Quase no fim do jogo, Mikel pediu para que eu o esperasse nos balcões, mas Mya havia o arrastado para a pista de dança. Era estranho, mas ele parecia realmente preocupado. Tive a sensação de que ele queria me avisar de algo.
― Ei, Fuyuki. Quer tomar alguma coisa? ― Shizuka sorriu timidamente, já me puxando para tomar algo.
Eu nem mesmo tive tempo de negar e lá estava ela me pagando uma bebida.
― Posso te fazer uma pergunta? ― Ela me entregou uma lata de soda, e eu acenei que sim. Ela continuou: ― Você o Mikel estão namorando ou algo do tipo?
Aquela pergunta me parecia um interrogatório bem invasivo, mas eu quis acreditar que era apenas curiosidade, afinal estávamos sempre juntos.
― Somos amigos. ― Respondi sem aumentar o assunto.
Ela parecia bem interessada em nossa relação, já que me encarou na expectativa de que eu esboçasse alguma outra reação.
― Sério? Mas você gosta dele?
― Sim, ele é um ótimo amigo. ― Tentei não aumentar o assunto novamente, mas ela continuava sendo insistente.
― Deixa eu adivinhar… Você gosta dele mais do que amigos? ― Ele deu uma piscadela e riu. ― Mikel não é do tipo que se apaixona. Nem garotos, nem garotas. Ele é popular, mas é alguém muito complexo de se entender. Sabe?
― Você já o conhecia? ― Perguntei instintivamente, e ela me olhou bem surpresa.
― Éh… Mais ou menos isso. Ele é o filho do diretor, e eu sou filha da antiga diretora. Acabamos nos esbarrando uma hora e outra. É impossível não saber que tipo de pessoa ele é.
Era a primeira vez que ouvia isso. Mikel nunca havia me contado sobre ser o filho do diretor, muito menos sobre conhecer Shizuka. Mas se até alguém com ela sabia sobre Mikel, porque eu não sabia? Algum sentimento estranho começou a apertar em meu peito, mas eu apenas desviei o olhar.
Ela continuou:
― No fundamental, ele era bem diferente. Não importava o sexo da pessoa que grudava nele, Mikel sempre os rejeitava. Mya e ele são próximos também, mas o jeito que ele olha para você é diferente, Fuyuki. É provável que ele goste bastante de você, mas só… toma cuidado pra não misturar as coisas. Nunca se sabe se ele mudou mesmo…
Aquilo realmente me surpreendeu, mas acabou me trazendo algumas lembranças do passado à tona. Desde que o conheço, Mikel sempre foi alguém que eu admirei. Ele estava ali por mim sempre, mas a sensação de algo estar errado estava fazendo sentido. Eu não sabia sobre sua vida, sua família, sobre suas ambições, sobre seus sentimentos, sobre o que ele fazia fora da universidade, sobre como ele realmente se sentia sobre mim. Nós apenas convivíamos todos os dias sem saber nada um do outro, com juras que eu não sabia se eram reais. Era angustiante.
Talvez ela tenha percebido a minha expressão, voltando a falar imediatamente:
― Desculpe por isso de repente. Eu fiquei um pouco preocupada. Quem sou eu pra dizer essas coisas.
― Está tudo bem.
― Se… quiser saber mais alguma coisa, pode me procurar. Tem muitas coisas que eu sei.
Antes que um silêncio constrangedor tomasse conta, o barman fantasiado se aproximou entregando uma bebida azulada de cheiro agradável.
― Dose por conta da casa.
Ele apenas parecia ocupado, mas havia feito aquela bebida com muita cautela quando me entregou. Nem mesmo tive tempo de agradecer devidamente.
― Que estranho… Achei que tinha ouvido algo. ― A garota resmungou voltando a me olhar.
― Eu não ouvi nada… ― Respondi fazendo pouco caso.
Ao longe, Mikel e Mya pareciam discutir sobre algo. Ele estava sério como mais cedo. Isso parecia um pouco estranho já que, apesar de certas diferenças, sempre se davam bem. Shizuka olhou em direção a pista e de novo para mim. Ela sorriu e voltou a beber algo. Eu a encarei um pouco antes de finalmente tomar meu drink tentando disfarçar meus próprios sentimentos naquela hora.
Ela poderia entender errado sobre o que eu estava vendo, e talvez supor que estava com ciúmes. Mas eu não podia simplesmente dizer que eles pareciam estar brigando, então apenas me calei.
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