O homem saía do cemitério após visitar o tumulo de sua falecida esposa, como fazia todos os dias desde sua morte. Ele não havia superado. Ainda lembrava do dia que chegou em casa e viu todo o sangue espalhado pela sala juntamente do corpo desacordado e frio da mulher. A imagem da esposa o atormentava todas as noites e o caso não solucionado pela polícia não o ajudava. Meses se passaram e nada foi descoberto sobre o assassino ou o que aconteceu aquele dia.
Tudo parecia estranho: a porta não havia sido arrombada, o que significava que ou a pessoa tinha uma chave, ou sua esposa havia aberto a porta para a pessoa. Ele mesmo havia sido considerado suspeito, mas estava em seu trabalho no momento. Todos os amigos e familiares do casal foram interrogados e todos tinham álibis para o horário que tudo aconteceu, alguns mais sólidos que outros. A investigação ainda estava ocorrendo, mas sem nenhuma resposta.
Eram mais de cinco anos juntos e não ter mais sua amada ali, ao seu lado, o deixava desolado. Seus olhos estavam vermelhos pelo choro recente, e ele nem se importava. Doía não poder acordar com ela, ou ver o sorriso mais belo todos os dias.
O homem estava tão frustrado com tudo que contratou um detetive particular que descobriu que o último a falar com sua esposa fora seu cunhado, irmão mais velho dela. Por isso havia mandado uma mensagem a ele para se encontrarem. Não que ele suspeitasse do próprio cunhado, mas talvez ele soubesse de algo que não tenha contado a polícia por medo.
Quando encontrou o irmão de sua amada, no final de tarde, estavam os dois sentados frente a frente em um café. Duas xícaras estavam dispostas a mesa, intocadas, enquanto os dois homens se encaravam.
– Veio aqui apenas para me olhar? – a voz soava com deboche.
– Você foi o último a falar com a minha esposa.
– Sim, minha irmã me ligou, como qualquer irmã faz.
– Sobre o que falaram?
– Acredito não ser da sua conta. – Um suspiro deixa seus lábios antes de continuar. – Esqueça isso. Deixe a polícia descobrir o que aconteceu.
O homem levantou da mesa sem falar mais nada. Foi embora do local, deixando o viúvo com raiva e suspeitando do próprio cunhado. Porque se ele não tivesse culpa diria o que conversaram para aliviar o cunhado, ao menos era isso que passava em sua cabeça.
Com tudo isso em mente, pediu para que o detetive particular começasse a seguir seu cunhado, que pesquisasse sua vida e realmente o tratasse como um suspeito em potencial.
Depois de alguns dias, ainda sem reposta do detetive, o homem vai atrás dele para saber o que havia acontecido, mas seu escritório estava vazio e o senhor que trabalhava na porta de frente disse que ele não aparecia a dias ali, e que já havia até mesmo chamado a polícia para procurar o homem que nem em casa apareceu mais.
Estava ficando obvio para o homem o envolvimento de seu cunhado. Querendo acabar com isso, ele voltou a delegacia, explicando ao policial envolvido no caso o que estava acontecendo. O policial o mandou voltar para casa dizendo que resolveria tudo e acharia o detetive e o assassino.
Mais uma vez frustrado e com raiva por não obter exatamente o que queria, o homem volta para sua casa abrindo uma garrafa de whiskey. Não demorou muito para que ele apagasse em seu sofá, afundado na miséria que se encontrava.
Algumas semanas e muitas noites com bebidas depois, ele decide por ele mesmo ir atrás do cunhado. O homem mora a alguns quarteirões dele e por isso acha melhor deixar seu carro na garagem e ir caminhando. Ele sabe que em sua casa tinha uma cópia da chave do outro, que pertencia a sua esposa, e por isso seu acesso seria fácil. Então, em uma noite de uma terça-feira, depois de algumas bebidas, ele faz o caminho até a casa do cunhado. Ao entrar na casa, apenas uma luz estava acesa. Do quarto de hóspedes, um barulho baixo de uma música calma ressoava. Com todo silêncio possível, ele abre a porta entrando em choque com o que vê.
Sua esposa. Sua amada e companheira de anos lendo um livro como se nada tivesse acontecido. Seus olhos estão arregalados e sua pele pálida, seu coração mais acelerado que nunca. Milhares de perguntas em sua mente, mas sua voz parecia entalada pelo nó em sua garganta. Seus olhos lacrimejam. O homem está prestes a dizer algo, mas uma pancada forte em sua cabeça o faz perder a consciência e o barulho assusta a mulher na cama, que ao perceber quem estava ali começa a tremer de medo.
– Prometi te proteger – ele chega perto da irmã, abraçando-a. – Preciso que se acalme e junte suas coisas. Eu disse que aqui não era seguro, minha flor.
A mulher, ainda tremendo, levanta-se juntando tudo de importante em algumas malas e levando ao carro de seu irmão. Os dois entram no carro deixando para trás o homem ainda desacordado. E quando este acorda, não sabe se o que havia visto era real ou apenas uma alucinação da bebida.
Há alguns quilômetros da casa, a esposa viva, sonhava com a tarde que seu marido chegara em casa mais cedo, e sem ainda saber o porquê, socos e corte com uma faca foram distribuídos por seu corpo. Ela lembrava de tudo, de toda dor e todo sangue, e não sabia como havia sobrevivido, mas assim que acordara no hospital seu único pedido havia sido ser dada como morta. Com a ajuda de seu irmão, do policial encarregado e da médica do hospital, e sabendo que ele se livraria de tudo pelo poder e dinheiro que tinha, ela pode se sentir livre daquele que quase a matou.
Comments (0)
See all