Umidade, baixas temperaturas e um chão irregular extremamente irritante. A sensação de conforto da base bateu forte quando o garoto voltou a andar por aquelas terras, porém, com algo mais concreto em mente, decidiu segurar sua impaciência por enquanto.
- O policiamento neste fim de mundo não é grande coisa mesmo, não? - ele comenta comicamente.
- Caramba, a gente realmente acabou de passar a perna no exército de krista... - Jhon retruca com preocupação, pregando os olhos no caminho a sua frente.
- Primeira vez desacatando autoridades, burguesinho? - Nattan brinca, guardando as costas do grupo enquanto os segue, taciturno, e seu bom humor inesperado não convence muito bem os outros.
- Então? Como você acha que vamos conseguir encontrar os ciranos neste fim de mundo mesmo? E o que você acha que pode fazer pra convencer eles a nos ajudar? - Hory, quem tomava a frente do grupo, se volta ao garoto enquanto afastava uma folha de samambaia, inquisitivo.
- Hmmm... eu tenho uma ideia, mas acho que aquele toque de sorte ainda vai ser necessário né?
- Você está brincando? Eu não quero saber de sorte, estamos na beira do furacão aqui e afundando cada vez mais no olho dele, eu queria que você tivesse pelo menos alguma ideia concreta... - o mago afirma impacientemente.
- Bem, até agora tudo deu certo mesmo quando não poderia. Vocês podem achar que... - Fyrr comentou de braços abertos desleixadamente, com a voz saindo desdenhosa até se interromper.
Ele olhou atentamente para o vazio profundo da floresta, chamando a atenção de Jhon e Hory, que após o fitarem incertos, olharam naquela direção, mais confiantes quantos aos instintos da raposa.
- O que foi agora? - Hory comenta.
O garoto afinca o olhar no interior, tremendo levemente suas orelhas naquela direção, e levemente as torcendo para um ângulo maior.
- Tem umas coisas grandes vindo em nossa direção... - ele revela, friamente.
- Lobos de novo? Está vindo na direção oposta à da base... - Nattan comenta, de mão na empunhadura da espada.
- Não, não são coisas tão grandes... e... - O garoto casualmente ergueu seu antebraço, de indicador ereto, até o apontar para o alto e fitar seus companheiros de expressão fria - estão vindo do alto.
Farfalhar, o som que chegou segundos antes para a raposa alcançou os ouvidos dos magos. A luz que escorregava entre as folhas das copas estava oscilando, e balançando de forma inatural, com cada vez mais intensidade. Hory e Jhon ficaram lado a lado encarando o teto escuro da selva enquanto Fyrr se aproxima de Nattan, com a mão no punho da lâmina oculta, o farfalhar aumentou, e uma queda de folhas repentina se tornou uma chuva.
Algo estava vindo pelos galhos superiores das grandes árvores da selva, vindo de todas as direções, como perceberam logo. Os olhos iam e vinham de lá pra cá se preparando pra receber algum ataque inesperado de qualquer direção, mas toda cautela era pouca, mais uma vez, a floresta estava fechando suas presas selvagens em torno do grupo, sempre frenética e mortal, e debaixo da chuva de folhas e o som intenso dos galhos se torcendo, os sons guturais das criaturas surgiram.
Saltando dos galhos superiores, surgindo das sombras projetadas da luz clara e fraca do pré-amanhecer, grandes e pesados primatas caíram no chão irregular coberto de raízes grossas entrelaçadas numa teia desvantajosa de se andar e plantas rasteiras que atrapalhariam a visão que pessoas normais.
- Caramba... que merdas são essas? - Fyrr comenta, suando frio.
Os cinco primatas, os cercavam de todas as direções, três metros de altura, pelos escuros e grossos de cor esverdeada e barriga branca com músculos expostos, olhos vermelhos agressivos e presas curvadas ferozes saindo do maxilar. Eles atiravam nos quatro sons guturais enquanto caminhavam em círculos, se fechando lentamente, de olhar pregado neles.
- Se não me engano, são costas-verdes. Gorilas trepadeiros carnívoros... - Jhon comenta, totalmente focado – acho que entramos no território deles sem saber...
- Hmmm... quais as nossas chances?
- ... - Nattan vasculha seu olhar entre cada gorila, trocando olhares um por um e abusando de seus instintos para tentar mediar a força dos primatas, assim como sua inteligência e também, sua mana – 7 pra 3 a nosso favor, se eles forem só animais normais, e 8 pra 2 se forem bestas mágicas.
- Eles parecem ser só soldados, o líder é quem costuma ser uma besta mágica, então estamos com 7 pra três. - Reiterou Jhon, liberando sua mana branca.
- Não parece que vai ser difícil então. - Fyrr comenta, levemente aliviado.
- Não se conseguirmos sair do território deles, se mais vierem, as chances vão diminuir eventualmente. - Nattan o corrige, liberando sua mana, mas ainda se contendo de sacar a espada, com o olhar focado nos primatas para evitar que os mesmos atacassem por ver alguma abertura.
- Bem... então...
Jhon se interrompe quando um novo farfalhar surge, e pela reação rápida e agitada dos primatas, não era algo bom pra eles também. Todos ficaram tensos liberando sua mana mais ainda enquanto procuram sentir a aproximação de algo novo vindo das árvores outra vez.
Mais gritos guturais saiam das bocas largas deles enquanto dividiam sua atenção da chegada repentina de um outro elemento estranho e nos quatro desconhecidos que invadiram seu território, assim como Fyrr usava de seus sentidos para notar que o elemento chegava cada vez mais perto, até repentinamente parar.
Ele sentiu a coisa se estabelecer em algum lugar próximo no alto das árvores, sentiu o olhar da coisa presa na inusual visão a sua frente, e logo em seguida, um assobio agudo de algo cortando o ar.
Uma flecha.
Ela cortou a distância entre segundos de onde saiu até cair entre os primatas e os quatro, para logo em seguida, emitir uma energia misteriosa dela, irradiando em todas as direções, e que apenas Fyrr pôde sentir levemente, mas que os primatas sentiram com força.
Um grito gutural saiu deles, num súbito surto de agressividade, batendo seus braços longos no chão e abrindo a boca para mostrar as pressas longas e afiadas na direção de vinha a flecha, acima das arvores.
Os quatro fitavam a cena tensos e bastante confusos, mas em poucos segundos, a energia se afinou e se intensificou, como o som de um violino que só podia ser ouvido pelas bestas, que em resposta, cederam, e se afastaram lentamente, quebrando o círculo para se unirem num grupo outra vez, seus olhares focados nas árvores enquanto andavam de costas até os troncos mais próximos, e depois de mais alguns sons guturais, os escalaram outra vez e começaram a se afastar.
Jhon olhava atentamente na direção dos primatas enquanto Fyrr e Nattan pareciam mais interessados no ponto onde a flecha ainda fincada no chão na diagonal parava de emitir a energia que espantou os primatas.
Alguns segundos tensos de silêncio depois, sons quase inaudíveis de aproximação apareceram, incomparáveis com o estardalhaço dos primatas. E quando eles saíram da camuflagem de folhas para se mostrar para os quatro, os magos focaram em poses defensivas, observando dois ciranos jovens e suspeitos no topo de um galho grosso apontando uma flecha na direção deles.
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