A viagem de carroça seguiu por mais algumas horas na estrada larga comercial no meio do prado, onde não havia nada mais que verde e alguns arvoredos por onde ocasionalmente passava, o que gerava alguma quebra de monotonia no caminho, o sol subia mais e mais, assando tudo o que não tinha uma cobertura para se proteger e transformando o interior da carroça num forno.
O calor foi fundamental para atrapalhar ainda mais o treino de mana que a raposa se esforçava a fazer, que mesmo com mais dicas do kristano, era difícil de pôr em prática. A mana não era naturalmente passiva, fazê-la se moldar a uma imagem mental demonstrava o seu talento bruto para se tornar um mago. Eventualmente os carroceiros e comerciantes os chamaram para as refeições conjuntas em busca de recuperar mais energia naquela longa viagem que já durava mais de um dia, o que transtornava ainda mais o garoto, que se via obrigado a cobrir seus membros animalescos e parar o seu exercício.
As reuniões eram tão ativas entre o comboio que não havia espaço sequer para tentar escapulir. Todos estava lá, todos compartilhavam suas histórias e ideais uns com os outros para aquecer ainda mais suas relações durante o caminho, o que já não havia muito sentido para os quatro, que além de não se conhecerem muito bem, partilhavam apenas uma fração do que o resto dos carroceiros enfrentariam de estrada.
A noite chegou mais uma vez, e para o seu alívio, naquela noite, em que Jhon quase não poderia dormir com o garoto insistindo no treino, finalmente a mana de luz cedeu a condução do pensamento dele, formando correntes luminosas que se espiralaram em suas mãos.
Após um pequeno estardalhaço, todos se renderam ao sono por mais um dia.
Assim, mais um nascer do sol raiou, afastando o espectro da neblina da madrugada que ensopava a grama e o comboio inteiro.
Na mesma agitação rotineira de sempre, os carroceiros acordaram cedo, esticaram seus membros, e começaram a preparar os elefantes anões para mais um dia de viagem, os alimentando, escovando e acariciando.
O chacoalhar da carroça, os solavancos das rodas, o estalo da madeira, estava tudo no lugar. Mais prado era visível na estrada, agora com um novo mar de colinas apagando boa parte da visão que tinham do longo horizonte, mas agora, os arvoredos ficavam mais e mais frequentes, e as árvores, conforme atravessavam a estrada larga, pareciam cada vez maiores e mais antigas, com aves de grade e médio porte as empoleirando, cercando o seu caminho e cantando a seu modo, como se fosse a encarnação da própria natureza ali, informando-os que uma nova etapa do caminho havia chegado, a etapa final para os quatro.
Fyrr colocou a cabeça pra fora da carroça observando o ambiente diferente com ânimo renomado, já cansado de apenas olhar pra grama e um céu limpo de qualquer coisa que tinha imaginado observar.
Em pouco tempo, antes do sol alcançar o topo do céu, o comboio fez uma parada mais profunda que as anteriores, eles haviam chegado no portão de entrada leste para a estrada de Krista.
As carroças seguiram pelo ponto onde a estrada se alargava ainda mais, começando a se enfileirarem evidentemente. Curvando-se, os quatro puderam observar ainda mais nitidamente a cena que os aguardava.
No final da estrada, onde o horizonte deveria estar, uma muralha verde cobria a vista, de uma ponta a outra da vista. Uma linha uniforme e densa de árvores antigas apontando para o céu, com galhos grossos e longos abraçando o ar em volta com garra, como se seu objetivo fosse realmente formar uma cerca viva para que ninguém além pudesse atravessá-la.
E no centro dela, estava um acampamento largo cheio de comboios e outras carroças de comerciantes, parando para se alimentarem ou negociarem dentro de grandes tendas coloridas em faixas, preparadas especialmente para contratos e pagamentos serem feitos, e além dele, havia a construção que fez os olhos da raposa brilharem.
- Caramba! O que é aquilo? – ele exclamou, apontando para o grande arco de rocha cheio de runas, guardado por um batalhão inteiro de soldados de branco armados com espadas na cintura e baionetas nas mãos, ao lado de uma grande tenda movimentada por uma fila longa de pessoas esperando sua vez para atravessar a entrada.
- É um dos portais de rocha que dão entrada nas estradas mágicas que cortam a floresta Mahatma. sem essas estradas, seria praticamente impossível um comboio chegar na capital Krista sem contornar a floresta.
- Então, estamos aqui... – comentou a raposa, grudando seus olhos na muralha verde e imponente que parecia bem mais forte e assustadora que o próprio arco de pedra que ousou parti-la no meio – Floresta Mahatma, einh? Que estranha...
Comments (0)
See all