Já fazem algumas horas desde que o Austin ficou sozinho, tentando se livrar do forte cheiro de queimado que havia contaminado seu quarto antes de dormir. Por sorte, Austin conseguiu se livrar do cheiro, mas o seu sono parece ter ido embora junto.
Como alguém poderia dormir sabendo que uma mini criatura de cabelinho azul apareceu no seu quarto, verbalizou muitas frases de ódio, te deu um breve ar de esperança e depois desapareceu de repente? Se existe como, Austin não descobriu. Ele apenas encarou por horas a única coisa que provava que não estava enlouquecendo, uma jóia azul, menor que sua mão, que havia deixado ao lado de sua cama.
Austin se questionava "O que essa jóia tem a ver com aquele rabugento em tons pastéis?". Supôs que essa jóia havia levado Aiden para seu quarto, mas não sabia como e nem porquê. Pensou, inúmeras vezes, em tentar usá-la para chama-lo de volta, mas não sabia como funcionava. Olhando para a hora em seu celular, indicando a hora mais perigosa do mundo: 3 da manhã, decide entrar em contato com seu amigos, afinal, o que mais poderia fazer? Fingir que não viu nada? Isso não é do feitio dele.
°
°
°
☆
3 alucicrazy
Artin, Zé Fumaça e Zoebaria
Artin
Opa eae pessoal
Tem alguém acordado ainda?
03h03
Zé Fumaça
Fala irmão!
Acordadasso
03h03
Artin
Jônatas, você não tá fazendo jus à seu apelido uma horas dessas, tá?
03h04
Zé Fumaça
H eiN? .
03h10
Zoebaria
E vc ainda pergunta, Austin?
Nn finja que nn conhece esse lado dele muito bem
03h11
Pq VC tá de pé tão tarde?
Cê tava escrevendo??
03h11
Artin
Sim, mas não... complicado, eu diria
Eu acho que talvez esteja sendo muito influenciado pelo Jônatas na verdade
Acho que vi coisas
03h11
Zoebaria
Era só questão de tempo até vc cair nesse mundo, proerd não se orgulha do q c fez
03h11
Q tipo de coisas c viu? Já tem idade pra isso? 🤨
03h12
Artin
Mais respeito, por favor
03h12
Eu posso - ou não - ter visto um mini, bem mini, ser humaninho com asas de anjinho e coração nos joelhos... ainda suspeito que seja um alien
03h12
Zoebaria
Ok
Vc realmente caiu no mundo das drogas
Tão jovem
03h12
Jônatas
Chamou?
03h13
Zoebaria
Agora nn Zé
03h13
Artin
É estranho, eu sei, mas ele disse que podia me ajudar no meu problema de inspiração
Só que ele foi embora logo depois
Talvez, só talvez, ele não queira me ajudar, mas ainda assim disse que era "o dever" dele ou coisa do tipo
03h13
Zoebaria
Certeza que c nn caiu no mundo das drogas há muito tempo?
Já tá feia a coisa
03h14
Artin
Ah, deixa pra lá
03h14
Zoebaria
Tá tá
C tem moral pra sair de casa agr?
Se for pra falar de loucura que seja cara a cara
03h14
Artin
Tenho sim, não sou o mesmo do ano passado!
A gente se encontra aonde? Perto daquela pista de skate?
03h15
Zoebaria
Só se vc levar um pouco dos pães caseiros da sua vó
03h15
Artin
... como você sabe que minha vó tá aqui?
Melhor, COMO VOCÊ SABE QUE ELA TROUXE PÃO?
nem eu sabia disso 😐
03h17
Zoebaria
Quem dorme no ponto perde ônibus BB
03h17
Artin
Que?
03h18
Zoebaria
Só traz o pão.
03h18
Zé Fumaça
Naumn acrediteno laeao ele mentiie
03h20
Zoebaria
Certo, Jônatas, certo
03h20
°
°
°
☆
Logo depois de desistir de tentar entender o que aquela mensagem do Jônatas dizia, Austin se agasalha para sair rápido, sem fazer muito barulho. Passando na cozinha para averiguar se sua vó realmente havia levado pão, e lá estava, três potes cheios. Austin nunca teve tanto medo de Zoe quanto naquele momento. Mesmo assim, pega um pouco e sai pela porta, com os olhos doendo pela força das luzes pisca-pisca do vizinho da frente. Já fazem semanas que o vizinho dorme assim, mas Austin ainda não se acostumou com isso.
••☆☆°°☆☆••
Austin chega na pista de skate, assim como tinha combinado de fazer com a Zoe minutos atrás. Zoe estava escorada em um poste de luz que deixava seus cabelos nevados destacados em meio a toda escuridão da rua. Ela estava mexendo em seu celular, provavelmente lendo algum e-book de casos criminais reais. Austin nota que ela tem algo na boca, por um segundo ele jurou que fosse um cigarro, mas logo ele percebe que era apenas o palito de um pirulito. Calma Austin, nem tudo são drogas.
Caminhando até ela, fazendo um malabarismo para ajeitar sua jaqueta ao mesmo tempo que tenta não soltar os pães que havia pegado, ele chama por Zoe. . . Não obteve resposta. Aparentemente ela também está de fones de ouvido sem fio. Austin se pergunta se ela não tem medo de ser assaltada naquela rua escura com tanta coisa em evidência. Mas, honestamente, se qualquer pessoa tentasse se aproximar de Zoe com essas intenções, essa alma aflita não veria a luz do Sol por um tempo. Ela tem um histórico do que podemos chamar de Autodefesa, assim como tem um histórico de algo que com certeza não podemos chamar de Autodefesa. Mas isso é história para outra hora.
Um vento mediano passa por Austin, levando o cheiro dos pães que carrega para as narinas de Zoe, que imediatamente se toca que ele está chegando.
- Opaa!! Hoje eu tiro a barriga da miséria! - Diz Zoe, guardando seu celular e tirando seus fones, finalmente vestindo a toca de sua blusa. Ela não é muito fã de cores nas suas blusas de frio, mas ela adora a que está usando. É preta? Sim. Mas possuí detalhes coloridos, como várias caveiras redondinhas com corações no lugar de onde ficariam os olhos. - Chegou mais rápido do que eu esperava.
- Você ainda me deve uma explicação do porquê de você já saber desses pães em casa, antes mesmo de mim. - Austin pega um pão e entrega para Zoe, que já pega outros dois pães discretamente com a outra mão.
- Ah, isso é explicação pra mais tarde! Você que veio aqui pra me explicar a sua alucinação, lembra? - Austin dá um tapinha de leve na mão dela que estava o furtando dois pães na cara dura, não era a primeira vez. E nem a segunda.
- Não foi uma completa alucinação... eu acho. - ele olha para o lado meio incerto de sua situação mental. Como está com fome também, ele já começa a comer um pão de sua vó também. Os dois se sentam na calçada, cada um de um lado do poste.
- Bem, como foi que você descreveu? Um mini, bem mini, ser humaninho com asas de anjinho e corações nos joelhos?
- Pensando agora, acho que também tinha orelhas levemente pontudas. Ah! Tinha cabelo azul! Não posso esquecer dos cabelos azuis! - ele é meio ruim de entender quando a Zoe está o zoando.
- Jura? - Ela deixa a sobrancelha esquerda bem arqueada, até parando de comer por um instante.
- Eu sei que é loucura, tá bem!?! - ele chega cospe um pouco de pão pra fora, mas tudo bem, quase não deu pra perceber. - A única coisa que não me deixa acreditar totalmente que foi um surto noturno é essa jóia aqui. - ele pega a jóia do bolso. Em algum momento, antes de sair de casa, ele decidiu que essa pedra seria útil como álibi.
- Uh~ pedra bonita! - ele diz pegando mais um pão, dessa vez, Austin deixa. - Deixa eu adivinhar, o mini-anjinho de orelhas pontudas que trouxe isso.
- Acho que sim? Não sei se foi bem a intenção dele, ele espancou essa pedra pra valer. E ainda arremessou para o pé da minha escrivaninha.
- Oh. - ela responde, simples.
- . . . Você não tá botando muita fé em nada disso, né? - Ele põe a jóia de volta no bolso, inclinando levemente a cabeça, de olhos dramaticamente fechados.
- Eeerrr... Bem, sei lá? - dá de ombros, parece uma reação genuína. - Eu não sei, cara! Não tenho muito no que acreditar, mas, ao mesmo tempo, você não é de inventar coisas do nada assim. Então... Eu não tenho a mínima idéia?? - Ela diz, gesticulando com sua mão. Austin solta um suspiro leve.
- Talvez eu esteja surtando. - ele se vira para o outro lado da rua, com as duas mãos nos bolsos e jogando a cabeça pra trás.
- Hmm... Bem, essa pedra nunca esteve na sua casa antes, então, talvez, eu acredite nessa história estranha, vai. - diz, se inclinando para o lado oposto em que Austin se encontra. - De qualquer forma, o que vai fazer com essa pedra? - Austin ajeita sua postura, pegando a pedra do bolso de novo.
- Eu não sei... Talvez eu deixe de decoração. - Diz olhando fixamente para a jóia, ele acha interessante o efeito da luz na refração que a jóia faz.
- Esse mini-anjinho espancador de jóias misteriosas tem nome? - Zoe pergunta, se aproximando levemente de Austin. Para pegar mais um pão.
- Eu não tenho certeza agora - diz, ainda olhando fixamente para a jóia - acho que era algo como... Aiden? - Ao dizer o nome de Aiden, a pedra exala um brilho azul, semelhante ao que ele tinha visto antes. Uma luz diferente sai dessa jóia. Zoe quase engasga com o pedaço de pão que prendeu na garganta de surpresa. Quanto ao Austin, dessa vez ele parece mais encantado com o brilho do que assustado. Quando o show de luzes cessa, uma figura se destaca.
- . . . só pode estar de brincadeira com a minha cara! - diz Aiden, já de cara amarrada. Batendo suas asinhas.
- VOCÊ VOLTOU! - Austin exclama de emoção, com um sorriso e brilho no olhar.
- E-essa coisa é real? - Se recuperando do seu quase engasgo, Zoe questiona, duvidando se os pães que comeu eram pães normais.
- Qual é a de vocês de me chamarem de "coisa"? EU SOU GENTE, PORRA! - já gritando, Aiden?
- Ah, eu esqueci disso também. Ele tem uma boca bem suja. - Ressalta Austin, meio constrangido.
- Achei que tivesse deixado claro que eu não queria ver você de novo. E como ousa me puxar assim de repente?!?! RESPEITE MEU SONO!! - Diz Aiden, de pijaminha.
- Isso não é real, isso não é real, isso não é real, isso não é real, isso não é real...- Zoe diz repetitivamente, como se estivesse em transe.
- E qual é a dessa daí? - Aiden quase sussurra, mas não chega a parecer muito simpático, não muito.
- Acho que ela tá tendo uma crise, ou algo assim. - os dois começam a encarar Zoe, fazendo uma expressão preocupada e confusa. Zoe ainda repete a mesma frase, começando a ficar sem ar.
- EI! FALA QUE NEM GENTE, MULHER! - Aiden dá um tapa na cara de Zoe, que respira fundo, recuperando o ar pelo susto. Aiden pode ter tido a intenção de simplesmente bater nela, mas esse tipo de gesto ajuda quando alguém fica sem ar que nem ela. Então, meio ponto de altruísmo para você, Aiden?
- AUSTIN! O QUE TEM NESSES PÃES? - Zoe grita, jogando para o outro lado da rua o pão que comia. Que desperdício.
- Minha vó diz que o ingrediente supersecreto é amor. - Austin às vezes dá uma de Zé Fumaça, mas, no caso dele, não tem muita desculpa.
- Garoto! Eu disse que não queria fazer nada por você! - Aiden volta a atenção para ele - Meu erro foi ter esquecido essa pedra maldita aqui, me devolve! - ele avança para a pedra na mão de Austin, que a esconde rapidamente no bolso e impede que Aiden se aproxime dela com a outra mão.
- Calma lá, amigão! Eu quero conversar! Tenho umas dúvidas pra tirar... e uma ajuda pra pedir! - Austin já diz de cara. Zoe está se recuperando aos poucos, encarando Aiden, meio apavorada.
- URGH! TÁ! Fala logo! - Aiden desiste de ser mais forte que a mão de Austin. O pequeno só conseguiu dar um tapa em Zoe pois a mesma não reagia, o tapa nem foi tão forte assim.
- Primeiro de tudo, como e por que motivo você apareceu de repente no meu quarto mais cedo?
- Eu achei essa jóia desgraçada perdida em Multiego, toquei nela e ela me trouxe até você, porque eu sou alterego. Infelizmente.
- Multiego? - interroga Austin, curioso.
- A dimensão da qual eu vim? A dimensão na qual todos os alteregos surgem? Você não aprende sobre essas coisas, não, garoto? - Aiden está indignado que Austin não sabe nada de verdade.
- Não! - Austin exclama - Por que mais você acha que ela teve essa reação? - diz, apontando para a Zoe com a cabeça.
- Espera! Nenhum de vocês sabe nada?! - ele fica ainda mais indignado, bufando ao ver completa confusão nos olhos dos dois gigantes agasalhados em sua frente. - Achei que todos os humanos soubessem de nós... - sussurra, confuso também. - Certo, tenho MUITA coisa para explicar, então, IN-FE-LIZ-MEN-TE! ... Vamos pra algum lugar mais confortável, vocês vão precisar, suas bundas vão ficar quadradas se eu explicar tudo aqui, agora. - Austin assente com a cabeça.
Eles vão para a casa de Austin, novamente. Austin guia o caminho para Aiden, que resmunga palavras indecifráveis logo atrás. Zoe, por sua vez, caminha levemente inclinada, com os braços na barriga, não é possível dizer se isso é frio ou mal-estar. Ela, ainda meio desnorteada, olha para Aiden e diz baixinho:
- pijama fofo. - termina olhando para frente.
- Não me lembre. - responde Aiden, não tão arrogante quanto ele costuma ser. Mas ainda um pouco.
Comments (0)
See all