiro, a manipulação de mana vai utilizar justamente o conhecimento e paixão do homem naquela área e basear a sua forma no que ele deseja, a magia se moldará na forma que o homem desejará e que tem conhecimento o suficiente sobre para reproduzi-la do jeito que ele precisa, assim, um encanador poderia desenvolver uma magia de canos ou um cavaleiro, uma magia que lhe permitisse criar espadas ou lançar energia com o balançar da sua. Quando você aperfeiçoa e planeja usos específicos de manipulação de mana, você cria um encanto, e com tudo isso pronto, você cria um sistema direcionado na área que deseja e mais tem conhecimento, é assim que funciona a magia.
- Então... além de saber sentir e controlar a mana interior e exterior, eu ainda vou precisar pensar num uso eficaz pra ela e treiná-lo até se tornar fácil e útil de utilizar? que saco.
- Bem, infelizmente essa é a melhor forma de se utilizar o verdadeiro potencial da magia. Quando você a manipula a seu favor e meio que a programa, você dá a magia um comando, que chamamos de encanto. O nome do encanto em voz alta é o que permite que a magia seja ativa e faça uma ação dentro do seu desejo e conhecimento, podendo ser nesse caso, bem volátil. Ao invés de tentar emular o poder de espíritos elementais ou de encantos básicos repetidos milhares de vezes por séculos como se fossem a única coisa que dá pra fazer, a magia pensada como proficiência em algo faz você concentrar poder e esforço num único ponto, assim, te transformando num sábio e te fazendo voar muito mais alto, isso faz dela a coisa mais incrível.
- Mas se você precisa falar o encanto pra utilizar a magia, pistoleiros não teriam a vantagem?
- Não é como se não houvesse opções. Existem também encantos na forma de passividade, uma manipulação de mana mais simples, como a armadura de aura, simplesmente controle sua mana interior e a envolva em seu corpo. Vai ganhar alta resistência e atributos físicos melhorados, além de que pode imbuir sua mana em objetos também e torná-los armas mais mortais. Claro, com o tempo, encantos mais simples podem se tornar passivos com muita prática, e existem usos práticos da mana que são complexos e não vão te pedir um encanto.
- Droga, é muita coisa!
- Tudo bem, Fyrr, uma coisa de cada vez. Não vou me surpreender se em alguns anos você já ter dominado o potencial máximo do quarto círculo. Aos pouquinhos você chega lá. Que tal agora uns exercícios básicos?
- Nunca fui fã de deveres de casa, mas tudo bem. – Ele comenta, empolgado, sentando cruzado.
- Certo, você só tem que manipular a mana interna por agora, cobrindo seu corpo com ela e tentando criar uma armadura de mana, não é nada muito difícil, você só precisa aprender a sentir e a mover com a sugestão do seu desejo.
- Ok! Vejo só como um gênio chega no pico do mundo na velocidade da luz. – O garoto se gabou, focando sua atenção no interior, onde a mana estava bastante ativa em reflexo das suas emoções.
- Droga, - reclamou o espadachim – Se antes ele já era arrogante e mimado, imagina depois de criar sua própria magia, vai ser insuportável.
- Não veja por esse lado. Se ele puder controlar sua mana de forma simples, vai ajudar muito, fazendo ele se comunicar conosco e nos encontrar sempre que possível. Conhecimento nunca é uma coisa que você deve se arrepender de compartilhar.
- Ele é só uma criança...
- Ele é um ano mais velho que eu na prática. – Cortou o kristano.
- ...E além do mais, você de todas as pessoas nesse comboio quer falar sobre compartilhamento de informações? Sério? – apontou afiado Nattan – não interessa se ele é um espírito com cem ou mil anos se o cérebro dele continua imaturo como um broto de feijão. Agora que aprendeu um pouquinho do básico de mana, vai ficar querendo mostrar toda hora, enchendo o saco pra pedir pra aprender mais e ficar de nariz empinado o tempo todo...
- Eu estou ouvindo, Nattan! – reclama Fyrr, ainda de olhos fechados em concentração.
- Fyrr! Concentre-se!
- Relaxa, olha. – Ele diz, erguendo o palmo de sua mão, concentrou nela a energia faiscante e luminosa de cor clara que cobriu sua pele numa camada translucida de mana.
- Uau... uau, isso foi bem rápido mesmo... – comenta o kristano, impressionado.
- Huh! Isso mesmo, curvem-se diante de meu intelecto superior, meros macacos sem pelos!
- Viu? O que foi que eu disse?
- Ele só está brincando... de qualquer jeito, magia não vai aparecer tão facilmente mesmo pra um ser semi-espiritual como ele. – Comenta o kristano, sem graça.
- É tão difícil assim? – o garoto questiona, curioso.
- Sim. Como eu disse antes, magia é um sistema de controle de mana em encantos passivos e ativos, os passivos são a manipulação de mana automática que você controla com pensamentos simples ou vontade, enquanto os ativos exigem uma palavra de comando para serem ativados e uma boa concentração. Um mago precisa de muita experiencia e conhecimento sobre sua própria magia para chegar ao ponto de utilizá-la sem muito esforço. E não é pra menos. Magia exige uma grande quantidade de estudo e talento, além de um desejo firme e um objetivo claro para alcançar seu potencial máximo. Não é por menos que hoje em dia, um mago de quarto círculo poderia facilmente vencer um mago de até sexto círculo de cem anos atrás numa batalha justa, já que antigamente, eles se resumiam a decorar uma planilha de magias elementares como se fossem a coisa mais incrível do mundo e não desenvolviam mais nada de conhecimento além de estudos paralelos envolvendo controle de forças da natureza, que ocasionalmente geravam encantos como meteor ou tempest. – Jhon contava, levantando um pouco de desdém em sua voz – acredita que até hoje tem famílias e clãs por aí que passam por gerações as suas mesmas magias elementais manjadas...
- Oh... está dizendo que as magias elementais em geral são manjadas? – de repente, Nattan o questiona, fitando o kristano com surpresa, e um leve toque de indignação.
- E não é? Achei que iriam concordar, é um tipo de magia que não sofreu muitas atualizações, ou sequer deixa dar brechas pra usos melhores que tentar matar alguém queimado, afogado ou congelado. Talvez eles até servissem para algo útil se estivesse nas mãos de um mago de sétimo círculo habilidoso e erudito.
- Que surpresa pra um kristano falar isso, sendo do mesmo povo que foi pioneiro em começar esses estudos metódicos de magias elementares, não acha que está os subestimando demais? – ele seguiu, com desdém.
- Você acha? Como alguém que deu duro pra criar uma magia versátil e multiuso, eu meio que tendo a sempre ser relativo com minhas ideias. Não esperava que concordasse que herdar uma magia manjada fosse de alguma utilidade.
- Eu sou um mago de fogo, - cuspiu o espadachim, virando o rosto na direção de Jhon – e acredite em mim, posso fazer muito mais que só carbonizar pessoas vivas e acender fogueiras, como se fosse algum tipo de isqueiro humano.
- Ah, você é? Que surpresa... não sabia que magos de fogo ainda fossem tão populares por aí além dos da família Kirkna. – O jovem responde, sem muito o que saber falar.
- Eu imagino, não é uma das melhores opções de magia a se aprender, afinal de contas, que coisa manjada.
- Vocês dois, não comecem uma dr agora! Jhon! Foco em mim! Ou vou sumir com todo o dinheiro de Culleir com os meus guarda-costas! – Fyrr exclama por cima do ar de estranheza.
- Ok, certo, já que você se deu tão bem com a armadura de mana, vamos tentar coisas mais complexas desta vez, como por exemplo, manipulação de mana em formas.
- Agora isso parece estar ficando desafiador, manda!
Observando o garoto esfregar os dedos, o kristano se contagiou com o ânimo da criança, e movido ao seu desejo de ensinar, juntou suas mãos numa prece e despertou sua mana.
A energia branca então se espalhou por todo o seu corpo e se concentrou nas mãos, dançando entre seus dedos e convertendo em colunas brancas, que serpentearam entre eles e se uniram numa espiral crescente.
- Ooooohhhh! – a raposa estica seu corpo na direção da espiral – o que é isso?
- Apenas estou controlando minha mana diretamente com meu desejo pra formar um objeto que estou mentalmente criando. Agora tente você, não é diferente de quando fez a armadura de mana, se concentre agora em projetar o caminho que a mana interior vai fazer.
- Vai ser mamão com açúcar! Hehe!
E não foi.
Comments (0)
See all