A noite estava iluminada pela lua cheia, tudo era silencioso e calmo. Mariana caminha a margem do rio, admirando a lua. Mais abaixo do rio, um homem faz o mesmo. Com roupas elegantes, ele caminha em direção a moça. O homem cumprimenta Mariana com um sorriso encantador no rosto. Mariana sente um frio na barriga e devolve o sorriso. Ela acompanha o homem até uma cabana de pescador, abandonada, deixando ser seduzida pelo homem misterioso. E ele vai embora antes do sol nascer.
Nove meses depois Mariana dá à luz a uma linda menina, que nada se parecia com ela, mas lembrava ao homem que conhecera a beira do rio. Mariana deu o nome de Yara para a menina, dona da água.
Seis meses depois Yara começa a mudar, suas pernas começam a ter escamas e consegue ficar debaixo d'água por muito tempo. Mariana leva a menina a beira do rio, num dia chuvoso. Com lagrimas nos olhos que se misturavam com a chuva, ela entrega sua filha ao rio. Yara, com naturalidade, nada pelo rio em direção ao mar, com a chuva pingando em sua cabeça e na água ao redor.
Yara cresce e se torna uma linda sereia. Linda e terrível.
No exterior de uma vila, os barcos saem as margens do rio em direção aos peixes. Um dos barcos, o mais distante, é chacoalhado por algo grande passando por baixo, nas águas calmas do rio. O senhor que está no barco, avista uma sombra maior que um peixe, menor que um tubarão.
O senhor, como todo bom pescador que conhecia as histórias, sabia o que estava por vir. Ele senta-se no barco, reza para seu Deus e espera sua hora. O barco chacoalha de novo e uma bela moça aparece nas águas. Sua pele escura reluzia e os cabelos negros eram trançados com algas marinhas. Mas os olhos, aqueles olhos que pareciam duas esmeraldas, hipnotizavam qualquer um. Encantado por sua beleza, o senhor aproxima-se sorrindo. Quando seus narizes quase se tocavam, Yara envolve seu pescoço com um abraço e afunda lentamente com ele. O velho senhor se afoga, enquanto o ser marinho, maior que um peixe e menor que um tubarão, nada de volta para as profundezas do rio, voltando para o mar aberto onde pertencia. Nada a toda velocidade junto de outros seres marinhos.
A bela Yara, agora um ser temido pelos homens, nada para o mar, sozinha, com a lua sendo encoberta pelas nuvens. Mariana, agora uma senhora ribeirinha, nunca deixou de pensar em Yara. Sentada à beira rio, decide se conectar com a filha. Ela entra em um dos barcos de pesca e rema até alto mar. Mas as ondas começam a crescer e o céu a se fechar. Então uma grande tempestade alcança o barco de Mariana. A mulher se desespera no barquinho, que não para de chacoalhar. Ela grita, mas seu grito é abafado por um trovão. Mariana une as mãos em oração, chamando pelo nome de Yara.
Yara, nas profundezas azuis do oceano, escuta um chamado que não compreende. Curiosa, ela vai à direção da superfície. No meio da tempestade, ela avista um barquinho tosco. Percebe que há uma mulher ali, que treme sem parar. Yara se segura no casco e nada para longe da tempestade.
Não ouvindo mais os barulhos da tempestade, Mariana abre os olhos, tendo uma vasta visão do mar. Yara, escondida nas águas abaixo do barquinho, olha nos olhos da mulher sentindo uma sensação estranhamente familiar. Ela apoia-se ao barco e estende a mão para Mariana. Ela sabe que ali, na água, é sua filha quem lhe chama e, sem hesitar, entrega sua mão, o corpo e a alma. Elas afundam juntas ligadas por uma conexão singela. Continuam afundando, mas Mariana não tira seus olhos da linda Yara.
Cada vez mais fundo e Yara não consegue se soltar da mulher.
A mulher se sente, pela primeira vez, leve; a sereia se sente completa.
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